sábado, 10 de novembro de 2012

ELEIÇÕES AMERICANAS - A LÁGRIMA DO PRESIDENTE REELEITO




Boa noite amigos,
A notícia mais importante das últimas semanas foi, sem dúvida, a eleição presidencial para a Casa Branca. Depois de uma intensa campanha envolvendo os dois candidatos, quais sejam, Barack Obama, tentando se reeleger pelo Partido Democrata, e Mitt Romney, pelo Partido Republicano, por pequena margem de votos dos delegados, Obama venceu o sufrágio. Várias observações, no entanto, devem ser feitas a respeito do resultado dessas eleições. O primeiro diz respeito ao fato de que se a eleição fosse direta Romney teria obtido a vitória. O sistema eleitoral americano, porém,  diferente do nosso, se opera de forma indireta. Os eleitores não votam  no candidato a Presidente, mas em um representante (delegado) no colégio eleitoral. Esses representantes, por seu turno, é que votam no candidato. Cada Estado tem um número de delegados proporcional à sua população. São, ao todo, 538 delegados em 50 Estados, o que significa dizer que estará eleito o candidato que obtiver, pelo menos, o voto de 270 delegados. Além disso, o voto nos Estados Unidos é facultativo e segue regras estabelecidas pelos Estados, que podem também interditar o direito ao sufrágio, por exemplo, aos portadores de doença mental e presos.  Não se admite, porém, por ferir princípio constitucional, que estabeleçam regras discriminatórias em razão de sexo, origem, cor ou religião.  De qualquer maneira, questiona-se se um Presidente que foi eleito sem ter a maioria de votos da população, teria legitimidade e credibilidade suficientes para governar,  em nome desse povo. A resposta, ainda que possa parecer estranha, é sim, ao menos no que tange aos Estados Unidos da América.  Isso já aconteceu, por exemplo, com a eleição do republicano George Bush, em detrimento do democrata Al Gore nas eleições de 2.000,  sufrágio que gerou especulações por causa de 25 delegados do Estado da Flórida e o processo de recontagem de votos nesse Estado,  governado, na ocasião,  pelo irmão do candidato vitorioso. Passado à parte e transcorrida a eleição, certo é que  o povo americano jamais deixou de reconhecer, no candidato eleito pelo sistema eleitoral indireto, a  legitimidade de Chefe de Estado e de Governo. Ainda a considerar que se a eleição fosse direta, o processo eleitoral por certo se desenvolveria em outro sentido, ou seja, os candidatos não abandonariam os Estados considerados tranqüilos, para se dedicarem aos Estados mais importantes e indecisos, como ocorreu novamente, sem a preocupação com o eleitor diretamente.  A verdade é que Obama fez um bom governo dentro da governabilidade possível. Os ventos internacionais não o favoreceram. Tendo que administrar duas guerras estúpidas decretadas por Bush, no mundo islâmico (a do Iraque e a do Afeganistão), e grave crise econômica, não pode se dedicar à criação de empregos, prioridade número 1 dos americanos. Terá tempo agora para cumprir essa promessa de campanha, certamente. O que fez de positivo, no entanto, não foi ressaltado durante a campanha. Ao contrário, os republicanos preferiram bater  duro nos aspectos negativos de seu governo, com o qual jamais colaboraram e ainda decretaram uma sistemática oposição no congresso, dificultando a aprovação de projetos importantes e urgentes. O mundo porém, agradece o resultado da eleição. Obama é o preferido dos europeus e de todos os Presidentes e Primeiros Ministros do mundo ocidental, inclusive da América do Sul e do Brasil. Os Chefes de Estado respiraram aliviados com a sua reeleição, demonstrando que o único Presidente negro da história dos Estados Unidos da América, embora preocupado primordialmente  com os americanos, é capaz de diálogos francos, de posições equilibradas  e de alianças indispensáveis às boas relações internacionais,  num mundo  cada vez mais globalizado. Romney, ao contrário, embora tenha demonstrado grande conhecimento teórico de política internacional, tem posições voltadas para uma extrema direita que desde a extinção da guerra fria e da luta pela hegemonia do poder internacional com a também extinta União Soviética,  não tem mais lugar no mundo atual, que reclama tolerância e conciliação, especialmente num país que recebe e converte em cidadãos americanos, a cada dia, gente oriunda de todas as Nações, de todas as cores, culturas e matizes. Os Estados Unidos da América não é mais um país de  arianos descendentes de europeus ricos, aos quais o republicano considera responsáveis pela grandeza da pátria, como declarou durante a campanha,   mas uma Nação democrática de mulheres, negros, orientais e hispânicos.  Não  sem razão Mitt teve maior votação entre homens, brancos e maduros, enquanto Obama recebeu votação mais expressiva entre jovens, mulheres e hispânicos. Ontem, o Presidente reeleito, ao agradecer  a jovens voluntários, na sede da campanha em Chicago,  deixou escorrer lágrima pelo rosto, flagrada pela lente de fotógrafos do mundo inteiro e reproduzidas em todas as mídias. Dá para sentir que foram lágrimas sinceras de quem estava visivelmente emocionado. Quando o homem mais importante do mundo, porque Presidente do país mais poderoso do planeta é um negro que ascendeu pelos próprios méritos, fruto de uma invejável formação humanística, se emociona e não se envergonha de  chorar em público, penso que o mundo ainda tem jeito. Boa sorte Obama, nesse novo e desafiador mandato. Boa sorte ao povo americano e aos brasileiros, latinos, europeus, asiáticos e africanos que vivem e fazem também a história daquela nação.

Até amanhã amigos.

P.S. (1) Assim como Nelson Rodrigues  considerou que o pênalti é tão importante no futebol que deveria ser batido pelo Presidente do clube, também todos os cidadãos do mundo deveriam ser admitidos a votar para Presidente dos Estados Unidos, porque de certa forma, a política americana diz respeito a todo o  planeta;

P.S. (2) Pesquisa realizada no mundo inteiro indicou que Obama era o preferido disparado dos eleitores. No Brasil o percentual pro-Obama foi de expressivos 90%. Só na China é que Mitt obteria maioria, assim mesmo, por uma pequena margem (52% contra 48% de Obama).

P.S.(3) A imagem da coluna de hoje, de Obama chorando, foi emprestada do site g1.globo.com;

P.S. (4) O famoso jornalista e escritor, Peter Davis, que em 1.975 produziu o filme, Corações e Mentes, criticando as guerras declaradas pelos Estados Unidos e que recebeu o Oscar de Melhor Documentário, afirma que votou em Obama e acredita que o  democrata reeleito era efetivamente o melhor candidato, inclusive,  também, pelas suas posições em relação ao aborto, ao casamento gay e ao direito das mulheres;

P.S. (5) Ao grande amigo, Walber Leonel Junior, que seguiu para os Estados Unidos em 1.988, ainda jovem e se tornou distinto cidadão americano, o nosso afetuoso abraço com nostalgia dos bons tempos da Assistência Judiciária da Faculdade de Direito da PUC de Campinas.

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