Boa noite amigos,
"Nós, os artistas, somos exibicionistas, somos palhaços. Nosso
papel é divertir o público". Essa é uma das frases ditas pelo ator e diretor, Walmor Chagas, encontrado morto, na
sexta-feira, dia 18, com um tiro na cabeça,
em seu solitário retiro: uma casa afastada da zona urbana, na pacata
Guaratinguetá, interior de São Paulo. A provável hipótese é de suicídio. O
ator, uma das maiores personalidades e talentos de sua geração, estava com 82
anos e um complicado quadro de diabetes, segundo os noticiários. Sêneca considerava que uma das
vantagens do homem sobre os demais animais consistia exatamente na
possibilidade de ir embora desta vida, quando lhe parecesse insuportável
continuar vivendo. O suicídio sempre foi uma conduta
controversa. E paradoxal. Para uns, o
ato mais lúcido que o ser humano consciente pode cometer. Para outros, uma
manifestação patética de uma patologia mental, qualquer que seja. Na maioria
das vezes, cometido por quem não suporta
a vida. Mas em outros casos, também por quem a ama – e profundamente. Parece
ser o caso de Walmor, embora eu nada conheça de sua personalidade e das causas
de sua atitude, se a hipótese for confirmada, evidentemente. Os artistas, como
algumas pessoas que têm alma de artista, gostam de se sentir relevantes. E quando essa relevância desaparece, quando não há mais nada que se possa planejar, esperar,
fazer, dizer, ou especialmente
transmitir, a vida deixa de ter sentido. Outras vezes a velhice, o sentir
gradativo de que o corpo vai falhando, e o pensamento parece fugir à lucidez, a
sensação de que se vai perdendo o domínio sobre tudo, faz com que se desista,
desde logo, de manter esse simples sopro de vida que vai se apagando, se
apagando, num processo lento e insuportável de evaporação. Em suma, à ansiedade
sobre a morte resta a abreviação do processo natural, pelo aborto do sofrimento.
Outra característica dos artistas é a intensidade de vida. Sabem que não são imortais, mas compensam a brevidade com a paixão
de uma vida dedicada até o extremo às virtudes e vícios. Intensos. Sempre. Seja como for, os artistas não mereciam esse
fim. Recentemente, a TV Globo transmitiu a minissérie O Canto da Sereia, baseada num romance de Nelson Motta. Nele a protagonista, vivida pela bela e jovem atriz Isis Valverde, ao tomar
conhecimento de que padece de doença grave e incurável, decide que quer morrer
no palco, durante o carnaval, cantando para o seu público e convence um amigo a matá-la no desenrolar do espetáculo. Quis morrer ali,
transmitindo felicidade, no palco, no lugar em que a vida, a sua vida tinha
efetivamente sentido, no cenário da sua felicidade. Todos os artistas mereciam
morrer assim. De repente. No palco. Cantando ou representando para o seu
público. Belos, maquiados, no mundo do faz-de–conta. Ao som da
trilha sonora e dos mais belos textos escritos por escritores, poetas, filósofos, dos quais são porta-vozes para a humanidade de seu tempo. E no mundo encantado em que vivem, não são mortais. São simplesmente estrelas que não morrem. Às vezes se apagam aqui e
passam a brilhar num outro lugar do universo. É isso.
Até amanhã.
P.S. (1) Walmor Chagas nasceu em Porto Alegre em 1.930 e
completou 60 anos de vida artística. Nesse tempo participou de 20 filmes, 30
novelas e 40 peças teatrais.
A WALMOR CHAGAS, O MEU TRIBUTO: UMA PEQUENA POESIA
VIDA GRAMATICAL
Da boca, uma palavra: Vida.
Simples, vazia, sem predicado.
Oração
incompleta: também sem sujeito.
Adrenalina mera.
Grau superlativo.
Conjunção: corpo e
alma?
Do tempo: a idade, numeral. Cardinal, sem ordem.
Adjetivos permanentes?
Só advérbios de intensidade.
Imortais enquanto
durem.
Ser ou estar, passado o
momento, tanto faz.
O Ser, sem “ser” verbo
de ligação, sempre, ou às vezes.
Estar vivo ou estar
morto: predicativo do sujeito.
Viver vivendo,
O gerúndio bastante.
O gerúndio bastante.
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