sexta-feira, 7 de setembro de 2012

SETE DE SETEMBRO E O DISCURSO DA PRESIDENTA

Boa tarde amigos,
Entre um e outro intervalo da novela Avenida Brasil, a TV anunciou, em rede nacional, o pronunciamento da Presidenta Dilma Roussef. Véspera do feriado da Independência, a Presidenta reiterou o discurso, cuja tônica tem sido a relativa independência da economia do país, em relação aos efeitos devastadores da crise que vem assolando a Comunidade Européia, por ela adjetivada  da pior de toda a história do Velho Mundo. Continuou elogiando a política econômica de seu governo, ressaltou que graças a essa política foi possível tirar 40 milhões de brasileiros da linha da pobreza e, ainda, de manter índices que indicam um notório crescimento sustentável da economia. A novidade ficou por conta do reconhecimento de que o mercado brasileiro precisa ganhar urgentemente competitividade e para isso indispensável o barateamento do custo da produção. Como sinal da boa vontade governamental em colaborar com a redução do custo, anunciou que a partir de 2.013, a tarifa de energia elétrica será reduzida em todo o país, num estimado patamar  médio de 16% para os consumidores domésticos e de até 28% para a indústria. Prometeu, ainda, manter a política de  redução de  impostos e de investimentos para melhorar as condições de transporte em rodovias e ferrovias e um programa de melhoria da eficiência de portos e aeroportos. São estimados R$133 bilhões os investimentos nessa área. Nesse ponto, fez veladas críticas à política de privatização do governo Fernando Henrique Cardoso e de  parcerias, que reputou frágeis pela fraca intervenção estatal, garantindo que no seu governo as parcerias terão perfil diferente. Ao reconhecer a necessidade de competitividade de nossos produtos para concorrer no mercado internacional, e, assim, assegurar níveis de exportação iguais ou superiores ao que o Brasil vinha conseguindo antes da crise européia, a Presidenta enfatiza o óbvio, como também não se ignora que o lento e precário escoamento de mercadorias, pela péssima malha viária desse país-continente, eleva o frete e incrementa o valor final que o consumidor terá que pagar pelo produto. As medidas anunciadas são mais do que benvindas e não acredito que  qualquer economista discorde delas. Aliás, a melhoria nas condições de transporte, incluindo o rodoviário, o ferroviário e o aéreo, também é pressuposto de sucesso do  projeto logístico do país que tem o dever de ser bom e competente anfitrião da Copa do Mundo de 2.014 e das Olimpíadas de 2.016. A questão é saber quem vai pagar a conta ou de onde vão sair os recursos para cobrir o subsídio e o financiamento, respectivamente. O dilema é grande. Para que a redução de impostos  não sacrifique os programas sociais, que o próprio governo considera prioridade, será preciso reduzir drasticamente o déficit público, coisa que nem este, nem os anteriores governos, conseguiram. Sem essa providência, e porque a equação econômica não é fruto de milagre, retirar dinheiro dos programas sociais implicaria em reduzir ou eliminar poder aquisitivo que tem garantido o nível de consumo e este o da produção. A produção, por seu turno, garante o nível de empregos e, por via de consequência, o poder de consumo. Só a redução de juros (Dilma comemorou a redução da taxa básica da Selic, hoje em 7,5% ao ano) e a redução de impostos federais para alguns setores pontuais, como ocorreu recentemente com o mercado automotivo, não irão garantir a manutenção do poder de compra e o giro necessário para o crescimento da economia. Sem que se efetive no país, uma ampla reforma tributária, sem a redução do déficit público e o efetivo combate à corrupção, mazela difícil de dizimar, as medidas que forem adotadas serão sempre parciais e emergenciais, para tentar apagar o “fogo”. Em economia não há muito mistério. É preciso compreender que a Europa está importando menos, por conta da crise e das medidas de proteção da economia interna dos países que compõem a União Européia. E ao importar menos vai exigir preço e qualidade. E o Brasil, exatamente pelo alto custo de seus produtos de exportação, não tem condições de competir com China e Índia. Perdendo competitividade e fatias do mercado internacional, a produção só continuará no mesmo patamar, se houver a absorção dela internamente. Para isso é indispensável o crescimento da  economia e  a manutenção dos empregos. O grande desafio do governo, então, será de conseguir reduzir impostos, criar subsídios que possam contribuir na redução do custo dos produtos, como a exportação de máquinas e equipamentos modernos,  sem corte nos programas sociais, elevando  ou mantendo os patamares do PIB anteriores à crise e fazendo com que esses produtos cheguem aos diversos mercados internos, sem o incremento de um frete, talvez o mais elevado do mundo, por força de uma malha viária incipiente e sucateada.
Até amanhã.
P.S. (1)  Dilma voltou a reclamar dos bancos e financeira privados efetiva  redução nas taxas de juros de empréstimos e cheque especial, a exemplo do que já anunciaram a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil. A primeira fala em redução de até 58% e o segundo, de 30% em média.
P.S. (2) O preço dos automóveis no Brasil é um dos mais altos do mundo. E não é apenas porque a carga tributária embutida no preço é igualmente elevada. Mesmo abstraindo-se o valor do imposto, os preços praticados pelas montadoras no Brasil são exagerados, tanto assim que as multinacionais têm conseguido fechar a conta em vermelho de agências de outros países, ou de seus países de origem, na atual crise européia,  graças aos lucros que obtêm no Brasil.  E o governo, ao  impor  imposto de importação absolutamente proibitivo,  acaba, sem querer,  contribuindo para que o preço dos veículos no país, continue em altos patamares, por falta de efetiva concorrência, em benefício de nós, consumidores acostumados a pagar caro e a exigir pouca qualidade.
P.S. (3) Gostei, e muito, do adjetivo que a Presidenta usou para reclamar dos bancos e financeiras uma redução nos lucros. Vejam um trecho do pronunciamento, a esse respeito: “Isso (o corte da Selic) me alegra, mas ainda não estou satisfeita porque os bancos, as financeiras e, de forma muitos especial, os cartões de crédito podem reduzir ainda mais as taxas cobradas ao consumidor final, diminuindo seus ganhos para níveis civilizados”.  Níveis “civilizados” é muito bom, não acham?
P.S. (4) A imagem da coluna de hoje (emprestada do site colunistas.ig.com.br) é de um retrato feito pelo artista plástico pernambucano, radicado em Miami, Romero Britto, da Presidenta Dilma Roussef, em 2.011. A tela foi presenteada  à Dilma em visita feita pelo artista ao Palácio do Planalto e é fiel ao estilo consagrado por Britto em suas obras geométricas e com cores fortes e alegres. Segundo ele, a obra é uma homenagem à Dilma e a todas as  mulheres da América do Sul.
 
 
 

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