Boa noite amigos,
Terminou agora à noite a eleição presidencial mais
emocionante e equilibrada desde a abertura democrática no Brasil. Reeleita por uma
diferença de cerca de três milhões de votos (51,64% dos votos válidos), Dilma
Roussef teve altos e baixos no exercício deste seu primeiro mandato,
marcado por denúncias de corrupção de
vários Ministros e do histórico julgamento, pelo Supremo Tribunal Federal, do
chamado “mensalão”, pelo qual foram
condenados, vários políticos e dirigentes,
muitos dos quais seus amigos e fundadores do Partido dos Trabalhadores, como José Dirceu e José Genoino.
Às vésperas da eleição a operação Lava Jato, da Polícia Federal, pegou
fogo, com denúncias de corrupção na Petrobras, uma das empresas públicas
mais operantes e respeitadas no país e no mundo, e a acusação de um doleiro,
protegido pela chamada “delação premiada”
de que o ex-Presidente Lula e a Presidenta Dilma tinham
conhecimento da corrupção institucionalizada na Petrobrás, o que motivou um pronunciamento específico e veemente da
candidata, que correu ao TSE, onde
conseguiu direito de resposta e prometeu processar oportunamente a Revista Veja, que divulgou o suposto
conteúdo do depoimento. No seu adversário, Aécio
Neves, ex-governador de Minas Gerais
e Senador no cumprimento do
mandato, neto do ex-Presidente Tancredo
Neves, se concentraram todas as tendências políticas e insatisfações contra
a Presidenta e o Partido dos Trabalhadores, que governa o país há 12 anos, desde a
primeira eleição do carismático Presidente
Lula. A eleição, neste segundo turno, praticamente dividiu o mapa do Brasil em duas tendências. No Norte e
Nordeste, principal reduto eleitoral do PT, Dilma venceu com grande diferença.
No Centro-Oeste, incluindo o Distrito Federal e no Sul, Aécio teve a
preferência do eleitorado. No Sudeste, operou-se uma divisão. Enquanto São
Paulo e Espírito Santo referendaram o tucano, Minas Gerais e Rio de Janeiro
optaram pela reeleição. O que fica de mais relevante, porém, como recado das
urnas e a Presidente reeleita disso falou no seu discurso proferido logo após a
proclamação dos resultados, é a necessidade de Mudança. Há muito por fazer, a
começar pela Reforma Política que
deverá disciplinar o financiamento de campanhas eleitorais e as condições de
criação dos partidos políticos, dentre outros temas de relevo. A retomada do
crescimento econômico, que será pífio, ou praticamente nenhum este ano, a
contenção da inflação, sem o comprometimento do PIB, das demandas e dos níveis
de emprego, a retomada das exportações, no pior cenário que tivemos desde o
Plano Real é outro grande desafio que aguarda a Presidenta a começar de agora. E inevitável que várias posturas mais
arrogantes sejam revistas. A governabilidade deverá passar por um processo de
maior dificuldade, a exigir maior diálogo permanente com o Congresso Nacional e com os vários segmentos da sociedade civil.
Tudo isso foi proclamado por Dilma no seu discurso, e nele não
faltou uma espécie de “mea culpa" indireta, ao reconhecer que se sente mais madura e preparada para governar. Por fim, registrou-se a assunção explícita de um compromisso com o povo brasileiro, cujo anseio por
mudanças profundas e estruturais podem ser extraídas de mais de 51 milhões de
votos conferidos ao candidato da oposição, de um universo de 105 milhões de
votos válidos.
Até amanhã amigos,
P.S. (1) Dilma acenou com a convocação de um Plebiscito para conhecer a aspiração
popular sobre temas ligados à prometida reforma política;
P.S. (2) Uma das maiores curiosidades entre os economistas e
empresários é saber se a Presidenta manterá
a sua equipe econômica e, na negativa, quais serão suas opções para a criação da estratégia de recuperação da economia, com a contenção da inflação, tarefa nada
simples;
P.S. (3) Educação, educação, educação, foram as palavras
pronunciadas por Dilma em entrevista que o Fantástico exibiu agora à noite,
feita com a então candidata na semana passada, ao responder indagação sobre o
que considerava mais importante priorizar;
P.S. (4) Nessa campanha, ouvindo o povo, aprendi ser mais humilde
como política e a me tornar melhor como pessoa. Essa foi uma das confissões da
candidata reeleita. Oxalá seja sincero e um ponto positivo na condução do novo
mandato. Muita gente se queixava, incluindo partidos e políticos coligados ao
governo, da falta de disposição e humildade da Presidenta para ouvir sugestões;
P.S. (5) Pessoalmente acredito que discutir política é
pura perda de tempo. Cada um tem sua visão, suas razões e o livre arbítrio para
decidir o que melhor lhe parece e, pois, para decidir por partido, candidato
ou voto. Tentar convencer quem quer que
tenha definido voto é encrenca na certa. De uma coisa, porém, me convenci. Nada adianta mudar pessoas, se não se mexe na estrutura do poder e não se criam condições concretas de contenção e fiscalização dos governantes, em qualquer esfera.
P.S. (6) A imagem da coluna de hoje é da Presidenta reeleita,
Dilma Roussef e foi emprestada do blogcarlossantos.com.br;