Boa tarde amigos,
O encontro aconteceu no
já distante ano de 1.981. Dois monstros
sagrados da música popular brasileira, ambos com obras densas e consagradas
pelo público e pela crítica. Pai e filho adotivo. Dois estilos. Duas histórias individuais paralelas e
entrelaçadas em certos pontos. Pontos difíceis: de desavença, desencontro,
incompreensão, mágoas. Tudo estava então superado. De verdade. Agora um
espetáculo concebido por eles e que correu com uma turnê todo o Brasil. Gonzaguinha e Gonzagão apresentam: Vida de Viajante, nome baseado na
música que tempos depois serviria de trilha sonora para o seriado de sucesso da Rede Globo, Carga Pesada, que contava as aventuras
de Pedro (Antonio Fagundes) e Bino (Stênio Garcia) e que a voz potente
do Rei do Baião, entoava, enquanto os dedos corriam pelas teclas da velha sanfona, companheira inseparável,
dela extraindo apaixonados acordes: (Minha
Vida é Andar, por esse País/ Pra Ver se um dia descanso Feliz/ Guardando as Recordações/Das
Terras Onde Passei/Andando pelos sertões e dos amigos que lá deixei). Durante o espetáculo, pai e filho conversam,
se elogiam, confessam amor recíproco e trocam carinhos. Cantam ora
individualmente, ora em conjunto, obras de um e de outro. Em certo ponto do
espetáculo, o filho vai provocando o
pai, entoando os primeiros versos de
músicas do velho sertão nordestino, de sua gente, de seu folclore, de
suas coisas: “ Riacho de navio, corre pro Pajeú....” ..”Juazeiro, Juazeiro, onde
anda o meu amor....”. Em seguida é o pai que responde indagação do filho (Pai, tudo na sua vida valeu a
pena?), cantarolando um famoso
verso do menino: “Começaria tudo outra vez, se preciso fosse...”. Bem, é esse
antológico encontro que foi registrado num LP, ainda em vinil, do ano de 1.981,
com o mesmo nome do espetáculo: Vida de
Viajante. Em 1.994, a EMI MUSIC,
reeditou o encontro, extraindo o que considerou de melhor do disco e da apresentação ao vivo, lançando CD e
DVD. Trata-se de uma verdadeira relíquia: A VIAGEM de GONZAGÃO & GONZAGUINHA,
documentos que registram um encontro que jamais voltará a acontecer. Luiz Gonzaga, o grande Rei do Baião, morreu em 1.989, aos 77 anos. O filho, Luiz Gonzaga Filho, o Gonzaguinha, morreu jovem, aos 47 anos, em decorrência de um acidente automobilístico, em 1.991, quando buscava resgatar a
importante obra do pai, com quem havia se reconciliado.
Até amanhã.
P.S. (1) Atribui-se a Luiz Gonzaga o mérito de ter trazido a música nordestina
(baião, forró, xote etc.), para o
sudeste e sul do país, pois até então estava circunscrita ao nordeste. O Rio de Janeiro e São Paulo ouviam samba,
samba-canção, bossa-nova e outros gêneros, inclusive estrangeiros (rock in roll, twist etc.);
P.S. (2) O maior
sucesso de Gonzagão e uma das mais
famosas músicas brasileiras de todos os tempos é ASA BRANCA, de sua autoria em parceria com Humberto Teixeira. Além de sua própria gravação, a mais conhecida,
existem ainda mais de 60 outras, entre artistas nacionais e estrangeiros,
dentre os quais, Lulu Santos, Elis Regina,
Chitãozinho e Chororó, Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, o porto-riquenho José Feliciano, a banda
Forró in The Dark, David Byurne, o flautista de jazz, Herbie Mann, o indiano N.
Ravikiran, músico de cítara, e o
violonista folk Brooks Williams;
P.S. (3) Em 1.968
surgiu um boato de que os Beatles iriam
gravar a música “Asa Branca”, o que
gerou um engraçado comentário de Gonzagão:
“Agora
eu quero ver se esses caras vendem disco mesmo. Eu sozinho vendi mais de 2
milhões”. A história não se confirmou, contudo. A confusão teria sido
gerada, segundo alguns, pelo fato de que o conjunto inglês gravaria a música “The Inner Light”, uma composição de George Harrison, que tem uma sequência
melódica muito parecida com a de Asa Branca.
P.S. (3) Gonzaguinha tem sucessos memoráveis (Começaria Outra Vez, Explode Coração,
Espere por Mim Morena, Diga Lá Coração, Achados e Perdidos, Sangrando, Redescobrir, É, Grito de Alerta), gravados por ele e por cantores e cantoras de
peso na música brasileira (Maria
Bethânia, Elis Regina, Gal Costa).
P.S. (4) A imagem que
abre a coluna de hoje é da capa do CD e foi emprestada do site artecultural.blog.br. A imagem do centro é do cartaz de propaganda
do filme GONZAGA: DE PAI PRA FILHO,
e foi emprestada do site opiocoisanenhuma.blogspot.com.;
P.S. (5) Em 2.012,
comemorou-se o centenário do nascimento de Luiz Gonzaga, com várias
celebrações, dentre as quais a cinebiografia GONZAGA: DE PAI PRA FILHO, filme que teve a direção de Breno Silveira e apresenta nos
principais papéis os atores Nivaldo
Expedito de Carvalho (Luiz Gonzaga), Júlio Andrade (Gonzaguinha) e Nanda Costa
(Odalea). O drama é um bom filme e, segundo a Ancine (Agência Nacional de
Cinema), obteve o 4º lugar nos filmes nacionais com maior público do ano
passado, com quase 1.500.000 espectadores. A TV Globo exibiu a película em
microssérie transmitida de 15 a 18 de janeiro de 2.013. Uma restrição: continuo
achando ruim o som dos filmes nacionais. Já é hora de solucionar essa questão
eminentemente técnica.
P.S. (5) O CD tem 25
faixas assim enunciadas: 1) FALA GONZAGUINHA;
2) SANGRANDO; 3) AMANHÃ
OU DEPOIS/ ACHADOS E PERDIDOS;
4) PEQUENA MEMÓRIA PARA UM TEMPO SEM
MEMÓRIA (A Legião dos Esquecidos); 5) COMEÇARIA TUDO OUTRA VEZ; 6) ACAUÃ; 7)
ASSUM PRETO; 8) A MORTE DO VAQUEIRO; 9) BOIADEIRO; 10) VOZES DA SECA; 11) PAU
DE ARARA/BAIÃO DE SÃO SEBASTIÃO/BAIÃO; 12) KAROLINA COM K/DERRAMANDO O GAI;
13) LÉGUA TIRANA; 14) BAIÃO DA GAROA;
15) JUAZEIRO/NO MEU PÉ DE SERRA/ESTRADA DO CANINDÉ/RIACHO DO NAVIO. PAPO: LUIZ GONZAGA & GONZAGUINHA; 16) DIGA LÁ,
CORAÇÃO. Música Incidental: ESPERE
POR MIM MORENA; 17) GRITO DE ALERTA; 18) COM A PERNA NO MUNDO. Música
Incidental: AGALOPE; 19) FALA
GONZAGUINHA: NÃO DÁ MAIS PRA SEGURAR (Explode Coração); 20) RESPEITA JANUÁRIO;
21) ESTRELA DE OURO; 22) HORA DO ADEUS;
23) FALA GONZAGUINHA; 24) A VIDA DE VIAJANTE.
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