Boa noite
amigos,
A notícia mais
importante das últimas semanas foi, sem dúvida, a eleição presidencial para a
Casa Branca. Depois de uma intensa campanha envolvendo os dois candidatos,
quais sejam, Barack Obama, tentando se reeleger
pelo Partido Democrata, e Mitt Romney, pelo Partido Republicano, por pequena
margem de votos dos delegados, Obama venceu o sufrágio. Várias observações, no
entanto, devem ser feitas a respeito do resultado dessas eleições. O primeiro
diz respeito ao fato de que se a eleição fosse direta Romney teria obtido a
vitória. O sistema eleitoral americano, porém,
diferente do nosso, se opera de forma indireta. Os eleitores não votam no candidato a Presidente, mas em um
representante (delegado) no colégio eleitoral. Esses representantes, por seu turno, é que votam no
candidato. Cada Estado tem um número de delegados proporcional à sua população.
São, ao todo, 538 delegados em 50 Estados, o que significa dizer que estará
eleito o candidato que obtiver, pelo menos, o voto de 270 delegados. Além
disso, o voto nos Estados Unidos é facultativo e segue regras estabelecidas
pelos Estados, que podem também interditar o direito ao sufrágio, por exemplo,
aos portadores de doença mental e presos. Não se admite, porém, por
ferir princípio constitucional, que estabeleçam regras discriminatórias em razão de sexo, origem, cor ou religião. De qualquer maneira, questiona-se se um Presidente que foi eleito sem ter
a maioria de votos da população, teria legitimidade e credibilidade suficientes
para governar, em nome desse povo. A
resposta, ainda que possa parecer estranha, é sim, ao menos no que tange aos Estados Unidos da América. Isso já aconteceu, por exemplo, com a eleição
do republicano George Bush, em detrimento do democrata Al Gore nas eleições de 2.000, sufrágio que gerou especulações por causa de 25 delegados do Estado da Flórida e o processo de recontagem de votos nesse Estado, governado, na ocasião, pelo irmão do candidato vitorioso. Passado à parte e transcorrida a
eleição, certo é que o povo americano
jamais deixou de reconhecer, no candidato eleito pelo sistema eleitoral
indireto, a legitimidade de Chefe de
Estado e de Governo. Ainda a considerar que se a eleição fosse direta, o
processo eleitoral por certo se desenvolveria em outro sentido, ou seja, os
candidatos não abandonariam os Estados considerados tranqüilos, para se
dedicarem aos Estados mais importantes e indecisos, como ocorreu novamente, sem a preocupação com o eleitor diretamente. A
verdade é que Obama fez um bom governo dentro da governabilidade possível. Os
ventos internacionais não o favoreceram. Tendo que administrar duas guerras
estúpidas decretadas por Bush, no mundo islâmico (a do Iraque e a do Afeganistão),
e grave crise econômica, não pode se dedicar à criação de empregos, prioridade
número 1 dos americanos. Terá tempo agora para cumprir essa promessa de
campanha, certamente. O que fez de positivo, no entanto, não foi ressaltado
durante a campanha. Ao contrário, os republicanos preferiram bater duro nos aspectos
negativos de seu governo, com o qual jamais colaboraram e ainda decretaram uma
sistemática oposição no congresso, dificultando a aprovação de projetos importantes e urgentes. O mundo porém,
agradece o resultado da eleição. Obama é o preferido dos europeus e de todos os
Presidentes e Primeiros Ministros do mundo ocidental, inclusive da América do
Sul e do Brasil. Os Chefes de Estado respiraram aliviados com a sua reeleição,
demonstrando que o único Presidente negro da história dos Estados Unidos da
América, embora preocupado primordialmente com os americanos, é capaz de diálogos francos,
de posições equilibradas e de alianças
indispensáveis às boas relações internacionais, num mundo
cada vez mais globalizado. Romney, ao contrário, embora tenha
demonstrado grande conhecimento teórico de política internacional, tem posições
voltadas para uma extrema direita que desde a extinção da guerra fria e da luta
pela hegemonia do poder internacional com a também extinta União Soviética, não tem mais lugar no mundo atual, que reclama
tolerância e conciliação, especialmente num país que recebe e converte em
cidadãos americanos, a cada dia, gente oriunda de todas as Nações, de todas as cores,
culturas e matizes. Os Estados Unidos da América não é mais um país de arianos descendentes de europeus ricos, aos
quais o republicano considera responsáveis pela grandeza da pátria, como declarou durante a campanha, mas uma Nação democrática de mulheres, negros,
orientais e hispânicos. Não sem razão Mitt teve maior votação entre homens, brancos e maduros, enquanto
Obama recebeu votação mais expressiva entre jovens, mulheres e hispânicos.
Ontem, o Presidente reeleito, ao agradecer a jovens voluntários, na sede da campanha em
Chicago, deixou escorrer lágrima pelo
rosto, flagrada pela lente de fotógrafos do mundo inteiro e reproduzidas em
todas as mídias. Dá para sentir que foram lágrimas sinceras de quem estava
visivelmente emocionado. Quando o homem mais importante do mundo, porque
Presidente do país mais poderoso do planeta é um negro que ascendeu pelos próprios
méritos, fruto de uma invejável formação humanística, se emociona e não se
envergonha de chorar em público, penso
que o mundo ainda tem jeito. Boa sorte Obama, nesse novo e desafiador mandato.
Boa sorte ao povo americano e aos brasileiros, latinos, europeus, asiáticos e
africanos que vivem e fazem também a história daquela nação.
Até amanhã
amigos.
P.S. (1) Assim
como Nelson Rodrigues considerou que o pênalti
é tão importante no futebol que deveria ser batido pelo Presidente do clube,
também todos os cidadãos do mundo deveriam ser admitidos a votar para
Presidente dos Estados Unidos, porque de certa forma, a política americana diz
respeito a todo o planeta;
P.S. (2)
Pesquisa realizada no mundo inteiro indicou que Obama era o preferido disparado
dos eleitores. No Brasil o percentual pro-Obama foi de expressivos 90%. Só na
China é que Mitt obteria maioria, assim mesmo, por uma pequena margem (52% contra 48% de
Obama).
P.S.(3) A imagem da coluna de hoje,
de Obama chorando, foi emprestada do site
g1.globo.com;
P.S. (4) O
famoso jornalista e escritor, Peter Davis, que em 1.975 produziu o filme,
Corações e Mentes, criticando as guerras declaradas pelos Estados Unidos e que
recebeu o Oscar de Melhor Documentário, afirma que votou em Obama e acredita
que o democrata reeleito era efetivamente
o melhor candidato, inclusive, também, pelas suas posições em relação ao
aborto, ao casamento gay e ao direito das mulheres;
P.S. (5) Ao
grande amigo, Walber Leonel Junior, que seguiu para os Estados Unidos em 1.988,
ainda jovem e se tornou distinto cidadão americano, o nosso afetuoso abraço com
nostalgia dos bons tempos da Assistência Judiciária da Faculdade de Direito da
PUC de Campinas.
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