segunda-feira, 17 de setembro de 2012

REFLEXÕES SOBRE A VIDA E A MORTE - PARTE I

De manhã escureço. De dia tardo. De tarde anoiteço. De noite ardo. A oeste a morte. Contra quem vivo. Do sul cativo. O este é meu norte. Outros que contem. Passo por passo: Eu morro ontem. Nasço amanhã. Ando onde há espaço. – Meu tempo é quando.” (Poética – Vinícius de Moraes).
Caros amigos,

Assunto que foi tabu, desde os primórdios das civilizações,  a morte é, atualmente, tema proibido, especialmente entre jovens da classe média, assunto sobre o qual não se deve falar ou discutir, mas ignorar. Como afirma Luis Fernando Veríssimo, a morte dos outros é um fato, mas a nossa morte, para nós, é impensável. A sua inevitabilidade e o mistério em que se encontra envolta para todas as civilizações, em todas as épocas e até hoje, com todo o avanço das ciências, nos faz temê-la.  Todos querem viver muito, mas ninguém quer ficar velho. A velhice marca, de forma indelével, a decadência do corpo, como a máquina que, cansada, já vai funcionando com reservas, com falhas, mais devagar, até que um dia ela pára. E a decadência do corpo lembra a doença. E a doença o final de nossa trajetória por este mundo. Por mais que se tenha sido aquinhoado nesta vida, com saúde, dinheiro, sucesso, poder, nada disso evitará o óbito, o perecimento.  E quando se vai, os que ficam sentem menos ou mais. Diz o grande Cecílio Elias Neto, com a sua honestidade de piracicabano, que não se chora a morte pelo outro e sim pelo que o defunto representava na nossa vida. É duro, mas é certo. Somos seres egoístas. E a falta de explicação para a morte? A ignorância absoluta sobre o que se passará depois dela é que causa o medo. Bem ou mal, de uma forma ou de outra, todos tememos a morte. Não queremos morrer. Acredito que a morte é obsessão para  os suicidas, que não deixam de temê-la, mas  apenas não se adaptam à vida, não a suportam, buscam livrar-se dela, para livrar-se de si mesmo e de sua profunda e irremediável solidão. Pensar na morte, considerá-la como sendo uma contingência inevitável que um dia acontecerá, é extremamente positivo no projeto de vida da gente, acreditem. É isso que nos faz valorizar a vida a cada momento. É isso que nos torna mais humanos e que nos convida muito mais para o encontro do que para o desencontro, e nos faz praticar a bondade,  a solidariedade, a piedade, a compreensão, a generosidade, virtudes que resgatam o belo da condição humana, tão cheia de tendências boas e ruins. O segredo, portanto, não é ignorar a morte, muito menos a de deixar de viver por causa dela. O segredo é a valorização da vida, do espírito. É a superação do medo. Na coluna de hoje do Correio Popular (Caderno C2),  o escritor Paulo Coelho assim se refere ao tema: “É normal que procuremos evitar a morte. Não apenas é normal, como é a atitude mais saudável que podemos ter. Entretanto, é uma aberração negá-la, já que a sua consciência nos dá muito mais coragem. Se eu fosse morrer hoje, o que gostaria de fazer que não fiz? Este é o meu pensamento todas as manhãs. Aprendi, no  caminho de Santiago, que o Anjo da Morte é o meu melhor conselheiro.”  A coragem não significa, diz ainda o escritor, ausência de temoresmas a capacidade de não se deixar paralisar por eles. Curioso é que mesmo  aqueles que acreditam na vida após a morte, na recompensa da vida eterna, livre, boa, não querem morrer. A sobrevivência continua sendo, ainda, o mais vigoroso dos instintos humanos. Que seja. Mas que não se evite, de vez em quando, considerar que a morte é o caminho mais natural da vida. E que é extremamente positivo que a sua lembrança nos anime a criar sentido para as coisas da vida. Pois a gente leva da vida, diz a canção popular, a vida que a gente leva.
Até amanhã, amigos

P.S. (1) Tanatologia é a parte da medicina legal que se ocupa da morte e dos problemas médico-legais com ela relacionados. Palavra de origem grega, vem de Tanathos – o deus da morte e Logia – ciência.;

P.S. (2)  Para a Sociedade de Tanatologia de Minas Gerais, a Tanatologia é a ciência da vida e da morte que visa humanizar o atendimento aos que estão sofrendo perdas graves, podendo contribuir dessa forma na melhor qualificação dos profissionais que se interessam pelos chamados “Cuidados Paliativos”;

P.S. (3)  A tanatologia é, muito mais, uma ciência da vida do que da morte. “Ciência que olha – e ao mesmo tempo ilumina – a vida, a partir do que se aprende com os que estão morrendo” (Evaldo Alves D’Assumpção, médico e biotanatólogo, fundador da Sociência de Tanatologia de Minas Gerais);

P.S. (4) “ A morte me informa sobre o que realmente importa. Me daria ao luxo de escolher as pessoas com quem conversar. E poderia ficar em silêncio, se o desejasse. Perante a morte tudo é desculpável.... Creio que não mais leria prosa. Com algumas exceções: Nietzsche, Camus, Guimarães Rosa. Todos eles foram aprendizes da mesma mestra. É certo que não perderia um segundo com  filosofia. E me dedicaria à poesia com uma volúpia que até hoje não me permiti. Porque a poesia pertence ao clima da verdade e encanto que a Morte instaura. E ouviria mais Bach e Beethoven. Além de usar meu tempo no prazer de cuidar do meu jardim”Rubem Alves, “Sobre a Morte” em http:// envolverde.com.br/educação/reflexao/sobre-o-morrer/;
P.S. (5)  “A morte não é nada para nós, pois, quando existimos, não existe a morte, e quando existe a morte, não existimos mais” (EPICURO);

P.S. (6) "Tenho sede de viver" (Hebe Camargo); "Tenho pena de morrer" (Chico Anísio).

P.S. (7) A imagem da coluna de hoje retratando os atores Demi Moore e Patrick Swayze é do filme  "Ghost - Do Outro Lado da Vida", grande sucesso de bilheteria e que trata da vida após a morte, sob o prisma da doutrina espírita. Foi emprestada do site cinecab.com.br




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