Boa noite amigos,
Hoje vai mais um dos "causos" forenses publicado na primeira versão do livro "Causas & Causos" da Editora Millenium. Os três queridos personagens mencionados neste conto verdadeiro já são falecidos e são muito saudosos para mim. Com eles convivi e aprendi um pouco do que sei ou acho que sei de Direito e da vida. Vai lá:
“Ria, e o mundo
rirá com você. Ronque, e dormirá sozinho” (Anthony Burgess).
"O Mário Stucchi era um sujeito extraordinário.
Pessoa absolutamente íntegra, reunia incontáveis
virtudes, dentre as quais as de excelente marido e pai, embora brincasse, tendo
casado com certa idade, que não era pai, mas
avô de seus filhos.
Amigo fiel, íntegro e trabalhador, bom humor
constante, desses de quem sempre está de bem com a vida, aconteça o que
acontecer.
Era, sim, uma alma absolutamente iluminada.
Não havia ambiente ou situação triste que resistisse à
chegada do Mário, que ia logo contando uma piada, brincando, tratando de
amenidades.
Se, por exemplo, você o convidasse para um jantar em
sua casa, uma festa de aniversário etc., ele vinha com uma infalível garrafa de
vinho debaixo do braço e ia logo dizendo:
- Não me lembro se foi você que meu deu essa garrafa.
Se foi, na próxima festa você me devolve.
Embora Bacharel em Direito, o Mário, na época do fato
aqui relatado, trabalhava no Cartório da 33ª. Zona Eleitoral de Campinas, que funcionava em dependência do Palácio da
Justiça, esse mesmo conhecido hoje como Fórum Central, na rua Regente Feijó,
agora parcialmente desativado.
Certo dia, estando no porão do edifício, onde ficava o
arquivo da Justiça Eleitoral, é surpreendido com a chegada do Doutor Maércio
Sampaio, então Juiz da 2ª. Vara Cível da Comarca de Campinas, função que
cumulava com a de Juiz Eleitoral.
O Dr. Maércio estava de saída, pois tinha sido
promovido recentemente para a Comarca da Capital.
Ao lado dele estava um outro senhor, trajando terno,
mas o fato é que ele não foi apresentado ao Mário.
Provocativo, o Doutor Maércio, que bem conhecia o
Mário Stucchi, indaga:
- Ô Mário, você já conhece o novo Juiz? Como é que
ele é?
- Olha Dr. Maércio. Eu ainda não vi o novo Juiz, mas
estou muito preocupado com ele.
- Por quê?
- Como o senhor sabe, tem duas coisas que eu gosto de
fazer. Uma é de trabalhar, outra é de brincar. E eu ouvi dizer que esse Juiz
novo não gosta de brincadeira.
Nesse instante, o homem que acompanhava o Dr. Máercio,
e que era ninguém menos, ninguém mais, senão o novo Juiz, o saudoso Doutor
Manuel Carlos de Figueiredo Ferraz Filho, sem esperar para ser apresentado, com
ar sério e voz grave, dispara:
- Pois é senhor Mário, é verdade. Na minha Vara eu não gosto mesmo de
brincadeira.
Meio surpreso com a revelação e a bronca, Mário não se
fez de rogado e com a agilidade de raciocínio que lhe era peculiar, responde:
- Sabe doutor, é que lá em cima onde eu trabalho não é
Vara, é Zona.
Sorrisos inevitáveis, embora ainda discretos, o Mário
e o Doutor Manuel ficaram muito amigos.
E era mesmo impossível brigar com o Mário."
Até amanhã amigos.
P.S. (1) A caricatura da coluna de hoje foi emprestada de carnaubafotos.blogspot.com.
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