Boa noite amigos,
Tenho sustentado haver uma relação de "amor e ódio" de estudantes,
inclusive universitários, e profissionais das mais diversas áreas do
conhecimento, com a crase. E no que consistiria esse amor e ódio? É o seguinte:
ou o sujeito coloca crase em todos os “as”, mesmo quando se tem apenas um mero
artigo definido antes de substantivo feminino, ou, então, não coloca crase
nenhuma, ainda que se verifique a hipótese de um artigo feminino mais uma preposição. Parece não existir meio termo. Fico matutando
porque se tem tanta dificuldade de se aprender (e, pois, apreender), o correto uso da crase. A crase não passa de
uma contração, que no sentido gramatical significa a redução de duas ou mais
vogais a uma só (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, Novo Dicionário Aurélio,
2ª. Edição revista e aumentada, Editora Nova Fronteira, 1.986, p. 465). A crase
indica, portanto, a presença de duas vogais (aa), reduzidas a uma com o acento
grave (à). O “à”, portanto, gramaticalmente indica a contração da preposição
“a” com o artigo definido feminino “a” ("Vou à China no mês que vem"), ou, a contração da
preposição (a), com os pronomes demonstrativos “a”, “as”, “aquele”, “aquela”,
“aquilo” ("Entregarei a faixa àquela jovem", ou, "Esta é à que (aquela que) lhe dei").Simples,
não. A melhor forma de não errar no uso do acento grave indicativo da
existência de crase é decorar os casos em que ela não aparece de jeito nenhum.
Ora, se a crase indica necessariamente a existência de um artigo definido
feminino (a), é evidente que não se usa
crase antes de palavra masculina.Também não se usa crase antes de verbo. Já são
duas dicas que resolvem 80% dos casos de dúvida. Portanto, em orações como
“Pedi insistentemente a Pedro que me desse outra oportunidade” e “Ficou ele a argumentar com o motorista”, não
se coloca o acento grave antes de “a Pedro”, ou antes de “a argumentar”. Em
ambos os casos o “a” ali referido é apenas uma preposição, sem a co-existência do
artigo. Observe-se que em alguns casos a palavra feminina é
subentendida e não escrita, daí porque, nesse caso específico, se usa o acento grave antes de palavra
masculina. Nas orações como “sapato à
Luiz XV”, a crase existe, porque se subentende a expressão “à moda Luiz XV”.
Adicionalmente, a crase também deve ser usada em outros casos especiais. Sobre
eles falaremos oportunamente.
Até amanhã amigos.
P.S. (2) É inacreditável como tem
sido comum ler anúncios, editais, propagandas e placas indicativas com a
expressão “à partir de” com crase. Elas provêm de órgãos particulares,
repartições públicas,instituições de ensino (acreditem!) e até da mídia. É lamentável, não?
P.S. (5) Li no site www.naotemcrase.com a seguinte observação sobre o uso de “a
partir de” com crase, numa embalagem de produto infantil do renomado
laboratório Johnson & Johnson: “Quando uma empresa do porte da Johnson
& Johnson não consegue acertar uma crase em uma embalagem, algo está errado
com a nossa amada língua portuguesa. E o pior é que o erro está em um produto
para crianças. Nossos filhos vão crescer escrevendo “à partir de” com crase”.
P.S. (4) A imagem da coluna de
hoje é uma de uma fotografia que tirei de uma placa existente na porta de um
dos compartimentos de um restaurante de Campinas. Note-se o uso incorreto da
crase antes de palavra masculina e, pior, no plural “Entrada restrita
à funcionários”????
Nenhum comentário:
Postar um comentário