Boa noite
amigos,
Eis uma
palhinha da obra objeto do meu comentário de hoje:
“A
raiz do fenômeno está na cultura. Ou melhor, na banalização lúdica da cultura
imperante, em que o valor supremo é agora divertir-se e divertir, acima de
qualquer outra forma de conhecimento ou ideal. As pessoas abrem um jornal, vão
ao cinema, ligam a tevê ou compram um livro para se entreter, no sentido mais
ligeiro da palavra, não para martirizar o cérebro com preocupações, problemas,
dúvidas. Só para distrair-se, esquecer-se das coisas sérias, profundas,
inquietantes e difíceis, e entregar-se a um devaneio ligeiro, ameno,
superficial, alegre e sinceramente estúpido. E haverá algo mais divertido que
espiar a intimidade do próximo, surpreender um ministro ou um parlamentar de cuecas,
investigar os desvios sexuais de um juiz, comprovar que chafurda no lodo quem
era visto como respeitável e exemplar?” (p. 124).
Pois bem, o
jornalista, dramaturgo, ensaísta e crítico literário peruano, Mario Vargas Llosa, um dos mais
importantes escritores da pós-modernidade, Prêmio
Nobel de Literatura em 2.010, é o autor do livro A CIVILIZAÇÃO DO ESPETÁCULO – Uma Radiografia do nosso tempo e
da nossa cultura, do original em espanhol “La Civilización del Espectáculo”
lançado em 1ª. edição pela Editora
Objetiva do Rio de Janeiro em 2.013, com
tradução para o português por Ivone
Benedetti. Ilustrado pela histórica frase de Vicente Huidobro, segundo a qual "As horas perderam seu relógio", o festejado autor, por meio deste ensaio, busca analisar o atual significado de
cultura num mundo transformado pelo imediatismo, pelo materialismo e ausência
de valores, pela perda de referências e pelos interesses da indústria do entretenimento, aos quais se submete a grande mídia, descompromissada com a educação e a formação de
cidadãos. Nos seus vários capítulos, junta reflexões atuais com algumas
outras que num passado mais próximo, ou mais remoto, deram origem a artigos que
escreveu para o jornal El País, de Madri, reflexões que perpassam pela
mudança de padrões de referência ou julgamento do que seja arte, o
desaparecimento do erotismo e o sexo frio, a política e seu desprestígio no mundo atual, o
laicismo como condição da democracia e a importância histórica e também atual
da religião, como exercício de fé, indispensável à manutenção da ordem pública
para a grande maioria dos cidadãos, dentre outras instituições e questões que
gravitam em torno do tema principal. Importante destacar o que o escritor, um liberal, agora bem maduro, pensa do
mundo digital e do acesso à Internet, com os seus aspectos positivos e
negativos, bem ressaltados, sem ranços de preconceito ou saudosismo, e a constante citação de ilustres escritores, desvendando as suas opiniões e com elas concordando ou discordando, de forma absolutamente respeitosa e democrática. A lucidez com que Vargas defende seus pontos
de vista acerca dessas questões e o valor de seus argumentos são alguns dos
elementos que tornam a sua leitura indispensável, tanto para os leitores mais
amadurecidos, quanto para os jovens iniciantes, que não viveram
a experiência de um mundo anterior em que outros eram os referenciais, os instrumentos e as ferramentas.
Até amanhã
amigos.
P.S. (1) O
escritor Mario Vargas Llosa nasceu no Peru em 1.936, viveu em Paris na década
de 60 e lecionou em diversas universidades norte-americanas e europeias. É
autor de extensa obra literária. Divide atualmente seu tempo entre Londres,
Paris, Madri e Lima;
P.S. (2)
Apresentação do autor na orelha frontal do seu livro: “Este pequeno ensaio não tem a
aspiração de aumentar o já elevado número de interpretações sobre a cultura
contemporânea, mas apenas de fazer constar a metamorfose pela qual passou
aquilo que se entendia ainda por cultura quando minha geração entrou na escola
ou na universidade e a matéria heteróclita que a substituiu, numa adulteração
que parece ter-se realizado com facilidade e com a aquiescência geral.”;
P.S. (3) As
duas imagens da coluna de hoje são, respectivamente, da capa do livro e do autor Mário Vargas Llosa, esta última
emprestada de rodrigoconstantino.blogspot.com.
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