terça-feira, 23 de dezembro de 2014

LITERATURA - A CIVILIZAÇÃO DO ESPETÁCULO - MARIO VARGAS LLOSA

Boa noite amigos,

Eis uma palhinha da obra objeto do meu comentário de hoje:


A raiz do fenômeno está na cultura. Ou melhor, na banalização lúdica da cultura imperante, em que o valor supremo é agora divertir-se e divertir, acima de qualquer outra forma de conhecimento ou ideal. As pessoas abrem um jornal, vão ao cinema, ligam a tevê ou compram um livro para se entreter, no sentido mais ligeiro da palavra, não para martirizar o cérebro com preocupações, problemas, dúvidas. Só para distrair-se, esquecer-se das coisas sérias, profundas, inquietantes e difíceis, e entregar-se a um devaneio ligeiro, ameno, superficial, alegre e sinceramente estúpido. E haverá algo mais divertido que espiar a intimidade do próximo, surpreender um ministro ou um parlamentar de cuecas, investigar os desvios sexuais de um juiz, comprovar que chafurda no lodo quem era visto como respeitável e exemplar?” (p. 124).

Pois bem, o jornalista, dramaturgo, ensaísta e crítico literário peruano, Mario Vargas Llosa, um dos mais importantes escritores da pós-modernidade, Prêmio Nobel de Literatura em 2.010, é o autor do livro A CIVILIZAÇÃO DO ESPETÁCULO – Uma Radiografia do nosso tempo e da nossa cultura, do original em espanhol “La Civilización del Espectáculo” lançado em 1ª. edição pela Editora Objetiva do Rio de Janeiro em 2.013,  com  tradução para o português por Ivone Benedetti. Ilustrado pela histórica frase de Vicente Huidobro, segundo a qual "As horas perderam seu relógio",  o festejado autor, por meio deste ensaio, busca analisar o atual significado de cultura num mundo transformado pelo imediatismo, pelo materialismo e ausência de valores, pela perda de referências e pelos interesses da indústria do entretenimento, aos quais se submete a grande mídia, descompromissada com a educação e a formação de cidadãos. Nos seus vários capítulos, junta reflexões atuais com algumas outras que num passado mais próximo, ou mais remoto, deram origem a artigos que escreveu para o jornal El País, de Madri, reflexões que perpassam pela mudança de padrões de referência ou julgamento do que seja arte, o desaparecimento do erotismo e o sexo frio, a política e seu desprestígio no mundo atual, o laicismo como condição da democracia e a importância histórica e também atual da religião, como exercício de fé, indispensável à manutenção da ordem pública para a grande maioria dos cidadãos, dentre outras instituições e questões que gravitam em torno do tema principal. Importante destacar  o que o escritor, um liberal, agora bem maduro, pensa do mundo digital e do acesso à Internet, com os seus aspectos positivos e negativos, bem ressaltados, sem ranços de preconceito ou saudosismo, e a constante citação de ilustres escritores, desvendando as suas opiniões e com elas concordando ou discordando, de forma absolutamente respeitosa e democrática.  A lucidez com que Vargas defende seus pontos de vista acerca dessas questões e o valor de seus argumentos são alguns dos elementos que tornam a sua leitura indispensável, tanto para os leitores mais amadurecidos, quanto para os jovens iniciantes, que não viveram a experiência de um mundo anterior em que outros eram os referenciais,  os instrumentos e as ferramentas. 

Até amanhã amigos.


P.S. (1) O escritor Mario Vargas Llosa nasceu no Peru em 1.936, viveu em Paris na década de 60 e lecionou em diversas universidades norte-americanas e europeias. É autor de extensa obra literária. Divide atualmente seu tempo entre Londres, Paris, Madri e Lima;


P.S. (2) Apresentação do autor na orelha frontal do seu livro: “Este pequeno ensaio não tem a aspiração de aumentar o já elevado número de interpretações sobre a cultura contemporânea, mas apenas de fazer constar a metamorfose pela qual passou aquilo que se entendia ainda por cultura quando minha geração entrou na escola ou na universidade e a matéria heteróclita que a substituiu, numa adulteração que parece ter-se realizado com facilidade e com a aquiescência geral.”;

P.S. (3) As duas imagens da coluna de hoje são, respectivamente,  da capa do livro e do autor Mário Vargas Llosa, esta última emprestada de rodrigoconstantino.blogspot.com.




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