Bom dia amigos,
Escultura em bronze original de O Pensador, de
Auguste Rodin, exposta no Musée Rodin, em -
Paris.
|
A sensação é de inverno antecipado nos treze graus de
temperatura alardeados por minha mulher nesta manhã escura de outono. O jeito
foi acordar tarde, tomar longo café da manhã e aproveitar para refletir sobre
tudo que se passa nos momentos presentes e seus eventuais significados na história
da geração "líquida" em, tempos da pós modernidade. Isso mesmo, poesia, música e
reflexões filosóficas são lenitivos para esse nosso confinamento ordenado pelas
autoridades, mas muito mais imposto pela nossa consciência social e temor de
uma pandemia para a qual não há remédio, nem prevenção possível e cujas
consequências ainda não são totalmente conhecidas. Nesses dias de chumbo é
inevitável comparar a pandemia do covid-19 com as guerras ou com a chamada gripe espanhola que, na
pesquisa que andei fazendo, nem nasceu na Espanha. Mas me conformei logo, logo.
Descobri que, diferentemente das guerras, em que não se conhece a estratégia do
inimigo ou a surpresa com que ele eventualmente vai nos atacar com bombas e
armas, pelo menos estamos seguros dentro de casa. Assim propalam os cientistas do mundo
inteiro, até que alguma notícia séria ou um fake news, resolva nos admoestar de
que o corona também costuma se esconder atrás
da porta da cozinha. Mas não temos outra alternativa senão acreditar na ciência
e nas recomendações da OMS, como afirmam os governadores e os Ministros da
Saúde que perderam seus empregos. E relativamente à gripe espanhola, a nossa
vantagem é imensa, ditada pela tecnologia inexistente naqueles tempos. Ah,
temos um aparelhinho chamado celular que nos permite todo tipo de conhecimento
ou comunicação. Viajamos com o Google pelas praias, montanhas, países.
Visitamos museus, teatros e as maravilhas da arte e da ciência no mundo
inteiro, sem custo, no simples toque de
um dedo. Nunca se viu um veículo mais democrático porque permite a utilização gratuita sem limites a pobres, ricos e remediados, ressalvados os custos da chamada “banda
larga”. E o whatsapp possibilita que
façamos ligações com vídeos para ver o rosto, ouvir a voz e a situação em que
se encontram os nossos amigos e parentes. Para bater longos papos, chorar as
mágoas, contar novidades e vantagens, matar a saudade e driblar a solidão. As plataformas digitais nos reúnem
separadamente, porque a presença física está proibida. O toque corporal, tão
fundamental para os sentidos e a nossa sanidade emocional, não é possível no
momento, sem risco de contaminação. Mas podemos fazer reuniões, dar aulas e
trabalhar, enviando as nossas produções para sites e blogs. Os artistas,
músicos e cantores, fazem os seus espetáculos de outrora à distância nas chamadas lives. No tempo da
gripe espanhola nada disso foi possível. Aí o nosso consolo, pois se não
podemos viver a vida real, podemos vivenciar a digital em sua enorme intensidade.
O inimigo agora é o vizinho, o jovem, o
parceiro, o coleguinha, o “brother”. Nem Sartre poderia imaginar que o seu “inferno
são os outros” estaria, nesses tempos, resignificado. Bom. Sei que o tal
celular é hoje indispensável na vida de qualquer pessoa. De noite e de dia. Ele
é o nosso interlocutor silencioso, veículo de comunicação e contato. Tão
essencial como água, comida e sono. Para o bem e para o mal. Quando usamos o
nosso celular abrimos a nossa intimidade, sentimo-nos protegidos e fortes para
confissões e revelações e frágeis para raciocinar. Entregamos tudo. Incrível
como os homens mais sensatos deixam-se enganar pela ilusão de que tudo que
dizem ou fazem no celular estará protegido. Por isso entendi a peremptória
negativa do Presidente Bolsonaro de que não entregará o seu celular, de jeito
nenhum.
Em imagem emprestada de pt.dreamstine.com, homem mo-
derno em momento de evacuação, registrando a "solenida-
de" com o seu indefectível celular.
|
E até do Ministro Augusto Heleno, que supostamente falando em nome das
Forças Armadas, advertiu o Supremo Tribunal Federal de que determinação nesse
sentido colocaria em cheque a harmonia e independência entre os poderes, com
graves consequências para a nação. Estou de acordo. Celular é questão de segurança nacional. E basta,como diria o italiano. Que negócio é esse de meter
o bedelho no celular dos outros? Recebí
hoje um vídeo desses que compartilhamos no whatsapp e que nos distraem muito
durante o isolamento, retratando o Sérgio Moro, ex- juiz, ex-Ministro e
atualmente desempregado como diz o Tom Cavalcante, garantindo que ele vai
provar até que a Ponte Preta já foi campeã. Não duvido, amigos pontepretanos. O
antigo “jogar a merda no ventilador”, cuja tradução era contar, de boca, algum
segredo cabeludo de cuja veracidade se duvidava. O jargão “ é a palavra dele
contra a minha”, deixou de existir. Hoje o sujeito grava no celular, capta
imagem e áudio em tempo real ou então os incautos jovens apaixonados se
permitem gravar durante as transas, e depois o filho da puta antagonista, outrora parceiro, joga tudo na internet pro mundo inteiro ver. O “não
é o que você está pensando” também ficou fora de moda, pois você não pensa
nada, você vê e ouve ao vivo e não tem jeito.
Resta a esteriotipada defesa de seu advogado (coitado dos advogados), garantindo que a gravação foi
editada, que se trata de um sósia seu, que é montagem, que puseram a sua cara
na bunda da Carla Peres, ou com autorização do cliente, que o pinto que aparece na foto é bem maior do que o do seu cliente. Duvido que no celular o Bolsonaro tenha a cautela de tratar os seus filhos
como 01, 02, 03 ou 04, como afirma nas entrevistas (Será que é para despistar,
a polícia federal?). Afinal, assim não se sabe qual deles estaria sendo
investigado pela prática das “rachadinhas” e aqueloutro que andou comendo as
meninas do condomínio e aparentemente recusou a filha do porteiro, embora alguns garantam que tanto o 01, quanto o 04, apreciam as “rachadinhas”, cada
qual à sua maneira. Bem chega de comparações escatológicas. Olho para a janela
e vejo que agora às 14,30 horas saiu um sol bonito, que me convida para
sintetizar a vitamina D. Só para terminar imaginei a emblemática figura do
Pensador de Auguste Rodin, que retrata Dante Alighieri olhando para os portões
do Inferno de sua Divina Comédia. Nu para retratar o Pensamento, a Poesia e a
importância da reflexão. Sem celular para atrapalhar. A posição? A mesma com
que nós desta geração nos posicionamos sentados na bacia da privada
para defecarmos. Nem aí prescindimos do celular. Talvez para não termos que
refletir sobre qualquer coisa séria. Não é à toa que o tal celular
tem sido apontado como o mais sujo dos objetos que manipulamos. E que substitui qualquer reflexão mais acentuada, para a qual não temos tempo e, amiúde, "saco".
Até mais amigos.
P.S. (1) Aos meus caros professores, colegas de Faculdade,
pergunta que não quer calar: “Por que é que a PF ouviu, em longos depoimentos,
quatro Ministros presentes na famosa reunião de 22 de abril para saber o que
aconteceu naquele evento se existia a gravação apreendida pelo STF? Agora, com a constatação de algum deles não mencionou com fidelidade o que
efetivamente ocorreu seria caso de denúncia por crime de falso testemunho, doutores penalistas?
Boa tarde tudo bem? Sou carioca e procuro novos seguidores para o meu blog. Novos amigos também são bem vindos.
ResponderExcluirhttps://viagenspelobrasilerio.blogspot.com/?m=1
Caro Luiz: Obrigado pela mensagem. Respondi no seu e.mail. Sim já entrei no seu blog e tenho prazer em acompanhá-lo. Fique à vontade também para acompanhar o meu e tecer comentários sobre os assuntos tratados. Forte abraço.
ResponderExcluir