Estou
chegando do Teatro Amil,
pequeno espaço cultural localizado no imenso Shopping
Center D. Pedro, aqui em Campinas, São Paulo. Fui ver a comédia Velha é a Mãe!, que está em sua última
semana de apresentação na cidade. O espetáculo correu capitais pelo Brasil,
incluindo Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba. Foi visto, segundo
estatísticas, por quase 250.000 pessoas, o que não chega a ser nenhum fenômeno
de público, mesmo no teatro. Não é, porém, um número desprezível, absolutamente. No
palco as atrizes globais Louise Cardoso
e Ana Baird. No roteiro, a vida de
uma mulher de setenta anos que, graças a uma série de artifícios, incluindo
cirurgias plásticas, natação, academia e botox, mantém uma aparência de vinte
anos menos, mas, apesar disso, acaba de perder o marido para uma vizinha de
oitenta anos. Durante noventa minutos, tempo de duração da peça, ocorre o diálogo
entre a mãe, inconformada com a condição e situação atuais, e a única filha do casamento desfeito, diálogo esse que gira em torno da rotina dos casamentos, do
abandono na terceira idade, da infidelidade, da luta da mulher contra o
envelhecimento e da necessidade de ser amado. Temas complexos que falam com os
dramas do existencialismo, mas que na peça são focalizados com um texto
recheado de humor e sarcasmo. Afinal, trata-se de uma comédia, com a qual o
autor e humorista Fábio Porchat obteve o segundo lugar no concurso promovido pelo Centro
Cultural Banco do Brasil, em 2.006. A direção é do veterano João Fonseca (diretor artístico desde 2.001
do grupo Os Fodidos Privilegiados). O texto,
porém, é cheio de clichês e nada acrescenta às comédias comerciais que salpicam
por aí, pelo teatro, cinema e outros gêneros de arte. Abusando da obviedade, a
peça brinca com a velhice e os privilégios legais conferidos os idosos, com a
prescrição de remédios de uso contínuo em grande número, com a gama de patologias que se enfrenta na terceira idade, mas produzindo caricaturas grosseiras entremeadas com
os infalíveis bordões sobre sexo (piadas sobre cornos, brochas, seios caídos e homossexuais), ingredientes que continuam
rendendo muitos reais e risadas de um
público acostumado a esses clichês, e
pouco exigente em matéria de arte de entretenimento. Por fim, a
despeito do esforço das atrizes, e até por certo pelo texto fraco e sem originalidade,
confesso que não consegui rir de verdade. Fiquei com a sensação de que estava assistindo a
uma das edições sabatinas do Zorra Total. Cada dia, chego mais à conclusão de que sou muito exigente com as comédias. Mas, convenhamos, fazer
comédia não é simples, como parece. Não é como contar uma piada em um minuto. Não basta dizer coisas engraçadas de forma competente e esforçada. É preciso ter um bom texto. E é preciso também ser engraçado, coisa que nenhuma técnica dá ao cidadão e nem se aprende na escola.
Até
amanhã amigos.
P.S.
(1) Fabio Porchat é um jovem autor
de peças teatrais como "Infraturas", em
que atuou com Paulo Gustavo; "Olho de Boneca"; "Elas Morrem no
Fim" e "Calabouço". Formado em Artes Cênicas na CAL - Casa de Arte das Laranjeiras, RJ,
é hoje também redator de humor da Rede Globo
de Televisão, onde escreveu e atuou no programa Zorra Total,
e escreve para o programa Junto e Misturado. Atualmente ele está na
equipe do programa dominical Esquenta, como roteirista (www.wikipédia.com).
P.S. (2) A imagem da coluna de hoje, da atriz
Louise Cardoso foi emprestada do site groupon.com.br
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