quinta-feira, 3 de novembro de 2011

VENDEDORA SEM EXPERIÊNCIA


Oi amigos,
Andando no último domingo pela feira de artesanato (outrora conhecida como feira hippie em homenagem ao movimento dos anos 60/70) fui surpreendido com uma tabuleta exposta numa das barracas.

Ela dizia curiosamente: “PRECISA-SE DE VENDEDORA SEM EXPERIÊNCIA”. 

Num primeiro momento pensei   tratar-se de alguma galhofa. Mas não era. O comerciante desejava contratar uma vendedora sem conhecimento do ofício.

Fui para casa matutando a respeito do assunto e de sua importância no mundo moderno.

Nos últimos anos tenho recebido uma avalanche de cartas, e.mails., solicitações verbais de alunos e conhecidos que  pedem, por causa do meu suposto conhecimento e relacionamento na área jurídica,  a minha intervenção para a obtenção de um emprego ou de um estágio.

A reclamação é sempre a mesma: olha já corri a cidade, mas todo mundo quer contratar pessoas com experiência.

- Se ninguém der oportunidade, professor, queixou-se um aluno, como é que a gente pode ganhar experiência?

Sábia constatação!

O mundo, repentinamente, passou a exigir experiência.
É um mundo apressado e sem paciência.

 Imaginamos uma vida regrada, em que apostamos quase sempre naquilo que conhecemos e que nos dá segurança.

Vamos aos mesmos restaurantes, comemos a mesma comida, somos tentados à mesma receita da felicidade. Permanecemos em relacionamentos insatisfatórios porque somos acomodados. O assunto é bem focalizado em certo trecho da letra da música Cara Valente, de Marcelo Camelo, sucesso  na voz limpa da cantora Maria Rita
Foi escolher o mal-me-quer
Entre o amor de uma mulher
E as certezas do caminho
Ele não pôde se entregar
E agora vai ter de pagar
Com o coração

Por isso queremos empregados ou prepostos com experiência, para que não precisemos apostar, não precisemos ensinar. Inovar é perigoso.

Será que o processo está sendo revertido, ou seja, é possível que agora, fartos dos vícios da experiência, pretendam os tomadores do trabalho alheio, prepostos ou empregados  sem experiência, mas dispostos a aprender e se esmerar no trabalho, tarefa ou empreitada?

Tomara!

É preciso  criar oportunidades. Os jovens, jejunos, iniciantes ou seja como quer que os chamemos, precisam ser aproveitados, pelos seus potenciais. Mais do que isso, precisam ser acreditados. E precisam, em contrapartida, demonstrar uma imensa disposição de aprender e de crescer como seres humanos e como profissionais.

Chega de conversa de que essa juventude não quer nada, não pensa, não reflete, não tem valores, nem intenção de criar vínculos ou compromissos.

Isso é falso e hipócrita, pois nada indica, nada absolutamente, que a juventude de outros tempos fosse  melhor do que esta que está aí, ávida para ser compreendida e, repito, acreditada.

É hora de mudança. É hora de arriscar. É hora de preparar com compreensão, carinho e generosidade.

Vamos lá também  botar uma tabuleta pedindo gente sem experiência, pois o que seria de nós se um dia, lá no passado, algumas pessoas não tivessem acreditado e nos dado oportunidade?

 O maior e mais nobre ofício dos velhos é formar os moços, auxiliando-os no exercício do trabalho e na formação do caráter.

 Até amanhã.




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