domingo, 2 de agosto de 2020

O CÔNCAVO E O DESCONEXO.

Boa tarde gente boa,


O título de hoje não está equivocado não. O Desconexo foi intencional para juntar uma miscelânea de reflexões, sem vínculo algum ou fio condutor. Um monólogo de um sexagenário em quarentena, em torno de seu umbigo, dando tratos à bola,  atento, porém, aos acontecimentos telúricos, sem propósito algum de arrebatar seguidores ou convencer alguém a alguma comunhão de intenções ou ideias. Propostas talvez de uma pauta de bate-papo informal e sem censura, na mesa de boteco ou do café, com aqueles amigos conservadores ou progressistas, meio lúcidos, meio doidos, mas dos quais a  gente sente saudade, quer abraçar e dividir o pão de queijo, a piada  ou a cerveja:

< Um tal Ugo Foscolo, poeta e escritor italiano que nasceu no século 18 e morreu na segunda década do século 19, disse o seguinte sobre ser Juiz ou a respeito do exercício da Magistratura:  Nunca serei juiz. Neste grande vale onde a espécie humana nasce, vive e morre, se reproduz, se casa, e depois volta a morrer, sem saber como nem porquê, distingo apenas felizardos e desventurados.”   E eu que já fui Juiz, não sei porque, nos últimos tempos, tenho me identificado muito com esse tipo de conceito radical. Por isso, tenho desejado a amigos, alunos, filhos e netos, saúde (que sempre esteve na moda) e em vez de felicidade, sorte, o que os lusitanos preferem chamar de “fado”.

< Outra afirmação acerca do pessoal da toga: “Quem julga pelo que ouve e não pelo que entende é orelha e não juiz.”  - Francisco Quevedo.

 < A volta do futebol com todos os protocolos sanitários rigorosamente observados, mesmo com os estádios vazios, trouxe um sopro de alegria ao  coração de brasileiros e estrangeiros amantes desse esporte. Assistir aos jogos pela TV aberta ou fechada ou por plataformas do chamado streaming (eu implico com essa bosta, para a qual não encontrei correspondente na língua portuguesa que me parecesse apropriado.) é um alento para a angustiante expectativa de retorno à vida normal, pessoal e real ou ao “novo normal”, como  dizem por aí.

< “A mídia de streaming é uma multimídia que é constantemente recebida e apresentada a um usuário final enquanto é entregue por um provedor”  Sacaram? Tá lá na tradução da Wikipédia inglesa! 

< Salve a Paula Fernandes com o seu “juntos e shallow now”!!!! que virou meme na internet, mas  rima melhor do que a tradução literal de  “nós estamos longe do raso agora” para o  “We’re far from the shallow now.”

<  Não são só os jovens brasileiros, de nossas periferias ou favelas, que estão saindo às ruas em busca de encontros, parcerias, música ou alegria, abandonando a recomendação de isolamento social e uso de artifícios de proteção. O fenômeno, como a pandemia, é universal e atinge todas as classes. Seja aqui, na Austrália, na Europa ou nos Estados Unidos muitos jovens se recusam a ver passar o tempo, sem perspectivas de um retorno a uma vida de  normalidade no pulsar de uma juventude que convida para a convivência e a satisfação das necessidades emocionais e sexuais, do corpo e da alma, antes que seja tarde, na pressa de vivência plena, própria igualmente da mocidade. Não me parece que o discurso de solidariedade aos velhos e doentes, mesmo parentes queridos, os convença da justiça de uma abstenção e renúncia total de viver o seu tempo, sobretudo, quando se fala em segunda ou terceira onda de contaminação, com retorno às imposições das restrições e a indefinição quanto ao tempo de aprovação e distribuição de uma vacina que imunize quase oito milhões de seres humanos sobre a face da terra.  Nem mesmo a alegação de que o risco que supostamente eles também correm quanto à possibilidade de contágio e desenvolvimento grave e letal da moléstia como se anda preconizando por ai, médicos e políticos,   encontra eco suficiente para esse convencimento ao recolhimento e solidão.

< Mais uma crise institucional. Desta vez interna envolvendo a instituição do badalado Ministério Público. O Procurador Geral da República, Augusto Aras, que não foi o mais votado pela categoria na lista apresentada ao Presidente da República, Jair Bolsonaro, entrou em rota de colisão com os Sub-Procuradores, que defenderam os colegas envolvidos na Operação Lava Jato. Os rumos da mais famosa das operações de todas na história da república brasileira, para apurar e reprimir a corrupção, e que levou a prestígio internacional o seu mais emblemático representante, o ex-Juiz e ex-Ministro, Sérgio Moro. foi alvo de ataque de Aras, em live com advogados e imprensa, sob a afirmativa  da existência do que qualificou como “lavajatismo”, um movimento político de Procuradores dentro da operação,  cujos rumos,  no seu entender, precisam ser corrigidos.

< Ah, me lembrei que o simplório e direto Jair Bolsonaro declarou publicamente que aquela vaga reservada ao Sérgio Moro no Supremo Tribunal Federal pode ser do Aras. Ele já sabe de cor e salteado quando as vagas, em número de três, vão surgir na cúpula do Judiciário, ainda durante o seu mandato presidencial, e aguarda com muita sede, a oportunidade de preenchê-las com bacharéis, portadores de notável saber jurídico  ou não, que se afinem com a sua linha ideológica.

< O que a curiosidade de pequenos ou grandes homens, anônimos ou ilustres não faz diante de uma telenovela no século passado? Durante a entrevista da atriz Lucélia Santos ao jornalista Pedro Bial, no programa “Conversa com Bial” da Rede Globo, ela reafirmou o  retumbante sucesso da novela global “Escrava Isaura”, protagonizada pela atriz (foto da coluna de hoje) na década de 1.976, no Brasil e que continuou explodindo nos anos 80 e 90 no exterior. Sem nada de extraordinário no roteiro e produção em relação a outros folhetins brasileiros ou estrangeiros de qualidade, a novela foi vendida, traduzida e transmitida para nada menos que 100 países de todas as línguas e sistemas políticos. Considerado o maior fenômeno do gênero no mundo, em todos os tempos, a Isaura, ou seja,  Lucélia viajou pelo mundo, acompanhando dois Presidentes da República do Brasil, Fernando Henrique Cardoso e Luis Ignácio Lula da Silva e foi  recebida, com honras de estado,  por chefes de governo. Tal como aconteceu com Pelé quando foi jogar na Africa e parou uma guerra civil, garante-se que a  Guerra da Bósnia chegou a ser suspensa,  por acordo entre as partes em conflito, para que todos pudessem acompanhar o desfecho da novela.

 <   Teve Presidente da República que, fã da novela, ligava para o seu autor, Gilberto Braga, solicitando informações sobre os capítulos seguintes, o que também teria ocorrido com o cubano Fidel Castro, que usou de sua condição de soberano comunista, para exigir que capítulos do folhetim fossem adiantados, ávido por saber que destino estaria reservado para a oprimida escrava protagonista.   

                                       Amigo Thiagão, já estou recuperado do “piriri” (não era covid-19 não),  e podemos voltar a discutir aquele nosso projeto comum de produção de um programa com artistas de Campinas? E o meu amigo e jornalista favorito, Roberto Godoy, grande papo, já está melhor dos efeitos da tal Síndrome da Vertigem Paroxística Benigna? Espero que sim. Vamos nos falando, senão pessoalmente e com o cafezinho, pelo telefone mesmo. Bom o Desconexo está aí. O côncavo? Não, foi só para rimar e lembrar a música do Rei, Roberto Carlos.

Abraço a todos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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