domingo, 19 de janeiro de 2020

LITERATURA - A SAIDEIRA DE BARBARA GANCIA.



Boa tarde amigos,

Imagem de capa do livro elaborada pelo Departamento de

Criação da Editora Planeta do Brasil e foto de Eduardo -
Knapp.

Quero recomendar o livro A SAIDEIRA, da jornalista Barbara Gancia, cujo subtítulo é “Uma Dose de esperança depois de anos lutando contra a dependência”. O livro, lançado em 2.018 pela Editora Planeta do Brasil Ltda. está na 4ª. edição, e nos primeiros capítulos relata a infância e a juventude da autora, uma mulher especialmente inteligente e sensível,que tomada pelo vício do álcool e do fumo, desafiou a burguesia paulistana e seus conceitos. Num processo de auto-degradação, Bárbara destruiu veículos e se envolveu em inúmeros acidentes, um dos quais lhe custou a visão de um dos olhos, expondo os irmãos, os pais, os amigos e as companheiras com quem manteve relacionamento amoroso, a situações vexatórias e perturbadoras. Mesmo relatando esse triste processo de auto-destruição, a autora recheia o relato com situações curiosas, pitorescas, engraçadas, mercê do denunciado humor atávico[1], de seu talento e sensibilidade para a escrita, provocando no leitor certa piedade,  mas também leveza e diversão. Aliás, curiosamente, conquanto sua vida pessoal, familiar e amorosa ia se afundado em perdas seguidas e decepções, graças ao abuso do álcool, droga e fumo, conseguia manter relativamente estável os seus vínculos com os mais tradicionais e conceituados jornais e revistas, pelos quais divulgava seus conceitos e visões, graças à tolerância de editores, chefes e amigos, que tentavam extrair dela, no dia seguinte à esbórnia (e o dia seguinte eram todos os que se seguiam ao anterior), o cumprimento de suas obrigações. Na Folha de São Paulo está há 32 anos, dos 62 anos atuais e conseguiu apresentar com o repórter esportivo Silvio Luiz, o programa esportivo Dois na Bola,  que foi ao ar durante 10 anos na Bandnews. Nos capítulos posteriores há relato de seus vexames, crises, culpas, impotência etc., e litígio com astros e políticos de renome, relato de processos que seu jornal e ela própria sofreram pelas denúncias que fazia,  suas tentativas frustradas de abandonar o alcoolismo e  o  processo de superação, com as internações seguidas e  a adesão ao grupo dos Alcóolatras Anônimos, instituição que defende veementemente e com conhecimento de causa, nos embates públicos que manteve com psiquiatras e psicoterapeutas de renome e  nos encontros e palestras que passou a proferir em todo o Brasil. Barbara não se diz curada, porque reconhece que o alcoolismo é uma doença incurável e que necessita de tratamento. E que o horizonte de cada um que padece desse mal é sempre o hoje, o cada dia.  Sobre a obra, escreveu o escritor Ruy Castro, amigo da escritora de longa data e que também passou por um processo sério de tentativa de superação do alcoolismo: “Há pessoas cujas vidas imploram para ser escritas. O problema é que, para que isso aconteça, essa pessoa precisa estar viva. E Barbara Gancia preferia flertar com a morte, a bordo de copos e mais copos e ao volante de carros suicidas. Em sua fase esbórnia, Barbara viveu vários filmes de ação, cheios de alçapões invisíveis, quedas no abismo e ataques de ratos. Mas nenhum tão emocionante quanto sua luta pela sobriedade. Um dia, finalmente, depois de muitas recaídas, Barbara conseguiu parar a história. O resultado é A Saideira, um livro que só ela poderia ter escrito. E cuja leitura encerra lições para todos nós que, tantas vezes, achamos que os prazeres que a vida nos oferecia estavam sendo dados de graça”. Bem mais um livro de auto-ajuda muito em moda? Sim, sim, mas não só isso, evidentemente. Uma obra bem escrita que denuncia preconceitos e desrespeito a direitos humanos das minorias, a corrupção e a política que se pratica no Brasil, os privilégios, o abismo social, a hipocrisia da burguesia, enveredando aqui e acolá pelas universais e eternas questões do existencialismo, que a cada faixa etária cada ser humano busca responder para si e para o seu mundo.
Uma leitura interessante para todos os gostos e obrigatória para quem necessita de ajuda na busca de superação do alcoolismo e outras doenças da compulsão.

Até mais amigos.
           




[1]Sou uma mulher engraçada, rodeada por pessoas hilárias. O humor é um valor venerado na minha família, sempre tão dada à desenvoltura social. Significa elegância,  leveza e reflete uma filosofia cheia de sabedoria. A vida é isso, e não muito mais, drama existencial não vai mudar o fato de que somos todos tão perecíveis quanto um pastel de palmito.”  (Capítulo GRAÇA E DESGRAÇA, p. 75.)













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