domingo, 5 de abril de 2020

QUARENTENA EM TEMPO DE COVID 19 - PARTE 2.


Boa tarde amigos,


Em criação de Mara Miguel,  bolo temático
com desenhos de coronavírus. A criançada
canta, o aniversariante apaga a velinha e aí
todos comem e destroem o vírus do mal.
Domingo de um sol cativante de outono, mas sem o ardor dos sóis de verão aqui no hemisfério sul.  Preso no apartamento e acordando tarde, depois do café é imperioso descer para a área comum do prédio, de boas dimensões e bem arborizada. Escolher aquele canto em que o sol, naquela hora, bate iluminado mandando pra gente aquela energia incomparável  com qualquer outra. E a crença de que, quentinho sobre o corpo, além de sintetizar a vitamina D, vai matar todas as bactérias e vírus que assolam a humanidade. Dizem que é a grande vantagem dos países tropicais como o nosso. Sei lá se tem comprovação científica, mas funciona psicologicamente como uma suposto antídoto contra o medo de contrair o tal coronavírus. E dá-lhe praia nesse povo que vive acotovelado em habitações coletivas minúsculas e nas imensas favelas espalhadas pelo Brasil afora, hoje chamadas de comunidades, por eufemismo. Enquanto tomo sol absolutamente sozinho (aqui no meu prédio ninguém teve coragem de aparecer por aqui enquanto eu permaneci, pelo menos) dou tratos à bola. Agradeço ao sol, a Deus, à Natureza que me deram a condição privilegiada de morar bem, ter uma companheira, filha, genro, neto, amigos, alunos e ex-alunos, clientes e uma aceitável saúde para os meus 68 anos de estrada, que foram árduos e compensáveis pela experiência e pela tentativa de me deixar cada dia mais solidário e tolerante comigo e com o ser humano em geral, cuja natureza, estrutura biológica e mental, fraquezas, instintos e atos de nobreza e outros aspectos constituíram e constituem parte considerável de minha curiosidade científica e minha propensão pelo estudo da antropologia, filosofia, sociologia, psicologia e outras humanidades . E não há como não pensar nas notícias que chovem pelas mídias afora sobre a pandemia que se abate sobre o mundo, sem pedir licença, sem passaporte, sem escolher ricos ou pobres, pretos, brancos, pardos ou amarelos, ou qualquer forma de distinção em classes ou categorias. De tudo que ouvi até agora e até que se encontre uma vacina que impeça esse vírus novo e atrevido de infectar pessoas, todos, absolutamente todos nós seremos infectados um dia. Os cientistas não ignoram isso. Claro que a grande maioria (cerca de 80% segundo estimativas) terão sintomas leves ou não terão sintoma algum, o que um percentual considerável. Dos 20% porém que terão sintomas moderados ou graves, estima-se também que 5% necessite de utis estruturadas com respiradores que possam sustentar a vida por respiração artificial, enquanto isso for possível ou suficiente. Pois bem, se pegarmos um país como a Itália, duramente atingido pelo vírus, com 60 milhões de habitantes e partirmos do princípio (para mim indiscutível) que todos os cidadãos contrairão a virose mais cedo ou mais tarde, teremos numa simples equação, 12 milhões de infectados com sintomas moderados ou graves. Se 5% necessitarem de UTIS (estimativa que se confirma a cada dia) são simplesmente 3 milhões de pessoas no país que tem a maior riqueza em obras e monumentos tombados e o maior turismo do mundo. Que sistema de saúde por mais organizado e moderno que seja seria capaz de atender a essa população monstruosa ao mesmo tempo? Claro que nenhum, nem os dos países mais ricos e menores em população como a Dinamarca e a Suécia. Por isso que o apelo para as medidas de higiene intensas e o afastamento social com ênfase no recolhimento domiciliar é fundamental se não quisermos ver nossos entes queridos, amigos, familiares e  nós mesmos (integrantes do principal grupo de risco),  morrer em filas enormes nas portas dos atolados hospitais públicos e privados, sem que haja qualquer possibilidade de socorro ou atendimento. A questão é, portanto, fundamental como assinala o nosso Ministro da Saúde que em menos de dois meses virou alvo preferido da mídia e da população brasileira, mesmo e também pelo confronto que estabeleceu com o Presidente da República. Aliás, o nosso Bolsonaro consegue coisas inéditas, ou seja, ser desautorizado até pelos seus correligionários militares, incluindo o vice-Presidente da República, que deu sua posição pelo afastamento social e pelas recomendações do Ministro da Saúde e dos Governadores, em rede de televisão, garantindo que essa era a posição “oficial” do governo brasileiro. Ignorado, censurado, o Presidente é alvo de críticas de todos os lados, citando como o único líder mundial que a esta altura, ainda insiste em proteger supostamente a economia, mandando o povo trabalhar e chamando a pandemia de “gripezinha”. E impressionante a popularidade e credibilidade que ganha esse para nós até então desconhecido Mandetta, com um carisma impressionante, um discurso coerente e honesto e que hoje seria eleito para qualquer cargo que eventualmente disputasse. Venceu a minha meia hora de sol e ainda tentei falar com o porteiro. Quando abanei, próximo da portaria, a minha mão, ele percebeu que eu queria dizer ou pedir alguma coisa e gentilmente abriu a porta. Eu o cumprimentei e, a mais de dois metros de distância, procurei matar a minha curiosidade com ele sobre coisas banais: A família está bem? E o ônibus hoje estava cheio? Acredita que o Prefeito de Americana suspendeu toda a circulação de ônibus urbanos aos domingos? E quem tem que trabalhar como o senhor ou os profissionais de saúde? E a senhora do 11º andar tem saído com o cachorrinho para dar as voltas de praxe? Quem mais não tem saído com o cachorro? Então está bem, bom dia pro senhor e cuide-se. Sinta-se abraçado à distância OK? Subi com um pano cheio de álcool gel para abrir a porta de entrada, chamar o elevador e descer no meu segundo andar. Abri a porta e logo na entrada estava o meu chinelo de dentro. O de fora fica acomodado bem próximo dali. Fui imediatamente lavar a mão olhando no relógio pra ver se dava os 20 minutos mínimos apregoados. E a certeza de que nada disso vai evitar que um dia eu pegue a “mardita”. A menos que eu fosse um ermitão isolado numa montanha lá perto do fim do mundo longe de tudo e de todos. Mas, gente. Vamos colaborar com a orientação dos cientistas. Espaçar, espaçar, diminuir a curva ascendente e o pico da contaminação tão temida, que o sistema de saúde não dará conta mesmo e teremos uma tragédia de proporções maiores do que as da Itália e Espanha e muita gente vai morrer sem socorro. Somos 210 milhões de habitantes, a grande maioria sem condições de isolamento ou acesso aos itens de higiene.  A não ser que você pense que nem o Bolsonaro: afinal todo mundo vai morrer mesmo um dia, não, mas os empregos têm que continuar! Que preciosidade.

Bom domingo.    



Nenhum comentário:

Postar um comentário