segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

CINEMA NACIONAL DE ARTE - O FILME DA MINHA VIDA


Boa noite amigos,
Tony (Johnny Massaro) no cinema, homenagem do diretor
ao cinema de Tornatore e Fellini. Imagem de www.cine-
plaers.

Ao assistir a entrevista com Selton Mello, numa das apresentações do extinto talk show de Jô Soares na Globo, falando do lançamento  de seu terceiro filme como diretor[1], O Filme da Minha Vida,  criei uma expectativa muito positiva em torno do longa, considerado pelo próprio ator como a sua melhor obra, nas entrevistas que antecederam o seu lançamento comercial. Baseado no livro Um Pai de Cinema, um romance apenas mediano do chileno Antonio Skármeta[2], autor da obra-prima, O Carteiro e o Poeta, adaptado para um dos mais belos filmes já produzidos pela sétima arte, o drama se passa na pequena Remanso, localidade da Serra Gaúcha, mostrando a vida pacata e harmônica da família de Tony Terranova (Johnny Massari), filho de um francês e de uma brasileira, que, ao retornar da capital para onde foi concluir seu curso universitário e se tornar professor de francês, não se conforma com o abandono do pai,  Nicolas (Vincent Cassel), que teria, segundo a versão corrente, voltado para a França. Mergulhado em profunda melancolia, em busca de si mesmo, inadaptado ao mundo, como definiu o próprio Mello ao falar sobre seus protagonistas e afirmar que eles revelam um aspecto de sua própria personalidade, o personagem busca entender a reviravolta que sua vida experimentara, ao mesmo tempo em que a memória o remete seguidamente para os fatos marcantes de sua infância.

Imagem emprestada de globofilmes mostra o protagonista

Tony (Johnny Massaro) com a namorada Luna (Bruna -

Linzmeyer).
Agora, Tony divide o seu tempo, dedicando-se aos alunos durante e além das  aulas ministradas em uma escola local; a troca de sentimentos e dúvidas com sua amiga, confidente, depois namorada,  Luna (Bruna Linzmeyer) e a companhia da mãe,  Sofia (Ondina Clais), inconformada e deprimida com o abandono do companheiro. Como parceiro constante de Tony,  Paco (Selton Mello), antigo amigo da família, de visão realista e brutalizada da vida, se preocupa em manter o jovem longe de suas memórias do pai e da infância ao lado dele e de seus sonhos futuros. A crítica se dividiu: parte viu no longa defeitos na direção, criando descompasso entre o roteiro e a narrativa, ao contrário do que se passou com o Palhaço, e outra parcela reputou, ao contrário, que a narrativa foi ajustada à intenção do diretor, ao conferir proposital ritmo lento e arrastado à história, com o objetivo de sugerir um tom reflexivo e especulativo à obra. Em algumas cenas como a que o jovem Tony, mergulhado na sua memória de infância, começa a flutuar, ou naquelas em que ele finalmente entra no cinema para assistir o clássico Rio Vermelho, há clara homenagem de Selton ao cinema de Fellini (8 ½) e de Tornatore (Cinema Paradiso)  e para enfatizar ser o cinema importante elo de ligação entre pai e filho. 
Os personagens Nicolas (Vincent Cassel) e Paco (Selton

Mello) em cena do longa. Imagem emrpestada de www.

cinemacomrapadura.com.

O filme, porém, entre virtudes e defeitos é um bom filme. Um filme delicado que fala de amor, de memória afetiva, das relações humanas mais profundas e que contribui com seu indiscutível valor estético para a retomada do cinema nacional de arte. Todos os críticos e críticas destacam, sem exceção, o excepcional trabalho do elenco, especialmente do protagonista, o pernambucano Johnny Massaro, um dos mais expressivos atores da nova geração, revelado no seriado Malhação, da Rede Globo, e da atriz Ondina Clais, ótima no papel da sofrida Sofia. Também ressaltam a excelência da direção de arte de Carlos Amaral Peixoto, da fotografia magnificamente captada pelas lentes mágicas de Walter Carvalho, dos figurinos de Kika Lopes e da trilha sonora de Plínio Profeta, com canções nacionais e internacionais dos anos 60, escolhidas em função do envolvimento de suas letras e mensagens com as cenas focalizadas e de sua musicalidade para dar alma e retoque ao desenvolvimento do roteiro. Não deixe de ver.


Até mais amigos,

P.S. (1) No embalo de HIER ENCORE ("Ainda ontem", sobre as lembranças de um homem a respeito de seus 20 anos) de Charles Aznavour), a trilha sonora traz ainda Nina Simone (I Put a Spell on You), The Animals (The House Of The Rising Sun), Claude François (Comme d’Habitude, versão original de My Way) e Sérgio Reis (Coração de Papel).


P.S. (2) Mais de 90% dos internautas que se manifestaram sobre o filme nas redes sociais,  gostaram do que viram. Nas bilheterias, pelos dados parciais que foram divulgados, o longa atingiu, de 04 de agosto (data da estreia) a 10 de setembro, 1.282.104 espectadores, o que já o inclui no rol dos filmes nacionais mais vistos no ano passado, devendo ultrapassar ou se igualar ao O Palhaço, que vendeu cerca de 1.500.000 ingressos.  



[1] Os dois primeiros longas dirigidos pelo ator foram Feliz Natal (2.008) e O Palhaço (2.011), ótimas produções do cinema nacional.
[2] Com quem foram pessoalmente discutidos aspectos do roteiro adaptado e que também aparece no filme rapidamente numa cena de bordel.

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