sexta-feira, 2 de outubro de 2015

CINEMA NACIONAL - QUE HORAS ELA VOLTA?

Amigos, boa tarde.

Uma das gratas surpresas do cinema nacional deste ano é esse “Que Horas Ela Volta?”, longa de 1 hora e 54 minutos,  que está em cartaz no circuito comercial. O roteiro conta a estória da protagonista Val (Regina Cazé), uma pernambucana que deixou o nordeste e a filha pequena, aos cuidados de parentes, para tentar a vida em São Paulo,  como babá e empregada doméstica,  funções que exerce para uma família de classe média alta do bairro do Morumbi. Treze anos depois, a filha Jéssica (Camila Márdila),  agora adolescente, telefona informando que está embarcando com destino à capital paulista, onde objetiva prestar vestibular na famosa Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo Despreparada, sem estrutura material e emocional para receber a jovem, Val vive a expectativa de saber como é, vive e pensa esta filha que ela pouco conhece, e de como será o relacionamento  e o futuro delas, depois de tantos anos separadas. Parece um drama, e é. Mas é comédia, também, porém não  só. É cinema completo, do bom, cinema de gente grande, cinema de arte sem rebuscamento, sofisticação,  complexidade, ou efeitos especiais,  no qual  a diretora e roteirista, Anna Muylaert  explora, com extrema delicadeza e seriedade, mas com  bom humor, temas profundos, como a distância e o preconceito entre classes sociais no Brasil, o confronto entre o norte e o sul, e as regras que ainda presidem, conscientes ou inconscientemente,  o relacionamento entre homens e mulheres, pobres e ricos, pretos e brancos. Os patrões de Val, embora acolhendo a jovem,  com o passar dos dias, não conseguem esconder o incômodo que sentem com a conduta da moça que, de forma sincera e supostamente ingênua,  se sente e se comporta como uma visita ou um amigo dos proprietários. O embate entre Jessica e os patrões e a jovem e sua mãe Val,  gera alguns conflitos e serve também para criar, na conformada serviçal, uma consciência de seu próprio valor humano, despertando a reflexão sobre as diferenças e preconceitos e a liberdade de opção de vida, sem extremado apego à dependência indigna e à segurança material. Não deixe de ver. É disparado até aqui, ao menos, o melhor filme nacional do ano, com um desempenho extraordinário de Regina Cazé e da jovem atriz, Camila Márdila, o que já lhes rendeu algumas premiações. O filme foi lançado nos Estados Unidos e muita gente aposta que tem tudo para fazer carreira internacional, como quem sabe, eventualmente, até mesmo a conquista de um inédito Oscar para o Brasil, como o melhor filme estrangeiro,  e/ou Regina na categoria de atriz. É conferir.

Ate amanhã amigos.


P. S. (1) Anna Muylaert, diretora, produtora e roteirista de cinema e TV, goza hoje do mesmo status de diretores nacionais de primeira linha, como Hector Babenco, Walter Salles e Fernando Meirelles. Integrou a equipe que deu versão final ao Castelo Ra-tim-bum, da TV Cultura. Dirigiu, em 2.002, o longa Durval Discos, premiado no Festival de Gramado nas categorias de melhor filme e melhor diretor, e, É Proibido Fumar, filme de 2.009, com Glória Pires. Como roteirista tem no currículo dois grandes clássicos do cinema nacional: O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias (2.006) e Xingu (2.011);

P.S. (2) Além de Regina Cazé, como a doméstica Val, o filme conta com a participação de Camila Márdila, como a adolescente Jéssica, Michel Joelsas, como Fabinho, Lourenço Mutarelli, no papel de Carlos, e Karine Teles, a patroa Bárbara;

P.S. (3) O jovem ator Michel Joelsas foi o garoto protagonista, em 2.006, do ótimo filme nacional, O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias. Atualmente pode ser visto na telinha na novela Malhação, da TV Globo.

P.S. (3) A carreira internacional de Que Horas Ela Volta, começou com premiações importantes e aplausos da crítica e do público em festivais. No Festival de Sundance, nos Estados Unidos,  as atrizes Regina Cazé e Camila Márdila dividiram o prêmio de melhor atriz. No Festival de Berlim, o filme recebeu o prêmio de Melhor Filme da Mostra Panorama, a mais importante mostra paralela do festival. Com isso garantiu um distribuidor nos Estados Unidos e o interesse de outros.

P.S. (3) A imagem da coluna de hoje é de uma das cenas do filme e foi emprestada de ar7e.com.br.

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