quinta-feira, 30 de maio de 2013

MPB - ALAÍDE COSTA - UMA VOZ NA MPB

Caros amigos,

Foi num sábado do último mês de março, horário de almoço, no Giovanetti V, aqui em Campinas. O estabelecimento, como de costume, àquela hora,  estava lotado e os burburinhos vinham de todos os cantos. De minha mesa com os familiares tive a visão atraída para uma senhora negra, muito sorridente, acompanhada por outra mulher, loira e mais jovem, brincando com uma criança que passava com a mãe. Aquele rosto era familiar. Mas de quem, meu Deus? Isso acontece tantas vezes agora que, chegando à terceira idade, vi, revi, encontrei e perdi tanta gente nesta vida.  Milhares, seguramente. Mas para satisfação de meu ego, a minha prodigiosa memória funcionou dali a não mais que alguns segundos. Eureka! Aquela senhora é a Alaíde Costa. Quem? perguntaram os meus familiares. A Alaíde Costa, aquela cantora fantástica do tempo da Bossa Nova, do Fino da Bossa, dos Festivais. Com exceção de minha mulher e de minha sogra, os demais adultos que se encontravam na mesa afirmaram desconhecê-la.  Vocês vão lembrar, insisti. Em seguida comecei a cantarolar  Onde Está Você, a música mais conhecida da cantora (Hoje à noite não tem luar/Eu não sei onde te encontrar/Pra Dizer como é o Amor/Que eu tenho Pra te Dar). Parcialmente, em vão. E digo parcialmente porque  o Ricardo, não sei se foi para encerrar o assunto ou para agradar, disse que se lembrava sim. Os demais continuaram me olhando com aquela cara de “Pô, meu, que que é isso!”. Bem, não me fiz de rogado. Fui até onde as senhoras ainda brincavam com  a criança. Toquei de leve o ombro da loira  e quando ela se virou eu pedi desculpas e perguntei: - É a Alaíde? E ela, simpática, respondeu afirmativamente. Dirigi-me então à própria, indagando se poderia abraçá-la. E ela nem respondeu. Abraçou-me imediatamente, abrindo aquele sorriso imenso e receptivo,  e eu aproveitei para sussurrar no seu ouvido, dizendo que tinha muito, mas muito prazer mesmo em conhecê-la. Que era seu fã, embora há muito tempo não a visse, nem ouvisse falar dela. Como ela caminhasse  de volta para sua mesa, para não aborrecê-la, mas já pensando em conversar um pouco, eu disse que iria até lá, dali há pouco. E fui. Ou melhor, fomos: eu e a Mara.  Ela estava lá com vários amigos de Campinas e pediu que eu sentasse ao seu lado. Conversamos e combinei com seus amigos e fãs que iríamos cuidar de trazê-la para um show aqui na terrinha. Eles toparam (foto da ocasião que os amigos vêm na abertura desta coluna). Fiquei com e.mail do pessoal para correspondermos acerca da nossa admiração pela amiga comum. Quem sabe um dia desses a gente acerta com ela o tal espetáculo e reunimos um pessoal para matar a saudades da  boa música, interpretada por uma cantora de verdade.


ALAÍDE COSTA – UMA VOZ FORTE E SUAVE NA MPB.
Sua voz é grave e sussurrada. Perfeita tecnicamente. Mas o seu canto não é só afinação. Transmite toda a emoção e o sentimento de quem vive para interpretar os movimentos do corpo e da alma. Ela nasceu em 1.935 no Rio de Janeiro. A carioca Alaíde Costa Silveira Mondin Gomide, desde cedo, mostrou sua vocação para a música. Aos 13 anos já se apresentava em programas de calouro da inesquecível Rádio Nacional do Rio de Janeiro. Depois no famoso programa de Ary Barroso, "Calouros em Desfile", no qual recebeu nota máxima do exigente corpo de jurados. Em 1.955 passou a se apresentar profissionalmente e dois anos depois gravou seu primeiro disco, um compacto simples, em 78 rotações. Em 1.959, pelas mãos do pai da Bossa Nova, João Gilberto, passou a frequentar e o tradicional Beco das Garrafas, referência no surgimento do movimento que também se hospedava no vasto apartamento de Nara Leão. Recebeu duas músicas para gravar: Minha Saudade de João Giberto e João Donato e Lobo Bobo, de Carlinhos Lyra e Ronaldo Bôscoli. Dali por diante não parou mais. Sucessivas gravações e apresentações no rádio, na televisão (especialmente no programa Fino da Bossa, comandado por Elis Regina),  e em teatros. Em 1.964 a carreira se alavancou com a gravação da música “Onde Está Você” (de Oscar Castro Neves e Luvercy Fiorini), seu maior sucesso. Gravou 15 discos em 50 anos de profissão. Seu talento foi reconhecido no Brasil e no exterior, considerada uma das vozes mais perfeitas da música brasileira. Seu vasto repertório inclui pérolas da MPB, como Lobo Bobo, Insensatez, Desafinado, Samba do Avião, Preciso Aprender a Ser Só, Adeus Batucada, Coisas do Mundo Minha Nega, Caminhos Cruzados, o Barquinho, dentre outras.  Cantou e se apresentou com monstros sagrados de nosso cancioneiro, como Johnny Alf, Milton Nascimento e Paulinho da Viola. Sua carreira intensa prosseguiu pelos anos 80, 90 e 2.000. Em 2.008 participou, com grande sucesso, do show “Maysa. Esta Chama Que não Vai Passar”, uma homenagem a outra grande cantora e que foi encenado no Teatro Sesc da Vila Mariana, em São Paulo. A cantora me disse que está bem de saúde e continua com aquela voz privilegiada e encantadora. Um privilégio para ela e sobretudo para nós, seus fãs e admiradores.
Até amanhã amigos.

P.S. (1) Três momentos marcantes da cantora: Em 1.969, com Johnny Alf, interpretando o clássico “Ilusão à Toa”; em 1.972 na gravação de “Me Deixa em Paz” com Milton Nascimento, faixa do LP Clube de Esquina e, em 2.008, quando se apresentou no show-homenagem a Maysa no Sesc da Vila Mariana;


                                                                      P.S.  (2) A carioca Alaíde mudou-se para São Paulo em 1.960, onde reside até hoje;






P.S. (3) A música “Me Deixa em Paz” que a cantora gravou com Milton Nascimento, no álbum Clube da Esquina, de 1.972, é de autoria de Airton Amorim e do saudoso Monsueto, e não se confunde com aqueloutra de Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Sousa, com o mesmo título, que Elis Regina gravou no LP “Elis” de 1.972;

P.S. (4) A Música “Me Deixa em Paz” 
de Amorim e Monsueto foi lançada no Carnaval de 1.952, pela cantora Linda Batista e é considerada até hoje o maior sucesso de Monsueto. Foi gravada e cantada por muita gente, ainda recentemente por Ana Carolina.



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