Olá amigos,
Prove que você não é um robô. |
Cada vez que me atrevo a ler comentários
nas redes sociais e nos noticiários das principais provedoras, fico intrigado
com o maltrato à língua. Claro, não sou nenhum especialista, nem considero que
o idioma seja uma coisa estática, sem as alterações naturais e desejadas decorrentes das mudanças sociais e culturais de um povo. E que, por isso mesmo, deve
ser algo vivo, que se preste preponderantemente para a comunicação. Os
estrangeirismos estão cada vez mais se introduzindo na língua culta, engrossando
o rol dos verbetes e os dicionários, especialmente o galicismo, dada a
globalização e a natural eleição do inglês como língua universal, criando, sem
versão nos diversos idiomas espalhados pelo mundo, expressões indispensáveis à compreensão de ações, estados
e qualidades de máquinas, equipamentos e programas da era cibernética. Mas
alguns erros crassos são tão reproduzidos que a gente pensa que desaprendeu como escrever, e que,
no nosso tempo (o meu e da minha geração, claro), eram inconcebíveis numa prova
de língua portuguesa do curso ginasial (hoje correspondente ao curso médio).[1] É o caso dos
parônimos[2] “Haver” e “a
ver” . O “haver” deve sempre ser
empregado no sentido de “ter,
existir” (O autor tem muito a haver do réu e de seus
familiares, isto é, o
autor teria muito a receber dos réus e de seus familiares, seja no sentido de
crédito econômico, seja no que tange a haveres abstratos, como gratidão,
respeito, consideração, dependendo do sentido da frase e da situação concreta). Note-se ainda a expressão usada corretamente nos seguintes
exemplos: Lamenta
o réu haver praticado o crime, isto é, ter praticado o crime; Garanto,
excelências, não haver prova alguma nos autos de que o disparo partiu da arma
de meu cliente, pois a perícia foi inconclusiva nesse sentido). Já o “a
ver” indica relação com algo ou alguma coisa (A
menina nada tem a ver com a atitude da mãe; O que é que
o Doutor Promotor tem a ver com a vida íntima do réu? O réu nada tem a ver com o crime de
que está sendo acusado). Vale a pena também registrar que comumente a
juventude, criativa e econômica no ato de comunicação, usa a expressão “Nada a ver”, referindo-se ao fato de que alguma situação ou pessoa não
tem relação com o assunto, ou, que a tal
pessoa não sabe nada acerca do tema, ou, finalmente, referindo-se
a uma pessoa que está por fora de tudo, não se relaciona com o mundo ou com o
grupo (O carinha é nada a ver, mano).
Há também na língua culta, a
expressão “haveres” usada sempre no
plural, com o sentido de referir-se às posses ou ao patrimônio de alguém.
Observe-se os seguintes exemplos: “Poucos eram os seus haveres. Mas
tinha muito a oferecer a seus alunos como exemplo de vida e de dignidade; Os
haveres do “de cujus” têm valor elevado, sendo suficiente para a distribuição
entre os seus herdeiros, sem provocar disputa.
Aproveito o tema e a oportunidade
para recomendar aos leitores a leitura e a reflexão sobre uma das páginas mais
belas da literatura lírica do inesquecível Vinícius de Moraes: O Haver é o seu título.
Até mais amigos,
P.S. (1) A imagem da coluna de
hoje foi emprestada de www.jornalgrandebahia.com.br
[1] Não esqueço do
dia em que, por equívoco, errei ao
separar o dígrafo da palavra “carroça”, colocando os dois de um lado só (Ca-rro-ça).
Minha professora convocou minha mãe para indagar se eu estava apresentando algum
problema de ordem emocional, em casa.
[2] Parônimos são palavras que apresentam
similaridade na forma escrita e que produzem o mesmo som, mas têm significado
diverso.
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