domingo, 27 de outubro de 2013

PONTE PRETA NA SUL-AMERICANA

Boa Noite amigos,



A participação da  Ponte Preta, pela primeira vez, num campeonato oficial internacional,  a Copa Sul-americana,  foi recebida com muito orgulho, mas também com muita expectativa e desconfiança por parte de  sua grande torcida e  pela imprensa em geral. A “Macaca” é uma das mais antigas e tradicionais equipes do futebol brasileiro. Fundada em 11 de agosto de  1.900, foi um dos reconhecidos celeiros de craques do futebol do Brasil, graças ao trabalho na formação de atletas de base,  que realizou e ainda realiza. Formou grandes equipes ao longo de sua história e protagoniza, até hoje, o principal clássico do interior do Brasil com o Guarani Futebol Clube, seu mais importante rival na cidade de Campinas, Estado de São Paulo. O Bugre, aliás, com um título brasileiro de 1.978, ainda mantém, 35 anos depois, a  condição de única equipe campeã brasileira do interior do Brasil. Na década de 70, Campinas foi considerada a capital do futebol brasileiro. O time da Ponte, que disputou o título do Campeonato Paulista com o Corinthians, em 1.977, em três partidas, todas realizadas no Estádio do Morumbi, em São Paulo, era, indiscutivelmente, o melhor do Brasil, embora tenha ficado com o vice,  e todos os amantes do futebol sabem até hoje, de cor e salteado, a sua escalação: Carlos, Jair Picerni, Oscar, Polozzi e Odirlei. Wanderley, Marco Aurélio e Dicá, Lúcio, Ruy Rei  e Tuta. Bons tempos aqueles. Hoje, época de vacas magras para as equipes médias do interior, a participação num campeonato internacional (o segundo mais importante da América do Sul) é de suma importância sob todos os aspectos (visibilidade, valorização, patrocínio, etc. etc.). Bem, o primeiro desafio foi vencido pela Macaca com tranqüilidade, ou seja, na fase de pré-classificação eliminou, com duas vitórias, em dois jogos, a equipe do Criciúma (SC). Em seguida,  à alvinegra campineira restou  um desafio indigesto: enfrentar a equipe do Pasto da Colômbia, em mais uma rodada eliminatória. Numa atuação bastante aguerrida, a Ponte venceu o primeiro jogo no Moisés Lucarelli, por 2 a 0, com gols de bola parada de Uendel e Fellipe Bastos,  fazendo um segundo gol no último minuto de jogo (cobrança de falta), o que foi de suma importância, pela vantagem que acabou levando para o jogo de volta. O desempenho e o resultado animaram a fanática torcida e muitos torcedores, enfrentaram todas as adversidades, para prestigiar  o time no Estádio Departamental Libertad, cidade de San Juan de Pasto, na Colombia, no último dia 23 de outubro. Um desses torcedores é meu colega de docência da Faculdade de Direito da Puc, o Professor Geraldo Fonseca de Barros Neto,  que arrumou as malas e se mandou com um grupo de amigos. As fotos da coluna de hoje, feitas por ele e enviadas a meu pedido, mostram os torcedores em diversos momentos:  fora do estádio,  dentro do estádio, em condução peculiar até o campo  e vista da cidade de San Juan de Pasto. Os jogadores enfrentaram desgaste físico e emocional, o frio, a pressão, e durante o jogo sufoco e emoção, mas trouxeram a classificação, ainda que com a derrota pela contagem mínima. Agora, cruza com a equipe do Velez Sarsfield, da Argentina, um adversário terrível pela tradição e importância. Será um jogo em Campinas e outro em Buenos Aires. A ordem é obter uma vitória na partida de ida e, se possível, por mais de um gol. Fica, pois, nova expectativa.

Até amanhã amigos.



P.S. (1) Eis as equipes do primeiro e do segundo jogo contra o Pasto, para registrar na história, tendo em vista ser a primeira equipe não brasileira que a Ponte enfrentou em um campeonato internacional. 1º jogo: Ponte 2 x Pasto 0. Estádio Moisés Lucarelli. Roberto, Regis, Ferron, Diego Sacoman, Uendel, Baraka, Fellipe Bastos, Adrianinho (Elias), Chiquinho (Alef), Rildo (Rafael Ratão) e William; 2º jogo: Deportivo Pasto 1 x Ponte Preta 0. Estádio Libertad em San Juan del Pasto: Roberto, Regis Souza, Ferron, Diego Sacoman, Uendel e Baraka. Alef, Elias, Adrianinho, Magal, Fellipe Bastos, Rafael Ratão, Fernando e William. Técnico nos dois jogos: Jorginho.


P.S. (2) O Estádio da Ponte Preta é o Moisés Lucarelli, nome de um de seus Presidentes. Foi inaugurado no ano de 1.948 e apelidado de “Majestoso”. Explica-se por que: na ocasião da inauguração era o terceiro estádio com maior capacidade no Brasil. Só perdia para o Pacaembu, Estádio Municipal de São Paulo e para o Estádio de São Januário, de propriedade do Vasco da Gama. O Estádio, que já teve capacidade para 35.000 torcedores, atualmente pode acomodar até 20.000, na reclassificação feita pela CBF, em função do Estatuto do Torcedor.

P.S. (3) A Ponte Preta disputa atualmente quatro campeonatos importantes: o Campeonato Paulista da 1ª. Divisão, o Brasileiro da Série A, a Copa do Brasil e o Campeonato Sul-Americano.


P.S. (4) No Ranking dos clubes brasileiros, a Macaca ocupa o 24º lugar com 7.600 pontos. 

P.S. (5) A Ponte possuía 10 títulos do Campeonato Campineiro, que era disputado na primeira metade do século passado. Foi também  três vezes campeã do interior (1.927, 2.009 e 2.013), campeã do Campeonato Paulista da Série A-2 (1969), duas vezes campeã da Copa São Paulo de Futebol Jr. (1.981, 1.982), Vice-Campeã Paulista 5 vezes (1.970, 1.977, 1.979, 1.981 e 2.008). Obteve, ainda, um 3º lugar no Campeonato  Brasileiro de 1.981 e um 3º lugar na Copa do Brasil de 2.001 e vários títulos nas categorias de base.

P.S. (6) Grandes e talentosos jogadores passaram pela Macaca, parte dos quais saíram das categorias juvenis. Destacam-se, Dicá, Carlos, Polozzi, Oscar, Juninho, Waldir Peres, Washington, Luis Fabiano, Elias, Sérgio Guedes, André Cruz, Fábio Luciano, Mineiro, Marco Aurélio, Nelsinho, Jair Picerni, Rodrigues, Samuel, Ciasca, Dadá Maravilha, Chicão de 1970 e Chicão de 1.980, André Dias, Piá, Manfrini,  Jorge Mendonça, Nenê Santana, dentre outros;

P.S. (7) A Macaca esquece um pouco a Copa Sul-Americana e seu adversário argentino para focar no Campeonato Brasileiro. Na 19ª. posição da tabela com 30 pontos, a Ponte enfrenta amanhã, em Campinas, a equipe do Vasco da Gama, que tem 33 pontos e está em 17º lugar, também na zona de rebaixamento. Acontece que o Criciúma, que ocupa a 18ª. posição, já jogou hoje na rodada e perdeu para o Cruzeiro por 5 a 3, permanecendo com 32 pontos. Isto significa que o jogo de amanhã é de 6 pontos. Se a Ponte vencer ( e só a vitória interessa), passará o Criciúma e o próprio Vasco da Gama (a Macaca ficará com o mesmo número de pontos, mas com uma vitória a mais). Não deixa a zona da degola, mas fica em posição muito melhor para lutar contra o rebaixamento;



P.S. (8) San Juan de Pasto é uma cidade do sudoeste da Colômbia. Situa-se em uma região agrícola andina de maioria indígena e atua como centro comercial e distribuidor de mercadorias entre o Vale do Anca e o Equador, através da Rodovia Pan-americana. Conta com numerosos edifícios religiosos de estilo colonial e é importante destino turístico pela beleza dos vales que a cercam. Fica perto do vulcão Galeras. Sua área é de 1.181 quilômetros quadrados, a temperatura média é de 14º C, a população aproximada é de 450.000 habitantes e a altitude é de 2.527 metros acima do nível do mar (Wikipédia.com.br).


domingo, 20 de outubro de 2013

O GOSTOSO MUNDO DA CERVEJA

Boa noite amigos,


Sou, como tantos outros,  conhecidos e desconhecidos,  um apreciador da cerveja em seus mais diferentes estilos e composições. Digo tantos e tantos outros, pois a cerveja é a bebida alcoólica mais consumida no mundo. E dentre todas, é a terceira, só perdendo para a água e para o chá.  Trata-se de uma bebida, que como diz um amigo meu, equivale a uma super-alimentação. Dá para substituir um variado prato de comida. Mas como acompanhante de determinadas refeições é ideal e inigualável. Afinal, não dá para pensar em um churrasco "supimpa" que não seja acompanhado pela "cerva" geladinha, como estamos acostumados aqui no Brasil, esse país tropicalíssimo.  Tudo bem que temos a cachaça, o whisky e o vinho.  É, no entanto, a cerveja que vai mais vezes freqüentar o nosso cardápio, em restaurantes, em casa ou nos piqueniques da vida, durante todas as estações do ano. A cerveja é produzida a partir da fermentação de cereais, especialmente da cevada, e foi uma das primeiras bebidas alcoólicas criadas pelo ser humano. Seus ingredientes básicos são água, uma fonte de amido, como malte de cevada convertido em açucares e, depois de fermentado, em álcool e dióxido de carbono, uma levedura para produzir a fermentação e o lúpulo. Uma outra fonte alternativa de amido pode ser usada, como o milho, o arroz, o milheto, o sorgo, a raiz de mandioca (especialmente na África), tubérculo de batata e agave. A origem da cerveja é muito antiga. Era conhecida dos sumérios, dos babilônios e dos egípcios há pelo menos 2.300 anos antes de Cristo. Na civilização romana teve alguma importância, mas durante a República, o vinho destronou a cerveja como a bebida alcoólica preferida. A cerveja passou a ser, então, uma bebida própria dos bárbaros, dentre os quais os povos germânicos. Esse resquício de bebida popular, em contraposição ao vinho, cuja cultura é reputada mais nobre, se mantém ainda hoje. Tenho amigos mais sofisticados que não tomam cerveja, nem a oferecem, o que é pior, nos encontros e festas que promovem. Os mais íntimos, no entanto, não ousam me convidar para qualquer encontro em que a opção não seja oferecida.  A bebida também está hoje destinada, em todo o mundo gastronômico, a compor receita de certos pratos, especialmente de carnes e aves. Parodiando um personagem da novela  das 7, diria que  “há prato todo trabalhado na cerveja”. Atualmente existe em todo o planeta, uma grande variedade de cervejas,com composições e receitas variadas e experimentais. Virou mania entre os cervejeiros mais tradicionais e com recursos, a elaboração de cervejas artesanais para consumo próprio, de parentes e amigos, sem objetivo de comercialização. Por isso essa variedade passou a ser infinita. A maior parte, contudo, dos consumidores de cerveja, preferem a Pielsener (pils ou pílsen, no Brasil), mais adaptável ao gosto popular brasileiro e ao clima. Mas é também a cerveja mais consumida, de maneira geral.  De vez em quando vamos falar aqui a respeito do assunto, que é um dos meus prediletos.


Até amanhã amigos.


P.S. (1) Pielsener (pils ou pílsen), é uma cerveja de baixa fermentação, fabricada com maltes especiais produzidos na cidade de Pielsen (Plizen), situada na região da Boêmia, atual República Checa;

P.S (2) Duas cervejas que considero muito boas, na categoria acima citada.  A “Corona”, servida com uma fatia de limão na boca da garrafa e a cerveja “Sol”, ambas mexicanas. São marcas bem difundidas no mundo, tanto que elas são comercializadas em boa parte da Europa e nos Estados Unidos. Recentemente, viajando para as ilhas de Aruba, Curaçao e Bonaire constatei que são facilmente encontradas, a preços acessíveis e populares.

P.S. (3) A Cerveja Sol Pielsen Premium é uma cerveja clara,  com delicioso aroma, pouco amarga e muito refrescante, de sabor intenso e vibrante, provocado por sua consistência sedosa que deixa uma sensação de frescor no paladar que pode ser sentido já no primeiro gole. Sua garrafa translúcida ressalta sua coloração dourada. Da família Lager, é vendida em garrafa de 355 ml. E sua gradação alcoólica é de 4,30%. Seus ingredientes são água, malte, lúpulo e cereais não maltados.

P.S. (4) Neste ano de 2.013, pela primeira vez, foi desenvolvido um tipo de sorvete e de ovo de Páscoa a partir da cerveja;



P.S. (5) Segundo pesquisa feita por empresa alemã, o Brasil aparece em 17º lugar entre os maiores consumidores de cerveja, com 62 litros por habitante/ano. É o país sul-americano que mais consome a bebida. O primeiro lugar ficou com a República Checa, com média de 143 litros por habitante. O segundo e terceiro lugares, ficaram, respectivamente,com a Áustria (108 l/h) e Alemanha (107 l/h). O último lugar ficou com a Índia (apenas 2  l/h).

P.S. (6) Ramsés III (1.184-1153 A.C.), um dos faraós do Egito, chegou a ser conhecido como o “faraó-cervejeiro”. Chegou a doar, aos seus sacerdotes, 466.308 ânforas (essa era a medida na ocasião) de cerveja, aproximadamente um milhão de litros, saídos de suas cervejeiras;

P.S. (7) O famoso Código de Hamurabi estabelecia uma ração diária de cerveja para o povo da Babilônia: 2 litros para os trabalhadores, 3 para os funcionários públicos, e 5 para os administradores e o sumo sacerdote. O Código também impunha sanções severas para os taberneiros que tentassem enganar os seus clientes;

P.S. (8) A Cerveja é uma bebida  cujo teor alcoólico fica entre 3 a 6% vol., enquanto os vinhos  tem teor entre 8% (alguns vinhos verdes) e 13% (vinhos tintos), sempre em média. O teor  médio do wisky é de 40%, o mesmo do aguardente;

P.S. (9) As quatro bebidas com maior teor alcoólico do mundo são, nesta ordem: 1)  “Everclear”, uma espécie de cachaça, fabricada pela Luxco nos Estados Unidos. Também conhecida como “pinga gringa” ou “Spirit”, tem teor entre 75,5% a 95%. É usada na flambagem de certos pratos culinários e até para acender fogueira; 2) “Utopias” é uma cerveja fabricada pela Samuel Adams. Como cerveja é atípica, tem sabor complexo assemelhado ao brandy. Tem 25% de teor alcoólico, o que se tratando de cerveja, é um disparate. Só foram fabricadas 8.000 garrafas, comercializadas a 100 dólares cada. Hoje a aquisição de alguma delas só pode se dar em leilões ou sites especializados, ao preço mínimo de 500 dólares; 3) Balkan, é uma vodka oriunda da Bulgária, triplamente destilada. É comercializada na Inglaterra ao preço de 45 libras. Seu teor alcoólico chega a 88%; 4) Absinto – composto de ervas, especialmente da losna, tem teor alcoólico entre 68% a 72% e se suspeita que causa delírios e alucinações. Preferida de artistas como Toulosse-Lautrec, Rimbaud e do escritor Charles Baudelaire, alguns atribuem ao seu consumo a loucura de Van Gogh;


P.S. (10) Em muitos países, inclusive no Brasil, a lei proíbe a venda de bebidas que contenham teor alcoólico superior a 60%. Há uma versão de Absinto que é vendido no Brasil e possui apenas 45% de teor alcoólico;

P.S. (11) Informações constantes da coluna de hoje foram emprestadas do site vidaestilo.terra.com.br.;

P.S. (12) A primeira imagem da coluna foi emprestada do site www.maisestudo.com.br; a segunda imagem (da cerveja Sol Premium) foi emprestada  do site www.saoluizdelivery.com.br; a terceira imagem (da cantora Sandy em campanha com a cerveja Devassa), do site www.sensacionalista.com.br; a quarta imagem é do escritor e poeta francês Charles Beudelaire, suposto consumidor do "Absinto". O poeta, autor de Flores do Mal é um dos meus favoritos. Sandy, durante o carnaval, foi alvo de uma brincadeira nas redes sociais, que diziam ter a artista sido hospitalizada com suspeita de cirrose,  após tomar dois copos de cerveja. E que Zeca Pagodinho teria se oferecido como doador de fígado, cujo órgão foi recusado, no entanto,  pela equipe médica. A cantora ficou danada com a brincadeira. Mas era, claro, só brincadeira mesmo.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

STJ - SUCESSÃO - VIÚVA CONCORRE COM SUCESSORES NOS BENS COMUNS OU NOS PARTICULARES?

Boa noite amigos,


Alertado por um amigo advogado, entrei no site do Superior Tribunal de Justiça hoje e fiquei surpreso com  decisão  da Colenda 3ª. Turma do mencionado Sodalício, no Recurso Especial n. 1.377.084 de Minas Gerais,  no qual se discutia acerca da melhor interpretação do artigo 1.829, I, do Código Civil de 2.002, que trata da ordem da vocação hereditária.  O dispositivo, inovando o sistema anterior,  estabelece a possibilidade de concorrência do  cônjuge sobrevivente, com os descendentes (primeiros chamados a suceder),  salvo se o casamento tiver sido realizado pelo regime da comunhão universal de bens, ou pelo regime da separação obrigatória, ou, se no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares. Explica-se: no regime da comunhão universal de bens em regra o patrimônio é uno e os bens são comuns e, portanto, o cônjuge supérstite terá assegurada a sua meação em todos eles, não havendo razão para que concorra com os descendentes sobre a outra metade. Igual consequência haverá se o regime for o da comunhão parcial de bens, mas o defunto não houver deixado bens particulares. Mas se houver deixado bens particulares prevê o Código uma concorrência que, ao que se supõe, só pode existir sobre os tais bens particulares, em relação aos quais o cônjuge sobrevivente não está resguardado com a meação. Daí dispor o art. 1832 que, em concorrência com os descendentes (art. 1.829, I), caberá ao cônjuge quinhão igual aos dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com quem concorrer.   O Conselho da Justiça Federal, em enunciado aprovado durante a III Jornada de Direito Civil (dezembro de 2.004), entendeu que “O art. 1.829, inciso I, só assegura ao cônjuge sobrevivente o direito de concorrência com os descendentes do autor da herança quando casados no regime de separação convencional de bens, ou, se casados nos regimes da comunhão parcial ou participação final nos aquestos, o falecido possuísse bens particulares, hipóteses em que a concorrência restringe-se a tais bens, devendo os bens comuns (meação) ser partilhados exclusivamente entre os descendentes”.  No mesmo sentido, pronunciam-se os mais modernos e conceituados doutrinadores (cf., dentre outros,  Carlos Roberto Gonçalves, Direito Civil Brasileiro, Direito das Sucessões, p.174, São Paulo, Saraiva, 7ª. edição, 2.013; Euclides de Oliveira, Direito de Herança, São Paulo, Saraiva, 2.005, p. 108; Silvio de Salvo Venosa, Direito Civil, São Paulo, Atlas, 2.010, p. 138.). Essa mesma interpretação, que nos parece lógica e coerente, foi adotada pela Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça  ao decidir o Recurso Especial n. 974.241, j. de 7-6-2.011. No entanto, seguindo o voto da Ministra Relatora, Nancy Andrighi, a 3ª. Turma do mesmo Tribunal, agora no Recurso Especial  acima referido (R.Esp. 1.377.084),  entendeu de forma diversa, ou seja, de que a interpretação mais justa do artigo 1.829, inciso I, do Código Civil, é aquela que permite que o sobrevivente herde, em concorrência com os descendentes," a parte do patrimônio que ele próprio construiu com o falecido porque é com a respectiva metade desses bens comuns que ele pode contar na falta do outro, assim na morte como no divórcio. Ressaltou, ainda, a ministra, que “afastar o cônjuge da concorrência hereditária no que toca aos bens comuns, simplesmente porque já é meeiro, é igualar dois institutos que têm naturezas absolutamente distintas: a meação e a herança.  O conflito, portanto, é manifesto e no nosso entender, a solução preconizada agora pela douta 3ª. Turma, não é a melhor, porque implicaria em consequências muito diferentes, e, pois, injustas, dependendo da quantidade e valor de bens comuns e particulares. Tome-se, por exemplo, a sucessão de pessoa casada com comunhão parcial de bens que deixa viúva e dois filhos e no patrimônio unicamente bens comuns no valor de R$10.000.000,00. Nesse caso, não há concorrência e o cônjuge sobrevivente receberia apenas sua meação de R$5.000.000,00, enquanto a outra metade seria dividida entre dois filhos, na proporção de R$2.500.000,00 cada um. No mesmo caso, acrescente-se que, além dos bens comuns, exista um veículo antigo doado pelo genitor do autor da herança. Tal veículo tem o seu valor estimado em R$5.000,00. Pronto: Segundo a solução do Recurso Especial ora comentado, a viúva receberia a sua meação (R$5.000.000,00) mais 1/3 da outra metade (aproximadamente R$1.667.000,00), num total de R$6.667,000,00, enquanto os dois filhos receberiam R$1.667.000, 00 cada um mais R$2.500,00 sobre o automóvel. Como explicar essa diferença gritante, sem incoerência? Ah, antes de terminar, quero fazer uma indagação que não vi em autor nenhum. A lei estabelece que não haverá concorrência se o regime do casamento for o da comunhão universal de bens. E ponto final. Pressupõe-se que não possa haver caso de existência de bem particular no regime da comunhão universal de bens. Mas pode, é claro. Figure-se a hipótese de um dos cônjuges receber um bem, em doação,  com a cláusula de incomunicabilidade.  Esse bem, malgrado o regime da comunhão universal adotado, será particular e não comum ( vide art. 1.668, I, do Código Civil). E aí senhores doutrinadores? E aí senhora ministra? Haverá concorrência ou não haverá? E sobre quais bens?


Até amanhã amigos.

P.S.  - A imagem da coluna de hoje (de um cemitério junto a um castelo mal assombrado, buuuuuu!) foi emprestada de ultradowloads.com.br e, na verdade, é de desenho de papel de parede. Irado!!!

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

HABEMUS PAPAM - CINEMA

Boa tarde amigos,


Desde que li, ainda no ano passado, um artigo a respeito dos melhores filmes de 2.012, tive a atenção despertada para um dos indicados, com nome e sinopse um tanto original. Trata-se de “Habemus Papam”, expressão latina  destinada a  anunciar a eleição de um novo papa no Estado do Vaticano. Só este final de semana pude ver o filme, agora oferecido em DVD. Sua carreira comercial nos cinemas do  Brasil pode ser considerada um fracasso, com menos de 100.000 espectadores nas salas de exibição. A crítica, contudo, foi inteiramente favorável e no meu modo de ver com muita razão. É um belo filme. Anunciado como do gênero “comédia dramática”, o longa produzido em parceria entre França e Itália, retrata, com cores de muito realismo,  toda a agitação do Vaticano com a cerimônia da morte  e os funerais do Papa e, em seguida, com o Conclave de cardeais do mundo inteiro reunido para a eleição do sucessor. Após rodadas de votação, o cardeal Malville (Michel Piccoli), apesar de orar seguidamente para não ser o escolhido, é eleito o novo Sumo Pontífice para seu desespero. Acionada a fumaça branca, que anuncia a escolha de mais um sucessor de São Pedro, na praça do mesmo nome, a multidão católica se regozija com o anúncio feito pelo Porta Voz de que o novo Papa se aproximará para a saudação e o discurso protocolares. Acontece que Malville é tomado por uma crise de cólera e pânico e deixa o aposento, frustrando a expectativa. Sequer seu nome é anunciado. A partir daí os Cardeais se movimentam para convencer o eleito a assumir o papel que lhe foi destinado “por inspiração divina”, valendo-se, inclusive, da colaboração de um psicoterapeuta confessadamente ateu (Nanni Moretti, que também assina o roteiro juntamente com Francesco Piccolo), enquanto o povo e a imprensa do mundo inteiro,sem entender o que aconteceu, busca uma explicação, inclusive de especialistas (vaticanistas), que, em verdade, estão tão perdidos como qualquer outro, diante do inesperado e improvável incidente.  Malville, porém, num descuido do Porta-Voz e dos seguranças, foge e passa a andar pelas ruas de Roma, buscando entender o seu mêdo e fragilidade, refletindo sobre o seu   passado, os seus sonhos frustrados e a sua essência humana.   O final é também surpreendente. Destaque para a interpretação magnífica do veterano ator francês Michel Piccoli,  de 86 anos, como o Cardeal Malville. Não deixe de ver.

Até amanhã amigos,

P.S. (1)  “Habemus Papam” esteve na Mostra Competitiva do Festival de Cannes, em 2.011, ano de sua produção;

P.S. (2) A sua estréia no Brasil deu-se em 16 de março de 2.012. O longa tem 104 minutos. No elenco, além de Michel Piccoli (Malville) e do co-roteirista,  Nanni Moretti (o psicoterapeuta), ainda Renato Scarpa (cardeal Gregori), Franco Graziosi (Cardeal Bollatti), Margherita Bruy (analista), Dario Cantarelli (o ator) e Leonardo Della Bianca (Giullio), dentre outros;

P.S. (3) Michel Piccoli nasceu em Paris em 1.925, filho de imigrantes italianos. Na sua vasta filmografia, com atuações em cinema e televisão na França, pode-se destacar “O Desprezo” (1963), dirigido pelo famoso Jean Luc Godard, “Topázio” (1969), e aquele que consagrou a atriz Catherine Deneuve, “A Bela da Tarde” (1967), dirigido pelo cineasta espanhol Luis Bruñel. Picolli, inclusive, foi um dos atores favoritos desse cineasta;

P.S. (4) Os críticos de cinema dos principais veículos midiáticos consagraram o filme de Nanni Moretti. Os jornais Estado de São Paulo e O Globo deram nota máxima (5,0). A Folha de São Paulo nota 4,0. A menor nota foi 3,0. O público esteve dividido entre aqueles que o consideraram excelente e os que não gostaram, alguns por verem no filme uma espécie de escárnio com a fé católica e o processo de  eleição do Papa, no Estado do Vaticano.  Não fiz essa leitura, nem acho que ela é adequada. De intencional talvez apenas o intuito de focalizar o lado humano dos sacerdotes e religiosos diante do peso e responsabilidade por uma instituição equiparada a Estado.

P.S. (5) A imagem da coluna de hoje, do ator Michel Piccoli, no papel do Cardeal Malville foi emprestada de www.snpcultura.org









sábado, 12 de outubro de 2013

ARAMIS - REFERÊNCIA EM MODA MASCULINA

Boa noite amigos,

A aramis menswear é indiscutivelmente uma  referência em marca de moda masculina de primeira linha, procurada por homens mais maduros e jovens dispostos a encontrar roupas e artefatos masculinos de bom gosto.  Criada em 1.995, nos dezoito anos de existência tem oferecido mais de 1.200 produtos de coleção, em três linhas distintas: a aramis social, com ternos, costumes e camisas em modelagem impecável; a aramisbusiness, com blaisers, jaquetas, camisas e sapatos elegantes, menos conservadores, e a aramisesporte, com confortáveis peças esportivas casuais. Em qualquer de suas linhas você tem garantia de união entre qualidade e elegância e a modelagem, cores e tecidos seguem as tendências da moda mundial contemporânea,  em cada uma das estações do ano. Visitei para este comentário, a loja situada no Shopping Center Iguatemi de Campinas, cuja fachada e vitrine podem ser conferidas na imagem que abre a coluna. A coleção de verão já chegou e em destaque as camisetas lisas básicas, em cores novas e tradicionais,  assim como as polos (na imagem n. 2, bela  polo em cor branca lisa, com detalhes em flores apenas na gola), sapatos esportivos em camurça (imagem n. 3), e uma linha nova de camisas e gravatas na tendência do casual (para serem usados com jeans e tênis ou sapatênis).  As novas gravatas, finas e  confeccionadas em algodão  jeans estampado (confira imagem n. 4), são novidades da estação e podem ser adquiridas ao preço de R$109,00.  A marca também disponibiliza uma gama de abotoadoras de todos os tipos para atender a clientela que valoriza esse artefato no traje masculino de rigor ou casual. Vale a pena dar um conferida nas novidades da estação e completar ou atualizar o guarda-roupa.


Até amanhã amigos.



P.S. (1) Aramis foi um dos três  mosqueteiros, na obra imortalizada por Alexandre Dumas. Costuma-se dizer que ele era o mais elegante dos mosqueteiros, razão pela qual teria havido a escolha do seu  nome para a  marca agora já tradicional na referência em matéria de moda masculina;

P.S. (2) Ainda que timidamente a Aramis tem agora também investido em moda feminina e infantil.  As  lojas de Campinas ainda não oferecem essas opções, o que deverá ocorrer em breve.
P.S. (3)  A verdade é que a posteridade de “Os Três Mosqueteiros” o “Um por todos! Todos por um! transcende amplamente os limites da literatura. André Roussin, dirigindo-se aos membros da Academia Francesa em 1.980, assim o qualifica: “É o mito da amizade entre os homens que, sob o duplo selo da lealdade e da coragem tornam-se invencíveis”. E acrescenta: “É um grande mito para a juventude de um país. Pode-se ver, no tempo da clandestinidade, a que grau de sofrimento e a que sacrifícios ele conduziu milhares de jovens, mortos muitas vezes de forma atroz, para não contar o nome de seus companheiros. Muitos dentre eles leram aos doze anos “Os Três Mosqueteirose conservaram desta leitura o sentido sagrado da fraternidade.”

P.S. (4) Como professor de Direito Civil, ao tratar das chamadas obrigações solidárias, invariavelmente cito aos alunos, para bem ilustrar o sentido do que seja solidariedade, o lema dos mosqueteiros: Trata-se de obrigação pela qual todos e qualquer um respondem integralmente. É o "Um por Todos, Todos por Um";

P.S. (5) Os Três Mosqueteiros na verdade eram 4: Athos, Porthos e Aramis e o aspírante a mosqueteiro D’Artagnan, o verdadeiro protagonista do romance histórico ou romance capa e espada de Alexandre Dumas, escrito em 1.844;






P.S. (6) O romance se passa entre os reinados de Luis XIII e Luis XIV e o período de Regência que intermediou os dois reinados, na França do Século XVII.







P.S. (7) Muitas e muitas versões dos Três Mosqueteiros foram objeto de séries de televisão, de filmes, inclusive de desenhos animados. Na versão japonesa em desenho, Aramis é uma mulher.



P.S. (8) Abaixo modelos vestindo ternos de João Pimenta. O estilista mineiro, conhecido por apresentar modelos que se exaurem em passarelas (moda masculina conceitual),  no último São Paulo Fashion, agradou, apostando em roupas para jovens empresários.  Destaque para o corte dos ternos com estilo slim, alguns até estampados.






P.S. (9) A imagem ao lado foi emprestada de manualdohomemmoderno.com.br;



P.S. (10) Todas as demais imagens foram obtidas diretamente de meu celular.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

BRASILEIRO DA SÉRIE C - O ADEUS DO BUGRE AO ACESSO


Boa tarde amigos,

O Guarani F.C., e isso já era esperado, foi derrotado, no sábado, pelo Vila Nova, em Goiânia, pela contagem mínima e está matematicamente desclassificado para a segunda e decisiva fase do Campeonato Brasileiro da Série C. Parece incompreensível à Diretoria e aos torcedores, que uma equipe que terminou o primeiro turno na liderança de sua chave, possa ter realizado um segundo turno tão abaixo da crítica, não conseguindo nem sequer uma única vitória e perdendo pontos para adversários como o Grêmio Barueri (já rebaixado) e para equipes como o Macaé e o Madureira, do Rio de Janeiro e o modesto Betim, de Minas Gerais.  A euforia decorrente do fato (que agora se sabe fruto mesmo do acaso) da  equipe ter permanecido 980 minutos sem tomar gol e obtendo algumas vitórias, “na bacia das almas” (foram 5 em 18 rodadas) se transformou em frustração com a desclassificação a uma rodada do término da fase. O time efetivamente é ruim, mas mesmo assim, era de se esperar, pela estrutura que foi oferecida às duras penas, pela Diretoria, incluindo salários em dia, segundo se apregoou, que se classificasse entre as 4 primeiras, alimentando a expectativa de acesso para a modesta série B. Não sou favorável à mudança rotineira da comissão técnica, sem que se dê oportunidade – e isso depende de tempo – de amadurecimento de seu trabalho e da própria equipe montada às vésperas da competição. Mas a Diretoria deve avaliar, com muito critério, a permanência da comissão técnica e do técnico Tarcísio Pugliesi e a sua real capacidade ou potencial de liderança, já que em matéria de trabalho, não se discute a sua propalada dedicação.  O Campeonato Paulista da Série A-2 é mais difícil que a série C do Brasileiro e disso acredito que ninguém duvida. Como não há mais nada a disputar neste ano, o que se espera é que desta vez, com mais de três meses de antecedência para o início da temporada 2.014,  se faça uma preparação adequada para o Paulistinha, com essa ou outra comissão técnica e um apurado exame de qualificação dos jogadores que aí estão e das carências da equipe para montagem de um elenco que possa sinalizar com o retorno do Bugre à elite do Paulistão. A sua sofrida torcida já não suporta tantas frustrações, embora se saiba que esta Diretoria está buscando, com muito empenho, paralelamente,  resolver a grave situação financeira do clube.

Até amanhã amigos.


P.S. (1) Nem mesmo o incentivo decorrente  da média de quase 4.000 torcedores,  num campeonato de baixo nível técnico e sem atrativos, foi capaz de fazer a diferença em seu favor,  nos jogos que o Bugre disputou no Brinco de Ouro. Ao contrário, o fator “casa” parece ter assustado os jogadores. O Guarani, em casa,  perdeu para o Caxias, e para o Betim e empatou com Grêmio Barueri,  Madureira e Macaé e só ganhou do Mogi Mirim, do Duque de Caxias e do Vila Nova. Uma campanha péssima para quem aspirava a classificação e o acesso. Enquanto isso, mesmo em estádio vazio, com pouco mais de cem torcedores por partida, o Macaé conseguiu a liderança e deve terminar a fase em primeiro lugar, a um passo do acesso. Coisas do futebol e do ser humano;

P.S. (2) Na imagem da coluna de hoje (emprestada de guaranifc.com.br), de cima para baixo, o volante Edmilson, o goleiro, Thomazella, o atacante Ewerton Maradona, o lateral  Jefferson Feijão, o zagueiro Julio Cesar, o meia Rossini e o zagueiro Paulão, todos contratados, por indicação do técnico Pugliesi, à Caldense. Na equipe mineira, sem  a tradição do Bugre, conseguiram o acesso à série B. Aqui não. Coisas do futebol.  

sábado, 5 de outubro de 2013

ENORME ARARA - CAUSAS & CAUSOS N. II

Boa noite amigos,

Saudosos os meus primeiros tempos de cartorário.
O "causo" de hoje aconteceu comigo mesmo nos ditos tempos. E está no meu livro "Causas & Causos n. II" publicado pela Editora Millenium. Vai lá:


                                         Embora os cílios traiçoeiros. Te  dêem esse ar esquisito. Decerto a um anjo interdito. Ó maga dos olhos faceiros” (Charles Baudalaire, Canção da Sesta)



"O semblante irradiando candura, despertara, de imediato, no Magistrado, enorme simpatia.
 Até o esboço de um sorriso no canto dos lábios surgira espontaneamente, o que não deixava de ser  surpreendente naqueles tempos em que severos problemas de saúde acumulados produziam mau-humor, além da conta, no Meritíssimo Juiz.
Esparramada sobre a cadeira menor que os quadris, a vetusta senhora era só sorriso e alegria.
A obesidade e os cabelos brancos contrastando com o negror da pele produziam uma imagem forte e presente de uma espécie de "Mamãe Dolores",   personagem de novela de rádio e televisão da época.
Na mesa grande, em pólos separados, o Promotor de Justiça e o Dr. Advogado, distantes e desinteressados do ato judicial que se realizava.
Qualifiquei a interroganda e sem dizer palavra, como de costume, coloquei os autos do processo na mesa do Magistrado, senha tácita entre mim (escrevente) e ele (Juiz),  que sinalizava para a já possibilidade do início do depoimento.
No caso tratava-se de interrogatório em um processo de interdição.
 Interdição da velhinha, colhida por um problema de demência senil no ocaso de sua suposta próspera existência.
- Tudo bem com a senhora? Arriscou o Magistrado.
- Tudo bem, sim senhor, graças a Deus.
- A senhora se sente bem?
- Me sinto, sim senhor. Muito bem.
- A senhora come bem?
- Como sim que só vendo.
- Tem boa apetite, então?
- Tenho seu dotô, por Nossa Senhora.
- A senhora dorme bem?
- Que é uma beleza.
- Toma algum remédio para dormir?
- Nenhum. Só meu leitinho.
O interrogatório ia causando surpresa a todos: Juiz, Promotor, Advogado...
A interroganda ria, respondia com desembaraço, denotando compreensão das questões formuladas, plena coerência e  capacidade de organização mental e, além de tudo, garantia que não sentia coisa nenhuma.
- A senhora se sente bem?
- Me sinto sim senhor. Me sinto muito bem.
Mas o Magistrado insistiu, irresignado:
- A senhora não sente nadinha, nadinha de diferente.
- Não, dotô,  tá tudo bem seu dotô. Oiá, só tem uma coisa. É que de vez em quando eu vejo uma homarada[1] correndo atrás de mim.
A afirmação engraçada, causou um certo alívio geral.
É que na toada em que ia o depoimento, a coisa da interdição parecia exagerada. Mas agora, a perseguição da  homarada, convenhamos.
O Juiz então parou e começou a ditar o depoimento.
- Que a depoente afirma que come bem, dorme bem e ordinariamente não sente nada de estranho.
Lá fui eu, exímio datilógrafo, mandado ver na velha Remington, registrando tudo com máxima rapidez e fidelidade.
E aí ele prosseguiu:
- Que, no entanto, de vez em quando, vê uma enorme arara correndo atrás dela.
Epa! Enorme arara?
O Juiz, com surto de labirintite, de vez em quando, ouvia coisa diferente daquilo que dizia o interlocutor e  já tinha trocado por exemplo, “calça comprida” por “tosse comprida”, naquele causo que eu contei no primeiro livro.
Parei por um instante e quase protestei: - Doutor, ela não vê arara, vê homarada.
Mas que o que. E o medo que eu tinha dele. Sei lá como reagiria diante daquela correção que se impunha. E ainda na frente de todo mundo.
Em fração de segundos pensei com os meus botões: Quer saber de uma coisa: vendo homarada ou vendo arara, essa "véia" vai sê interditada do mesmo jeito. Vai pau assim mesmo.
E foi!
Assim a velhinha que via homarada, passou a ver  uma enorme arara e foi interditada por isso, como o seria por aquilo.
E eu me salvei de levar uma suposta carraspana  por contestar o chefe na frente dos outros. 
E chefe é coisa lá que se conteste sem proveito?"

 Até mais amigos e bom final de semana.

P.S. (1) A imagem da coluna de hoje foi emprestada de passarosdobrasilluisadrummond.blogspot.com;

P.S. (2) A arara-azul-grande é uma das espécies de arara encontrada na Floresta Amazônica, no Cerrado e no Pantanal. Apesar de proibida a sua venda é popular no comércio ilegal de aves. É também conhecida como arara-jacinto, arara-preta, araraúna e araruna.








[1] Expressão não constante oficialmente de dicionários, mas bastante conhecida, querendo significar “um montão” de homens, vários homens, um conjunto de homens.