Escrevi essa crônica agora à noite, recordando-me do episódio e de minha querida e saudosa amiga, Tereza, que continua vivendo alegre como sempre foi, na nossa lembrança e no nosso coração.
Imagem emprestada de Peregrina Cultural Word Press.com. |
Conheci Tereza
Nascimento Rocha[1]
quando ingressei, pela primeira vez, no chamado Páteo dos Leões, o Prédio Central
da Universidade Católica de Campinas[2],
no final do ano de 1.969, com a finalidade de me inscrever ao vestibular para
concorrer a uma das vagas do Curso de Direito. Ali, defronte à Secretaria,
estávamos apenas nós dois, com o mesmo objetivo e muitos sonhos. Eu, meninão
com 17 anos, e Tereza, com 10 a mais e muitas histórias de uma vida dura e
sofrida que ela pretendia deixar para trás. Nascia também uma amizade que
duraria uma vida inteira e que se estendeu ao Nivaldo Doro, seu grande companheiro
desta vida, e aos filhos, uma das quais, a Paulinha, minha afilhada de batismo.
Anos depois de nossa formatura e quando ambos já lecionávamos na mesma
faculdade de nossa colação de grau, eu como Professor de Direito Civil e ela
docente da cadeira de Direito Penal, Tereza, na sua caminhada de sucesso,
estava para realizar um de seus sonhos: o de publicar um livro sobre a área de
sua predileção, tanto na advocacia, quanto na docência. Tudo estava sendo
preparado com muito capricho para o lançamento editorial em noite de
autógrafos. O marido Nivaldo pediu a mim que fizesse o prefácio, tarefa que
aceitei com muita honra, dada a nossa intimidade e o carinho recíproco que nos
unia. Mas esse prefácio, para garantir maior emoção, haveria de permanecer
secreto para a autora até a ocasião do lançamento. E assim se fez. Lembro-me
que escrevi um texto emocionado, falando menos das virtudes da obra e mais da
mulher que eu conhecera e cuja trajetória na área do Direito se evidenciara
independente, corajosa e competente, qualidades que Tereza tinha de sobra. Ao
enumerar os vários cargos e funções que Tereza desempenhara, durante o período
de estudante e até o início da militância na política e na advocacia, escrevi
que ela tinha sido Oficial de Justiça. Tereza tinha sido escrevente da 2ª. Vara
Criminal, mas nunca Oficial de Justiça, cargo que quem ocupou foi seu marido
Nivaldo. E a coisa ficou assim. Na noite de autógrafos, muitos amigos, alunos,
Juízes, Promotores, Delegados e estudantes acorreram à
convocação para o lançamento e a autora estava sinceramente emocionada. Filas, abraços, cumprimentos e, de repente,
uma das senhoras presentes aproxima-se e à autora assevera: - Eu nunca soube que você tinha sido Oficial
de Justiça! Terezona, então, de
pronto, com aquela franqueza e a “boca suja” que lhe era peculiar mandou essa: - Nem eu, o filho da puta do Jamil é que
inventou! O fato é que toda a
primeira edição estava pronta e a falsa notícia introduzida no currículo de
Tereza permaneceu. Não cheguei a me penitenciar pelo erro que “no conjunto da
obra” acabou por se tornar irrelevante. Mas o episódio, a vida inteira, nos
meios forenses e acadêmicos e, ainda, entre amigos, foi motivo para boas
risadas. Cada vez que me lembro parece que volta a cara de surpresa, olhos
arregalados e indignação da Terezona, me recriminando: “Esse filho da puta do Jamil é
que inventou”.
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