quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

CRÔNICA - TEREZA OFICIAL DE JUSTIÇA?

Boa noite amigos,

Escrevi essa crônica agora à noite, recordando-me do episódio e de minha querida e saudosa amiga, Tereza, que continua vivendo alegre como sempre foi, na nossa lembrança e no nosso coração.


Imagem emprestada de Peregrina Cultural Word Press.com.
Conheci Tereza Nascimento Rocha[1] quando ingressei, pela primeira vez, no chamado Páteo dos Leões, o Prédio Central da Universidade Católica de Campinas[2], no final do ano de 1.969, com a finalidade de me inscrever ao vestibular para concorrer a uma das vagas do Curso de Direito. Ali, defronte à Secretaria, estávamos apenas nós dois, com o mesmo objetivo e muitos sonhos. Eu, meninão com 17 anos, e Tereza, com 10 a mais e muitas histórias de uma vida dura e sofrida que ela pretendia deixar para trás. Nascia também uma amizade que duraria uma vida inteira e que se estendeu ao Nivaldo Doro, seu grande companheiro desta vida, e aos filhos, uma das quais, a Paulinha, minha afilhada de batismo. Anos depois de nossa formatura e quando ambos já lecionávamos na mesma faculdade de nossa colação de grau, eu como Professor de Direito Civil e ela docente da cadeira de Direito Penal, Tereza, na sua caminhada de sucesso, estava para realizar um de seus sonhos: o de publicar um livro sobre a área de sua predileção, tanto na advocacia, quanto na docência. Tudo estava sendo preparado com muito capricho para o lançamento editorial em noite de autógrafos. O marido Nivaldo pediu a mim que fizesse o prefácio, tarefa que aceitei com muita honra, dada a nossa intimidade e o carinho recíproco que nos unia. Mas esse prefácio, para garantir maior emoção, haveria de permanecer secreto para a autora até a ocasião do lançamento. E assim se fez. Lembro-me que escrevi um texto emocionado, falando menos das virtudes da obra e mais da mulher que eu conhecera e cuja trajetória na área do Direito se evidenciara independente, corajosa e competente, qualidades que Tereza tinha de sobra. Ao enumerar os vários cargos e funções que Tereza desempenhara, durante o período de estudante e até o início da militância na política e na advocacia, escrevi que ela tinha sido Oficial de Justiça. Tereza tinha sido escrevente da 2ª. Vara Criminal, mas nunca Oficial de Justiça, cargo que quem ocupou foi seu marido Nivaldo. E a coisa ficou assim. Na noite de autógrafos, muitos amigos, alunos, Juízes, Promotores, Delegados e estudantes acorreram à convocação para o lançamento e a autora estava sinceramente emocionada. Filas, abraços, cumprimentos e, de repente, uma das senhoras presentes aproxima-se e à autora assevera: - Eu nunca soube que você tinha sido Oficial de Justiça! Terezona, então,  de pronto, com aquela franqueza e a “boca suja” que lhe era peculiar mandou essa: - Nem eu, o filho da puta do Jamil é que inventou!  O fato é que toda a primeira edição estava pronta e a falsa notícia introduzida no currículo de Tereza permaneceu. Não cheguei a me penitenciar pelo erro que “no conjunto da obra” acabou por se tornar irrelevante. Mas o episódio, a vida inteira, nos meios forenses e acadêmicos e, ainda, entre amigos, foi motivo para boas risadas.  Cada vez que me lembro parece que volta a cara de surpresa, olhos arregalados e indignação da Terezona, me recriminando:  “Esse filho da puta do Jamil é que inventou”.        






[1] Com o casamento Tereza acresceu ao seu nome o patronímico do marido Nivaldo e passou a ser citada, com mais frequência, pelo nome abreviado: Tereza Doro.
[2] Naquela época a Universidade de Campinas ainda não havia obtido o título de Pontifícia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário