Boa noite amigos,
“Oásis de
Bethânia” é o nome escolhido para o álbum. É o 50º da
consagrada intérprete, que diz não se sentir cantora. O Oásis para Maria Bethânia é o próprio “sertão brasileiro, onde não tem água, falta tudo e a vida é seca. Para não me perder, preciso sempre lembrar
que existe esse lugar no meu país”, desabafou em entrevista coletiva.Foi
lançado pela Biscoito Fino em 27 de
março de 2.012. É a base da turnê que a baiana levou para todo o Brasil, com o
nome “Cartas de Amor” (uma das composições constantes do CD, com texto
de sua própria autoria, musicado pelo consagrado Paulo Cesar Pinheiro). O longo intervalo entre o lançamento do
disco (março de 2.012) e a estréia do
espetáculo no Viva Rio (novembro do mesmo ano) teve duas causas: a) a viagem, em maio, para duas apresentações em Portugal, onde interpretou músicas de Chico Buarque de Holanda e, b) a
necessidade de adaptar o clima intimista do disco ao espetáculo de palco. A cantora, que tem muitos fãs em terras
lusitanas, homenageia o país de Camões
e Vasco da Gama na faixa em que, bem
ao seu estilo, recita Não Sei Quantas Almas Tenho, de Bernardo Soares, um dos heterônimos de Fernando Pessoa, e em sequência, interpreta FADO, substituindo a guitarra portuguesa pela viola caipira e o violão do compositor e músico, Roque Ferreira: /Para quem tu te consomes coração?/ E somes nessas águas de arrebentação/ Rolando ao sal dos sonhos/ vais
arrastando dores/ inaugurando mares/ com teu pranto de amores/”. A tônica ou o fio condutor das canções são os amores, não os amores dos contos de fadas, mas os amores dos fados portugueses, impossíveis,
condenados à desgraça e à desdita, à saudade, à dor de cotovelo. Belíssima a faixa Casablanca, com uma espécie de "interlúdio" do sax
de Marcelo Martins, entre os dois momentos cantados (experimente
fechar os olhos e ouvi-lo deliciosamente), lembrando Louis Armstrong e a música
tema As Time Goes By, recopiando o ambiente nostálgico do roteiro do filme do mesmo nome e do cinema dos anos 40. Está na
letra, aliás: /Era sonhar em preto e
branco no cinema. Será que Casablanca ainda vai passar?/ Acho que vou chorar/. A
concepção do projeto que originou o álbum, segundo Bethânia, foi diferente do tradicional:“Eu não queria voltar ao estúdio com a mesma formação: um maestro, um
diretor musical, os arranjos escritos. Eu queria, antes de tudo, que fosse um
disco muito nu, que fosse voz e instrumento”. Deveras: A tônica é mesmo uma execução a
nu: a voz firme, mas sempre suave e
límpida de uma de nossas maiores intérpretes da MPB, em muitas faixas com apenas um instrumento (o bandolim de Hamilton de Holanda, na antiga canção Lágrima, de Cândido das Neves, que já foi sucesso outrora na voz de Orlando Silva; o berimbau de Marcelo Costa e Marco Logo, na faixa Calmaria; o piano de Vitor Gonçalves em Barulho (sétima música);
o violão de sete cordas de Maurício
Carrilho, em Calúnia. Nenhuma música do mano Caetano, uma de Chico,
não inédita, O Velho Francisco, um
protesto contra a vida e o destino, que
a cantora interpreta com muita pegada, dando às palavras um tom mais firme e
diferente do original. Aqui é acompanhada do velho e bom Lenine, no violão. De Djavan,
que também a acompanha no violão, a
faixa Vive (uma espécie de “Deixa
a vida me levar” do Zeca
Pagodinho, em tom mais grave): “Vive... Deixa o tempo resolver/. Se tiver
que acontecer/Vive/ Desencana, meu amor/Tudo seu é muita dor/Vive/ Deixa o
tempo resolver/O que tem que acontecer/Livre/. A crítica em geral foi altamente
positiva, exaltando projeto e resultado. De
qualidade indiscutível, o curial bom gosto na escolha do repertório, a musa
da MPB mais uma vez repete, sempre inovando e encantando, o bom desempenho de projetos e obras anteriores. Disco para
se ouvir sozinho ou acompanhado de alguém especial, muito especial. E curtir porque a vida com música, com música boa e bem feita e bem interpretada é mais rica e melhor.
Até amanhã amigos.
P.S. (1) A capa do CD
mostra o céu e o chão do sertão de Alagoas e o projeto gráfico é de Gingo
Cardia, A direção geral é de Kati Almeida Braga e a direção artística da ótima Olívia Hime;
P.S. (2) O CD é
para ouvir de olhos fechados e ouvidos apurados para perceber cada nota dos
belíssimos arranjos executados por músicos novatos (numa aposta exitosa da
artista) e antigos, todos porém de muita qualidade, com seus instrumentos bem tratados (Hamilton de Holanda e seu bandolim, Lenine
no violão, Jorge Helder (baixo), Marcelo Costa (percussão), Marcelo Martins
(saxofone), Vitor Gonçalves (piano), Marco Lobo (berimbau), Jaime Alem (violão
e violas), Maurício Carrilho (violão 6 e
7 cordas), Luciana Rabelo (cavaquinho).
P.S. (3) FAIXAS DO CD: 1. LÁGRIMA; 2 – O VELHO
FRANCISCO/LENDA VIVA (CITAÇÃO); 3- VIVE; 4- CASABLANCA; 5- CALMARIA/NÃO SEI
QUANTAS ALMAS TENHO (CITAÇÃO); 6 – FADO; 7- BARULHO; 8- LÁGRIMA (CITAÇÃO)/ CALÚNIA; 9 – CARTA DE AMOR; 10- SALMO;
P.S. (4) A imagem da
coluna é da capa do disco e foi emprestada de sabordaletra.blogspot.com.
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