Pombinha fazendo ninho numa folha de palmei
ra. Imagem do meu celular.
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Estava
lá, imponente, do lado de fora da minha janela.
Ficamos
por alguns minutos, nos olhando, mas não ousei abrir a janela.
Um
tanto pelo receio de que a espantasse; outro tanto pelo hábito quase inconsciente,
de falar de longe, através de barreiras, sem sentir o hálito, o cheiro, o
aperto de mão ou o abraço.
A
vontade era de perguntar a ela se estava tudo bem, se eu podia de alguma forma
lhe auxiliar ou, principalmente, se ela poderia me ajudar nesse processo de medo
e solidão.
Ela
ali trazendo no bico um galhinho de erva para levantar, talvez pertinho, sua modesta
casinha, onde poria os ovos e daria as primeiras orientações às suas crias, deixando-as, logo depois, voar por si próprias.
Eu
a invejei. Pela minha inebriante cabeça imaginei, então, o diálogo que ela
teria comigo naquele instante, se pudesse falar: Se eu compreendo o que está se
passando, por que você está sozinho e com medo? Não, não entendo. Não nasci para entender
nada, nasci simplesmente para voar, para exercer a
liberdade de voo infinita. Nada pode me parar. Voo acima das montanhas, das
nuvens. Não cumpro ordens de Ministros, - Presidentes ou Governadores. E se entro em alguma casa ou prisão é porque errei o
caminho ou não aprendi a evitá-la. Mas logo quero sair e voar, voar...
Abri
a janela para lhe abraçar. Mas ela imediatamente me evitou e voou para longe.
Não precisa de carinho ou abraços para viver. Fechei de novo a janela.
E,
sem recriminá-la pela falta de solidariedade, voltei para dentro de casa e da
minha solidão. Com uma ponta de inveja daquele pássaro que nada sabe e que se
limita a exercer, resignado e feliz, a
única razão de sua existência: ter nascido para voar, voar, voar, até a morte. Com a qual, aliás, jamais se
preocupa.
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