quarta-feira, 21 de abril de 2021

ADONIRAM BARBOSA- CENTO E DOZE ANOS - A PARCERIA COM VINÍCIUS DE MORAES

 

Amigos,

Uma improvável parceria decorrente do acaso fez nascer um dos clássicos da música popular brasileira. Em maio de 1.957 o selo Continental lançava a gravação de um samba-canção chamado BOM DIA TRISTEZA. Letra de Vinícius de Moraes, música de Adoniran Barbosa, um compositor paulista da terra que um dia, por descuido e posterior arrependimento, o poetinha chamaria de “Túmulo do Samba”. Há duas versões para o nascimento do samba. A primeira é que Vinícius, embaixador do Brasil na França, escrevera esses versos numa folha de papel, que posteriormente enviou para sua amiga Aracy de Almeida,  dizendo que ela fizesse daqueles versos o que quisesse. Aracy então, companheira, a esse tempo, de Adoniran na TV Record de São Paulo, entregou os versos a este, propondo que ele musicasse. Adoniran, na década de 60, entrevistado por Elis Regina durante participação no Fino da Bossa, famoso programa comandado pela Pimentinha na época, confidenciou que achou os versos belíssimos, mas tristes e delicados, entendendo que merecia uma música adequada, um samba-canção, pensou, do tipo “dor de cotovelo”. E assim, sem que os compositores nem sequer se conhecessem surgiu o “BOM DIA TRISTEZA”: “Bom dia tristeza/que tarde tristeza/você veio hoje me ver/estava ficando até meio triste/de ficar tanto tempo longe de você/ Se chegue tristeza/Se sente comigo/Aqui na mesa de bar/Beba do meu copo/E me dê o seu ombro/Que é para eu chorar/Chorar de tristeza/Tristeza de Amar.” A canção foi cantada e gravada por muitos famosos, além do próprio Adoniran.  Maysa, Chico Buarque de Holanda, Elis Regina, Altemar Dutra, Roberto Ribeiro, Jair Rodrigues, a “divina” Elisete Cardoso, foram algumas das celebridades que registraram, para sempre, o som e os versos da triste e suave canção. E, sem dúvida, também Aracy de Almeida, a amiga destinatária dos queixumes do poetinha, escritos, como se supõe, num dos múltiplos rompimentos com parceiras que suscitaram inúmeras paixões. A segunda versão da história é igualzinha a primeira, apenas divergindo sobre o palco em que Vinícius teria escrito os versos (eles não teriam origem em qualquer canto de Paris, mas sim num bar que o poeta frequentava no Rio de Janeiro e isso depois de goles generosos de seu “cachorro engarrafado” e tendo um guardanapo como veículo de assentamento). Ouvi muitas das gravações da música, inclusive a de Aracy de Almeida. E essa gravação me chamou a atenção pois a cantora troca a ordem dos versos na segunda estrofe e com isso provoca um esquisito desajuste. Em vez de dizer “Beba do meu copo e me dê o seu ombro, que é para eu chorar”, diz, “Me dê o seu ombro, beba do meu copo, que é para eu chorar”. Pô? Chorar no ombro é legal, mas no copo...? Vale a pena conferir.

 

CONFIRA https://www.google.com/search?q=bOM+DIA+tRISTEZA+aRACY+DE+aLMEIDA&rlz=1C1SFXN_enBR502BR502&oq=bOM+DIA+tRISTEZA+aRACY+DE+ALMEIDA&aqs=chrome.0.69i59j69i61.5732j0j15&sourceid=chrome&ie=UTF-8

 

P.S. A propósito de Elis e Vinícius, quem primeiro chamou o compositor de “poetinha” foi Elis em momento de fúria reclamando dele quanto à proposta de participação dela no filme “Garota de Ipanema” onde deveria aparecer e cantar, em dupla com Chico Buarque, Noite dos Mascarados (o episódio foi substituído por uma gravação).  Vinícius, comentando a declaração da cantora, é que a chamou de “Pimentinha”. Curioso é que ambos posteriormente voltaram a se entender, mas os dois apelidos se juntaram a eles para sempre.

sábado, 3 de abril de 2021

NOSSO MÁRIO PARTIU! O CÉU ESTÁ MAIS ALEGRE.

 

Amigos,


Suponho que tenha sido lá pelo final dos anos 50 ou  início da década de 1.960. Abrindo um sorriso largo, a vovó, com aquela sabedoria de vivência de muitos e muitos anos e, fazendo pouco de minha advertência convicta de que não falasse de sua morte, pois ela não iria acontecer, respondia: “- Saiba meu neto que ninguém fica pra semente. Nem eu, nem você, nem ninguém. Todos  vamos morrer algum dia.”  Carreguei por toda a vida aquela imagem feliz,  serena e resignada de minha avó falando a respeito da própria morte, mas nem por isso sofri menos pelas perdas de muitos parentes e  amigos que fiz por esse vida afora, e por gente especial com as quais cruzei nesse plano da existência. Hoje, dia 03 de abril de 2.021, logo que acordei li a notícia inesperada do falecimento de nosso amigo, Mario de Arruda Leite, em termos delicados transmitidos pela sua irmã  Carminha: “O Mario se foi para junto de Deus.” Embora a  morte nunca seja inesperada, especialmente para os mais velhos  da ala mais antiga do nosso grupo da Creche Lar Ternura, a do Mário, no entanto, a despeito da imprevisibilidade na evolução dessa doença nova, que assola toda a humanidade e já matou mais gente do que guerras somadas, era considerada pouco provável, diante de seu estado de saúde sempre muito bom, de sua energia aparentemente inesgotável e o fato de que ele reagia muito bem e melhorava a cada dia, segundo nossa percepção.  Frequentemente, enviava um áudio no whatsapp com mensagens positivas, do tipo “bota a cerveja pra gelar, que eu tô voltando”, como naquela música da Simone, transmitindo grande otimismo na sua liberação, que para nós parecia breve e certa. Mas o Mário se foi! E se foi como todos iremos um dia. E  o que nos resta é aceitar os desígnios do Criador e continuar o “bom combate” que ele sempre travou. Um combate diário e inesgotável contra a desigualdade e a carência que afeta grande parte da população brasileira, cada vez mais empobrecida, diante dos devastadores efeitos da pandemia do Coronavírus. E especialmente à Creche Lar Ternura, que já completou 40 anos de benfazeja existência, décadas dentro das quais prestou assistência alimentar, social e educacional a milhares de crianças, muitas hoje adultas e até quarentonas, mercê de incessante  trabalho de funcionários, professores, diretores e colaboradores voluntários de todas as formas, aos quais se deve a manutenção e a longevidade da amada instituição.  E mais viva do que nunca, a Creche  caminha e  certamente caminhará altaneira e segura no cumprimento de seu nobre objetivo social, com a nova geração, que aí já está, suprindo – e com vantagens – as lacunas e os defeitos  daqueles que vão ou se aposentam.  O Mário, como lembram as mensagens dos diretores e amigos no grupo da Creche, foi um exemplo de pessoa humana, de pai, de marido, de avô, de filho, de irmão.  E um amigo muito, muito especial mesmo, pela humildade e respeito com que tratava todos, sem exceção. E pelo comprometido trabalho que executava, fosse na manutenção e conservação das instalações do prédio, nas compras mensais, nas vendas de convites dos diversos eventos e na divisão dos trabalhos que o grupo de diretores e voluntários realizava, ficando, amiúde, com os mais penosos e pesados, sem reclamar. Agora o Mário foi encontrar o Gil, o Armandinho, o Zé Luiz, a  Dna. Geny,  o Sebastião e as suas piadas rápidas, engraçadas e certeiras,  a Dna. Argentina e o marido, e tantos outros que, permanente ou episodicamente, abraçaram à bonita causa, gente generosa e despreendida, que deixou esse mundo e foi morar lá no Céu, ao lado do Criador. A Mara me lembrou que a nossa querida Geny se foi no dia seguinte a um domingo de Páscoa. E o Mário se vai agora,  um dia antes da data que comemora, para a cultura judaico-cristã,  a ressurreição de Jesus Cristo, e assim ambos experimentam o privilégio de renascimentos próximos, muito próximos, ao  do filho do Criador. Há muito tempo que, por ocasião de despedidas de pessoas queridas,  reproduzo  mensagem de um velho filme americano de guerra, segundo a qual não se deve chorar ou lamentar a morte de um grande homem, mas louvar a sua vida rica e proveitosa. E a vida do nosso Mário foi tão dedicada a tanta gente que ele ensinou o que significa comprometimento, amor, família, religião, humildade e simplicidade que a gente sempre se referiu a ele muitas vezes em função das pessoas ou causas que ele abraçou. E não era o Mário dele. Era sempre o Mário de alguém ou de alguma coisa a quem ou a qual servia.   Era o Mário da Zilda, o Mário do Junior, o Mário da Simone, o Mário da Denise, o Mário da Rosana, o Mário da Calha e, sobretudo, o eterno Mário da Creche, o seu epíteto mais relevante pelo número dos beneficiados com a sua intervenção pronta e oportuna.   Vá em paz meu amigo e que a certeza dessa  paz,   sua história de vida sirva de conforto à sua Zilda, especial e querida companheira de toda a trajetória, aos filhos e netos.  E que essa mesma bela história seja veículo de  inspiração  para todos os que, homens e mulheres  de boa vontade, buscam servir aos seus e ao próximo, dando, assim,  sentido e razão a essa vida tão breve e passageira, diante da eternidade dos nossos propósitos e esperanças. Sem tristeza, por favor, ele diria se pudesse, tenho certeza.

Profundo abraço Zilda, Simone, Junior, Denise, Rosana, genros, nora e netos. Esse Mário foi  muito relevante. E muito amado pela importância que teve na vida das pessoas.  Assim a gente pode aceitar sem mágoas, sem tristezas e sem revolta a sua partida como vontade do Criador.

 

Essa a mensagem que deixo aqui registrada e envio à família e aos amigos com um abraço afetuoso a todos, meu, da Mara, da Samira, do Renato e do meu neto, Rafael. 

Boa Páscoa amigos. 

P.S. A imagem de hoje é do nosso Mário com parte de sua estimada família. 





quinta-feira, 1 de abril de 2021

SONHO MEU



 

Amigos,

“Rádio Educadora de Campinas, anos 80. No ar programa de auditório patrocinado pelas Lojas Ducal, que concedia prêmio no valor de cinco mil cruzeiros, em mercadorias, para a equipe vencedora. Concorriam equipes de alunos de vários estabelecimentos de ensino da cidade: Ateneu Paulista, Colégio Progresso, Escola Normal, Unicamp, dentre outras. No palco o apresentador começa a formular as perguntas ao representante da Faculdade de Direito da Puc Central, o aluno Paulo Menna Barreto. – “O que é cacófato?”. O candidato tinha que soletrar antes, como naquele quadro do programa do Luciano Hulk. Paulo, desenvolto, foi logo soletrando e respondendo:  -Ca-có-fa-to. Cacófato, do grego Kakóphaton, do latim cacophaton. Segundo Aurélio Buarque de Holanda, lexicógrafo, ensaísta, crítico literário professor, CPF n. 583.122.143-56, alagoano, falecido em 1.989 sem ter visitado Tietê, “trata-se de substantivo masculino que significa som desagradável ou palavra obscena proveniente da união de sílabas finais de uma palavra com as iniciais da seguinte.” No auditório estávamos eu, o José Henrique Toledo, o Ricardo Ortiz, o Rubinho, o Jack Okada, o Gustavo Paula Leite, o Álvaro Cavaggioni, o Rogério,  o Amaury Mônaco, o Fábio Alberici e outros. No palco havia um conjunto (nome que se dava às bandas naquela época), tocando Hei Judge, dos Beatles. E um coral com  a Laís Mosca, a Maria Augusta, a Mariza, a Denise Penise, a Vivi, a Adriana Albano e a Adriana Sandoval,  que abriam e fechavam as bocas, sem que qualquer som saísse delas, como se tivessem apenas dublando o cantor. E a gente gritava: - vai, vai, vai. E elas gesticulando, só conseguiam sussurrar: - não conseguimos! Somos desafinadas e não sabemos cantar! O auditório, em peso, começa a vaiar as fracassadas cantoras e pedir que elas então façam um “strip-tease” para compensar.  Ao lado, a Rita Marcondes, com um pedaço de madeira na mão, faz um aceno chamando as jovens: - Venham cá, venham cheirar isso,  é imbuia, delícia, dá um barato legal. O apresentador, concluída a exposição do Paulo, pede um exemplo. Mas antes que ele responda, eu e o Zé Henrique  pedimos a ele que nos deixe cantar, valendo pontos para a nossa equipe. E depois de alguns minutos consultando o regulamento, autoriza. Começamos a cantar, como se tivéssemos combinado e ensaiado. Antes explicamos: a Música gente se chama “ No cume do Morro”. Ao ouvir isso, Paulo logo vai disparando: “Cu-me. Cume. Do lat. Cumen. Substantivo masculino. O ponto mais alto de um monte; cimo, crista, cocuruto ou cocuruta, coruta ou coruto, cumieira, picaroto, pináculo, píncaro, pinguruto, ponto culminante. E no sentido figurativo: apogeu, ápice; ponto culminante (ex. píncaro da glória). Aí emendamos, mandando ver: -  “Lá em cima daquele morro plantei um pé de roseira” E o público, em seguida: - “Ai, ai, ai”. E nós: - O mato no cume cresce, a rosa no cume cheira. Ai,ai, ai. E quando vem a noite, salpicos no cume entra, ai,ai, ai, salpicos no cume entram, formigas do cume saem. Ai, ai, ai.” Rebuliço geral. O apresentador grita:- Todos pra fora. A Puc está desclassificada. Fomos saindo muitos alegres, apesar da desclassificação,  entoando abraçados (o mato no cume cresce, a rosa no cume cheira, ai, ai, ai). Na saída nos esperavam o Diretor, Álvaro Cury, o Professor Álvaro César Iglesias e o Arcebispo Dom Gilberto Pereira Lopes. Cada um que passava por eles recebia um puxão de orelhas e um recado: -Vocês estão suspensos por 15 dias. Ao que, o Dr. Álvaro Cury acrescentava, chutando o traseiro:- Seus vagabundos, ordinários, pilantras.”  Eis que chega a minha vez e os três, olhando incrédulos e surpresos com a minha presença ali. E lamentando a minha grave conduta considerada obscena, gritaram ao mesmo tempo: “Até o Senhor, Professor? O senhor está demitido.” O Dr. Álvaro Cury fez menção de me dar um chute no traseiro, mas  ameacei. – Oh, oh, não chuta não que eu não sou aluno. Eu te processo. Na esquina seguinte todos pararam num grande outdoor luminoso do tipo “Time Square” de onde Cris, em 3 D, pedia que todos fossemos para os Estados Unidos rapidamente, porque lá as cadeias eram melhores e mais humanas do que aqui e que poderíamos tomar vacina que já estava garantida para todas as idades (não esquecer que todos nós éramos jovens).  Acordei agitado, em seguida. Era um sonho. De ontem. Do qual me lembrei em detalhes hoje logo pela manhã. E pensei: Vou escrever já. Senão eu me esqueço. Tudo a ver com esse nosso grupo de Whatsapp né gente? E com bagunça de comunicados, sentimentos, cantoria, fotografia,  piada, bullyng e tudo o mais. Só que em sonho é tudo misturado. E ninguém com competência para advertir: Se organiza, aí, Jamil.

Até mais amigos. P.S. A imagem de hoje é de peça em artesanato confeccionada por Rubens Galdino, o Rubinho, da Turma de 86, que além de talentoso advogado em Indaiatuba, é também  fazendeiro, amante da natureza e dedicado a múltiplas atividades, dentre as quais as artísticas. Rubinho faz a aniversario hoje e não é mentira. Caríssimo, toda a felicidade do mundo, muita saúde e sorte que você merece. Abraço.