terça-feira, 29 de dezembro de 2015

COMÉDIA FRANCESA - SUPERCONDRÍACO

Boa noite amigos,


Apesar de raros atualmente no circuito comercial, os filmes franceses são sempre muito bem vindos,  pela boa qualidade que em geral apresentam. Vi, por recomendação,  o longa de 107 minutos, Supercondríaco (do original, Supercondriaque), uma co-produção franco-belga, de 2.014, roteiro, direção e interpretação de Dany Boon. Trata-se de uma comédia que provoca riso do começo ao fim, sem qualquer apelo para o escatológico ou aos clichês de sexo. Centrado nos exageros do protagonista, conta a história de   Romain Faubert, interpretado pelo ótimo Dany Boon, um solteirão de quase 40 anos que trabalha como fotógrafo de dicionário médico virtual, mas é um hipocondríaco em surto, que cria situações hilariantes e dificuldades para si e para  seu amigo, o médico, Dr. Dimitri (Kad Merad). Dimitri decide ajudá-lo a se livrar do mal, o que acredita seja possível se Romain se apaixonar de verdade. Convencido pelo doutor, Romain promove uma série de tentativas de encontrar, pela Internet,  a mulher ideal pela qual possa se interessar e eventualmente se curar. Depois de várias tentativas frustradas acaba se envolvendo, sem saber ou querer, com a irmã do médico-amigo, Alice Pol (Anna Zvenka), que o confunde com o lendário Anton Miroslav (Jean-Yves-Berteloot), líder da revolução do Tcherkistan, um país vizinho ficcional do Leste Europeu, governado por uma ditadura militar. Ao bom roteiro original, soma-se a bela interpretação de Dany, que é um comediante nato e competente, como já provara na direção e interpretação do longa anterior, A Riviera Não é Aqui, um sucesso de 2.008. Não faltam, também, as sutilezas da sátira francesa, presentes em boa dose. Enfim, um bom filme, uma boa comédia, sem pretensão de fazer carreira antológica.

Até amanhã amigos.


P.S. (1) A imagem da coluna de hoje é de um dos cartazes de propaganda do longa e foi emprestada de filmspot.pt.

domingo, 27 de dezembro de 2015

O IRMÃO ALEMÃO - CHICO BUARQUE

Bom dia amigos,

Terminei, nesta madrugada, a leitura do recente livro do poeta, escritor, cantor, compositor, dramaturgo e um dos maiores intelectuais brasileiros, Francisco Buarque de Holanda, que já foi o jovem Chico, autor da popular A BANDA, vencedora de um dos festivais de música popular brasileira, nos idos de 60, quando surgiu,  e que,  agora, mais de cinquenta anos depois, é o velho Chico, epíteto que disputa com o milenar Rio São Francisco. O Irmão Alemão (Cia. das Letras, 2.014), dizem os críticos[1], é o seu melhor romance. A inspiração para a obra não poderia ser mais instigante. Nasceu de um fato real, relevante e ignorado pelo poeta até o dia em que, ocasionalmente, num encontro informal de que também  participavam Tom Jobim e Vinícius, na casa do saudoso Manuel Bandeira, descobre que tinha um irmão concebido e nascido em Berlim, na década de 30, fruto do relacionamento de seu pai, o então diplomata brasileiro, Sérgio Buarque de Hollanda, com Anne Margrit Ernst. Esse irmão germano unilateral[2], cuja existência, omitida por seus pais, se traduzia em um assunto delicado, um verdadeiro tabu,  no qual não se tocava na família, desperta no poeta o interesse por saber notícias acerca da vida e do destino do mano mais velho, busca que teria levado finalmente o escritor, com a contribuição da filha Sílvia Buarque, a encontrar, em Berlim, no ano 2.013,  Kerstin Prügel, Josepha Prügel e Monika Knebel, respectivamente,  filha, neta e  ex-mulher de seu  irmão alemão,  Sérgio, falecido no ano de 1.981. O grande desafio para o escritor, conforme adverte nota de orelha do livro[3] foi mesclar o fato real com o ingrediente indispensável a todo romance  que se preze como tal,  ou seja, com a ficção, num mix que o autor manipula com extrema habilidade. Aí está talvez o maior mérito da obra: manter o leitor atento a cada detalhe, a cada descrição de ambiente ou de personagem, a cada fato histórico ou ficcional a que se refere o autor, nessa busca pelo irmão alemão,  cujo elo nunca foi estabelecido nesta vida. Muitas são as indagações subliminares dos leitores: As referências ao pai e à mãe são efetivamente reais? Em que medida a descrição do temperamento, do comportamento, das sensações  e do relacionamento entre o casal, e deles com os filhos é verdadeira? Existe um terceiro irmão, vagabundo e conquistador, dileto do pai, de quem o autor teria relativa inveja e  que desaparecera na época da ditadura, sem deixar vestígio, para desconsolo eterno da mãe extremosa e tolerante? E no tocante às namoradas, às conquistas, às buscas efetivas às quais o romance se refere, o que têm de real e o que há de fictício? Teria o autor descrito pessoas reais e alterado apenas os nomes, as referências?  Bem, se o mote para a obra foi efetivamente inspirador, o autor, no seu desiderato,  consegue atrair o leitor durante todo o tempo, para  um possível desfecho,  pela habilidade com que vai construindo o  roteiro cronológico dessa busca,  sem descurar do cotidiano do protagonista, de suas dúvidas, anseios, frustrações, relacionamentos com familiares, amigos e estranhos, com a profundidade de um bom romance psicológico, inclusive. De sobra um rápido, mas interessante, panorama de São Paulo e da Berlim dos anos 30 e dessas mesmas metrópoles, com suas arquiteturas e culturas, nesta época da chamada pós-modernidade. O respeitado autor, internacionalmente consagrado pela sua vasta e variada obra artística, cultural e estética, com o romance escrito na sua adiantada maturidade cronológica e intelectual, pretendeu explicitamente homenagear, a um só tempo e postumamente, o pai e o irmão alemão, ambos de prenome Sérgio,  como registra na lacônica, mas induvidosa dedicatória: Para Sérgios. O resultado é uma bela homenagem.


Até amanhã amigos.

P.S. (1) O romance psicológico é um gênero literário centrado mais no ânimo dos personagens, nos motivos íntimos de suas escolhas, no campo de afetos e memórias do inconsciente para o consciente e  menos nos condicionantes exteriores do meio ambiente social e cultural. A primeira obra representativa do chamado Romance Psicológico é “Les Liaisons Dangereuses” (As Relações Perigosas) do general francês Choderlos Laclos de 1.782. Porém, só no final do século XIX,  o gênero foi efetivamente reconhecido como tal, a partir da tradução do russo para outras línguas,  das obras de Dostoiévski, especialmente Crime e Castigo, de 1.866, que apresenta um personagem atormentado por sua memória após cometer um assassinato. São obras representativas do gênero no Brasil, Dom Casmurro, de Machado de Assis;  Laços de Família e Perto do Coração Selvagem, de Clarice Lispector, e, São Bernardo, de Graciliano Ramos;

P.S. (2) A primeira imagem da coluna de hoje é de Chico Buarque recente, aos setenta anos, com o seu último romance, O Irmão Alemão e foi emprestada de louge.obviousmag.org. A segunda é de Chico jovem, ainda nos primeiros anos de sua carreira (imagem emprestada de musicariabrasil.blogspot.com).




[1] Publicou as peças de teatro RODA VIVA (1.968); CALABAR, em parceria com RUY GUERRA (1.973); GOTA D’ÁGUA, com PAULO PONTES (1.975), e ÓPERA DO MALANDRO (1.979). Autor da novela, FAZENDA MODELO (1.974) e dos romances, ESTORVO (1.991); BENJAMIN (1.995), BUDAPESTE (2.003) E LEITE DERRAMADO (2.009).
[2] A pág. 36, o autor brinca com as palavras,  lembrando que irmãos germanos, na língua portuguesa são os filhos do mesmo pai e da mesma mãe, uns com relação aos outros, portanto, sempre bilaterais. No caso acima o “germano”, obviamente,  significa "alemão", sentido que também e mais usualmente, inclusive, tem o verbete na língua portuguesa culta (cf. AURÉLIO BUARQUE DE HOLLANDA. NOVO DICIONÁRIO DA LÍNGUA PORTUGUESA).
[3] “O que o leitor tem em mãos, no entanto, não é um relato histórico. Realidade e ficção estão aqui entranhadas numa narrativa que embaralha sem cessar memória biográfica e invenção. O romance se constrói na tensão permanente entre o que foi, o que poderia ter sido e a pura fantasia.”

domingo, 20 de dezembro de 2015

CERVEJA PARA CERVEJEIROS - UM GRANDE PRESENTE DE NATAL

Boa tarde amigos,
imagem emprestada de
www.aekojr.  Teor
alcoólico de 5,4%


Em tempos de vacas magras, com um final de ano desgastante por causa da grave crise econômica e política, é preciso imaginação para presentear neste natal, amigos visíveis ou invisíveis  (secretos) e parentes, sem gastos exagerados e incompatíveis com a situação geral e a particular de cada um. Há muito tempo já se sabe que não é necessariamente o preço do presente que vai agradar ou desagradar. Jóias e bijuterias, brinquedos, roupas e bebidas caros nem sempre atendem à expectativa do destinatário, mas ao contrário, muitas vezes revelam que o amigo não conhece, nem presta atenção na pessoa que visa presentear, provocando um efeito contrário decepcionante. É mais ou menos servir “peixe” no almoço em que o convidado, amigo de longa data, proclamou, em diversas oportunidades, nos últimos 30 anos de suposta amizade, que não come peixe, nem frutos do mar, “de jeito nenhum”,  desde que, num episódio assustador de infância, comeu camarão e sofreu um choque anafilático grave. Bem, imaginação e atenção redobradas à parte, acho interessante sugerir neste final de ano brindar os amigos “cervejeiros” (preste bem atenção, cervejeiros), com cervejas  (meia dúzia delas com marca única ou variada, desde que de boa qualidade,  farão um grande sucesso, com certeza).  Foi-se o tempo em que a cerveja era considerada uma bebida menor, de mau gosto, sem charme ou elegância, nem nobreza necessária para acompanhar banquetes e festas. A popular cachaça também já teve seus dias de infâmia esquecidos, na medida em que se provou ser  possível convertê-la numa bebida sofisticada, cuja fabricação, preparo e envelhecimento passaram a merecer a atenção de empresários do ramo, que hoje exportam a bebida para o mundo inteiro,  por preços similares aos do whisky.

Imagem emprestada de www.drinknanet.com.br
Teor alcoólico de 4,65%.
Observei que muitos estabelecimentos, como incentivo à compra do produto, estão promovendo verdadeiras liquidações, com até 50 a 70% de desconto, relativamente aos preços normais pelos quais o produto é comercializado. Aqui no Cambuí, em Campinas, a unidade do Pão de Açúcar, promete grandes descontos em vinhos e cervejas na próxima 3ª. feira, dia 22 de dezembro, segundo me advertiu o funcionário William.  O clube de compras Sam’s Club também está com preços abaixo da tabela e tem a vantagem de oferecer um grande número de opções entre cervejas nacionais e importadas. Abaixo uma pequena lista de cervejas dentre as muitas que aprecio e considero de boa qualidade, como sugestão aos amigos. Há infinitas outras, no entanto, para todos os gostos e bolsos. Experimente a baixinha belga, Vedett, feita, além dos ingredientes tradicionais, com adição de coentro e casca de laranja seca e refermentada na própria garrafa, por semanas. É suave e ultrarrefrescante para o verão brasileiro.  Finíssima.


Grande abraço e até a próxima.


1)    kirin ichiban –  a mais popular cerveja do Japão é fabricada pela japonesa Kirin que recentemente adquiriu o controle acionário da Schincariol e se tornou a segunda maior cervejaria do Brasil, atrás apenas da Ambev. A empresa se orgulha de realizar o processo de fabricação da cerveja  com uma única passagem pelo filtro-prensa (first press), o que lhe garante a utilização apenas da parte mais nobre dos ingredientes. No Concurso Brasileiro de Cervejas 2.015, foi premiada com a Medalha de Bronze. A cerveja é fabricada no Brasil há 1 ano e esse aniversário coincide com os 120 anos do Tratado Diplomático entre Brasil e Japão; Preço no San’s Club Campinas: R$2,99 a unidade de 355 ml;


Imagem emprestada de www.ocontador
decerveja.com.br.
Teor alcoólico: 4,7%.



Teor alcoólico de 4,7%
na versão clara.
2) Eisenbahn – produto da cervejaria nacional fundada em 2.002 em Blumenau, Santa Catarina,  mantém a fórmula originária alemã  (exclusivamente água, malte e lúpulo). São variadas as opções, nas diversas modalidades (pilsen, larger, dunkel, ale, etc.), premiadas no mundo inteiro em festivais e concursos relevantes na especialidade;  Preço no San’s Club Campinas: R$2,98 a unidade de 355 ml;


3)    Hofbräu Oktoberfestbier – produzida em Munique, na Alemanha, é versão especial em comemoração à grande oktoberfestbier, o maior festival popular de cerveja do mundo. Trata-se de uma cerveja produzida pela alemã Hofbräu rica, encorpada, de baixa fermentação e 100% natural, com índice de amargor considerado ideal e elevado teor alcoólico para a  modalidade; Preço no San’s Club Campinas: R$14,88 a unidade de 500ml;

Imagem emprestada de www.paodeacucar.com.br
Teor alcoólico: 4,8%.
4)    Benediktiner Weissbier – cerveja alemã tipo Ale, de trigo, produzida pela Ettal. Segue a fórmula da receita original dos monges beneditinos, desde 1.330. É feita com malte de trigo e cevada. É frutada, macia, cremosa e encorpada; Preço  no San’s Club Campinas: 16,88 a unidade de 500 ml;



5)    Pabst Blue Ribbon – é uma “larger” no melhor estilo americano, leve e premiada como uma das melhores cervejas nos Estados Unidos da América. Seu produtor orgulha-se de utilizar, na sua fabricação, produtos da mais alta qualidade. Na sua composição entram os tradicionais água, malte de cevada e lúpulo, acrescido do xarope de milho. Tem baixo teor alcoólico, sendo ideal para consumo no verão; Preço no San’s Club Campinas: R$5,56 a unidade de 355 ml.


Imagem emprestada de www. acritica.uol.com.br.
Teor alcoólico: 5,1%.

      6)  Black Princess Gold – cerveja brasileira tipo Pilsen Premium, coloração clara, feita à base de água, malte de cevada e lúpulo, contém antioxidantes e estabilizantes. Sua receita é própria da região da Boêmia, hoje pertencente à República Tcheca, é ideal para acompanhar peixes delicados, crustáceos, sushi, frango grelhado e saladas. Preço no San’s Club Campinas: R$9,19 a unidade de 600 ml.



domingo, 29 de novembro de 2015

CAUSAS & CAUSOS II - INSPEÇÃO PESSOAL


Boa tarde amigos,


Caricatura emprestada de bethmichel.com.br.
Hoje, último dia do mês de novembro, domingão muito chuvoso, vai aí um "causo" para aliviar.
Ele está no meu livro "Causas & Causos" II, Milleniun 2.010,  e lembra os meus bons tempos de escrevente.

Vai lá:                                         


                                       Finalmente chegara o dia da audiência de instrução e julgamento designada pelo Juiz no rumoroso processo de anulação de casamento.
Começo dos anos 70, o casamento ainda era indissolúvel no Brasil, por força de preceito constitucional expresso.
Havia sim um movimento em favor do divórcio, encabeçado pelo saudoso Senador Nelson Carneiro, mas que ainda não encontrara eco suficiente para viabilizar Emenda Constitucional.
Além de tudo, era forte a oposição de segmentos e instituições significativas, inclusive e principalmente da Igreja Católica, que se manifestava francamente contrária à ideia, e essa posição tinha enorme peso, mesmo com a já cinquentenária secularização do instituto do matrimônio.
Eram freqüentes, por essa mesma razão, os pedidos de nulidade ou anulação de casamentos que se revelavam falidos ou de subsistência indesejável depois de  pouco tempo de celebração.
Sabia-se que o mau ou equivocado passo condenava ambos os cônjuges a uma vida inteira de abstenção de um outro matrimônio, com as formalidades e os efeitos legais. O  máximo que se concedia era o chamado  “desquite”. Mas o vínculo permanecia. Em alguns casos, pessoas de alto nível social ou econômico, para dar satisfação à sociedade, contraíam (ou diziam que contraíam)  um segundo casamento em país vizinho ou da Europa. Mas era só para “inglês ver” como se dizia, mesmo porque o tal casamento, se realmente tinha acontecido, não tinha efeito no Brasil.
Aqui, como se diz lá em Piracicaba, os cara era “amigado” mesmo.
 Pois bem, voltando ao  “ causo” a hipótese era de alegação de casamento não consumado,  por suposta impotência instrumental do marido (impotência coeundi).
O varão, por sua vez, contestava a ação, alegando que não era impotente; que tinha logrado vida sexual regular na juventude; que tinha se relacionado normalmente com outras mulheres etc. etc.
O dia era de audiência de instrução e julgamento.
Eu era Escrevente. O Juiz, o Dr. Manuel Carlos.
O Luciano, Oficial de Justiça, estava designado, naquele dia, Porteiro dos Auditórios.
Tratava-se apenas de uma função exercida pelo Oficial de Justiça e que consistia em permanecer à porta da sala de audiências, apregoando as partes e advogados e garantindo a regularidade dos trabalhos que ali haveriam de ser efetivados.
Resolvi sacanear o Luciano.
Saí da sala e confidenciei a ele no saguão de entrada:
- Luciano, você tem uma árdua missão hoje, sabia?
- Que missão? retrucou ele com desconfiança.
- Você sabe que hoje é a audiência daquele caso que corre em segredo de Justiça, da anulação de casamento?
- É,  eu vi aqui na pauta.
- Pois é, e não é que o Dr. Manuel resolveu determinar uma inspeção pessoal?
- Inspeção pessoal, onde?
- Onde, não. Em quem, melhor dizendo.
- O que o ce qué dizê?
- Que a coisa é para confirmá ou negá. Você sabe que a moça diz que o “negócio” do marido não funciona, mas ele garante que funciona. Você leu, né?
 Luciano não respondeu a pergunta e me olhou de soslaio, imaginando o que viria depois.
- E daí?
- Daí que ele é o juiz e não vai fazer serviço sujo nenhum, né?
- Sei, e daí?
- Daí que ele perguntou quem estava de plantão hoje e eu disse que era você.
- E daí?
- Daí que você vai ter que entrar lá no gabinete dele só com o réu, pegar no negócio dele para vê se levanta ou não levanta e depois relatá a inspeção que é secreta, por razão que não se precisa explicá.
O Luciano começou a rir.
Eu tinha levado do Cartório um outro processo que a mesma autora movia contra o réu para pedir alimentos provisionais, enquanto se processava a anulação de casamento.
O marido ainda não tinha sido citado.
O escrevente havia expedido o mandado de citação, mas quando eu percebi que estava próximo o dia da audiência, achei melhor deixar que a citação se fizesse por ocasião da audiência, quando o réu, por certo, estaria presente no Fórum.
Não disse uma palavra ao Luciano, que era o oficial destacado também para o ato da citação.
Retornei para a sala de audiências.
Antes de seu início e das partes e advogados ingressarem no recinto, falei ao Juiz:
- Dr. Manuel. Tem aqui um outro processo entre as mesmas partes que depende de citação. O Cartório expediu o mandado. Posso  pedir ao Luciano que cite o réu hoje, aqui no Fórum?
- Pode.
- Se o senhor não se importar posso pedir que o réu entre no seu gabinete e que o Luciano faça a citação lá dentro, para não despertar curiosidade ou constrangimento, até mesmo porque é caso de segredo de Justiça.
- Não só pode como deve, aplaudiu o Magistrado o cuidado e a prudência que eu manifestava.
Não me fiz de rogado.
Primeiro pedi ao Luciano que apregoasse a audiência e que solicitasse ao réu que entrasse no gabinete particular do juiz, anexo àquela sala.
Ele me olhou desconfiado, mas atendeu à determinação.
Eu fiz o Juiz supor que o Luciano já estava inteirado do assunto, o que não era verdade.
Deixei o mandado dentro da sala sem falar nada para o Luciano.
O Juiz chamou o Luciano e disse a ele:
- Seo Luciano, o senhor já pode fazer o que o Jamil lhe disse. O réu se encontra no meu gabinete.
O Luciano corou.
E foi mudando de  cores diversas vezes em poucos segundos.
Olhava incrédulo para o Juiz e para mim, paralisado.
Pensei que ele fosse ter um treco.
Mais do que depressa eu me aproximei dele e disse em tom baixo:
- Ô Luciano, você está bem. Não fique preocupado, eu acompanho você. Vamos, o réu até que é bonitinho.
  Entrei com ele no gabinete para poder, longe de todos, explicar a gozação e o que se pretendia verdadeiramente dele.
Entreguei o mandado que estava em cima da mesinha.
Ele não se conteve e na frente de um réu surpreso, bradou:
- O Jamil, filho da puta. Vá pra puta que te pariu.
Cumprido o mandado, o Luciano deixou a sala ainda vermelho. A pressão devia estar a mil.
Terminada a audiência, fui ter com ele.
O susto havia passado e ele já estava em condições de rir da situação. Pediu – e ele sabia que era em vão – que eu não espalhasse a história.
O Juiz ficou muito desconfiado.
Perguntou a mim se havia acontecido alguma coisa com o Luciano. Se ele estava bem.
Eu garanti que sim. Que não havia nada de extraordinário.
Anos depois eu mesmo contei a história para o Dr. Manuel.
Eu já advogado com muitos anos de profissão e ele Desembargador Aposentado.
Ele riu muito e me assegurou que desconfiara  que alguma coisa eu tinha aprontado.
Só que naquela época, ele não conhecia esse meu lado sarcástico e  gozador.
Ah, o processo?
O casamento foi anulado, mas o homem garantiu que não tinha nada de impotente. Que o negócio era só com a mulher mesmo.
 Que a relação tinha se tornado traumática por algum motivo que eu não me lembro.
Trouxe duas testemunhas que tinham transado com ele no tempo de solteiro.
Depois disso tanto ele, quanto ela, contraíram novo casamento e tiveram filhos, ao que se  soube.
O fato é que certamente todos esqueceram o caso e o réu.
Menos o Luciano.
Acho que por um bom tempo ele sonhou com aquele rosto fechado, com barba cerrada e olhos arregalados dizendo para ele:
- Vem cá, benzinho. Vem fazer o teste pro se vê o que é bom pra tosse!".

Até breve amigos,









segunda-feira, 23 de novembro de 2015

FICA MACACA! ABAIXO A CARTOLAGEM.


Boa noite amigos,

A macaca, velha mascote da Associação Atlética Ponte
Preta. Imagem emprestada de pontepreta.com.br
O assunto foi notícia na folha principal da Uol da última quinta feira e causou curiosidade nacional: a Ponte Preta da cidade de Campinas, depois de 115 anos,troca a sua mascote, a macaquinha, pelo macacão, aquele gorila feio que lembra o King Kong, monstro mítico que fez um estrago danado na cidade de Nova York, no começo do século passado, mas que finalmente foi bombardeado e morto por artefatos lançados por aviões, depois de carregar uma bela jovem por quem se apaixonara, para o pico do  Empire State. O personagem e sua história renderam três versões cinematográficas[1]. O filme foi considerado, em 2.004, pela revista britânica Empire, como o “maior filme de monstros de todos os tempos.” Busquei ler e entender as razões que levaram os algozes da macaquinha à sua demissão sem aviso prévio: estaria ela cansada depois de mais de 100 anos de estrada? Teria cometido algum desatino que justificasse a sua demissão por justa causa?[2] A explicação, porém, foi simples e inconvincente: A ideia de mudar o mascote veio primeiro para contemplar um clamor da torcida, para quem o Gorila já havia sido criado anos atrás. Além disso, queríamos um mascote com imagem mais competitiva que a Macaca e, ao mesmo tempo, dissociar o apelido do time do mascote. A Ponte já é a Macaca, assim achamos legal o mascote ser o Gorila –“ disse o diretor Rodolfo Rufeisen, que conduziu todo o processo de marketing.  Grande parte dos torcedores reclamou da desconsideração com a mascote. E com razão: mascote é um símbolo e símbolo é um elemento fundamental de identificação, como as cores de uma camisa, os emblemas, o nome, a bandeira e outros que se agregam ao valor comercial e cultural de uma instituição[3]. Assim, por razões históricas e culturais, a macaca não podia ser trocada, dispensada, desconsiderada. E o que dizer do argumento de que o gorila seria mais competitivo? Discriminação? Machismo ou coisa que o valha? 
o Gorilão, novo mascote inscrito na FPF para o Campeonato
Paulista de 2.016. Imagem emprestada de www.centauro.com.br 
Decerto que nenhum  dos argumentos pode ser juridicamente sustentável. Inda mais que a “dita cuja”, que não envelheceu, ao contrário do clube, conhecido, depois de tantos anos de fundação, como Nega Véia e Veterana[4].A distinta continua novinha em folha, com aquela simpatia que só vendo e aquelas charmosas fitas vermelhas que estão sempre na moda. Ao menos para as macacas. E é justamente por isso, essa coisa que não muda com o tempo, que não fica nem mais velho, nem mais moço, é que não se despede, nem se aposenta, nem se mata mascote[5]. Nem muito menos se troca por um bicho da mesma raça,  do outro sexo, maior e mais feio. De mais a mais, a macaquinha sofreu tanto com as decisões dos Paulistas de 77, 79, 81 e 2008 e com a perda de um título intercontinental como a Sul Americana em 2.014,  mas agüentou firme com aquele sorriso nos lábios e a esperança de que “um dia nós chega lá”. E agora, quanta ingratidão! Assim, por razões também éticas a sua despedida foi injusta. E nem se diga quanto à estética. Comparar a sua delicada silhueta com aquele bicho grande e feio que tenta assustar os adversários quando a Macaca (digo, a Ponte, sem a macaca) joga no Majestoso é pecado mortal. E contra a estética. -  O Clide, diria o saudoso  Ronald Golias,  manda dizer pros caras que respeito do adversário se obtém jogando futebol de qualidade, não mandando um gorilão para as arquibancadas. A reação em favor da macaquinha foi tão grande nas redes sociais e na mídia em geral que a diretoria do Majestoso imediatamente veio a público para se explicar, afirmando que a macaca faz parte do imobilizado e das tradições da Ponte e que não foi despedida. Nem mesmo aposentada compulsoriamente. Que o registro na Federação Paulista de Futebol do gorila como mascote para 2.016, apenas atendeu à parcela da torcida que já se acostumara, nos jogos em casa, com a presença do gorilão. Ele estaria até na bandeira de uma das torcidas uniformizadas mais inflamadas.  E que por via das dúvidas a situação já se resolvera de maneira sentimental: A macaquinha já está casada com o gorilão,  pelo regime da comunhão de vices-campeonatos   e demais  tradições. E não é que de um dia para o outro a família já estava extensa com mulher, marido e dois macaquinhos.
Cena da versão original de 1.933 do filme King Kong.
Imagem emprestada de www.bicketforum.com.
Disseram que agora a família inteira vai para os jogos no Majestoso  “na moral” para assustar os adversários. O que será que acham os meus prezados amigos ponte-pretanos de quatro costados ( Pedro Negrão, Thiagão de Souza, Denis,  Fabiana, Dr. Torrano, Ricardo Ortiz, Stela Serafini, Desembargador Pedro de Alcântara, Rodrigo Herrera, José Henrique Farah, Zeza Amaral, Gil da Creche e tantos outros).  Que essa é mais uma cretinice da incansável cartolagem do futebol brasileiro! Concordo. Eta gente sem noção, meu! 

Até amanhã amigos.





[1] A primeira de 1.933; a segunda em 1.976 e a terceira em 2.005.
[2]  Especula-se que teria sido surpreendida aos abraços e beijos com o indinho daquele time lá de baixo,  atualmente na terceira divisão, numa das versões que mais circularam nas redes sociais.
[3] Por razões comerciais inconcebíveis, hoje se vê o Corinthians jogando com camisa roxa e o São Paulo, o Tricolor do Morumbi, com  camisa de uma cor só.
[4] São dois apelidos carinhosos com que os torcedores e a imprensa tratam também a Ponte Preta.
[5] Vovô é o símbolo de identificação da equipe do Ceará e já nasceu velho. Mas não morre,nem fica mais novo. Então, tá!

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

E O CORINTHIANS É O CAMPEÃO BRASILEIRO - PELA SEXTA VEZ

Boa noite amigos,
Imagem emprestada de br.blastingnews.com.
@ Na noite de ontem, num São Januário lotado e reformado, o Corinthians finalmente foi oficializado como Campeão Brasileiro de 2.015. Um título que já tinha sido conquistado desde aquela partida contra o Atlético Mineiro, que o Timão venceu pelo elástico placar de 3 a 0, no Estádio Independência, onde  o Galo gosta de mandar seus jogos importantes e decisivos. A distância de pontuação entre as equipes, que já era considerável num campeonato de pontos corridos, ficou ainda maior e a proclamação do título era questão de tempo.  Mesmo assim, durante os jogos de ontem, que aconteciam no  mesmo horário, a conquista parecia ser adiada outra vez, pois o Vasco da Gama, em situação desesperadora, jogava uma partida bastante equilibrada e, em nenhum momento, sinalizava que perderia o jogo. Sem a vitória no Rio, o Corinthians dependia da derrota do Galo para o São Paulo no Morumbi, ou ao menos, de um empate.  Houve instantes, porém, em que, enquanto o Corinthians perdia por 1 a 0, no Rio, o Galo vencia o tricolor pelo placar de 2 a 1. Mas foram resultados parciais, que só serviram para aumentar a temperatura da competição. No final, um Vagner Love que ressurgiu nos últimos jogos e que, de vilão passou a herói para a torcida corintiana, marcou o gol que empatou a partida, dando a ela números finais (1 a 1). Nem precisava. No Morumbi, o São Paulo virava mais uma vez o placar, aplicando um sonoro e indiscutível 4 a 2 sobre o Atlético, resultado que, mesmo com a eventual derrota do Timão, lhe dava o título brasileiro a 3 rodadas do final do campeonato. Com inteira Justiça!

@ O Corinthians foi, além da equipe que mais pontos conquistou até agora (77),  também a melhor em todos os fundamentos. Teve o maior número de vitórias (23), o menor número de derrotas (apenas 4), o maior  número de gols (64), a  melhor defesa (apenas 27 gols sofridos), com impressionante saldo de 37 gols (imaginem que o segundo melhor saldo foi do Grêmio com apenas 18 gols). Números, portanto, que tornam indiscutível a justiça da conquista. Importante ressaltar que o técnico Tite foi sem dúvida, o grande articulador, não só como assistente técnico, mas principalmente o responsável pela união do grupo, a motivação para um trabalho incessante,  e a recuperação de atletas, como nos casos de Vagner Love e de Renato Augusto.  Um grupo que no início do campeonato chegou a despertar fundada suspeita do torcedor e da imprensa quanto ao que poderia render, especialmente com as saídas de Emerson, de Paolo Guerrero e de Fábio Santos;
Vagner Love - Do banco de reservas para a semi-artilharia

@ Nem mesmo a turbulência política no clube do Parque São Jorge e as dívidas acumuladas chegaram a ameaçar a boa  campanha do clube, valendo anotar que mais uma vez Tite foi decisivo, ao conseguir deixar jogadores e equipe técnica longe das discussões e do confronto entre candidatos e sucessores;

@ O campeonato prossegue nas suas três últimas rodadas ainda oferecendo emoções para as equipes que sonham com uma vaga na Taça Libertadores, no chamado G-4, e com a manutenção na elite do futebol brasileiro (o pessoal que está lá embaixo nas quatro últimas colocações e nas posições de risco – até o 15º lugar (atualmente o Figueirense, com 39 pontos). Embora ainda não matematicamente livres do rebaixamento é pouco provável que Fluminense (14ª com 43 pontos) e Chapecoense (13º com 46) possam correr algum risco efetivo;

 Luan Garcia Teixeira, o zagueiro camisa 4 do Vasco 
@ O Vasco da Gama  por tudo que tem feito de positivo, no segundo turno do Campeonato Brasileiro, apresenta, no meu modo de ver, chances reais de permanecer na série A. A equipe está jogando um futebol muito diferente daquele com que iniciou o campeonato, e com o qual sofreu sonoras, seguidas e vexatórias goleadas, dentro da própria casa. Sendo o único com o “status” de GRANDE do sepultado Clube dos 13, imaginei que pudesse ser beneficiado pelas arbitragens na reta final do campeonato. Não que os árbitros sorteados pudessem conscientemente beneficiar a equipe cruzmaltina,  de tantas tradições. Mas, como é sabido, os árbitros são homens com virtudes e defeitos. E não venham  dizer que a pressão psicológica sobre eles para que não errem contra as equipes grandes não seja capaz de exercer influência na atuação, inclusive, e principalmente na interpretação de lances difíceis e  duvidosos. Errar contra pequenos não tem o mesmo efeito de errar contra os grandes. O barulho é menor. Alguns até inaudíveis. A consequência para o seguimento da carreira é muito menos grave. E TODOS ELES SABEM DISSO, mesmo que digam o contrário. Mas vou dizer francamente aos amigos. Desta vez, o Vasco não só não está sendo beneficiado, como tem sido sistematicamente prejudicado. No empate contra a Chapecoense a arbitragem foi decisiva o que provocou a ira e mais declarações fortes contra a Comissão de Arbitragem da CBF, por parte do lendário,Eurico Miranda. E que dizer do pênalti  inexistente marcado a favor do Figueirense na vitória sobre a Ponte Preta, na 4ª. feira? Não se pode esquecer que o Figueirense é um dos concorrentes diretos do Vasco na luta contra o rebaixamento. E se tivesse perdido para a Ponte teria estacionado nos 36 pontos, a apenas 2 da equipe carioca. Ou, no caso de empate, a apenas 3  (agora está a 5). O “apito amigo”, como diz o Milton Neves, dessa vez não apareceu para salvar o Vasco. Vamos ver o que acontece nas três últimas rodadas. Mas, sinceramente, de todas as equipes com risco de rebaixamento, o Vasco é aquela que mais se modificou durante a competição, contratando, tentando solucionar os inúmeros problemas que tinha no  campo e “extra-campo”.  Está jogando hoje um futebol de primeira divisão. Mas a tarefa será árdua. Muito árdua e dependerá de competência e sorte. Como dizia o grande e saudoso, Nelson Rodrigues, torcedor doente do Flu, “ Com sorte você atravessa o mundo, sem sorte você não atravessa a rua.”

Até amanhã amigos.

P.S. (1) Fiquei impressionado com a partida que o jovem zagueiro vascaíno Juan fez ontem contra o Corinthians, em São Januário. O capixaba de 22 anos, 1,83 metros, desponta como uma grande promessa do futebol brasileiro. É um zagueiro vigoroso, mas extremamente técnico, e deu conta dos atacantes do Timão durante considerável parte do jogo, sobretudo quando o Vasco, sem outra alternativa, teve que se aventurar no ataque, deixando espaço para o contra-ataque da equipe de Tite. Fui pesquisar sobre ele. Com um currículo pequeno, tendo em vista a sua pouca idade, vem do juvenil do Vasco e só jogou na equipe de São Januário. Integrou, porém, a Seleção Nacional Sub-20 (2.012-2.013) e a Sub-22 (2.015). De olho, portanto, no menino.


P.S. (2) A imagem de Vagner Love foi emprestada de esporteinterativo.com.br. A do jovem Juan de www.vasco.com.br.