domingo, 24 de maio de 2020

O PRESIDENTE, O CELULAR, O PENSADOR E O CORONA-VIRÍUS


Bom dia amigos,

Escultura em bronze original de O Pensador, de

Auguste Rodin, exposta no Musée Rodin, em -
Paris. 
A sensação é de inverno antecipado nos treze graus de temperatura alardeados por minha mulher nesta manhã escura de outono. O jeito foi acordar tarde, tomar longo café da manhã e aproveitar para refletir sobre tudo que se passa nos momentos presentes e seus eventuais significados na história da geração "líquida" em, tempos da pós modernidade. Isso mesmo, poesia, música e reflexões filosóficas são lenitivos para esse nosso confinamento ordenado pelas autoridades, mas muito mais imposto pela nossa consciência social e temor de uma pandemia para a qual não há remédio, nem prevenção possível e cujas consequências ainda não são totalmente conhecidas. Nesses dias de chumbo é inevitável comparar a pandemia do covid-19 com as guerras  ou com a chamada gripe espanhola que, na pesquisa que andei fazendo, nem nasceu na Espanha. Mas me conformei logo, logo. Descobri que, diferentemente das guerras, em que não se conhece a estratégia do inimigo ou a surpresa com que ele eventualmente vai nos atacar com bombas e armas, pelo menos estamos seguros dentro de casa. Assim propalam os cientistas do mundo inteiro, até que alguma notícia séria ou um fake news, resolva nos admoestar de que o corona também  costuma se esconder atrás da porta da cozinha. Mas não temos outra alternativa senão acreditar na ciência e nas recomendações da OMS, como afirmam os governadores e os Ministros da Saúde que perderam seus empregos. E relativamente à gripe espanhola, a nossa vantagem é imensa, ditada pela tecnologia inexistente naqueles tempos. Ah, temos um aparelhinho chamado celular que nos permite todo tipo de conhecimento ou comunicação. Viajamos com o Google pelas praias, montanhas, países. Visitamos museus, teatros e as maravilhas da arte e da ciência no mundo inteiro, sem custo,  no simples toque de um dedo. Nunca se viu um veículo mais democrático porque permite a utilização gratuita sem limites a pobres, ricos e remediados, ressalvados os custos da chamada “banda larga”.  E o whatsapp possibilita que façamos ligações com vídeos para ver o rosto, ouvir a voz e a situação em que se encontram os nossos amigos e parentes. Para bater longos papos, chorar as mágoas, contar novidades e vantagens, matar a saudade e driblar a solidão. As plataformas digitais nos reúnem separadamente, porque a presença física está proibida. O toque corporal, tão fundamental para os sentidos e a nossa sanidade emocional, não é possível no momento, sem risco de contaminação. Mas podemos fazer reuniões, dar aulas e trabalhar, enviando as nossas produções para sites e blogs. Os artistas, músicos e cantores, fazem os seus espetáculos de outrora  à distância nas chamadas lives. No tempo da gripe espanhola nada disso foi possível. Aí o nosso consolo, pois se não podemos viver a vida real, podemos vivenciar a digital em sua enorme intensidade. O inimigo agora é o vizinho, o jovem,  o parceiro, o coleguinha, o “brother”. Nem Sartre poderia imaginar que o seu “inferno são os outros” estaria, nesses tempos, resignificado. Bom. Sei que o tal celular é hoje indispensável na vida de qualquer pessoa. De noite e de dia. Ele é o nosso interlocutor silencioso,  veículo de comunicação e contato. Tão essencial como água, comida e sono. Para o bem e para o mal. Quando usamos o nosso celular abrimos a nossa intimidade, sentimo-nos protegidos e fortes para confissões e revelações e frágeis para raciocinar. Entregamos tudo. Incrível como os homens mais sensatos deixam-se enganar pela ilusão de que tudo que dizem ou fazem no celular estará protegido. Por isso entendi a peremptória negativa do Presidente Bolsonaro de que não entregará o seu celular, de jeito nenhum.
Em imagem emprestada de pt.dreamstine.com, homem mo-
derno em momento de evacuação, registrando a "solenida-
de" com o seu indefectível celular. 
E até do Ministro Augusto Heleno, que supostamente falando em nome das Forças Armadas, advertiu o Supremo Tribunal Federal de que determinação nesse sentido colocaria em cheque a harmonia e independência entre os poderes, com graves consequências para a nação. Estou de acordo. Celular é questão de segurança nacional. E basta,como diria o italiano. Que negócio é esse de meter o bedelho no celular dos outros?   Recebí hoje um vídeo desses que compartilhamos no whatsapp e que nos distraem muito durante o isolamento, retratando o Sérgio Moro, ex- juiz, ex-Ministro e atualmente desempregado como diz o Tom Cavalcante, garantindo que ele vai provar até que a Ponte Preta já foi campeã. Não duvido, amigos pontepretanos. O antigo “jogar a merda no ventilador”, cuja tradução era contar, de boca, algum segredo cabeludo de cuja veracidade se duvidava. O jargão “ é a palavra dele contra a minha”, deixou de existir. Hoje o sujeito grava no celular, capta imagem e áudio em tempo real ou então os incautos jovens apaixonados se permitem gravar durante as transas, e depois o filho da puta antagonista, outrora parceiro,   joga  tudo na internet pro mundo inteiro ver. O “não é o que você está pensando” também ficou fora de moda, pois você não pensa nada, você vê e ouve ao vivo e  não tem jeito. Resta a esteriotipada defesa de seu advogado (coitado dos advogados), garantindo que a gravação foi editada, que se trata de um sósia seu, que é montagem, que puseram a sua cara na bunda da Carla Peres, ou com autorização do cliente, que o pinto que aparece na foto é bem maior do que o do seu cliente. Duvido que no celular o Bolsonaro tenha a cautela de tratar os seus filhos como 01, 02, 03 ou 04, como afirma nas entrevistas (Será que é para despistar, a polícia federal?). Afinal, assim não se sabe qual deles estaria sendo investigado pela prática das “rachadinhas” e aqueloutro que andou comendo as meninas do condomínio e aparentemente recusou a filha do porteiro, embora alguns garantam  que tanto o 01, quanto o 04,  apreciam as  “rachadinhas”, cada qual à sua maneira.  Bem chega de comparações escatológicas. Olho para a janela e vejo que agora às 14,30 horas saiu um sol bonito, que me convida para sintetizar a vitamina D. Só para terminar imaginei a emblemática figura do Pensador de Auguste Rodin, que retrata Dante Alighieri olhando para os portões do Inferno de sua Divina Comédia. Nu para retratar o Pensamento, a Poesia e a importância da reflexão. Sem celular para atrapalhar. A posição? A mesma com que nós desta geração nos posicionamos sentados na bacia da privada para defecarmos. Nem aí prescindimos do celular. Talvez para não termos que refletir sobre qualquer coisa séria. Não é à toa que o tal celular tem sido apontado como o mais sujo dos objetos que manipulamos. E que substitui qualquer reflexão mais acentuada, para a qual não temos tempo e, amiúde, "saco".

Até mais amigos.

P.S. (1) Aos meus caros professores, colegas de Faculdade, pergunta que não quer calar: “Por que é que a PF ouviu, em longos depoimentos, quatro Ministros presentes na famosa reunião de 22 de abril para saber o que aconteceu naquele evento se existia a gravação apreendida pelo STF? Agora, com a constatação de algum deles não mencionou com fidelidade o que efetivamente ocorreu seria caso de denúncia por crime de falso testemunho, doutores penalistas?


2 comentários:

  1. Boa tarde tudo bem? Sou carioca e procuro novos seguidores para o meu blog. Novos amigos também são bem vindos.

    https://viagenspelobrasilerio.blogspot.com/?m=1

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  2. Caro Luiz: Obrigado pela mensagem. Respondi no seu e.mail. Sim já entrei no seu blog e tenho prazer em acompanhá-lo. Fique à vontade também para acompanhar o meu e tecer comentários sobre os assuntos tratados. Forte abraço.

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