Amigos,
boa tarde.
Uma
das gratas surpresas do cinema nacional deste ano é esse “Que Horas Ela Volta?”,
longa de 1 hora e 54 minutos, que está
em cartaz no circuito comercial. O roteiro conta a estória da protagonista Val
(Regina Cazé), uma pernambucana que deixou o nordeste e a filha pequena, aos
cuidados de parentes, para tentar a vida em São Paulo, como babá e empregada doméstica, funções que exerce para uma família de classe média alta do bairro do Morumbi. Treze anos depois, a filha Jéssica (Camila Márdila),
agora adolescente, telefona informando que está embarcando com destino à capital paulista, onde objetiva
prestar vestibular na famosa Faculdade de Arquitetura da Universidade de São
Paulo. Despreparada, sem estrutura material e emocional para receber a jovem, Val vive
a expectativa de saber como é, vive e pensa esta filha que ela pouco conhece, e de
como será o relacionamento e o futuro
delas, depois de tantos anos separadas. Parece um drama, e é. Mas é comédia, também, porém não só. É cinema completo, do bom, cinema
de gente grande, cinema de arte sem rebuscamento, sofisticação, complexidade, ou efeitos especiais, no qual a diretora e roteirista, Anna Muylaert explora, com extrema delicadeza e seriedade, mas com bom humor, temas
profundos, como a distância e o preconceito entre classes sociais no Brasil, o
confronto entre o norte e o sul, e as regras que ainda presidem, conscientes ou
inconscientemente, o relacionamento
entre homens e mulheres, pobres e ricos, pretos e brancos. Os patrões de Val, embora acolhendo a jovem, com o passar dos dias, não conseguem esconder o incômodo que sentem com a conduta da moça que, de forma sincera e
supostamente ingênua, se sente e se comporta como uma visita ou um amigo dos proprietários. O embate entre
Jessica e os patrões e a jovem e sua mãe Val,
gera alguns conflitos e serve também para criar, na conformada serviçal,
uma consciência de seu próprio valor humano, despertando a reflexão sobre as
diferenças e preconceitos e a liberdade de opção de vida, sem extremado apego à
dependência indigna e à segurança material. Não deixe de ver. É disparado até
aqui, ao menos, o melhor filme nacional do ano, com um desempenho
extraordinário de Regina Cazé e da jovem atriz, Camila Márdila, o que já lhes rendeu algumas premiações. O filme
foi lançado nos Estados Unidos e muita gente aposta que tem tudo para fazer
carreira internacional, como quem sabe, eventualmente, até mesmo a conquista
de um inédito Oscar para o Brasil, como o melhor filme estrangeiro, e/ou Regina na categoria de atriz. É
conferir.
Ate amanhã amigos.
P.
S. (1) Anna Muylaert, diretora, produtora e roteirista de cinema e TV, goza
hoje do mesmo status de diretores
nacionais de primeira linha, como Hector Babenco, Walter Salles e Fernando
Meirelles. Integrou a equipe que deu versão final ao Castelo Ra-tim-bum, da TV Cultura. Dirigiu, em 2.002, o longa Durval Discos, premiado no Festival de
Gramado nas categorias de melhor filme e melhor diretor, e, É Proibido Fumar, filme de 2.009, com
Glória Pires. Como roteirista tem no currículo dois grandes clássicos do cinema
nacional: O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias (2.006) e Xingu (2.011);
P.S.
(2) Além de Regina Cazé, como a doméstica Val, o filme conta com a participação
de Camila Márdila, como a adolescente Jéssica, Michel Joelsas, como Fabinho,
Lourenço Mutarelli, no papel de Carlos, e Karine Teles, a patroa Bárbara;
P.S. (3) O jovem ator Michel Joelsas foi o garoto protagonista, em 2.006, do ótimo filme nacional, O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias. Atualmente pode ser visto na telinha na novela Malhação, da TV Globo.
P.S. (3) O jovem ator Michel Joelsas foi o garoto protagonista, em 2.006, do ótimo filme nacional, O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias. Atualmente pode ser visto na telinha na novela Malhação, da TV Globo.
P.S.
(3) A carreira internacional de Que Horas
Ela Volta, começou com premiações importantes e aplausos da crítica e do
público em festivais. No Festival de Sundance, nos Estados Unidos, as atrizes Regina Cazé e Camila
Márdila dividiram o prêmio de melhor atriz. No Festival de Berlim, o filme
recebeu o prêmio de Melhor Filme da Mostra Panorama, a mais importante mostra paralela do festival. Com isso garantiu um
distribuidor nos Estados Unidos e o interesse de outros.
P.S.
(3) A imagem da coluna de hoje é de uma das cenas do filme e foi emprestada de
ar7e.com.br.
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