sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

BOM SUCESSO - BOA TRAMA NUM ANO DE LUGARES COMUNS


Boa tarde amigos,


Em imagem emprestada de gshow.globo.com., os autores Paulo

Halm e Rosane Svartman, que  não esperavam a grande recep-
tividade do trabalho entre público e crítica. A  audiência bateu
na casa dos 30 pontos na Grande São Paulo, um recorde para o
horário.
Termina hoje a novela BOM SUCESSO (Globo, 19 horas), com a morte esperada de seu protagonista, o editor de livros, Dr. Alberto Prado Monteiro.O empresário teve os seus exames de laboratório trocados com a da jovem Paloma, no primeiro capítulo. O velho dono da editora, apaixonado pela literatura e pelos grandes clássicos é que, em verdade, está condenado à morte por força de patologia grave, progressiva e letal, resultado essa comunicado à moça. Passa então Paloma a viver o drama de como irá enfrentar a doença e a morte iminente, com três filhos adolescentes para criar. Comunicada, porém,  a troca dos exames, a jovem, aliviada, decide conhecer o outro paciente que realmente é o portador da moléstia para saber como ele se sente e como pretende enfrentar essa difícil situação.  A aproximação cria entre os personagens, de classes e cultura diferentes, uma empatia que vai então trazer a vida e os dramas de cada um e das respectivas famílias  para uma zona de interface e envolvimento recíprocos. A escolha do experiente Antonio Fagundes e da atriz Grazzi Mazzafera para os papéis de Alberto e Paloma funcionou bem, na prática. O público e a crítica jogaram juntos com a dupla e deram sinal verde para o incremento na exploração da mensagem que o roteiro pretendia: disseminar grandes textos de clássicos da literatura, tratar sobre a importância e a necessidade  da educação e da cultura e de como se pode se pode viver a vida de maneira simples e lúdica,   com respeito a todas as diferenças, valorizando cada momento e o convívio com as pessoas que se ama.  “A novela fala sobre a importância de viver com a consciência de que nossos dias são finitos e únicos. É sobre saber valorizar, de forma intensa, as pequenas coisas do cotidiano” explica um dos autores, Paulo Halm. O expediente de encenações de excertos de obras e personagens memoráveis, enquanto  Fagundes declamava o texto  alusivo ao tempo, lugar e modo em que os fatos relatados ocorriam, deu uma maior colorido a essas obras e autores, especialmente para uma geração que prefere a imagem à linguagem,  e que muitas vezes tem dificuldade em vislumbrar, de forma imaginativa e abstrata, todo o clima, o sabor, o cheiro, as cores e os lugares por onde os grandes escritores nos conduzem para viagens que seus textos nos remetem.  A identificação com esses personagens centrais, mas não únicos, garantiu  o bom andamento e o interesse permanente do espectador pelo desfecho da trama em relação a cada um deles. Destaque-se, ainda, a boa atuação de todo o elenco com menções honrosas à Fabiula Nascimento, no papel de Mariana, da jovem Valentina Vieira,  como Sofia, neta de Alberto,  e de Ingrid Guimarães na pele da excêntrica atriz, Silvana Nolasco.  A novela em boa medida deixou-se contaminar pelos clichês de tantas outras, apresentando situações improváveis e principalmente a inadequada abordagem jurídica de certas relações, aspectos que mereceram acirrada crítica em postagem sobre o assunto, que fiz aqui mesmo neste blog, O conjunto da obra, no entanto, foi positivo, especialmente pela temática central que é a importância da instrução e da educação num país como o Brasil, como forma de melhorar a vida das pessoas e do papel da literatura universal de gabarito como parcela ponderável dessa mudança. De quebra não teve receio de enfrentar o tabu da morte, vista como uma forma natural de fechamento do ciclo da vida, que deve ser encarada de maneira serena e tranquila, sem traumas para quem vai e para quem fica.   

Até mais amigos, 



domingo, 19 de janeiro de 2020

LITERATURA - A SAIDEIRA DE BARBARA GANCIA.



Boa tarde amigos,

Imagem de capa do livro elaborada pelo Departamento de

Criação da Editora Planeta do Brasil e foto de Eduardo -
Knapp.

Quero recomendar o livro A SAIDEIRA, da jornalista Barbara Gancia, cujo subtítulo é “Uma Dose de esperança depois de anos lutando contra a dependência”. O livro, lançado em 2.018 pela Editora Planeta do Brasil Ltda. está na 4ª. edição, e nos primeiros capítulos relata a infância e a juventude da autora, uma mulher especialmente inteligente e sensível,que tomada pelo vício do álcool e do fumo, desafiou a burguesia paulistana e seus conceitos. Num processo de auto-degradação, Bárbara destruiu veículos e se envolveu em inúmeros acidentes, um dos quais lhe custou a visão de um dos olhos, expondo os irmãos, os pais, os amigos e as companheiras com quem manteve relacionamento amoroso, a situações vexatórias e perturbadoras. Mesmo relatando esse triste processo de auto-destruição, a autora recheia o relato com situações curiosas, pitorescas, engraçadas, mercê do denunciado humor atávico[1], de seu talento e sensibilidade para a escrita, provocando no leitor certa piedade,  mas também leveza e diversão. Aliás, curiosamente, conquanto sua vida pessoal, familiar e amorosa ia se afundado em perdas seguidas e decepções, graças ao abuso do álcool, droga e fumo, conseguia manter relativamente estável os seus vínculos com os mais tradicionais e conceituados jornais e revistas, pelos quais divulgava seus conceitos e visões, graças à tolerância de editores, chefes e amigos, que tentavam extrair dela, no dia seguinte à esbórnia (e o dia seguinte eram todos os que se seguiam ao anterior), o cumprimento de suas obrigações. Na Folha de São Paulo está há 32 anos, dos 62 anos atuais e conseguiu apresentar com o repórter esportivo Silvio Luiz, o programa esportivo Dois na Bola,  que foi ao ar durante 10 anos na Bandnews. Nos capítulos posteriores há relato de seus vexames, crises, culpas, impotência etc., e litígio com astros e políticos de renome, relato de processos que seu jornal e ela própria sofreram pelas denúncias que fazia,  suas tentativas frustradas de abandonar o alcoolismo e  o  processo de superação, com as internações seguidas e  a adesão ao grupo dos Alcóolatras Anônimos, instituição que defende veementemente e com conhecimento de causa, nos embates públicos que manteve com psiquiatras e psicoterapeutas de renome e  nos encontros e palestras que passou a proferir em todo o Brasil. Barbara não se diz curada, porque reconhece que o alcoolismo é uma doença incurável e que necessita de tratamento. E que o horizonte de cada um que padece desse mal é sempre o hoje, o cada dia.  Sobre a obra, escreveu o escritor Ruy Castro, amigo da escritora de longa data e que também passou por um processo sério de tentativa de superação do alcoolismo: “Há pessoas cujas vidas imploram para ser escritas. O problema é que, para que isso aconteça, essa pessoa precisa estar viva. E Barbara Gancia preferia flertar com a morte, a bordo de copos e mais copos e ao volante de carros suicidas. Em sua fase esbórnia, Barbara viveu vários filmes de ação, cheios de alçapões invisíveis, quedas no abismo e ataques de ratos. Mas nenhum tão emocionante quanto sua luta pela sobriedade. Um dia, finalmente, depois de muitas recaídas, Barbara conseguiu parar a história. O resultado é A Saideira, um livro que só ela poderia ter escrito. E cuja leitura encerra lições para todos nós que, tantas vezes, achamos que os prazeres que a vida nos oferecia estavam sendo dados de graça”. Bem mais um livro de auto-ajuda muito em moda? Sim, sim, mas não só isso, evidentemente. Uma obra bem escrita que denuncia preconceitos e desrespeito a direitos humanos das minorias, a corrupção e a política que se pratica no Brasil, os privilégios, o abismo social, a hipocrisia da burguesia, enveredando aqui e acolá pelas universais e eternas questões do existencialismo, que a cada faixa etária cada ser humano busca responder para si e para o seu mundo.
Uma leitura interessante para todos os gostos e obrigatória para quem necessita de ajuda na busca de superação do alcoolismo e outras doenças da compulsão.

Até mais amigos.
           




[1]Sou uma mulher engraçada, rodeada por pessoas hilárias. O humor é um valor venerado na minha família, sempre tão dada à desenvoltura social. Significa elegância,  leveza e reflete uma filosofia cheia de sabedoria. A vida é isso, e não muito mais, drama existencial não vai mudar o fato de que somos todos tão perecíveis quanto um pastel de palmito.”  (Capítulo GRAÇA E DESGRAÇA, p. 75.)













quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

CARTA AO TERAPEUTA

Bom dia amigos,

Imagem do badalado quadro de Edvard Munch datado de 
1.893:  "O Grito". A interpretação gera ainda hoje grande
polêmica entre os especialistas.E o mais famoso dos qua--
tros quadros e se encontra na Galeria Nacional de Oslo.
Acho essa coisa de crise de existencialismo uma merda. Mas como em todo ser humano que pensa, dotado de raciocínio e inteligência, vez em quando baixa aí uma necessidade de pensar e repensar a vida no estágio em que se encontra e de exteriorizar o que sente (ninguém teria nada a ver com isso, claro).  As linhas abaixo não foram escritas agora, mas nos últimos meses do ano passado quando bateu uma nostalgia da vida passada e de como ela poderia ser vivida de maneira mais sábia ou proveitosa, sabe-se lá, fruto talvez dessa insatisfação permanente que assola todo ser humano.  Em todo caso, compartilho esse desabafo com quem pretender tomar conhecimento dele por qualquer razão ou, então, por nenhuma. Abraço afetuoso.

"Doutor,  qual é o diagnóstico no meu caso? Existe um?  Será um só? Vou ter que tomar um remédio novo? Acrescento ele aos meus oito medicamentos  que eu já tomo por decisão do meu cardiologista, urologista, clínico geral? Como ficam as “interações medicamentosas? É esse mesmo o nome técnico? Ah, estou perguntando tudo de uma vez? Preciso relaxar? Sou ansioso, né? Quais serão as próximas restrições que deverei acrescentar àquelas a que  já me submeto?  É, obedeço a elas,  mais ou menos, porque, o senhor não sabe, mas sou meio rebelde, não totalmente, porque sou cagão também. Doutor! Como o senhor deve saber a gente não é uma coisa só. Está na moda e eu gosto muito de dizer que somos plurais. Andei pela vida procurando coerência, autoconhecimento e outras bobagens. Nunca achei nada que me satisfizesse. Agora, esse negócio de ser plural me convence hoje muito mais. Eu me lembro de quando ouvi  o Tom Jobim dizer a respeito do nosso “poetinha”, que o Vinícius era um sujeito plural, porque se fosse singular, chamaria (ou chamar-se-ia, não sei se ainda usam essa tal mesóclise) Vinício de Moral. O  fato é que não consigo mais segurar a barra da vida. Quero contar uma coisa ao senhor que talvez ajude no diagnóstico e encontre o remédio certo para o meu mal. Ou então para o senhor me mandar embora, informando à minha acompanhante que meu caso não tem remédio: é incurável. Uma semana depois da morte do ator e diretor Jorge Fernando, sua irmã, entrevistada pelo Fantástico, asseverando sua  paixão pelo único mano, de quem se dizia mãe, avó, companheira, amiga, amante e tudo o mais que se pudesse adjetivar para explicar uma relação afetiva intensa  e sem limites, disse que sua filha, sobrinha do falecido, a consolou, dizendo que Jorginho tinha que partir, porque ele não cabia mais naquele corpo. Fiquei pensando por esses dias e cheguei à conclusão que, de certa forma, a mesma coisa vem se passando comigo. Sem comparações com o talentoso ator, a verdade é que nunca fui capaz de deter as viagens que a minha imaginação e a minha cabeça, que muita gente achava brilhante, me levaram enquanto caminhava pela vida, dura e difícil desde o início, mas vitoriosa pelas conquistas pessoais,  sociais e profissionais. Conquistas que me tornaram estimado, mas das quais me sinto “refém” agora na velhice, quando me cobram permanentemente comportamentos estereotipados e convencionais do juiz, do advogado, do professor, do pai, do avô, da idade, da condição social etc. etc. etc.  As minhas viagens, os meus sentimentos, a minha cabeça jamais puderam ser detidos ou controlados.  O corpo, sim. Material e tangível, pode ser preso, seguro, restrito aos limites de paredes e apelos. Limitado aos argumentos, ao bom senso, ao medo,  aos preconceitos, às exigências sociais e morais, às minhas escolhas.  Doutor, o meu corpo já não obedece a maturidade ou loucura da minha cabeça e eu não posso trocar de corpo não é? Nem posso rejeitar a forma com que apareci nesse mundo e pela qual existo na realidade concreta dessa vida. Doutor, o que eu tenho, é grave, tenho pouco tempo de vida? A única coisa que me preocupa mesmo é se posso continuar tomando minhas cervejinhas e fazer as minhas viagens para a terra do nunca. Sozinho, como sempre viajei. Solitário como acredito que todos nós surgimos, vivemos e vamos embora deste mundo. Um Whisky, de  vez em quando, hein? Será que eu serei capaz de dar uma de “macho” e mandar meus remédios todos à merda e tomar um porre, uma última vez nesta vida? Estou mais do que nunca deslumbrado com a juventude. Quando vejo meus alunos, meninos e meninas, começando a vida com sonhos e energia, plenos de saúde e de futuro,  fico com vontade de me envolver nas suas vidas, ouvir as suas preocupações, aconselhá-los, quando me pedem palpites. Tenho vontade de levá-los para casa, me intrometer nos seus sonhos, os quais gosto de incrementar e incentivar,  com o objetivo quase desesperador de que saibam aproveitar a juventude, sem abrir mão de suas crenças, de seus próprios valores e de suas opções; que aproveitem o tempo que lhes é imensurável, por enquanto com a plenitude da sabedoria.  É que a gente descobre – e essa descoberta acontece apenas na velhice -   que a juventude, como dizia Bernard Shaw, é tão maravilhosa que é pena desperdiçá-la em jovens. É um paradoxo mesmo.  Sim, já me senti e de vez em quando me sinto com a sina de um velho vampiro, ávido pelo sangue novo, que lhe garanta um sopro de vida e de juventude por tempos adicionais de existência.  Calma, doutor, não vou chegar a sugar o sangue dos meus jovens, não recomende minha internação.  A comparação é apenas figurativa. E convenhamos, vampiro não existe. Mas,  lá na minha cabeça, fértil e cheia de truques, a condição de ser real algum dia chegou a ser decisiva? Saiba, porém, o senhor que a realidade tem muitas facetas e vertentes. E que um dia disse o poeta francês, com muita razão,  que não importa o que seja a realidade fora da gente, se aquela que a gente sente ajuda a gente a viver e a ser o que a gente é. Para terminar quero dizer ao senhor que eu não vim aqui por vontade própria. Fui quase obrigado. Quando as pessoas ficam assim como eu, falando o que pensam, agindo fora do protocolo e da idade, às vezes sentindo tristeza, noutras alegria, se recusando a acompanhar a família em programas que não agradam, ou seja, agindo diferente, pensando diferente do que sempre supostamente agiu e pensou, ninguém acha que somos camaleões nesse mundo. Mais fácil é indicar o caminho do psiquiatra. E daquele remédio tarja preta que faz a gente esquecer quem a gente é, como disse um dia o Cazuza, em “Exagerado”. Não resista, já me advertiram. É reposição química mesmo que a gente precisa, não adianta só fazer terapia. Tá, não adianta mesmo é argumentar. Doente nunca acha que está doente. O melhor é ceder, deixar levar. Mas antes vou gritar bem alto, naquele tom que as pessoas cultas e educadas não devem usar:   Viva Cazuza! Viva Baudalaire! Viva Bernard Shaw! e  abaixo a ditadura  da coerência e das convenções. Bem, agora é a vez do senhor falar. Qual é o diagnóstico? Ah! Antes que o senhor responda, acrescento mais uma:  estou de saco cheio da política e dos políticos. Me contaram nesta semana que a mais nova denúncia se refere às tais “rachadinhas”, que tudo mundo no meio político, garantem por aí,  já fez  e ainda faz. E o que é a rachadinha, o senhor não sabe? Eu também não sabia. No meu tempo, “rachadinha” era apenas o apelido do órgão sexual feminino tão apreciado por uns e indiferente a outros. Mas hoje, é o nome que se dá àquelas participações “espontâneas” nos salários,  que os políticos ou os partidos recebem dos seus assessores ou dos que eles empregam.  De direita, de esquerda, de centro, da puta que pariu. E se o senhor encontrar o Lula e o Bolsonaro por aí, mande, por mim,  os dois à merda, tá?  Não, não quero saber o seu diagnóstico. Não vou pagar consulta, esqueceu? Isto é só  uma carta. Um desabafo. Um monólogo. Obrigado por me emprestar a sua condição de interlocutor legalmente habilitado e ilustre. Agora que estou postando essas reflexões, vou tomar o meu último remédio do dia e tentar dormir. Para esquecer quem eu sou e a necessidade patológica de saber se  essa porra que eu sou,  presta para alguma coisa ainda."

Boa noite!  

P.S. O diretor do Museu Munch, Stein Olav Hernichsen, fazendo coro com a curadora da exposição dedicada ao artista em Londres, Giulia Bartrum, afirma que o quadro representa não uma pessoa que grita, mas uma pessoa que ouve um grito e cobre os ouvidos. A declaração é baseada num litografia encontrada do quadro, em que o próprio Munch nele registra uma inscrição do seguinte teor: "Eu senti um grande grito em toda a natureza". Há todavia controvérsias que certamente jamais serão dirimidas;


P.S. (2) O Grito é uma série de quatro pinturas do norueguês Edvard Munch. A obra representa uma figura andrógina em momento de profunda angústia e desespero existencial. E considera uma das obras mais importantes do movimento expressionista e adquiriu um estatuto de ícone cultural, tal qual a Mona Lisa de Leonardo da Vinci. A série tem quatro pinturas conhecidas: dois dos quadros da série, "A Ansiedade" e "O Desespero" se encontram no Museu Munch, em Oslo; outra na Galeria Nacional de Oslo e uma quarta em coleção particular.



















domingo, 5 de janeiro de 2020

CAUSO - SÓ PINGA


Bom dia de domingo minha gente boa!

Em imagem criada por Dinosuch e -
crédito de Getly Images,caricatura
de padre com taça de vinho.

Para alegrar o dia, geralmente modorrento de domingo, um "causo" que está no meu terceiro livro  "Causas & Causos" e que me foi contado pelo Professor Arnaldo Lemos, meu colega de docência na Faculdade de Direito. O Arnaldo fez seminário, foi padre, sim senhor, e depois deixou o sacerdócio para se casar e constituir família. O "causo", porém, aconteceu quando ele ainda jovem, justificava a batina, celebrando missas e mais missas, dada a carência de sacerdotes. Não se sabe, porém, se "o sucedido" contribuiu ou não para a decisão de deixar a sua primeira opção de vida, ou se lhe deu um certo conceito de "cachaceiro". Enfim, vamos lá. O leitor que tire suas conclusões, como o fez o desconfiado sacristão:


"Era a quinta missa que o jovem sacerdote começara a rezar, já no início da noite de sábado, num longínquo bairro da metrópole, encostado à zona rural. O dia tinha sido exaustivo. A primeira missa acontecera logo no começo da manhã na Catedral do centro, e, em seguida, se sucederam os demais compromissos, em pontos opostos da urbe. Dirigindo um velho Fusca, veículo muito na moda naquela época, o padre gastava o tempo entre um e outro culto, atendendo a fiéis que queriam se aconselhar ou confessar e, ainda,  nos duros trajetos entre os pontos distantes que separavam os templos. Assim, durante a quinta liturgia eucarística do dia, após as oferendas, o sacerdote, exibindo o cálice que deveria receber o “sangue de Cristo” ao sacristão, cansado e tendo sorvido vários cálices de vinho, em nome do sangue de Cristo para cumprir a liturgia,  lhe sussurra quase em tom de súplica: “Só pinga, por favor”. O sacristão, entre surpreso e incrédulo, mas de forma decidida, responde ao sacerdote: “Padre, pinga não tem,  só tem vinho”.  Quá, quá, quá! 

Bom domingo amigos.

P.S (1) O padre que toma várias sobras de vinho, após seguidas missas, cumprindo a liturgia da missa, pode dirigir e invocar escusa legal para não ser multado, nem soprar o bafômetro? Com a palavra os advogados leitores do blog.


sábado, 4 de janeiro de 2020

PAULINHO DA VIOLA E PORTELA - UMA HISTÓRIA DE AMOR

Boa tarde, amigos.


Paulinho da Viola e seu inseparável violão. 
Meu interesse e encanto pela música popular brasileira vai além de ouvir e apreciar as canções, ouvir e curtir as interpretações dos mais diversos cantores e intérpretes deste país, pródigo nesta arte, graças a Deus. Procuro fuçar e descobrir, se possível, como a canção surgiu, quem escreveu a letra e a música, como se deu a parceria, quando ela ocorreu e por que,  e especialmente qual foi o momento de inspiração e  o mote da canção. Se você tiver esse tipo de curiosidade e for saciado, certamente entenderá melhor todo o contexto e viverá, junto com o autor ou os autores, aquele momento de inspiração para a obra que, se de qualidade, tornar-se-á um sucesso inesquecível. Pois bem, um dos sambas enredos mais festejados, cantados e que hoje faz parte da antologia do carnaval e da música popular brasileira, tem como autor o talentoso Paulinho da Viola.Título: Foi um Rio que Passou em Minha Vida, um samba-enredo que o Brasil inteiro conhece, canta e se encanta. Vencedor do carnaval do Rio de Janeiro  de 1.970 com a Portela, o samba constitui uma potente declaração de amor do compositor à sua escola de samba de coração, desde a meninice. Porém, talvez ela nunca tivesse surgido com a força de seus versos e o vigor de seus compassos, não fosse um fato ocorrido um ano antes de sua criação. Em 1.968, Hermínio Bello de Carvalho, um dos nossos mais ilustres compositores, pediu a Paulinho que musicasse os versos que havia escrito em homenagem a Escola de Samba Mangueira. Foi atendido, daí surgindo o belo samba Sei lá, Mangueira, que teve muitas gravações, a primeira delas da cantora Elza Soares, que a defendeu em festival da música popular brasileira, na época veiculado, com grande repercussão e ibope,  pela TV Record, para a qual foi inscrita por Hermínio. O temor de Paulinho que a música fosse divulgada e se tornasse popular estava justificado. O Brasil todo e, claro, o pessoal da Portela tinha tomado conhecimento e estranhava a infidelidade do compositor. Embora ninguém tivesse diretamente questionado Paulinho sobre o fato, este se sentia mal perante os confrades da Escola. Arrependido e preocupado com a dúvida que se instalara sobre sua fidelidade e amor à escola de sua infância, escreveu e musicou Foi um Rio que Passou em Minha Vida, que venceu a competição prévia para samba enredo da escola e, depois, o próprio Carnaval juntamente com a Portela. Estava desfeita a dúvida. Estava escrita e musicada uma das mais belas declarações de amor a uma escola de samba. Agora que sabemos a historia, vamos examinar a letra: Se um Dia meu coração for consultado/para saber se andou errado/será difícil negar/ meu coração tem manias de amor/amor não é fácil de achar/a marca dos meus desenganos ficou, ficou/ só um amor pode apagar/ Porém, ai porém há um caso diferente/que marcou um breve tempo/meu coração para sempre/ era dia de carnaval/Carregava uma tristeza/não pensava em novo amor/quando alguém que não me lembro anunciou/Portela, Portela/O samba trazendo alvorada/Meu coração conquistou/ Ai, minha Portela/ Quando vi você passar/Senti meu coração apressado/Todo meu corpo tomado/Minha alegria voltar/Não posso definir aquele azul/Não era do céu/Nem era do mar/Foi um rio que passou em minha vida/E meu coração se deixou levar.   E assim Paulinho não só compôs a sua música de maior sucesso, como resgata e confessa a sua fidelidade induvidosa a sua escola amada: a Portela. 

Até mais amigos.

 




quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

BOM SUCESSO - OI? COMO ASSIM? INFORMAÇÃO DESATUALIZADA.


Boa noite,  amigos.

Em imagem emprestada de O FUXICO, da esquerda para a -
direita, Antonio Fagundes, Rômulo Estrela, Grazi Massafera e 
Davi Junior, parte do elenco da novela BOM SUCESSO, --
dando vida, respectivamente, ao Dr. Alberto Prado Montei-
ro, Marcos Prado Monteiro, Paloma da SIlva e Ramon.
Feliz  2020!,

Os nossos autores da Globo,  quando tratam de questões jurídicas, em regra prestam um desserviço ao espectador. Amiúde, justificam os desvios cometidos, à concessão artística por se tratar de obra de ficção e pela necessidade de provocar maior expectativa e emoção ao telespectador. Convenhamos: Julgamentos silenciosos pronunciados entre quatro paredes por juiz singular não  são  atraentes, nem impactantes. Nada como uma sessão do tribunal de júri  popular, com pompas e circunstâncias,  direito a público variado e atento, bate-bocas entre testemunhas e promotores ou entre advogados e promotores, com  aquela manjada ameaça do juiz presidente e seu indefectível martelo, de que vai esvaziar o recinto se não houver silêncio,  para dar colorido e suspense, durante vários capítulos, até  o esperado pronunciamento do Conselho de Sentença. Daí a ficção ter estendido indevidamente a competência do tal Tribunal do Júri Popular para julgar um sem número de causas, inclusive de natureza civil.  Imbecilidade sem tamanho. Em “A Dona do Pedaço”, novela que terminou recentemente, foram muitas as teratologias jurídicas, que dediquei duas longas postagens para apontá-las. A bola da vez é a novela Bom Sucesso, a teledramaturgia das 19 horas, que vem batendo recordes de audiência no horário. Os autores, Rosane Svartman e Paulo Hall, ao lado de quase uma dezena de roteiristas, conseguem dar boa e interessante dinâmica à estória, atraindo e mantendo a atenção do telespectador com o tema central de resgate do amor pela literatura. A leitura sistemática de trechos de grandes clássicos da literatura universal, pelos protagonistas, dr. Alberto Prado Monteiro e Paloma da Silva, interpretados com muita competência, respectivamente, pelo veterano Antonio Fagundes e a jovem Grazi Massafera, é um dos pontos altos da novela, mas não o único. Cada personagem, cada núcleo da novela, merece igual atenção e isso funciona bem. Mas no capítulo de ontem o advogado Dr. Machado (Eduardo Galvão) sustentou uma tese superada. Disse que o antagonista, outro advogado, o Dr. Diogo (Armando Babaioff) precisava necessariamente de um sócio para poder constituir uma pessoa jurídica de responsabilidade limitada. Se a novela tivesse se passado antes de 2012, a informação estaria correta, porque o direito brasileiro não admitia sociedade unipessoal. Isso, porém, acabou em 11 de janeiro de 2.012, quando entrou em vigor no Brasil a Lei 12.441/11, que criou entre nós as chamadas Eirelis, as empresas individuais de responsabilidade limitada. Agora ninguém mais precisa arrumar um sócio. Pode constituir uma empresa de responsabilidade limitada sozinho. Melhor só do que mal acompanhado, diz o sábio ditado. Coitado do Dr. Machado. Desatualizado e pouco confiável para orientar a clientela. A culpa não é dele. Uma consultoria jurídica ia bem para as novelas da Globo. Bem que o povão merecia aprender direito como funcionam as leis e as coisas no país, não? Novela também é cultura. E deveria se comprometer em ensinar também Direito e Etica A exemplo do que faz com informações preciosas sobre Medicina e outras ciências.


Até mais amigos.