Boa
noite amigos,
Acabou
Salve Jorge, a novela do horário
mais nobre da televisão brasileira. E foram muitos os questionamentos
suscitados com o folhetim de Glória
Perez, que substituiu Avenida Brasil, este sim, com justiça, um dos maiores
sucessos de crítica e de público da história das telenovelas brasileiras. A
verdade, porém, é que Salve Jorge
foi uma das experiências mais infelizes da competente Glória Perez, que não conseguiu, na prática, por razões diversas e
que não vem a pelo, sensibilizar o grande público, até tolerante com os clichês
que já se tornaram habituais nas novelas brasileiras. A sensação é de uma distância abismal entre a concepção e o
resultado verificado. A insistência da autora em explorar, nas suas novelas,
outras culturas muito diferentes da nossa, com o objetivo louvável de universalizar, por
assim dizer, as histórias e os dramas que envolvem os personagens escolhidos,
embora em núcleos separados, num ato de ecumenismo, tem cansado
os telespectadores e aumentado a sensação de inverossimilhança, trazendo a
obra próxima da comédia, uma
consequência não prevista, nem
pretendida, obviamente, pela escritora.
No caso de Salve Jorge o núcleo da Capadoccia, que começou forte com as
ameaças da personagem Sarila (Betty Gofman), foi de certa
forma abandonado pela escritora, num dado momento da novela, perdendo a
importância. Tirante o triângulo amoroso entre Ziah (Domingos Montagner),
Ayla (Tânia Khalil) e Bianca (Cleo Pires), muito chato e repetitivo, diga-se de passagem, nada
mais de relevante foi destacado. No caso de Mustafá (Antonio Calloni) e Berna (Zezé
Polessa), embora turcos, passaram praticamente todo o tempo no Rio
de Janeiro, envolvidos com os personagens brasileiros, por causa da
investigação da compra da filha, Aisha (Dani Moreno), seqüestrada e
vendida, ainda recém-nascida, por Vanda (Tottia Meirelles). Por outro lado, a
protagonista escolhida pela escritora, a atriz Nanda Costa (Morena),
não conseguiu, certamente por falta de carisma, envolver o público, nem mesmo
fazendo parceria com o bom ator Rodrigo
Lombardi, que também não decolou no
papel do Capitão Theo. Personagens
surgiam e desapareciam da novela, de repente,
sem qualquer explicação, e sem que o público desse pela falta deles,
revelando precariedade do roteiro, alterado
ao sabor de circunstâncias ou críticas (a escritora as respondia no seu twitter, e não foram poucas as vezes
que ela encarregou os próprios personagens de fazê-lo, durante a novela, como foi o caso da
improvável falta de câmeras em elevador de hotel 5 estrelas, durante o
assassinato de Rachel (Ana Beatriz Nogueira), por Lívia Marini (Cláudia Raia), com aquela seringa assassina (que virou piada nas
redes sociais) ou como a Igreja de São Jorge, aberta 24 horas para receber Deus e todo mundo. Os
ótimos Alexandre Nero e Giovana Antonelli, nos papéis,
respectivamente, do advogado Stênio e da Delegada Helô, obrigaram a autora, segundo se
comenta, a incrementar as cenas
envolvendo seus personagens, em detrimento dos protagonistas. Também destaque
para o núcleo da Favela do Alemão, o melhor de todos eles, com um
trabalho magnífico de Dira Paes (Lucimar),
de Solange Badim (Delzuite), da graciosa Bruna Marquezini (Lurdinha), de Nando Cunha
(Pescoço) e da atriz Roberta Rodrigues (surpreendente no papel da impagável Maria Vanúbia,pipipipi.....). E
é claro, para Nicette Bruno, sempre uma grande e convincente dama da dramaturgia
brasileira, na pele da elegante Dna. Leonor.
O
saldo, porém, foi ruim, comparado com o padrão das novelas globais e das
anteriores da própria Gloria Perez,
como “O Clone”.
Até
amanhã amigos.
P.S. (1) A pergunta que não quer calar do
último capítulo de Salve Jorge é a
seguinte: “Teria Theo, Morena e a
pequena Géssica (será com J?), demorado tanto para retornar da Turquia para o Rio de Janeiro e,
finalmente, saciando a avidez e o desespero de Dna. Lucimar e Dna. Áurea, caído
nos braços da galera do Alemão? A
indagação tem muito sentido porque o matrimônio da Delegada Helô com o advogado Stenio, aconteceu, antes, segundo a ordem em que as
cenas foram exibidas, enquanto o
letreiro que precedeu a cena do casamento se referia a “TEMPOS DEPOIS”. Que tempo será esse? Bem, pelo menos alguns meses para que corressem os papéis (processo de
habilitação para o casamento, fossem os convites emitidos, entregues, etc.
etc.). E nem venham dizer que houve proposital inversão da ordem (ordem não
cronológica, como concessão, para que a
novela acabasse com os protagonistas), porque nem Theo, nem Morena estavam no
casamento da amiga Delegada. Pô, Seu Jorge, Faiz Favor, como diria o Tony
Ramos.
P.S.
(2) Perceberam os amigos que todos os
personagens estrangeiros que o ator Tony
Ramos interpreta (muito bem sempre,
e não foram poucos), ele encaixa um tal “faiz favor”. Claro que esse “faiz
favor” é por conta e risco dele e não dos autores, né?
P.S.
(3) Grandes e consagrados atores e atrizes foram sacrificados na novela, em
função de personagens que não chegaram a dizer a que vieram. A lista é grande: Rosi Campos (a Cacilda que só tomava chá
com a chata da Áurea e procurava relativizar a intolerância da amiga), Cris
Vianna (Julinha, que passou tempos desaparecida e depois voltou só para escutar
as lamúrias da Érica), Vera Fischer (Irina, metida com uma contabilidade da
boate, que não se sabe se chegou a concluir antes da prisão), Elisangela (Ema,
uma turca que se limitava a sorrir, junto com o marido, Kemal), Ernani Moraes
(Kemal, que também sorriu muito, em todas as festas, saudando seus vizinhos e parentes), Cissa
Guimarães (Maitê, uma carioca sem história, amiga da Delegada Helô e da sensual
Bianca). E por aí afora.
P.S.
(4) Quem sabe que fim levou o grande
ator André Gonçalves, ou melhor, o inexpressivo Miro da Favela do Alemão?
P.S.
(5) Para não dizer que eu não falei de flores, destaque-se de positivo dois
temas relevantes que a autora, como costumeiramente faz, procurou denunciar
para conscientizar, na sua novela: o triste tráfico internacional de pessoas e
a síndrome da alienação parental, um problema constante verificado em muitos
casais que se separam.
P.S.
(6) Glória Perez é uma das personalidades
mais cultas e atuantes do Brasil. Tanto nas suas obras, como pessoalmente,
sempre assumiu posições políticas claras
e cobrou resultados das autoridades constituídas;
P.S. (7) Pela ordem as imagens da coluna de hoje são: 1) da atriz Nanda Costa, no papel de Morena, emprestada do site contamais.com.br; 2) da atriz Roberta Rodrigues, no papel de Maria Vanúbia, emprestada do site wikioso.org; 3) da autora, Glória Perez, emprestada do site atarde.uol.com.br.
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