quarta-feira, 22 de abril de 2020

OI POMBINHA!



Pombinha fazendo ninho numa folha de palmei
ra. Imagem do meu celular.
A luz do sol do meio-dia quase impediu que eu a visse.
Estava lá, imponente, do lado de fora da minha janela.
Ficamos por alguns minutos, nos olhando, mas não ousei abrir a janela.
Um tanto pelo receio de que a espantasse; outro tanto pelo hábito quase inconsciente, de falar de longe, através de barreiras, sem sentir o hálito, o cheiro, o aperto de mão ou o abraço.
A vontade era de perguntar a ela se estava tudo bem, se eu podia de alguma forma lhe auxiliar ou, principalmente, se ela poderia me ajudar nesse processo de medo e solidão.
Ela ali trazendo no bico um galhinho de erva para levantar, talvez pertinho, sua modesta casinha, onde poria os ovos e daria as primeiras orientações às suas crias, deixando-as, logo depois, voar por si próprias.
Eu a invejei. Pela minha inebriante cabeça imaginei, então, o diálogo que ela teria comigo naquele instante, se pudesse falar: Se eu compreendo o que está se passando, por que você está sozinho e com medo? Não, não entendo. Não nasci para entender nada, nasci simplesmente para voar,  para exercer a liberdade de voo infinita. Nada pode me parar. Voo acima das montanhas, das nuvens. Não cumpro ordens de Ministros, -  Presidentes ou Governadores. E se entro em alguma casa ou prisão é porque errei o caminho ou não aprendi a evitá-la. Mas logo quero sair e voar, voar...
Abri a janela para lhe abraçar. Mas ela imediatamente me evitou e voou para longe. Não precisa de carinho ou abraços para viver. Fechei de novo a janela.
E, sem recriminá-la pela falta de solidariedade, voltei para dentro de casa e da minha solidão. Com uma ponta de inveja daquele pássaro que nada sabe e que se limita a exercer, resignado e feliz,  a única razão de sua existência: ter nascido para voar, voar, voar,  até a morte. Com a qual, aliás, jamais se preocupa.


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