Boa tarde
amigos,
Imagem de capa do livro elaborada pelo Departamento de
Criação da Editora Planeta do Brasil e foto de Eduardo -
Knapp.
|
Quero
recomendar o livro A SAIDEIRA, da jornalista Barbara
Gancia, cujo subtítulo é “Uma Dose
de esperança depois de anos lutando contra a dependência”. O livro, lançado
em 2.018 pela Editora Planeta do Brasil
Ltda. está na 4ª. edição, e nos
primeiros capítulos relata a infância e a juventude da autora, uma mulher
especialmente inteligente e sensível,que tomada pelo vício do álcool e do fumo,
desafiou a burguesia paulistana e seus conceitos. Num processo de auto-degradação, Bárbara destruiu veículos e se envolveu
em inúmeros acidentes, um dos quais lhe custou a visão de um dos olhos, expondo
os irmãos, os pais, os amigos e as companheiras com quem manteve relacionamento
amoroso, a situações vexatórias e perturbadoras. Mesmo relatando esse triste
processo de auto-destruição, a autora recheia o relato com situações curiosas,
pitorescas, engraçadas, mercê do denunciado humor atávico[1],
de seu talento e sensibilidade para a escrita, provocando no leitor certa
piedade, mas também leveza e diversão.
Aliás, curiosamente, conquanto sua vida pessoal, familiar e amorosa ia se
afundado em perdas seguidas e decepções, graças ao abuso do álcool, droga e
fumo, conseguia manter relativamente estável os seus vínculos com os mais
tradicionais e conceituados jornais e revistas, pelos quais divulgava seus
conceitos e visões, graças à tolerância de editores, chefes e amigos, que
tentavam extrair dela, no dia seguinte à esbórnia (e o dia seguinte eram todos
os que se seguiam ao anterior), o cumprimento de suas obrigações. Na Folha de São Paulo está há 32 anos,
dos 62 anos atuais e conseguiu apresentar com o repórter esportivo Silvio Luiz, o programa esportivo Dois
na Bola, que foi ao ar durante
10 anos na Bandnews. Nos capítulos
posteriores há relato de seus vexames, crises, culpas, impotência etc., e
litígio com astros e políticos de renome, relato de processos que seu jornal e
ela própria sofreram pelas denúncias que fazia, suas tentativas frustradas de abandonar o
alcoolismo e o processo de superação, com as internações
seguidas e a adesão ao grupo dos Alcóolatras
Anônimos, instituição que defende veementemente e com conhecimento de causa,
nos embates públicos que manteve com psiquiatras e psicoterapeutas de renome e nos encontros e palestras que passou a proferir
em todo o Brasil. Barbara não se diz curada, porque reconhece que o alcoolismo
é uma doença incurável e que necessita de tratamento. E que o horizonte de cada
um que padece desse mal é sempre o hoje, o cada dia. Sobre a obra, escreveu o escritor Ruy Castro, amigo da escritora de longa
data e que também passou por um processo sério de tentativa de superação do
alcoolismo: “Há pessoas cujas vidas
imploram para ser escritas. O problema é que, para que isso aconteça, essa
pessoa precisa estar viva. E Barbara Gancia preferia flertar com a morte, a
bordo de copos e mais copos e ao volante de carros suicidas. Em sua fase
esbórnia, Barbara viveu vários filmes de ação, cheios de alçapões invisíveis,
quedas no abismo e ataques de ratos. Mas nenhum tão emocionante quanto sua luta
pela sobriedade. Um dia, finalmente, depois de muitas recaídas, Barbara
conseguiu parar a história. O resultado é A
Saideira, um livro que só ela poderia ter escrito. E cuja leitura encerra
lições para todos nós que, tantas vezes, achamos que os prazeres que a vida nos
oferecia estavam sendo dados de graça”. Bem mais um livro de auto-ajuda
muito em moda? Sim, sim, mas não só isso, evidentemente. Uma obra bem escrita
que denuncia preconceitos e desrespeito a direitos humanos das minorias, a corrupção e a política que se pratica no Brasil, os privilégios, o abismo social, a
hipocrisia da burguesia, enveredando aqui e acolá pelas universais e eternas
questões do existencialismo, que a cada faixa etária cada ser humano busca
responder para si e para o seu mundo.
Uma leitura
interessante para todos os gostos e obrigatória para quem necessita de ajuda na
busca de superação do alcoolismo e outras doenças da compulsão.
Até mais
amigos.
[1] “Sou uma mulher engraçada, rodeada por
pessoas hilárias. O humor é um valor venerado na minha família, sempre tão dada
à desenvoltura social. Significa elegância,
leveza e reflete uma filosofia cheia de sabedoria. A vida é isso, e não
muito mais, drama existencial não vai mudar o fato de que somos todos tão
perecíveis quanto um pastel de palmito.”
(Capítulo GRAÇA E DESGRAÇA, p. 75.)
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