quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

CONTO - FALA QUE EU TE ESCUTO OU CHEGA DE PROSA?

Boa noite amigos,


Imagem emprestada de 

https://www.youtube.com/watch?v=s2CRX7IeLyI
Hoje vai uma crônica escrita ainda agora à noite, que relata um antigo episódio envolvendo as minhas crônicas confusões e o  querido amigo Dr. Romeu Santini. Vai lá:

"O Romeu Santini é uma figura marcante na história política e social da cidade de Campinas. Foi vereador do município durante sete mandatos diferentes, ao longo de sua carreira política. Na década de 60, disputando eleição para Prefeito, foi derrotado pelo carismático então jovem candidato, Orestes Quércia, que, depois, foi deputado, senador da República e governador do Estado de São Paulo. Nem por isso perdeu prestígio. Muito ao contrário, de temperamento alegre e cativante, Romeu só granjeou simpatia de seu vasto eleitorado e círculo de amizade. Desde os primeiros anos de minha advocacia se tornou cliente e dileto amigo por via de outro amigo comum, o Dr. Walter Hoffmann. A ele devo a iniciativa do projeto que me concedeu o título de cidadão campineiro, de que muito me orgulho.  Mas o que vou contar nos une em torno de um episódio pitoresco que rendeu e rende muitas risadas, por onde ele é contado e, muitas vezes, recontado.  Romeu tinha um programa diário numa televisão local, afiliada, se não me engano, da rede Bandeirantes. Nesse programa, o Romeu político, no exercício do mandato e, ao mesmo tempo, sempre candidato natural a sucessivas reeleições, ouvia o povo da periferia, dando voz a ele para  formular, no ar, sugestões, pleitos e reclamações quanto a questões locais negligenciadas pela Administração Pública. Era a falta do asfalto prometido, aumento da conta de água, do IPTU, árvores que ameaçavam cair ou provocar danos por falta de poda e assim por diante. O programa completava, naquela noite, um ano e a audiência, segundo se soube, não era desprezível. Não sei por que cargas d’água, decidiu-se por uma grande festa comemorativa desse aniversário, a ter lugar num dos elegantes salões do Hotel Resort Royal Palm Plaza. Era grande o número de convidados, numa lista que levava em conta a importância de autoridades e, ainda, de personalidades da sociedade local e, finalmente, de amigos do vereador-apresentador. Não sei se ainda era Juiz em Campinas, Comarca na qual me aposentei, ou se já estava aposentado. O evento, é claro, seria coberto pela imprensa escrita e também pelo mesmo canal no qual o programa era diariamente exibido. Cheguei usando traje esporte fino, como se recomendava no convite, acompanhado de minha sempre elegante esposa (e aqui aproveito para ganhar pontos com ela). Ainda na porta do salão, avistei, e fui avistado, por uma jornalista baixinha, simpática e que eu já conhecia por ela ter trabalhado na TV Puc, universidade na qual lecionava e leciono ainda hoje. Sorridente, ela me convidou para dar uma entrevista sobre o evento e o programa, a respeito do qual eu não tinha grandes dados. Sabia algo por cima.  Não me fiz de rogado. Microfone na mão, indagado acerca do que eu achava do Romeu e do programa, deitei simpáticos elogios. Dentre outras coisas, acabei afirmando que por ele abria-se um importante canal de comunicação entre o cidadão e o vereador, permitindo que este ouvisse daquele, no ar, a reivindicação desatendida ou negligenciada. E, assim, o vereador poderia levar diretamente ao Prefeito as demandas da comunidade, exigindo providências. Por isso mesmo – e aí eu disse textualmente – “o programa se chama FALA QUE EU TE ESCUTO, numa clara alusão à atenção e oportunidade que Romeu confere ao pessoal mais carente e que não tem meios de fazer chegar ao Prefeito suas reclamações e carências”.  Nesse momento, fez-se um silêncio geral em torno de mim. A entrevista estava sendo mandada ao ar ao vivo. E, como diz o Faustão, quem sabe faz ao vivo. E eu concluo, quem não sabe se estrumbica também ao vivo. O antigo programa FALA QUE EU TE ESCUTO, como todo mundo sabe, é franquia da IGREJA UNIVERSAL, tem conotação religiosa e é mandado ao ar pela TV Record, do Pastor Edyr Macedo. O Programa do Romeu, cujo aniversário estava sendo comemorado e que eu nunca assisti, se chamava CHEGA DE PROSA, um jargão que ele usava em seguida à reclamação do distinto ouvinte, batendo numa espécie de tribuna: - Então Prefeito, CHEGA DE PROSA! Vamos atender a Dna. Maria ou vamos esperar que a árvore caia sobre ela? Putz! E eu sei que ficou por isso. Não sei, mas acho que a entrevistadora, minha amiga, em seguida chamou os comerciais para ter tempo de se refazer. E o episódio virou, como eu disse, um motivo para muitas e muitas risadas.


Até amanhã amigos.

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