Boa noite amigos,
Tony (Johnny Massaro) no cinema, homenagem do diretor
ao cinema de Tornatore e Fellini. Imagem de www.cine-
plaers.
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Ao assistir a
entrevista com Selton Mello, numa das apresentações do extinto talk show de Jô
Soares na Globo, falando do lançamento
de seu terceiro filme como diretor[1],
O Filme da Minha Vida, criei uma expectativa muito positiva em
torno do longa, considerado pelo próprio ator como a sua melhor obra, nas
entrevistas que antecederam o seu lançamento comercial. Baseado no livro Um Pai de Cinema, um romance apenas
mediano do chileno Antonio Skármeta[2],
autor da obra-prima, O Carteiro e o
Poeta, adaptado para um dos mais belos filmes já produzidos pela
sétima arte, o drama se passa na
pequena Remanso, localidade da Serra Gaúcha, mostrando a vida pacata e
harmônica da família de Tony Terranova (Johnny Massari), filho de um
francês e de uma brasileira, que, ao
retornar da capital para onde foi concluir seu curso universitário e se tornar
professor de francês, não se conforma com o abandono do pai, Nicolas (Vincent Cassel),
que teria, segundo a versão corrente, voltado para a França. Mergulhado em profunda melancolia, em busca de si mesmo,
inadaptado ao mundo, como definiu o próprio Mello ao falar sobre seus
protagonistas e afirmar que eles revelam um aspecto de sua própria personalidade,
o personagem busca entender a reviravolta que sua vida experimentara, ao mesmo
tempo em que a memória o remete seguidamente para os fatos marcantes de sua infância.
Imagem emprestada de globofilmes mostra o protagonista
Tony (Johnny Massaro) com a namorada Luna (Bruna -
Linzmeyer).
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Agora, Tony divide o seu tempo, dedicando-se aos alunos durante e além das aulas ministradas em uma escola local; a troca
de sentimentos e dúvidas com sua amiga, confidente, depois namorada, Luna (Bruna Linzmeyer) e a companhia da mãe,
Sofia (Ondina Clais), inconformada e deprimida com o abandono do companheiro. Como parceiro constante de Tony, Paco (Selton Mello),
antigo amigo da família, de visão realista e brutalizada da vida, se preocupa em manter o jovem longe de suas memórias do pai e da infância ao lado dele e de seus
sonhos futuros. A crítica se dividiu: parte viu no longa defeitos na direção, criando descompasso entre o roteiro e a narrativa, ao
contrário do que se passou com o Palhaço,
e outra parcela reputou, ao contrário, que a narrativa foi ajustada à intenção
do diretor, ao conferir proposital ritmo lento e arrastado à história, com o objetivo de sugerir um tom reflexivo e especulativo à obra. Em algumas cenas como
a que o jovem Tony, mergulhado na sua memória de infância, começa a flutuar, ou
naquelas em que ele finalmente entra no cinema para assistir o clássico Rio Vermelho, há clara homenagem
de Selton ao cinema de Fellini (8 ½) e de Tornatore (Cinema Paradiso) e para enfatizar ser o cinema importante elo de ligação entre pai e filho.
Os personagens Nicolas (Vincent Cassel) e Paco (Selton
Mello) em cena do longa. Imagem emrpestada de www.
cinemacomrapadura.com.
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O filme, porém, entre virtudes e defeitos é um
bom filme. Um filme delicado que fala de amor, de memória afetiva, das relações
humanas mais profundas e que contribui com seu indiscutível valor estético para
a retomada do cinema nacional de arte. Todos os críticos e críticas destacam,
sem exceção, o excepcional trabalho do elenco, especialmente do protagonista, o
pernambucano Johnny Massaro, um dos mais expressivos atores da nova geração, revelado no seriado Malhação, da Rede Globo, e da atriz Ondina Clais, ótima no
papel da sofrida Sofia. Também ressaltam a excelência da direção de arte de Carlos
Amaral Peixoto, da fotografia magnificamente captada pelas lentes mágicas de
Walter Carvalho, dos figurinos de Kika Lopes e da trilha sonora de Plínio
Profeta, com canções nacionais e internacionais dos anos 60, escolhidas em
função do envolvimento de suas letras e mensagens com as cenas focalizadas e de
sua musicalidade para dar alma e retoque ao desenvolvimento do roteiro. Não
deixe de ver.
Até mais amigos,
P.S. (1) No embalo de HIER ENCORE
("Ainda ontem", sobre as lembranças de um homem a respeito de seus 20 anos) de
Charles Aznavour), a trilha sonora traz ainda Nina Simone (I Put a Spell on
You), The Animals (The House Of The Rising Sun), Claude François (Comme d’Habitude,
versão original de My Way) e Sérgio Reis (Coração de Papel).
P.S. (2) Mais de 90% dos internautas que se manifestaram sobre o filme nas redes sociais, gostaram do que viram. Nas bilheterias, pelos dados parciais que foram divulgados, o longa atingiu, de 04 de agosto (data da estreia) a 10 de setembro, 1.282.104 espectadores, o que já o inclui no rol dos filmes nacionais mais vistos no ano passado, devendo ultrapassar ou se igualar ao O Palhaço, que vendeu cerca de 1.500.000 ingressos.
[1]
Os dois primeiros longas dirigidos pelo
ator foram Feliz Natal (2.008) e O Palhaço (2.011), ótimas produções do cinema
nacional.
[2]
Com quem foram pessoalmente discutidos aspectos do roteiro adaptado e que também
aparece no filme rapidamente numa cena de bordel.
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