Trecho de carta escrita por Elis ao filho João em 1.971, que
ele não leu pois tinha apenas 1 ano de idade, mas guardou e agora publica na
obra:
““Rio, 14 de junho de 1.971. João. Queria era te dizer que te amo,
preciso de você. Quero você mais do que tudo que já quis. Queria te dizer também
que não sei como é que achava graça nas coisas antes de você. Quando não está
por perto, os troços perdem o sentido e a razão. Outra coisa que você precisa
saber é que você construiu pacas. Você me pegou um bagaço daqueles, me ajeitou,
me maneirou, me devolveu a risada do ginásio, criou uma fonte de investimentos
em minhas áreas menos desenvolvidas.”
João Marcello sobre Cesar Camargo Mariano.
“Que fique claro: Cesar Mariano é um dos meus maiores amores.
Conviver com ele durante o inicio da minha vida foi fundamental; um herói, uma
referência. Seu respeito com meu pai foi fundamental para a reconstrução
futura do tecido emocional Bôscoli-pai-e-filho.”
Boa tarde amigos,
Filho mais velho e único da cantora Elis Regina com o diretor
e compositor Ronaldo Bôscoli, o empresário e produtor musical João Marcello Bôscoli
viveu na companhia e sob a guarda da mãe famosa exatos 11 anos, 6 meses e 19 dias, convívio esse que cessou num
triste 20 de janeiro, o do ano de 1.982, quando a cantora foi encontrada morta,
vítima da ingestão de uma mistura de cinzano e cocaína, justamente quando vivia
uma relação estável com o advogado, Samuel MacDowell. No dia seguinte São Paulo parou para acompanhar o velório da maior cantora que
este país já teve, cujo fanático fã clube, no qual me incluo, jamais deixou de
guardar e cultuar a memória da Pimentinha,
apelido que lhe deu Vinícius de Moraes
e que bem retratava a sua vida intensa e agitada. Bem Elis está aí hoje, em todas as redes sociais e plataformas do chamado streaming para
que essa nova geração possa sentir a força e o peso de suas interpretações em
todas as áreas e estilos, a sua musicalidade natural, porta-bandeira de canções
que denunciavam com verdade, força e sensibilidade a saga do povo desigual de um país que, em três décadas, viveu do suicídio
de Getúlio Vargas, à euforia do governo de Jusclelino Kubitschek.
Da renúncia do populista Jânio Quadros, à cassação de Jango Goulart e à ditadura
militar, com seus estragos e perseguições até a sonhada abertura democrática
dos anos 80. Elis nasceu em 1.947 e morreu em 1.982, aos 36 anos, deixando para
trás um legado que atravessou o espaço desse esquecido país e que se mantém vivo
e atual a despeito da passagem do tempo. Bem não vou falar hoje de Elis, mas do
livro de seu primogênito lançado no ano passado pela Editora Planeta. O que se
poderia esperar desse novo livro que já não tivesse sido contado com paixão e
maestria por Regina Echeverria em seu “Furacão
Elis” (Ed. Leya-1985) ou por Júlio Maria em “Elis Regina – Nada Será como Antes” (Ed. Master Books - 2.015). Foi o que me
perguntei ao deparar com o exemplar em livraria do Shopping Iguatemi. Mas como
tudo que diz respeito à minha musa inspiradora me interessa, comprei dois
exemplares. Um dei de presente para minha irmã Laila no final do ano. Suspeito
que ela ainda não leu, por não ter feito qualquer comentário a respeito. Outro
para ler quando tivesse tempo. E que grata surpresa! Emocionante surpresa. Na
boa e tocante redação de João Marcello não está a história da artista Elis
Regina. De sua festejada carreira. De sua relação com amigos e desafetos. De
seu envolvimento com a política e com a defesa de músicos e compositores. De
sua vida pessoal, de seus amores e desamores, das gravações e das gravadoras,
do lançamento de novos e talentosos compositores. Tudo isso já foi contado.
Não, absolutamente. Nesse livro o que se lê é o relato das memórias de um
menino sobre a sua infância e quase adolescência com uma mãe comum como todas
as mães, amorosa e preocupada como qualquer mãe, rígida para educar sem mimar.
Aqui é o João Marcello com sua mãe, aquela mulher cuja dimensão como artista só
foi sendo sentida aos poucos pelo garoto travesso e que viveu uma infância
plena, mas sempre experimentando os valores que lhe foram ensinados e
vivenciados pela exigente mãe, depois complementados pelo convívio com Cesar
Camargo Mariano, seu pai adotivo e biológico de seus irmãos mais novos,
Pedro e Maria Rita. Claro que inevitável a narrativa sobre os ensaios, os
eventos, as glórias e decepções da
carreira de Elis porquanto seria impossível separar a vida íntima deles da
agitada vida profissional dela. Mas os eventos aqui são contados sob a versão
do menino João Marcello e de como ele os sentiu e os guardou por todos esses
anos decorridos. Sob outra ótica,
portanto. Daí o ineditismo da obra que vai nos encantando à medida em que é
contada pelo autor, de forma habilidosa e emotiva, a evidenciar a essência
dessa mulher-mãe, tão admirável quanto a inesquecível cantora Elis Regina Costa
Carvalho. O prefácio é de Rita Lee. No Posfácio dele próprio, a confissão
insuspeita de que “A dinâmica e o
sortimento da minha vida em família com minha Mãe determinaram muito sobre
minha personalidade. Trabalho pelo conjunto da obra, ouço conselhos de coração
aberto e, confesso, respeito, mas não me norteio pela opinião de estranhos. A
busca pela unanimidade é enlouquecedora.” ....... E, de quebra,
cartas e bilhetes escritos por Elis. Leitura leve e interessante.
Até mais amigos,
Mano li sim e muita coisa me surpreendeu. Gostei demai
ResponderExcluirMinha prezada irmã. OK. Está registrada a sua impressão sobre a obra. Abraço.
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