sábado, 18 de maio de 2013

SALVE JORGE! MAS, "FAIZ FAVOR"


Boa noite amigos,

Acabou Salve Jorge, a novela do horário mais nobre da televisão brasileira. E foram muitos os questionamentos suscitados com o folhetim de Glória Perez, que substituiu Avenida Brasil,  este sim, com justiça, um dos maiores sucessos de crítica e de público da história das telenovelas brasileiras. A verdade, porém, é que Salve Jorge foi uma das experiências mais infelizes da competente Glória Perez, que não conseguiu, na prática, por razões diversas e que não vem a pelo, sensibilizar o grande público, até tolerante com os clichês que já se tornaram habituais nas novelas brasileiras. A sensação é de  uma distância abismal entre a concepção e o resultado verificado. A insistência da autora em explorar, nas suas novelas, outras culturas muito diferentes da nossa,  com o objetivo louvável de universalizar, por assim dizer, as histórias e os dramas que envolvem os personagens escolhidos, embora em núcleos separados, num ato de ecumenismo,   tem cansado os telespectadores e aumentado a sensação de inverossimilhança, trazendo a obra  próxima da comédia, uma consequência não prevista, nem  pretendida, obviamente,  pela escritora. No caso de Salve Jorge o núcleo da Capadoccia, que começou forte com as ameaças da personagem  Sarila (Betty Gofman),  foi de certa forma abandonado pela escritora, num dado momento da novela, perdendo a importância. Tirante o triângulo amoroso entre Ziah (Domingos Montagner), Ayla (Tânia Khalil) e  Bianca (Cleo Pires), muito chato e repetitivo, diga-se de passagem, nada mais de relevante foi destacado. No caso de Mustafá (Antonio Calloni) e Berna (Zezé  Polessa), embora turcos, passaram praticamente todo o tempo no Rio de Janeiro, envolvidos com os personagens brasileiros, por causa da investigação da  compra da filha, Aisha (Dani Moreno),  seqüestrada e vendida, ainda recém-nascida, por Vanda (Tottia Meirelles). Por outro lado, a protagonista escolhida pela escritora, a atriz Nanda Costa (Morena), não conseguiu, certamente por falta de carisma, envolver o público, nem mesmo fazendo parceria com o bom ator Rodrigo Lombardi, que também  não decolou no papel do Capitão Theo. Personagens surgiam e desapareciam da novela, de repente,  sem qualquer explicação, e sem que o público desse pela falta deles, revelando  precariedade do roteiro, alterado ao sabor de circunstâncias ou críticas (a escritora as respondia no seu twitter, e não foram poucas as vezes que ela encarregou os próprios personagens de fazê-lo,  durante a novela, como foi o caso da improvável falta de câmeras em elevador de hotel 5 estrelas, durante o assassinato de Rachel (Ana Beatriz Nogueira), por Lívia Marini (Cláudia Raia), com aquela seringa assassina (que virou piada nas redes sociais) ou  como a Igreja de São Jorge, aberta 24 horas para receber Deus e todo mundo. Os ótimos Alexandre Nero e Giovana Antonelli, nos papéis, respectivamente,  do advogado Stênio e da Delegada Helô, obrigaram a autora, segundo se comenta,  a incrementar as cenas envolvendo seus personagens, em detrimento dos protagonistas. Também destaque para o núcleo da Favela do Alemão, o melhor de todos eles, com um trabalho magnífico de Dira Paes (Lucimar), de Solange Badim (Delzuite), da graciosa Bruna Marquezini (Lurdinha), de Nando Cunha (Pescoço) e da atriz Roberta Rodrigues (surpreendente no papel da impagável Maria Vanúbia,pipipipi.....). E é claro,  para Nicette Bruno, sempre uma grande e convincente dama da dramaturgia brasileira,  na pele da elegante Dna. Leonor.

O saldo, porém, foi ruim, comparado com o padrão das novelas globais e das anteriores da própria Gloria Perez, como “O Clone”.

 

Até amanhã amigos.   

 
 P.S. (1) A pergunta que não quer calar do último capítulo de Salve Jorge é a seguinte: “Teria Theo, Morena e a pequena Géssica (será com J?), demorado tanto para  retornar da Turquia para o Rio de Janeiro e, finalmente, saciando a avidez e o desespero de Dna. Lucimar e Dna. Áurea, caído nos braços da galera do Alemão?  A indagação tem muito sentido porque o matrimônio da Delegada  Helô com o advogado Stenio,  aconteceu, antes, segundo a ordem em que as cenas foram exibidas, enquanto  o letreiro que precedeu a cena do casamento se referia a  “TEMPOS DEPOIS”. Que tempo será esse? Bem, pelo menos alguns meses  para que corressem os papéis (processo de habilitação para o casamento, fossem os convites emitidos, entregues, etc. etc.). E nem venham dizer que houve proposital inversão da ordem (ordem não cronológica, como concessão,  para que a novela acabasse com os protagonistas), porque nem Theo, nem Morena estavam no casamento da amiga Delegada. Pô, Seu Jorge, Faiz Favor, como diria o Tony Ramos.

 

P.S. (2)  Perceberam os amigos que todos os personagens estrangeiros que o ator Tony Ramos interpreta (muito bem sempre,  e não foram poucos), ele encaixa um tal “faiz favor”. Claro que esse “faiz favor” é por conta e risco dele e não dos autores, né?

 
 
P.S. (3) Grandes e consagrados atores e atrizes foram sacrificados na novela, em função de personagens que não chegaram a dizer a que vieram. A lista é grande: Rosi Campos (a Cacilda que só tomava chá com a chata da Áurea e procurava relativizar a intolerância da amiga), Cris Vianna (Julinha, que passou tempos desaparecida e depois voltou só para escutar as lamúrias da Érica), Vera Fischer (Irina, metida com uma contabilidade da boate, que não se sabe se chegou a concluir antes da prisão), Elisangela (Ema, uma turca que se limitava a sorrir, junto com o marido, Kemal), Ernani Moraes (Kemal, que também sorriu muito, em todas as festas,  saudando seus vizinhos e parentes), Cissa Guimarães (Maitê, uma carioca sem história, amiga da Delegada Helô e da sensual Bianca). E por aí afora.

 

P.S. (4)  Quem sabe que fim levou o grande ator André Gonçalves, ou melhor, o inexpressivo  Miro da Favela do Alemão?

 

P.S. (5) Para não dizer que eu não falei de flores, destaque-se de positivo dois temas relevantes que a autora, como costumeiramente faz, procurou denunciar para conscientizar, na sua novela: o triste tráfico internacional de pessoas e a síndrome da alienação parental, um problema constante verificado em muitos casais que se separam.

 

P.S. (6) Glória Perez é uma das personalidades mais cultas e atuantes do Brasil. Tanto nas suas obras, como pessoalmente, sempre assumiu posições políticas claras  e cobrou resultados das autoridades constituídas;
 
P.S. (7) Pela ordem as imagens da coluna de hoje são: 1) da atriz Nanda Costa, no papel de Morena, emprestada do site contamais.com.br; 2) da atriz Roberta Rodrigues, no papel de Maria Vanúbia, emprestada do site wikioso.org; 3) da autora, Glória Perez, emprestada do site atarde.uol.com.br.

 

 

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