Boa noite
amigos,
Badalado
por ter conquistado, como filme estrangeiro, os dois maiores prêmios do cinema americano em 2.014, A GRANDE BELEZA (2013), do título original, La
Grande Bellezza é uma co-produção franco-italiana. Trata-se de um filme fascinante,
com a marca do bom cinema europeu, dirigido pelo jovem e já consagrado cineasta
napolitano, Paolo Sorrentino (La Consequenze dell’amore (2004); Aqui é o Meu Lugar (2.011); Il Divo(2008); Rio Eu te Amo (2.014), em quem se deposita a esperança,
segundo se comenta no meio, do renascimento
do cinema italiano. Numa película que sugere o movimento Novelle Vague da década de 60, e cujo roteiro lembra Antonioni em “A Noite” e especialmente Federico Fellini em “La Dolce
Vita” (Saudade de Mastroianni!)
o diretor, contudo, confere ao seu trabalho autenticidade suficiente para se distanciar de seus famosos conterrâneos, sem disfarçar tendência a um estilo comum, que presta homenagem, digamos, a esses grandes cineastas do passado. No
roteiro, o cenário mistura o encanto da Roma
Antiga (da casa de Jap Gambardella
(Toni Servillo) se descortina uma
vista magnífica do Coliseu romano),
com a cidade moderna em tempos de celular, captado pela câmera do cinegrafista, de forma irrepreensível, para
contar a história de um escritor de 65 anos, que vive do sucesso alcançado por
um único romance “O Aparelho Humano”, escrito quatro décadas atrás, envolvido nas frivolidades das festas da alta
sociedade e dos luxos e privilégios alcançados com sua fama. Jap tem um grupo de amigos intelectuais
ou solitários (ou ambos), que se reúnem vez ou outra, para sessões de catarse,
regadas a bons vinhos e com direito a acusações, manifestações de solidariedade
ou troca de experiências existenciais. As imagens falam muito mais que os
diálogos, embora estes existam e de grande qualidade artística. O longa, por
vezes, parece enveredar para a monotonia, o que é proposital para ilustrar o
vazio existencial do protagonista, que essencialmente notívago, caminha perdido pela cidade durante o dia, à cata de quimeras e de recortes da Roma da juventude de sonhos e das
lembranças de sua primeira e arrebatadora paixão. A Grande Beleza é a procura da essência no turbilhão do niilismo que domina o
personagem, a inspiração que Jap busca na vida, capaz de estimulá-lo
a publicar um segundo livro, que nunca
conseguiu escrever. Se for apreciador de cinema de arte, do lento ritmo do bom cinema europeu, do cinema investigativo, reflexivo, profundo, “intelectualóide”, como rotulam os opositores, vai encontrar momentos de êxtase numa das melhores
produções do gênero dos últimos anos. Se não for, preferir o cinema de relax, o
cinema de entretenimento, de diversão, de comédia (o que, diga-se de passagem,
não tem nenhum problema, pois é questão de gosto pessoal, sempre respeitável), pule a opção, pois você certamente vai
dormir. O site especializado Adoro Cinema atribuiu à obra cinematográfica nota 5,0 e, a exigente crítica, uma média geral altíssima de 4,4. Não deixe de
ver (com a ressalva feita acima).
Até amanhã amigos,
P.S. (1) Durante todo o filme, Toni Servillo, na pele do escritor Jeb Gambardela exibe um invejável guarda-roupas de costumes italianos de todos os tipos e cores, com direito até a um clássico terno de linho branco e um chapéu panamá. Aos apreciadores da elegante moda masculina italiana (Milão é referência mundial no gênero, inclusive), vale a pena conferir.
P.S. (3) No elenco, além de Toni, destacam-se os atores, Sabrina Ferilli, como Ramona, Isabella Ferrari (Orietta), Vernon Dobtcheff (Arturo), Giorgio Pasotti (Stefano), Franco Graziosi (Conte Colonna), Sonia Gressner (Contessa Colonna) e a freira anciã, interpretada pela atriz Guise Merli;
P.S. (3) O
cineasta e roteirista Paolo Sorrentino,
que só tem 44 anos, é um dos diretores do filme “Rio, Eu te Amo”, que estreou em setembro de 2.014, sem grande
sucesso de público e de crítica. Trata-se de uma obra coletiva, em que
diretores nacionais e internacionais, dentre os quais Sorrentino, dirigem seus contos, em número de 10, confessando o
amor pelo Rio de Janeiro. É o terceiro filme da franquia Cities of Love, que já produziu Paris Je T’aime e New York, I Love You;
P. S. (4) La Grande Bellezza lembra Fellini quando focaliza a alta
sociedade, cujos membros buscam criar mecanismos de prazer para afogar o vazio
de suas vidas e os seus temores. E também a presença sempre permanente da
Igreja no envolvimento com os questionamentos universais do homem acerca de seu destino e do sentido de sua presença
na terra.
P.S. (5) Ao
falar sobre a importância das religiões em todos os momentos históricos e em
todos os lugares, observa o jornalista, escritor, crítico e dramaturgo peruano,
Mario
Vargas Llosa, vencedor do Nobel de Literatura em 2.010: “Pouquíssimos
seres humanos são capazes de aceitar a ideia do “absurdo existencialista” de
estarmos “lançados” aqui no mundo por obra de um acaso incompreensível, um
acidente estelar, de nossa vida ser mera casualidade desprovida de ordem e
coerência, de tudo o que ocorra ou deixe de ocorrer com ela depender
exclusivamente de nossa conduta e vontade e da situação social e histórica em
que nos achamos inseridos. Essa ideia, que Albert Camus descreve em O Mito de Sísifo com lucidez e
serenidade, da qual extraiu belas conclusões sobre a beleza, a liberdade e o
prazer, é capaz de submergir o comum dos mortais na anomia, na paralisia e no
desespero.” (A Civilização do Espetáculo: uma radiografia do nosso tempo e
da nossa cultura, tradução Ivone
Benedetti, 1ª. Ed., Rio de Janeiro: Objetiva, 2.013, p. 153).
P.S. (6) A imagem que abre a coluna de
hoje é a de um cartaz de publicidade do filme e foi emprestada de eaicinefilocadevoce.blogspot.com.
A segunda foto (emprestada de pipocamoderna.virgula.uol.com.)
é do diretor Paolo Sorrentino
recebendo o Oscar 2.014, pelo seu filme, eleito o melhor estrangeiro. A
terceira e última imagem é dos atores
Marcelo Mastroianni e Anita Ekberg, na obra-prima de Fellini, La Dolce Vita, lançado em 1.960 e considerado um dos melhores filmes de todos os
tempos (foto emprestada de sensesofcinema.com.).
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