quarta-feira, 18 de junho de 2014

TEMPOS BICUDOS - MAIS UM "CAUSO"

                                    

Boa noite amigos,

Vivemos em plenitude a Copa do Mundo da FIFA aqui no Brasil e todos os olhos estão voltados, para o que acontece no futebol, dentro e fora das estádios. Mas hoje, abrindo exceção, vamos postar um outro "causo", publicado no livro "Causas & Causos n. II", da Editora Millenium. Para dizer que, "em tempos bicudos" vale tudo! Então, tá! Vamos lá:

 “O QUE DIZ UMA MULHER A SEU CRÉDULO AMANTE, DEVE-SE ESCREVER NO VENTO”
                                       (CATULLO)


"O cenário,  a pequena cidade do interior do Estado de São Paulo, com pouco mais de cinco mil habitantes.
A maior parte vivia na roça, fora da simplória zona urbana.
Os personagens centrais eram três: a Dona Margarida, "largada" do marido, como se dizia, pois o distinto se mandou depois de ultimato da mulher que não mais queria saber de vagabundo (ele não arrumava emprego, porque não procurava) e de pinguço (o bicho bebia,  noite e dia); o Osório, que era alto e bravo e que, segundo se sabia na cidade, frequentava, com assiduidade, a casa da distinta “viúva” de marido vivo. E, finalmente,o capial, Leonço, moço trabalhador e solteiro que acabou também  envolvido com a tal Margarida.
Certo é que o tal envolvimento do Leonço começou a correr de boca em boca pela cidade.
O rapaz foi ficando meio cabrero com a fofocaiada, pois mais dia, menos dia, essa história ia chegar nos ouvidos do Osório.
O bicho, no entanto, passou de cabrero a assustado, quando o mecânico Jorge trouxe a notícia fresquinha:
- Ooo... Leonço, eu fiquei sabendo que o Osório tá procurando você.
- Eu? Mas como? Pra quê?
- E eu que lá sei? Mai discunfio, né? O cê anda comendo a muié dele e a coisa já se espaiou.
- Eu, não, isso aí é pura fofoca.
- Deus tá vendo. Vê se se cuida bicho, já viu o mãozão do home.
Leonço saiu dali impressionado. Que será que o Osório ia querer? Por certo prestar contas. E ele ia apanhar feito muié de malandro. Isso se o distinto não preferisse logo passá fogo nele. Deus do céu! Que encrenca, pensou. A Margarida era jeitosinha, mas nada que valesse a morte.
Dias se passaram sem que os moços se cruzassem.
A verdade é que Leonço passou a evitar o Osório, deixando inclusive de frequentar os lugares de costume (o bar do Jairo, o clube de campo onde se jogava uma pelada, e até a igreja).
Tinham, inclusive, sugerido a ele que “desse um tempo” por ali, viajasse uns dias, até a coisa esfriá.
Mas não teve jeito: Cansado de contar com o acaso, o tal Osório, certo dia resolveu bater na porta da casa do Leonço.
- Filho, tem um moço aí que quer falar com você.
- Um moço? Quem é mãe? Até parece que a senhora não conhece esse povo daqui?
- É, mais esse aí eu num tô conhecendo direito não, mas acho que é o fio da Parmira.
Leonço sentiu um frio na barriga.
Pois o filho da Parmira, que sua mãe tanto conhecia, era justamente o Osório. Deus do céu!
- Mãe, a senhora falô que eu tava aqui?
- Ué, falei, por que? E lá eu ia menti?
O diálogo nem chegou a terminar, pois o Osório, diante da demora, simplesmente invadiu a sala, pedindo licença pra mãe do Leonço, argumentando que a conversa era de home pra home, pelo que ela que fizesse a gentileza de se retirar, deixando que eles conversassem sozinhos.
A mulher, sem pestanejar,  deixou a sala.
Leonço tremia como vara verde.
Osório muito calmo foi logo no ponto da questão.
- Ooo... Leonço, tão dizendo aí que você anda comendo a Margarida, é verdade?
Leonço entre trêmulo e suado, com o coração disparado, se encorajou:
- Oia pra dizê a verdade foi só umas duas veis, mas eu não tive curpa, ela é que quis e eu nem sabia que oceis tava de cacho. Te juro!
Osório parou calmamente, e, diante do apavorado interlocutor, fez a proposta:
- Não, sabe?. É que eu faço uma compra pra ela todo mês no armazém do Felício. Ocê sabe como tão as coisas. Então, como falaram que  ocê tava saindo cuela, eu vim vê socê num qué dividi essa bendita compra cumigo."

 Até amanhã amigos,

P.S. (1) A imagem-caricatura da coluna de hoje foi emprestada de humbertopessoa.blogspot.com;

P.S. (2)   No dia 03 de maio, comemora-se o dia do sertanejo, figura singela e apaixonante de nossa cultura, cantado em prosa e verso e que, inclusive, virou categoria de canção popular, hoje multiplicando-se em sub-categorias: sertanejo tradicional, caipira, sertanejo universitário etc. etc.                     



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