quarta-feira, 7 de novembro de 2012

FUTEBOL DE ONTEM - BUGRE E MACACA SÃO NOTÍCIA NO LE MONDE DA FRANÇA


Boa noite amigos.

 A arte aliada à competência são adjetivos associados à competitividade em qualquer atividade esportiva. No futebol não é diferente. No final da década de 70 e na década de 80, as equipes de Campinas, Ponte Preta e Guarani conseguiram montar grandes times. Não fosse pelo preconceito e por questões extra-campo, teriam conquistado muitos títulos. Mesmo assim, a Macaca foi vice-campeã paulista em 77, 79 e 81, enquanto o Guarani foi campeão brasileiro em 1978, vice-campeão brasileiro em 1.986 e 1.987 e vice-campeão paulista em 1.988.  Campinas foi considerada a capital do futebol, pois a mescla de suas duas equipes era considerada uma verdadeira seleção. Carlos, Oscar, Polozzi, Mauro, Miranda, Jair, Wanderley, Zé  Carlos, Dicá, Renato, Zenon, Lúcio, Careca são alguns dos grandes jogadores que as equipes tinham em suas fileiras. Logo após a conquista do título de campeão brasileiro em 1.978, e porque a fama dos times tenha chegado à Europa, o famoso Le Monde, da França, publicou, na página de esportes, em dia que não consegui apurar, uma reportagem sobre esse assunto. O colunista esportivo, Alain Fontan,  publicando a foto do jogador Zenon, do Guarani de Campinas (vide imagem da coluna de hoje), a quem chegou a considerar um novo Platini, teceu elogiosas considerações ao futebol praticado pelas equipes  que assim são traduzidas:
MONDE FUTEBOL

Guarani campeão : exemplo a ser seguido

(por Alain Fontan)   Tradução: Angela de Noronha Bignami.

Os organizadores dos grandes torneios espanhóis e italianos que acabam de receber Flamengo, Fluminense e Botafogo pensam, ingenuamente, ter mostrado a seu público a fina flor do futebol brasileiro. A realidade mostra-se bem diferente.

O vencedor da competição nacional, Guarani (de Campinas, a 90 km de São Paulo) zombou dos pseudo grandes nomes da bola cariocas e paulistas. Apenas o Palmeiras, que chegou à final, lutou bravamente para barrar o caminho desse grupo irresistível. O Internacional e o Grêmio, ambos de Porto Alegre, Santa Cruz (de Recife) e Vasco da Gama merecem uma menção honrosa. Mas a cada dia as tradições são subvertidas. Os clubes do interior se impõem sem dificuldade. Na Europa, porém, é preciso ter fama...

O recente contrato assinado por Oswaldo Brandão com a “Ponte Preta”, o outro clube de Campinas, faz desta cidade (250.000 habitantes), hoje, incontestavelmente, a capital do futebol brasileiro.

Este sangue novo em um esporte que podíamos considerar doente vai ser muito importante. Mais do que o título em si, é a forma que mais agradou. Uma equipe de temperamento ofensivo, jogando com todas as armas e a duzentos por hora, sem grandes nomes nem vedetes (isso não vai tardar, apesar do pouco interesse demonstrado pela imprensa local em relação aos clubes e jogadores do “interior”, como dizem em tom pejorativo). Reflexo dessa armadilha: dos melhores clubes (Guarani, Palmeiras, Inter, Grêmio e Santa Cruz), apenas um dos jogadores estava na Copa da Argentina com o uniforme verde e amarelo-ouro da CBF, o ‘meia’ Jorge Mendonça (Palmeiras). Isso para demonstrar, se ainda fosse necessário, como o treinador Coutinho foi cego ao deixar de lado Zenon, Miranda, Nunes e Falcão, citando apenas alguns deles.

As partidas finais Guarani-Palmeiras prolongaram os espetáculos televisionados da Copa do Mundo: uma técnica de qualidade a serviço da rapidez e do compromisso. “É esse o futebol que eles nos mostram?”, ironizavam aqueles que ainda pensam que é preciso jogar em câmara lenta para poder executar seus espetaculares – e, infelizmente improdutivos – feitos técnicos. De todo modo, é o futebol que ganha. Depois de uma vitória irrefutável (2-0) em casa, diante do Vasco da Gama, o Guarani foi ao Rio, e, ao invés de ser devorado como previsto, impôs-se mais uma vez. Zenon, o Platini de Campinas, marcou dois tentos fantásticos no gol carioca de Mazaropi e tudo aconteceu. Vimos uma formação extremamente sólida na defesa com Mauro, Edson e Miranda, brilhante no meio campo graças ao regente Zenon e ao veterano Ze Carlos e fulminantes no ataque graças aos dois alas muito rápidos Capitão e Bozó. Além de tudo isso, a estrela do ataque é Careca, um garoto de 17 anos, rápido e audacioso como ninguém, lutando em todo o campo de ataque, dando gosto de ver! Notem que a média de idade gira em torno de 24 anos. Não é pra menos..... É por essa razão que o Guarani possui esse entusiasmo e “esse futebol que canta” como a ópera de mesmo nome. Da obra do compositor Carlos Gomes. O treinador Carlos Alberto da Silva tem apenas 38 anos. Mas ele aprendeu na excelente escola do futebol mineiro, em pequenos clubes como o Caldense. Aprendeu a profissão convivendo com os grandes de Belo Horizonte: Cruzeiro e Atlético. (oração final sem conclusão......)."
 

 

Até amanhã amigos,

 

P.S. (1) A tradução do artigo foi feita a meu pedido pela  Dra. Ângela de Noronha Bignami, que é Procuradora da Universidade Estadual de CampinasUnicamp e Professora de Francês da tradicional Aliança Francesa de Campinas;

 

P.S. (2) O jogador Careca, que despontava para o futebol brasileiro e mundial, tinha à época apenas 17 anos. Foi convocado pelo técnico Telê Santana para a Copa do Mundo de 82 na Espanha, mas não jogou por estar lesionado. Depois, jogou na Seleção Brasileira na Copa de  86 no México, tendo sido vice-artilheiro da competição com 5 gols.  Ontem, Careca, já cinqüentão, estava lá próximo de minha cadeira nas vitalícias do Estádio Brinco de Ouro da Princesa, sofrendo com a necessidade de seu time do coração, precisar ganhar do Asa de Arapiraca, em casa, para não se complicar e correr risco de cair da série B para a Série C do Brasileiro. O Bugre venceu o jogo pelo placar de 2 a 1 e acabou com uma série negativa de 10 partidas sem vitória, afastando um pouco mais o risco de rebaixamento, mas ainda não matematicamente. Os tempos efetivamente são outros.

 

 

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