segunda-feira, 17 de novembro de 2014

OPERAÇÃO LAVA-JATO E A CRISE ANUNCIADA

Boa noite amigos,

As manifestações de julho de 2.013, de grande magnitude e variadas motivações, que ressoaram por todo o país e respingaram em políticos de todas as esferas de poder, com grande cobertura e  destaque na imprensa nacional e estrangeira, evidenciaram, sem dúvida, a insatisfação de miseráveis, pobres, remediados e ricos, empresários e trabalhadores, aposentados, servidores públicos e donas de casa, com a ausência de definição e implantação de  políticas públicas que efetivamente devolvam o mínimo de quantidade e qualidade aos serviços públicos básicos, desde infra-estruturas, como transporte, passando necessariamente pela saúde, educação e habitação, dentre outros, compatíveis com o alto custo de tributos e tarifas. Concluídas as eleições para Presidente da República,  apesar da reeleição da Presidenta Dilma Roussef, os mais de 50 milhões de votos dados ao opositor, que nem de longe, suponho, correspondia  pessoalmente ao ideal dos eleitores, mas que polarizou, em dado momento,  todas as insatisfações com a crise porque passa a Nação (oneração tributária para além do razoável e da capacidade de competição dos produtos nacionais com similares estrangeiros, incompetência ou falta de vontade política para drástica diminuição dos gastos públicos e da dívida interna, ausência de reformas importantes e inadiáveis e de contenção do processo inflacionário, com consequências sérias para o povo e o empresariado em geral,  fruto de equívocos na política econômica, para não dizer outros),  sinalizaram para um segundo mandato muito difícil para a Presidenta reeleita.  O tom e o conteúdo de seu discurso logo após a proclamação do resultado das urnas, em que, de forma realista, afirma ter entendido o recado de mudança que o apertado sufrágio registrou, acena não apenas para um novo, mais um renovado e maduro segundo mandato, em que não se tolerará omissão, nem condescendência com aliados ou mesmo com os chamados “mau feitos” de amigos de longa data, contemplados com pastas de Ministérios e Diretorias de empresas públicas, ou  confrades de seu próprio partido, desgastado profundamente com o episódio do chamado Mensalão. Para a implantação desse seu compromisso terá que mostrar que efetivamente assumirá o comando e o poder que as urnas lhe conferiram para realizar as reformas tão aguardadas e inadiáveis, repita-se. A situação da corrupção no país é tão grave que a Operação Lava Jato, deflagrada pela Polícia Federal e com declarações bombásticas às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais, ameaça reunir provas de envolvimento de uma estimativa de mais de 60 políticos de todos os partidos e, sem exceção, proprietários e executivos de todas as grandes empreiteiras com as quais o governo tem celebrado contratos na área da construção civil e de infra-estrutura em geral. O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, famoso por defender políticos (cita que já respondeu pela defesa de mais de 40 governadores e ex-governadores e famosos como Roberto Carlos e Carolina Dieckmann), em declaração dada neste domingo ao repórter Mário Cesar Carvalho, da Folha de São Paulo, revelou sua preocupação se a Operação Lava Jato conseguir que as empreiteiras todas sejam consideradas inidôneas e proibidas de participar de obras públicas, assim como com a pena de perda de mandato de grande número de políticos que supostamente estejam envolvidos. Ele textualmente afirma que nesse caso o "país para".  Não duvido disso. A Lei de Improbidade Administrativa realmente prevê a pena de proibição de contratar com o Poder Público durante determinado tempo, como uma das consequências da condenação. E não dá para imaginar que a lei não seja aplicada irrestritamente e em relação a todos os que efetivamente violaram os seus preceitos, consoante as condenações judiciais que eventualmente se seguirem. Mas é preciso ressalvar, como fez o juiz Sérgio Moro neste sábado, tornando indisponíveis cerca de 720 milhões de pessoas físicas envolvidas, mas se negando à mesma conduta em relação aos recursos das pessoas jurídicas, que são as pessoas físicas que corrompem ou são corrompidas e que a pessoa jurídica, uma ficção da lei, não pode, nem deve ser penalizada por causa da conduta de seus representantes, senão na medida em que evidentemente forem beneficiadas com recursos públicos indevidos incorporados ao seu patrimônio,  que devem realmente restituir ao Erário. Mas isso não ocorre, como se sabe, pois o dinheiro fruto de corrupção engorda as contas bancárias de representantes, seja de primeiro, segundo ou terceiro escalão, ou de simples servidores e não da empresa que representam. Afastem-se os homens e deixem a instituição cumprir a sua destinação lícita e de relevância social, se for o caso.  Aí está a Petrobrás, exemplo de empresa pública e que se mantém – e deverá se manter– apesar da permanente sangria de seus recursos, fruto da malversação. Vamos aguardar o desfecho dos fatos. Mas temo, como o experiente advogado, por uma verdadeira crise institucional sem precedentes se a coisa esticar além do imaginado. E não sei por que me lembrei daquele caso escrito por Luis Fernando Veríssimo, na sua obra “Em algum Lugar do Paraíso”. Relata o grande escritor que depois de ter Eva comido o fruto proibido e a Terra ter entrado na sombra da noite, Adão sentiu o seu membro que ele pensava que era só para fazer xixi, se mexer. E avisou à Eva:É melhor chegar para trás porque eu não sei até onde este negócio cresce”.


Até amanhã amigos,

P.S. (1) Agora à noite, a Presidenta deu uma entrevista coletiva na Austrália, onde se encontra para reunião com os países integrantes do BRICS (Brasil, China, África do Sul, Rússia e Índia). E ao responder pergunta de um repórter acerca das empreiteiras envolvidas que têm contratos com o governo, assegurou que elas continuarão a participar de licitações de obras governamentais, dando a entender que as punições que vierem a ser impostas não deverão interferir na idoneidade das pessoas jurídicas para a prestação de serviços lícitos e de qualidade, em benefício da população.

P.S. (2)  A primeira imagem da coluna de hoje (emprestada de www.dci.com.br) é do advogado criminalista, Antonio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, que fez a defesa de inúmeros políticos e réus famosos, inclusive no processo do Mensalão;  A segunda e última imagem é da atriz Carolina Dieckmann que contratou o famoso advogado para o pleito judicial em que buscou impedir e responsabilizar a pessoa que interceptou e publicou fotos íntimas da atriz na Internet.




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