quarta-feira, 11 de novembro de 2015

HAVER OU A VER - EIS A QUESTÃO.

Olá amigos,

Prove que você não é um robô.
Cada vez que me atrevo a ler comentários nas redes sociais e nos noticiários das principais provedoras, fico intrigado com o maltrato à língua. Claro, não sou nenhum especialista, nem considero que o idioma seja uma coisa estática, sem as alterações naturais e desejadas decorrentes das mudanças sociais e culturais de um povo. E que, por isso mesmo, deve ser algo vivo, que se preste preponderantemente para a comunicação. Os estrangeirismos estão cada vez mais se introduzindo na língua culta, engrossando o rol dos verbetes e os dicionários, especialmente o galicismo, dada a globalização e a natural eleição do inglês como língua universal, criando, sem versão nos diversos idiomas espalhados pelo mundo, expressões  indispensáveis à compreensão de ações, estados e qualidades de máquinas, equipamentos e programas da era cibernética. Mas alguns erros crassos são tão reproduzidos que a gente pensa que desaprendeu como escrever, e  que, no nosso tempo (o meu e da minha geração, claro), eram inconcebíveis numa prova de língua portuguesa do curso ginasial (hoje correspondente ao curso médio).[1] É o caso dos parônimos[2] “Haver” e “a ver” . O “haver” deve sempre ser empregado no sentido de “ter, existir” (O autor tem muito a haver do réu e de seus familiares, isto é, o autor teria muito a receber dos réus e de seus familiares, seja no sentido de crédito econômico, seja no que tange a haveres abstratos, como gratidão, respeito, consideração, dependendo do sentido da frase e da situação concreta).  Note-se ainda a expressão usada corretamente nos seguintes exemplos: Lamenta o réu haver praticado o crime, isto é, ter praticado o crime; Garanto, excelências, não haver prova alguma nos autos de que o disparo partiu da arma de meu cliente, pois a perícia foi inconclusiva nesse sentido). Já  o “a ver” indica relação com algo ou alguma coisa (A menina nada tem a ver com a atitude da mãe;  O que é que o Doutor Promotor tem a ver com a vida íntima do réu?  O réu nada tem a ver com o crime de que está sendo acusado). Vale a pena também registrar que comumente a juventude, criativa e econômica no ato de comunicação, usa a expressão “Nada a ver”, referindo-se  ao fato de que alguma situação ou pessoa não tem relação com o assunto,  ou, que a tal pessoa não sabe nada acerca do tema, ou, finalmente, referindo-se a uma pessoa que está por fora de tudo, não se relaciona com o mundo ou com o grupo (O carinha é nada a ver, mano).
Há também na língua culta, a expressão “haveres” usada sempre no plural, com o sentido de referir-se às posses ou ao patrimônio de alguém. Observe-se os seguintes exemplos: “Poucos eram os seus haveres. Mas tinha muito a oferecer a seus alunos como exemplo de vida e de dignidade; Os haveres do “de cujus” têm valor elevado, sendo suficiente para a distribuição entre os seus herdeiros, sem provocar disputa.
Aproveito o tema e a oportunidade para recomendar aos leitores a leitura e a reflexão sobre uma das páginas mais belas da literatura lírica do inesquecível Vinícius de Moraes: O Haver é o seu título.


Até mais amigos,

P.S. (1) A imagem da coluna de hoje foi emprestada de www.jornalgrandebahia.com.br




[1] Não esqueço do dia em que, por equívoco,  errei ao separar o dígrafo da palavra “carroça”, colocando os dois de um lado só (Ca-rro-ça). Minha professora convocou minha mãe para indagar se eu estava apresentando algum problema de ordem emocional, em casa.
[2] Parônimos são palavras que apresentam similaridade na forma escrita e que produzem o mesmo som, mas têm significado diverso.

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