Boa tarde amigos,
Entre um e outro
intervalo da novela Avenida Brasil, a TV anunciou, em rede nacional, o
pronunciamento da Presidenta Dilma Roussef. Véspera do feriado da
Independência, a Presidenta reiterou o discurso, cuja tônica tem sido a
relativa independência da economia do país, em relação aos efeitos devastadores da crise
que vem assolando a Comunidade Européia, por ela adjetivada da pior de toda a história do Velho Mundo.
Continuou elogiando a política econômica de seu governo, ressaltou que graças a
essa política foi possível tirar 40 milhões de brasileiros da linha da pobreza
e, ainda, de manter índices que indicam um notório crescimento sustentável da
economia. A novidade ficou por conta do reconhecimento de que o mercado
brasileiro precisa ganhar urgentemente competitividade e para isso
indispensável o barateamento do custo da produção. Como sinal da boa vontade
governamental em colaborar com a redução do custo, anunciou que a partir de
2.013, a tarifa de energia elétrica será reduzida em todo o país, num estimado
patamar médio de 16% para os
consumidores domésticos e de até 28% para a indústria. Prometeu, ainda, manter
a política de redução de impostos e de investimentos para melhorar as
condições de transporte em rodovias e ferrovias e um programa de melhoria da
eficiência de portos e aeroportos. São estimados R$133 bilhões os investimentos
nessa área. Nesse ponto, fez veladas críticas à política de privatização do
governo Fernando Henrique Cardoso e de parcerias, que reputou frágeis pela fraca intervenção
estatal, garantindo que no seu governo as parcerias terão perfil diferente. Ao
reconhecer a necessidade de competitividade de nossos produtos para concorrer
no mercado internacional, e, assim, assegurar níveis de exportação iguais ou
superiores ao que o Brasil vinha conseguindo antes da crise européia, a
Presidenta enfatiza o óbvio, como também não se ignora que o lento e precário
escoamento de mercadorias, pela péssima malha viária desse país-continente,
eleva o frete e incrementa o valor final que o consumidor terá que pagar pelo
produto. As medidas anunciadas são mais do que benvindas e não acredito
que qualquer economista discorde delas.
Aliás, a melhoria nas condições de transporte, incluindo o rodoviário, o
ferroviário e o aéreo, também é pressuposto de sucesso do projeto logístico do país que tem o dever de ser bom e competente anfitrião da Copa do Mundo de 2.014 e das Olimpíadas de 2.016. A questão é
saber quem vai pagar a conta ou de onde vão sair os recursos para cobrir o
subsídio e o financiamento, respectivamente. O dilema é grande. Para que a
redução de impostos não sacrifique os
programas sociais, que o próprio governo considera prioridade, será preciso
reduzir drasticamente o déficit público, coisa que nem este, nem os anteriores
governos, conseguiram. Sem essa providência, e porque a equação econômica não é
fruto de milagre, retirar dinheiro dos programas sociais implicaria em reduzir
ou eliminar poder aquisitivo que tem garantido o nível de consumo e este o da
produção. A produção, por seu turno, garante o nível de empregos e, por via de
consequência, o poder de consumo. Só a redução de juros (Dilma comemorou a
redução da taxa básica da Selic, hoje em 7,5% ao ano) e a redução de impostos
federais para alguns setores pontuais, como ocorreu recentemente com o mercado automotivo, não irão garantir a manutenção do poder de compra e o
giro necessário para o crescimento da economia. Sem que se efetive no país, uma
ampla reforma tributária, sem a redução do déficit público e o efetivo combate
à corrupção, mazela difícil de dizimar, as medidas que forem adotadas serão
sempre parciais e emergenciais, para tentar apagar o “fogo”. Em economia não há
muito mistério. É preciso compreender que a Europa está importando menos, por
conta da crise e das medidas de proteção da economia interna dos países que
compõem a União Européia. E ao importar menos vai exigir preço e qualidade. E o
Brasil, exatamente pelo alto custo de seus produtos de exportação, não tem
condições de competir com China e Índia. Perdendo competitividade e fatias do
mercado internacional, a produção só continuará no mesmo patamar, se houver a
absorção dela internamente. Para isso é indispensável o crescimento da economia e
a manutenção dos empregos. O grande desafio do governo, então, será de
conseguir reduzir impostos, criar
subsídios que possam contribuir na redução do custo dos produtos, como a
exportação de máquinas e equipamentos modernos, sem corte nos programas sociais, elevando ou mantendo os patamares do PIB anteriores à
crise e fazendo com que esses produtos cheguem aos diversos mercados internos,
sem o incremento de um frete, talvez o mais elevado do mundo, por força de uma
malha viária incipiente e sucateada.
Até amanhã.
P.S. (1) Dilma voltou a reclamar dos bancos e
financeira privados efetiva redução nas taxas
de juros de empréstimos e cheque especial, a exemplo do que já anunciaram a
Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil. A primeira fala em redução de até
58% e o segundo, de 30% em média.
P.S. (2) O preço dos
automóveis no Brasil é um dos mais altos do mundo. E não é apenas porque a
carga tributária embutida no preço é igualmente elevada. Mesmo abstraindo-se o
valor do imposto, os preços praticados pelas montadoras no Brasil são
exagerados, tanto assim que as multinacionais têm conseguido fechar a conta em
vermelho de agências de outros países, ou de seus países de origem, na atual crise européia, graças aos
lucros que obtêm no Brasil. E o governo, ao impor imposto de importação absolutamente proibitivo,
acaba, sem querer, contribuindo para que o preço dos veículos no
país, continue em altos patamares, por falta de efetiva concorrência, em benefício
de nós, consumidores acostumados a pagar caro e a exigir pouca qualidade.
P.S. (3) Gostei, e muito,
do adjetivo que a Presidenta usou para reclamar dos bancos e financeiras uma redução
nos lucros. Vejam um trecho do pronunciamento,
a esse respeito: “Isso (o corte da
Selic) me alegra, mas ainda não estou satisfeita porque os bancos, as
financeiras e, de forma muitos especial, os cartões de crédito podem reduzir
ainda mais as taxas cobradas ao consumidor final, diminuindo seus ganhos para níveis civilizados”. Níveis “civilizados” é muito bom, não acham?
P.S.
(4) A imagem da coluna de hoje (emprestada do site colunistas.ig.com.br) é de um retrato feito pelo artista plástico
pernambucano, radicado em Miami, Romero
Britto, da Presidenta Dilma Roussef, em 2.011. A tela foi
presenteada à Dilma em visita feita pelo
artista ao Palácio do Planalto e é fiel ao estilo consagrado por Britto em suas obras geométricas e com
cores fortes e alegres. Segundo ele, a obra é uma homenagem à Dilma e a todas
as mulheres da América do Sul.
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