Boa noite amigos,
Paris. Da memória da minha infância já perdida na noite dos tempos
ainda ouço a melodiosa voz de Doris Day
entoando o I Love Paris. Trata-se de
um indiscutível fascínio que a capital da França
exerce sobre as pessoas, o imaginário dos povos de todos os continentes, de todas as
culturas. Há, por certo, outras grandes metrópoles do mundo que também
encantam: Roma, Londres, Nova York, Rio
de Janeiro, cada qual com seus símbolos, seus encantos, suas peculiaridades. Mas
Paris é incomparável, por todos os
aspectos. A literatura do mundo inteiro, de ontem e de hoje, focalizam a sua
história, os seus monumentos, seus museus, seus jardins, sua música,
esquadrinhando cada bairro, cada instituição, cada detalhe. Lá todos os
escritores, todos os filósofos, todos os poetas, todos os artistas plásticos, todos os cientistas,
um dia se encontraram, seja por impulso próprio, seja por força do destino. Um
destino que, dizem, arrastava o que havia de mais luminoso para ser batizado na
Cidade Luz.
EROS GRAU – PARIS,
QUARTIER SAINT-GERMAIN-DES-PRÉS.
O Ministro aposentado
do Supremo Tribunal Federal, o gaúcho EROS
GRAU, que foi também Professor de
Direito nas Universidades de São Paulo (USP) e, como convidado na de Paris I
(Panthéon-Sorbonne) e em Montpellier I. (Sourbonne de Paris), decidiu
contar, em obra de 295 páginas,
publicada pela Editora Globo, um tanto de suas vivência e relação com a Cidade
Luz, em particular em respeito a um de seus bairros (quartier). Assim, o foco
principal de sua obra é o Quartier
Saint-Germain-Des-Prés e seus encantos, seguramente o ponto mais glamouroso da
capital francesa. Há, por certo, notas genéricas sobre a cidade, mas
preponderam as noticias sobre o quartier
Saint-Germain, suas ruas, lojas, livrarias, cafés, restaurantes, de ontem e de hoje, e gente (os chamados germanopratins) que viveu por lá, cada qual
exercendo sobre o escritor um fascínio, um interesse, uma visão. Em
linguagem recheada de otimismo e poesia,
o Ministro não esconde o seu profundo interesse por tudo que diga respeito a
cada metro quadrado do quartier
(bairro), das histórias de seu passado e de gente famosa ou desconhecida, dos
mitos e das lendas que cercaram os seus prédios, praças, jardins e
estabelecimentos. As informações que o Ministro registra e as polêmicas
a respeito de cada um dos fatos históricos ou dos personagens são sempre acompanhadas
das fontes anotadas em rodapé. Nada
lembra o jurista e professor de Direito Eros Grau, o que certamente é
proposital. Autor de obras jurídicas, aqui a faceta que prevalece é o do ser
humano de profunda sensibilidade, entusiasmado pela vida (Se Eu for para o céu direi a São Pedro, ao chegar: - Camarada!Foi muito bom! Dá p’ra voltar?), pela cidade e sua cultura, do gourmet que aprecia pratos,
ingredientes, forma de servir e ser servido, o vinho, a etiqueta, a poesia, a
essência, a estética. Não esconde o seu orgulho quando é confundido com um
francês pelo reconhecido domínio e bom sotaque da língua, pelo acerto e apuro
de enófilo ao pedir um bom e adequado vinho francês, ou a sua surpresa ao ser confundido com gente
famosa, como Orson Welles, ou,
finalmente, a satisfação ainda maior,
sem descontar a vaidade, de ser reconhecido como ele mesmo, tanto por
brasileiros, quanto por franceses, com os quais passou a cruzar com certa
frequência. O livro é catalogado na categoria de crônica. Mas é muito mais que
isso, como anota Ignácio de Loyola
Brandão. Talvez um ensaio, como arrisca o autor. Resumiria ousando dizer que independentemente de gêneros, trata-se de uma elegante e competente
ode a Paris, à história de um de seus bairros mais importantes, à cultura
francesa, tudo sob o exercício do livre, universal e sagrado direito natural de "flanar" É um texto que certamente terá sido escrito “no tempo da
delicadeza”. Pronto!: Está dito!
Até amanhã.
P.S. (1) O prefácio, impresso nas orelhas do livro, é do
escritor Ignácio de Loyola Brandão,
que assim termina, definindo a obra do amigo Eros: “Livro sobre uma cidade que Eros
Grau e sua Tania amam. Curtos ensaios infinitos, poemas, haicais, assim é este
“guia”, escrito por um brasileiro iniciado e que pode repousar na estante ao
lado de Paris é uma Festa, de Hemingway,
Desolé, preciso parar”;
P.S. (2) O Quartier
Latin tem esse nome não por se tratar de um bairro latino, mas porque nas
Universidades que ali se alojam, na Idade Média, o ensino era ministrado em
Latim;
P.S. (3) Uma
Palhinha sobre o livro: “Comprar um livro é algo amoroso.
Escorregar lentamente os olhos sobre volumes imediatamente disponíveis,
esparramados em estantes e em pequenas mesas. Começa com um flerte assim,
malandro, quando os encontramos de repente, mesmo sem que jamais tenhamos
sabido nada deles” (fls. 32/33);
P.S. (4) Outra Palhinha:
“Por
falar em adega, há uma lenda, no quartier, segundo a qual a adega do Hôtel
Lutetia foi murada durante a Segunda Guerra para evitar-se que os alemães roubassem
os melhores vinhos. Até hoje essa adega não foi reencontrada” (fls. 57);
P.S. (5) Sobre a fama do Lipp: “Conta-se que, em 2 de abril de
1.974, Roger chegou à mesa de François Mitterand e, discretamente, disse-lhe
que fosse imediatamente ao Elysée. Alguém da embaixada da Suiça lhe telefonara
informando,em primeira mão, a morte de George Pompidou. Sabia de tudo. No Lipp
são tecidos acordos políticos e (também) inúmeros outros” (fls. 67);
P.S. (6) O
Quartier Latin engloba o V e o VI arrondissements. Ele vai de
Saint-Germain-des-Prés até o Jardin Du Luxembourg. Local de universidades e de
escola, é o bairro dos estudantes, da animação noturna, dos cafés famosos como
o Café de Flore, Deux Magots, do restaurante Procope, onde se reuniam filósofos e intelectuais de todo
mundo. O ponto central é a Sorbone no Boulevard Saint Michel. O VI
arrondissement é mais sofisticado e mais caro. Atravessando o boulevard Saint
Michel e entrando no V tudo muda: mais jovem, mais simples, mais barato, com
dezenas de bistrôs simpáticos e descontraídos, e com preços acessíveis (cf.
http//dicas de frances.blogspot.com.).
P.S. (8) Conselho aos turistas: "Se eu pudesse dar algum conselho a quem vier a Paris a fim de viver a cidade, diria que não use o metrô senão quando indispensável. Circule de ônibus se não puder andar, andar, flanar pela cidade. A cidade fica escondida para os usuários do metrô, completamente" (Fls. 235).
P.S. (9) A imagem da coluna é da capa do livro, é de autoria de Mariana Newlands e retrata o famoso Café Le Flore.
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