segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

LITERATURA - PARIS, QUARTIER SAINT-GERMAIN-DES-PRÉS - EROS GRAU (NO TEMPO DA DELICADEZA).

Boa noite amigos,
Paris. Da memória da  minha infância já perdida na noite dos tempos ainda ouço a melodiosa voz de Doris Day entoando o I Love Paris. Trata-se de um indiscutível fascínio que a capital da França exerce sobre as pessoas,  o imaginário dos povos de todos os continentes, de todas as culturas. Há, por certo, outras grandes metrópoles do mundo que também encantam: Roma, Londres, Nova York, Rio de Janeiro,  cada qual  com seus símbolos, seus encantos,   suas peculiaridades. Mas Paris é incomparável, por todos os aspectos.  A literatura do mundo  inteiro, de ontem e de hoje, focalizam a sua história, os seus monumentos, seus museus, seus jardins, sua música, esquadrinhando cada bairro, cada instituição, cada detalhe. Lá todos os escritores, todos os filósofos, todos os poetas, todos os artistas plásticos, todos os cientistas, um dia se encontraram, seja por impulso próprio, seja por força do destino. Um destino que, dizem, arrastava o que havia de mais luminoso para ser batizado na Cidade Luz.

EROS GRAU – PARIS, QUARTIER SAINT-GERMAIN-DES-PRÉS.

O Ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, o gaúcho EROS GRAU, que foi também Professor de Direito nas Universidades de São Paulo (USP) e, como convidado na de Paris I (Panthéon-Sorbonne) e em Montpellier I. (Sourbonne de Paris), decidiu contar, em obra de 295  páginas, publicada pela Editora Globo, um tanto de  suas vivência e  relação com a  Cidade Luz,  em particular em respeito a um de seus bairros (quartier). Assim, o foco principal de sua obra é o Quartier Saint-Germain-Des-Prés e seus encantos, seguramente o ponto mais glamouroso da capital francesa. Há, por certo, notas genéricas sobre a cidade, mas preponderam as noticias sobre o quartier Saint-Germain, suas ruas, lojas, livrarias,   cafés, restaurantes, de ontem e de hoje,  e gente (os chamados germanopratins) que viveu por lá, cada qual exercendo sobre o escritor um fascínio, um interesse, uma visão. Em linguagem recheada de otimismo  e poesia, o Ministro não esconde o seu profundo interesse por tudo que diga respeito a cada metro quadrado do quartier (bairro), das histórias de seu passado e de gente famosa ou desconhecida, dos mitos e das lendas que cercaram os seus prédios, praças,   jardins e  estabelecimentos. As informações que o Ministro registra e as polêmicas a respeito de cada um dos fatos históricos ou dos personagens são sempre acompanhadas das fontes anotadas em  rodapé. Nada lembra o jurista e professor de Direito Eros Grau, o que certamente é proposital. Autor de obras jurídicas, aqui a faceta que prevalece é o do ser humano de profunda sensibilidade, entusiasmado pela vida (Se Eu for para o céu direi a São Pedro, ao chegar: - Camarada!Foi muito bom! Dá p’ra voltar?),  pela cidade e sua cultura, do gourmet que aprecia pratos, ingredientes, forma de servir e ser servido, o vinho, a etiqueta, a poesia, a essência, a estética. Não esconde o seu orgulho quando é confundido com um francês pelo reconhecido domínio e bom sotaque da língua, pelo acerto e apuro de enófilo ao pedir um bom e adequado vinho francês,  ou a sua surpresa ao ser confundido com gente famosa, como Orson Welles, ou, finalmente,  a satisfação ainda maior, sem descontar a vaidade, de ser reconhecido como ele mesmo, tanto por brasileiros, quanto por franceses, com os quais passou a cruzar com certa frequência. O livro é catalogado na categoria de crônica. Mas é muito mais que isso, como anota Ignácio de Loyola Brandão. Talvez um ensaio, como arrisca o autor. Resumiria ousando dizer que independentemente de gêneros, trata-se  de uma elegante e competente ode a Paris, à história de um de seus bairros mais importantes, à cultura francesa, tudo sob o exercício do livre, universal e sagrado direito natural de "flanar" É um texto que certamente terá sido escrito “no tempo da delicadeza”.  Pronto!: Está dito! 

Até amanhã.

P.S. (1) O prefácio, impresso nas orelhas do livro, é do escritor Ignácio de Loyola Brandão, que assim termina, definindo a obra do amigo Eros: Livro sobre uma cidade que Eros Grau e sua Tania amam. Curtos ensaios infinitos, poemas, haicais, assim é este “guia”, escrito por um brasileiro iniciado e que pode repousar na estante ao lado de Paris é uma Festa,  de Hemingway, Desolé, preciso parar”;

P.S. (2) O Quartier Latin tem esse nome não por se tratar de um bairro latino, mas porque nas Universidades que ali se alojam, na Idade Média, o ensino era ministrado em Latim;

P.S. (3)  Uma Palhinha sobre o livro: “Comprar um livro é algo amoroso. Escorregar lentamente os olhos sobre volumes imediatamente disponíveis, esparramados em estantes e em pequenas mesas. Começa com um flerte assim, malandro, quando os encontramos de repente, mesmo sem que jamais tenhamos sabido nada deles” (fls. 32/33);

P.S. (4) Outra Palhinha: Por falar em adega, há uma lenda, no quartier, segundo a qual a adega do Hôtel Lutetia foi murada durante a Segunda Guerra para evitar-se que os alemães roubassem os melhores vinhos. Até hoje essa adega não foi reencontrada” (fls. 57);

P.S. (5) Sobre a fama do Lipp: “Conta-se que, em 2 de abril de 1.974, Roger chegou à mesa de François Mitterand e, discretamente, disse-lhe que fosse imediatamente ao Elysée. Alguém da embaixada da Suiça lhe telefonara informando,em primeira mão, a morte de George Pompidou. Sabia de tudo. No Lipp são tecidos acordos políticos e (também) inúmeros outros” (fls. 67);

P.S. (6)  O Quartier Latin engloba o V e o VI arrondissements. Ele vai de Saint-Germain-des-Prés até o Jardin Du Luxembourg. Local de universidades e de escola, é o bairro dos estudantes, da animação noturna, dos cafés famosos como o Café de Flore, Deux Magots, do restaurante Procope, onde se  reuniam filósofos e intelectuais de todo mundo. O ponto central é a Sorbone no Boulevard Saint Michel. O VI arrondissement é mais sofisticado e mais caro. Atravessando o boulevard Saint Michel e entrando no V tudo muda: mais jovem, mais simples, mais barato, com dezenas de bistrôs simpáticos e descontraídos, e com preços acessíveis (cf. http//dicas de frances.blogspot.com.).

 P. S.(7):  La pelas tantas, o “desânimo” do autor: “(Estive lá, mas encontrei somente o livro, que agora releio em diagonal. Desanimo. Não sei como você perde tempo comigo, leitor.... Se quiser ler um belo livro, lei Hemingway. Não perca tempo comigo....” (fls. 202.).

P.S. (8) Conselho aos turistas: "Se eu pudesse dar algum conselho a quem vier a Paris a fim de viver a cidade, diria que não use o metrô senão  quando indispensável. Circule de ônibus se não puder andar, andar, flanar pela cidade. A cidade fica escondida para os usuários do metrô, completamente" (Fls. 235).

P.S. (9) A imagem da coluna é da  capa do livro,  é de autoria de Mariana Newlands e retrata o famoso Café Le Flore.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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