Boa noite amigos,
Haverá algo em comum entre os filmes MINHAS TARDES
COM MARGUERITTE (França, 2.010,
Direção de Jean Becker), INTOCÁVEIS
(França, 2.011, Direção de Olivier Nakache e Eric Toledano)
e AMOR (França/Alemanha/Áustria,
2.012, Direção de Michael Haneke)? Foram os três últimos filmes franceses que vi e o suficiente para atestar
a alta qualidade desse cinema da atualidade e de seus diretores mais ousados
e criativos. Na contra-mão da indústria de entretenimento, que atola as salas de exibição com as
indefectíveis comédias românticas, ou as sagas e seriados que conquistam a
juventude, apesar de roteiros batidos e superficiais, nos quais preponderam muitas ações, barulho, efeitos
especiais e superficialidades, os cineastas franceses tendem a reproduzir nas
telas adaptações de grandes obras da literatura, ou a experimentar roteiros originais que explorem os valores que marcam as relações
humanas universais e eternas, como o amor e a amizade, esquecidos pela sociedade
mercantilista e imediatista em que vivemos. E o desafio vem sendo coroado de êxito, conquistando crítica e público, a demonstrar que
grandes bilheterias, críticas favoráveis e qualidade podem coexistir, sim senhor.
Não sei dizer qual dos três filmes referidos é que mais gostei. Mas gostei de
todos eles, seguramente. O mais badalado foi Amor
(Amour), que conquistou três grandes prêmios (a Palma de Ouro do Festival de Cannes e o Globo de Ouro e Oscar de
Melhor Filme Estrangeiro). Os outros dois foram apenas injustiçados. Num
ano com poucas opções de qualidade, o Oscar 2.013, não lembrou sequer de Intocáveis (Intouchables), um
retumbante sucesso de público na França e no resto do mundo. E o sensível e
terno, Minhas Tardes com Margueritte, passou desapercebido. Mas de diretores tão
diferentes como encontrar nos longas pontos comuns? Compare os roteiros: /Um rude e inculto trabalhador braçal, Germain (Gerard Depardieiu), encontra
casualmente uma senhora idosa, Margueritte
(Gisèle Casadeus), que todas as tardes, num banco de jardim, tem
por hábito apreciar a natureza e exercitar a leitura de bons livros. Sem objetivo certo
na vida, ela consegue conquistar o trabalhador para quem passa a ler obras e chamar a atenção para a beleza e a sabedoria da natureza e dos livros, com isso despertando os valores do amor e da
solidariedade no espírito daquele tosco cidadão/ (Minhas Tardes com Margueritte). /Baseado
numa história real, o milionário empresário, Philippe (François Cluzet), fica tetraplégico ainda jovem e depende de
serviçais para realizar tarifas básicas.
Dos muitos candidatos habilitados e supostamente virtuosos, contrariando a
lógica, acaba escolhendo para o seu subordinado mais direto, um
jovem negro, Driss (Omar Sy), que é estrangeiro, ocioso, vive
em desavença com a família e tem
passagem pela Polícia, por roubo. Avesso ao rol de atribuições que lhe são confiadas, o
jovem se recusa num primeiro momento a realizar tarefas íntimas e pesadas, como
a de submeter o patrão a exercícios corporais, dar banho e fazer a sua assepsia
após evacuações, mas é convencido a realizá-las. Dali nasce entre eles uma
grande amizade e uma ligação que permanece, mesmo depois do rompimento do
contrato de trabalho e do casamento e mudança
do empregado para outro país/ (Intocáveis).
Finalmente, /um casal de octogenários, professores de músicas, cultos e
independentes, tem a relação colocada à prova, quando a mulher, Anne (Emmanuele Riva) sofre um derrame
e fica com parte do corpo paralisada, necessitando de cuidados. O marido George (Jean Louis Tintignast)
assume então toda a responsabilidade pelo tratamento da mulher, a quem vê
piorar a cada dia, sem que possa fazer algo capaz de interromper o longo e doloroso processo de
decadência física e mental da amada. O roteiro ressalta aspectos relacionados com a a
ética, a beleza e a
temporalidade da vida, a importância dos valores e do amor na superação, a velhice, a doença e a impotência diante das
vicissitudes/(Amor). A linguagem de todos eles é uma beleza.
Profunda, reflexiva, inteligente e colocando no centro ou foco as mais diversas
questões existenciais que pipocam na França multicultural de hoje, do
precursor do existencialismo, Jean Paul Sartre. Em síntese: cinema de
arte, de boa qualidade, feito por gente grande para gente grande. Arrisque!
Até amanhã.
P.S. (1) O diretor
austríaco, Michael Haneke é formado em Psicologia, Filosofia e Teatro pela
Universidade de Viena e seu filme mais conhecido no Brasil, é La Pianete (A Professora de Piano), um drama de 2.001;
P.S. (2) Vi, hoje,
finalmente, o filme que recebeu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Amor (Amour), e me convenci ainda mais de que a grande
injustiçada da Academia, este ano, foi a veterana atriz francesa, Emmanuele
Riva. Riva está simplesmente soberba no papel da octogenária professora
de música, Anne. Vale a pena conferir. Perder a estatueta de melhor
atriz para a novata Jennifer Laurence, que é
também uma boa atriz, mas que esteve comum, muito comum, em O Lado
Bom da Vida só demonstra o protecionismo da Academia para as produções e
atores, americanos e ingleses.
P.S. (3) O diretor e
roteirista Michael Haneke consegue transmitir no desenrolar do roteiro do
longa, Amor, toda a atmosfera de tristeza, desolação, decepção e
reflexão que o enredo propõe. Conta com
isso com o ritmo lento da câmera e o
grande desempenho dos protagonistas. Além de Emannuele Riva, do também
veterano ator, Jean Louis Tintignast, no papel do professor de música, George.
P.S. (4) Mais de vinte
milhões de franceses deixaram seus euros nas
bilheterias da segunda economia da União Européia, para ver o filme “Intocáveis”. Um retorno e tanto para os
produtores;
P.S. (5) A eutanásia é uma das questões que o filme Amor focaliza, mas ao que parece muito mais como decorrência do enredo do que como abordagem para provocar reflexões ou discussões quanto ao controvertido tema.
P.S. (5) A eutanásia é uma das questões que o filme Amor focaliza, mas ao que parece muito mais como decorrência do enredo do que como abordagem para provocar reflexões ou discussões quanto ao controvertido tema.
P.S. (5) As imagem da coluna de hoje foram emprestadas: a) de Minhas Tardes com Margueritte, do site www.ambrosia.com.br; b) dos Intocáveis, do site www.revistaafro.com.br e, c) de Amor do site www,maisacao.com.
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