Boa noite amigos,
Li
na Internet, dentre múltiplas notícias sobre a Copa do Mundo, que a Vila Madalena, em São
Paulo, confirmando sua vocação de espaço de cultura e lazer, um oásis dentro da estressante capital paulista, está recebendo,
todos os dias, um enorme público entre turistas de todas as partes do mundo e
do nosso país, que se misturam em pacífica convivência ecumênica. Bem, mas o que me chamou a atenção na reportagem e me transportou mentalmente para minha juventude já perdida na noite dos
tempos, foi a observação de que muitos brasileiros estão se passando por
estrangeiros, na prática da chamada “azaração”, certos de
que assim conseguem muito mais êxito do que se declarassem a condição de filhos da mesma terra. Comecei então a pensar em outros tempos e refletir sobre a existência de
uma espécie de “magia de ser de fora”. Essa magia, consciente ou inconsciente, talvez explique a necessidade ou curiosidade que temos em contatar com o diferente, com o desconhecido, com aquilo que,
na nossa cabecinha, seria melhor, mais evoluído, mais interessante, e,
portanto, uma oportunidade de um relacionamento, seja de amizade, seja de outra
natureza, com seres de um “outro planeta”. Aí me
lembrei de um carnaval que, a convite de um amigo nosso aqui de Campinas,
fomos, eu e alguns colegas, inclusive o anfitrião, passar na vizinha cidade de
Socorro. Nas precárias condições de instalação (dormíamos todos no chão), superada com a magnífica acolhida que recebíamos dos donos da casa, o nosso objetivo era ir para um clube da cidade
onde, segundo se afirmava, chovia mulheres bonitas, “assim ó”, como nosso colega falava entusiasmadamente, juntando os dedos da mão direita, para indicar uma quantia imensa qualquer. Na primeira noite, a surpresa ficou por conta da constatação de um interesse incomum das moças, por nós. Cidade pequena, os rapazes da terra eram manjados.
Todos conhecidos, super-conhecidos. Daí
o fato das moças se voltarem para nós, com curiosidade. Pronto, estava feita a
confusão. Os rapazes de lá se sentiam meio donos do pedaço e, portanto, entendiam que as socorrenses deveriam estar disponíveis para eles. E só para eles, mesmo porque
não eram tantas assim. Quando perceberam que a exclusividade estava seriamente ameaçada, voltaram-se para nós com um misto de inveja e fúria. E sem que desconfiássemos a mensagem implícita no ar era de que “o pau ia comer”, na linguagem da
época[1]. Só
sei que antes que déssemos conta, partiram para cima de nós, que estávamos
espalhados, eu, inclusive, no jardim do clube,
com uma menina de 15 anos que me achava parecido com o Dustin Hoffmann,
mas seguramente mais charmoso que o ator americano[2]. Tivemos
que sair correndo para não apanharmos feio na frente das meninas. Pedimos
desculpas pela fuga covarde e elas imediatamente odiaram aqueles “idiotas caipiras e cafonas" que espantaram os seus
príncipes encantados da próspera Campinas, frustrando o resultado do acaso ou do destino que havia de lhes reservar uma história de amor futura e próspera. Portanto, quando li a notícia na Internet,
conclui que fundamentalmente nada mudou. As moças continuam atraídas, como uma
espécie de magia, pelos estrangeiros. E os nossos rapazes, mais inteligentes, sabendo que não vão
conseguir afastar os “gringos” com
ameaça de “porrada”, preferem formular um jogo mais interessante: com habilidade, falando
lá um “inglezão macarrônico” qualquer, enganar as garotas, afirmando que são mexicanos, americanos,
ingleses ou holandeses. Se elas vão cair nessa, não se sabe. Mas que a magia de
ser de fora continua impressionando as mulheres, isso não há dúvida.
Até amanhã, amigos.
P.S. (1) Curtir, ou pelo menos visitar, Vila Madalena, em viagem de turismo ou nas pausas de viagem de trabalho por São Paulo é hoje obrigatório. Situada na zona oeste da Capital Paulista, incrustada em um morro, a Vila Madalena é sinônimo de lazer e cultura. Muitos bares e restaurantes ali se concentram e oferecem música de qualidade, cardápios diferenciados, assim como drinks e bebidas de todos os tipos e marcas. E se recebe os intelectuais descolados, por ali também circulam todas as tribos, de direita ou de esquerda, daqui e de fora. Daí o que está acontecendo por lá durante a Copa do Mundo não ser novidade, pois apenas reafirma a vocação, como se disse, desse bairro, para representar verdadeiramente a cidade de São Paulo, uma metrópole cosmopolita, onde convivem as diversidades.
P.S. (2) As imagens da coluna de hoje são todas de espaços situados na Vila Madalena. A primeira (emprestada de www.espacoturismo.com) é do bar Mercearia, assim chamado, por ter sido, no passado, realmente uma mercearia. O segundo (emprestado de cultura.culturamix.com.), mostra uma das vias públicas em que os proprietários dos imóveis abriram espaço para os artistas da grafitagem. O terceiro e último é outro dos bares badalados, reduto dos notívagos e boêmios, mas também do pessoal que prefere a luz do dia, convencidos de que, à luz do sol, nem todos os gatos (ou gatas, melhor dizendo), são pardos (imagem emprestada de g1globo.com.)
Até amanhã, amigos.
P.S. (1) Curtir, ou pelo menos visitar, Vila Madalena, em viagem de turismo ou nas pausas de viagem de trabalho por São Paulo é hoje obrigatório. Situada na zona oeste da Capital Paulista, incrustada em um morro, a Vila Madalena é sinônimo de lazer e cultura. Muitos bares e restaurantes ali se concentram e oferecem música de qualidade, cardápios diferenciados, assim como drinks e bebidas de todos os tipos e marcas. E se recebe os intelectuais descolados, por ali também circulam todas as tribos, de direita ou de esquerda, daqui e de fora. Daí o que está acontecendo por lá durante a Copa do Mundo não ser novidade, pois apenas reafirma a vocação, como se disse, desse bairro, para representar verdadeiramente a cidade de São Paulo, uma metrópole cosmopolita, onde convivem as diversidades.
P.S. (2) As imagens da coluna de hoje são todas de espaços situados na Vila Madalena. A primeira (emprestada de www.espacoturismo.com) é do bar Mercearia, assim chamado, por ter sido, no passado, realmente uma mercearia. O segundo (emprestado de cultura.culturamix.com.), mostra uma das vias públicas em que os proprietários dos imóveis abriram espaço para os artistas da grafitagem. O terceiro e último é outro dos bares badalados, reduto dos notívagos e boêmios, mas também do pessoal que prefere a luz do dia, convencidos de que, à luz do sol, nem todos os gatos (ou gatas, melhor dizendo), são pardos (imagem emprestada de g1globo.com.)
[1] Acho que
ainda hoje “o pau vai comer” é uma expressão inteligível aos jovens. Pelo menos quando ouvem isso tratam
de sair correndo, especialmente se forem frágeis e baixinhos, como eu era. E
ainda sou, né!
[2] Eu já era baixinho e feio, como sempre fui,
mas sinceramente me achava mesmo parecido com o Dustin Hoffmann, que nunca foi
um galã, embora um dos mais impressionantes e talentosos atores que conheci.
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