segunda-feira, 14 de abril de 2014

ITUANO - O PEQUENO GIGANTE CAMPEÃO PAULISTA

Boa noite, amigos,

Com regulamentos enxutos em função da Copa do Mundo, estão chegando ao fim os campeonatos regionais, sem grandes surpresas. O Cruzeiro é campeão em Minas, o Internacional em Porto Alegre, o Bahia na terra dos Orixás e o Flamengo, no Rio, com um gol irregular, já no ocaso do clássico contra o Vasco da Gama,  um erro da arbitragem que muito vai dar o que falar, ainda. Bem, mas não é precisamente esse o assunto relevante. O que merece ser registrado, como novidade, é a grande e boa surpresa no desfecho do Campeonato Paulista da Primeira Divisão. O modesto Ituano, do interior de São Paulo, é o campeão, quebrando uma hegemonia dos grandes clubes e acendendo uma nova esperança nos rumos do futebol brasileiro. Itu, cidade nacionalmente conhecida pelos exageros, onde coisas, pessoas e histórias crescem, criando um mundo gigante no imaginário popular,  viu seu representante, tal como a lenda, crescer no final da competição, eliminando São Paulo, Palmeiras e finalmente, em duas partidas emocionantes, disputadas no Pacaembu, também bater o Santos, tricampeão paulista,  na decisão por pênaltis (7 a 6). É importante assinalar que o clube tem hoje o apoio e a estrutura profissional mínima necessária para dar à Comissão Técnica  e jogadores serenidade e tranqüilidade, na medida em que sabiam que tinham plena assistência e principalmente que os salários seriam pagos em dia,  e que cada um deveria cumprir, em conseqüência,  com respeito e rigor, as suas funções, dedicando-se nos jogos, pensando coletivamente e cumprindo à risca o esquema tático desenhado por Doriva, o jovem e competente condutor da equipe. Tudo isso também se deve - e muito -  a um grande ex-jogador, ídolo de todos os brasileiros, o competente Juninho Paulista. Depois de uma carreira no Brasil e no exterior absolutamente vitoriosa e com títulos importantes, Juninho encerrou essa carreira em 2.010, retornando ao Ituano, no ano em que a equipe, na última rodada, escapou do rebaixamento, virando um jogo, de forma espetacular, contra a Portuguesa de Desportos. A partir dali, o atleta trocou a função de jogador, pela de Diretor de Futebol do clube. Nessa função, foi o responsável pela recuperação das categorias de base e reestruturação do estádio Novelli Junior. O projeto deu certo, sem dúvida, e sem nenhuma grande estrela, mas com  jogadores esforçados, alguns com talento até acima da média, inclusive  para cumprir esquemas, humildade, dedicação e alta estima, essa equipe chega à conquista da láurea máxima do futebol paulista. Sorte! Com certeza, os chamados “Deuses do Estádio” precisam ajudar, mas certamente é indispensável o mérito e a dedicação, aspectos que não faltaram, justificando sim o bom futebol apresentado ao longo do campeonato. Com  uma folha de pagamento de R$400.000,00 (quatrocentos mil reais), incluindo salários dos jogadores e da comissão técnica, o montante é inferior ao salário de alguns jogadores, isoladamente, como o do centroavante Pato, por exemplo, como se comenta. E se os grandes talentos são indispensáveis ao futebol, fica, no entanto, a constatação de que não adianta ter um ou alguns craques ganhando fábulas, pois isso apenas não garante título. E nem se justifica esse inflação exagerada de altíssimos salários, que nem sempre dão retorno (eu diria, hoje, quase nunca) e acabam deixando os clubes com os cofres vazios (isto quando são pagos efetivamente o que também é duvidoso) e sem perspectiva futura. Bem, o Ituano vai receber cerca de R$2.500.000,00 (dois milhões e quinhentos mil reais), pelo título de campeão, quantia essa que somada às rendas obtidas nos jogos finais (cerca de R$1.000.000,00),  dará para garantir a sua modesta folha de pagamento até o final do ano. E vai se preparar para disputar o campeonato brasileiro da série D, pensando no acesso a C, e se continuar com uma política boa e uma gestão eficiente, um dia chegar ao Brasileiro da Série A, como sugere o nosso prezado Juca Kfouri, na sua coluna de hoje. É ir com calma, porém. Mas que o exemplo do Ituano tem que servir às equipes do interior que se sentem desprestigiadas e que lutam com dificuldades para sobreviver e que não acreditam no sonho de um título, isso sim é o saldo positivo deixado por esse  pequeno gigante, da terra dos gigantes: planejamento, investimento nas categorias de base,  gestão eficiente e sustentável e gente comprometida seriamente com o clube do coração.


Até amanhã amigos.

P.S. (1) Eis o time e a comissão técnica que escreveram na história o nome do Ituano e da cidade que o abriga: Vagner, Dick, Alemão, Anderson Salles, Dener, Josea, Paulinho, Rafael Silva, Jackson Caucaia, Cristian, Esquerdinha, Marcinho, Clayson e Jean Carlo. Técnico: Doriva.

P.S. (2)   A cidade de Itu  é a segunda maior cidade da microrregião de Sorocaba, com cerca de 170.000 habitantes. É o 46º município mais populoso do Estado de São Paulo e o 153º do Brasil. Chegou a ser considerada a cidade mais rica do Estado, quando lá residiam os chamados “barões do café e autoridades importantes do país, na época anterior à Proclamação da República. Teve, por isso, importância histórica no processo que conduziu à República, em 1.889. O município completou esse ano 404 anos de existência;


P.S. (3) “Praça da Alegria” era o nome de um humorístico que a antiga TV Paulista, hoje TV Globo, apresentava a partir de 1.957. Nele, o saudoso Manoel da Nóbrega se sentava num banco de uma praça e ali recebia os mais diversos tipos de comediantes, em bizarras situações. Um desses comediantes, Francisco Flaviano de Almeida era de Itu e criou o personagem “Simplício”. O Simplício, quando falava na sua cidade-natal, dizia que tudo ali era maior, era exagerado. Daí, graças ao conterrâneo humorista, Itu passou a ser conhecida em todo o país, como a cidade dos exageros. O programa mudou de nome para A Praça é Nossa. No banco, não mais Manoel de Nóbrega, mas seu filho, Carlos Alberto de Nóbrega. O canal de apresentação: o SBT do empresário Sílvio Santos. Sem os velhos comediantes, mas com uma nova geração de atores que merece ser prestigiada. 



P.S. (4) Na Praça da Matriz a Prefeitura criou, aproveitando a fama adquirida, a chamada Praça dos exageros. Nas imagens da coluna de hoje, emprestadas de www.itu.sp.gov.br e elielsamphoto.blogspot.com, você pode conferir o boneco do personagem “Simplício”, uma formiga e a garrafa de coca-cola, todas em tamanho gigante;

P.S. (5) Há também um orelhão que foi cedido pelo ex-ministro das Comunicações, Higino Corsetti e instalado pela Companhia Telefônica na mesma Praça da Matriz. Em seu discurso,o Ministro afirmou: “O Brasil é grande, mas eu sei que Itu é Maior. E a Telesp não podia deixar de instalar, na cidade, um “orelhão à altura de sua fama”.


P.S. (6)  As outras imagens da coluna são da equipe do Ituano, campeão paulista de 2.014, do goleiro Vagner que defendeu a última cobrança de pênalti batido pelo zagueiro Neto (ex-Guarani) e foram emprestadas de oexpressoregional.com e wwwestadao.com.br.

P.S. (7) Oficialmente, o Ituano tem dois títulos paulistas. O primeiro foi conquistado no ano de 2.002, mas muito contestado porque naquele ano, as equipes da Capital, o Santos e o Guarani disputaram o Torneio Rio-São Paulo e ficaram de fora do campeonato paulista.


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