Amigos, bom dia.
Os roteiros adaptados
de seriados de sucesso da televisão nem sempre funcionam bem no cinema. Lembro
que quando vi aquele pessoal da grande família, na tela gigante do cinema, senti
uma certa estranheza. Quando os mesmos artistas do seriado são convocados para
a versão cinematográfica (como no caso da GRANDE FAMÍLIA – O FILME), para dar
mais realismo à película em relação ao
seriado televisivo, a sensação é de que algo está fora do lugar. Quando, porém,
são outros os atores (Como no caso de O BEM AMADO), a estranheza é ainda maior.
Achei ambos os filmes ruins. Como achei sem graça a tentativa de levar para o
cinema, a peça de maior tempo em cartaz no Brasil e que foi espetacular no
teatro: OS MISTÉRIOS DE IRMA VAP, traduzida para o telão como IRMA VAP – O
RETORNO (não sei o porquê do nome, uma vez que não houve anteriormente a esta, versão alguma para o
cinema). A verdade é uma só. Raramente os roteiros adaptados de
livros, ou televisão, funcionam bem no cinema. As acusações são as mais variadas.
No Brasil, por exemplo, parte da crítica costuma creditar o fracasso à convocação de diretores, cuja formação básica se fez em
televisão, e que não conseguem transpor roteiros, ou trabalhar bem na sétima arte, como por exemplo, os
consagrados Daniel Filho e Guel Arraes.
Não acredito que seja assim. Quem viu Se eu Fosse Você I e II (já aviso que não
aprecio essa mania de extrair, da mãe famosa, filhotes repetitivos) de Daniel, e
Lisbela e o Prisioneiro, principalmente (um filme encantador, bem brasileiro,
com atuações perfeitas de Selton Mello e Débora Falabela e uma trilha sonora ótima) de Guel, também vai concordar comigo. Acho que a questão é
mesmo a dificuldade dos roteiros adaptados para artes diferentes, que têm ritmos
diversos e o telespectador ou espectador sente isso. Os personagens dos
seriados, como por exemplo, a Grande Família, estão toda semana na casa da
gente e um ou outro capítulo ruim acaba passando desapercebido ou, então, você muda de
canal e pronto!. É como aquele amigo ou
vizinho que você gosta mas que naquele dia, não se sabe o porquê, está chato, com
uma conversinha repetitiva. Pronto. No outro dia você vai continuar querendo
falar com ele sobre futebol, economia ou política. Ou contar aquela piada nova (ou velha mas que você já tinha
esquecido) que ouviu no clube. No cinema são 120 minutos que precisam prender a
sua atenção (não dá para mudar de canal) e de certa forma criar sensações de apreensão, emoção, encantamento. Um ciclo
completo que tem de funcionar bem ali, naquela hora, ou nunca mais. Há exemplos
de inúmeros roteiros adaptados que viraram filmes inesquecíveis, superiores até
a outros com roteiro original. Mas por elementos diversos, além do roteiro em si. A série de
Harry Potter, por exemplo, no cinema, tinha que ser mágica. Dar vida aos personagens,
colorido, efeitos especiais, especialíssimos, como se sabe e era essa a tarefa dos cineastas, atores, técnicos. Os recursos de tecnologia moderna que o cinema conquistou, aliados ao talento dos atores e diretores é uma nova faceta própria do cinema e que faz sucesso, na atualidade. Scorcese, por exemplo,
utilizou,com sucesso de crítica e pública, câmeras fusion para produzir aquele que é considerado o primeiro filme verdadeiramente em 3 D, A Invenção de Hugo Cabret. Bem, ontem vi com atraso, certamente, o filme nacional Cilada.com, uma adaptação do seriado de
Bruno Mazzeo, o talentoso filho de Chico Anísio e que começou num canal fechado
(Multishow) e virou, durante certo tempo, uma atração do Fantástico de domingo
na Globo. A comédia recheada de clichês e de obviedades, consegue funcionar, no
meu modo de ver. Tem aquela piadinha velha (meio veado é o que dá meia bunda?),
ou aquela cena em que “as aparências enganam” (a sombra da mocinha nua puxando
a cinta do rapaz a sugerir membro enorme e viril e que muitas vezes foi usada
pelo cinema nacional e estrangeiro). O roteiro também é manjado: A mocinha,
Fernanda (Fernanda Paes Leme) termina o namoro com Bruno (Bruno Mazzeo), depois
de um escândalo público em que ele é flagrado transando com uma moça num
casamento. Para se vingar do namorado, a jovem posta no Youtube um vídeo em que
ela aparece transando com ele rapidamente, porque o rapaz goza em poucos
segundos (cerca de 6) e a deixa na mão. O vídeo faz sucesso e o rapaz é motivo
de chacota nas redes sociais, no teatro
e até em programa de TV. Procurando mudar a imagem, Bruno contrata um
fotógrafo, Marconha (excelente atuação do comediante, Sérgio Loroza) para que
faça um vídeo de uma transa inteira e prolongada que ele deverá ter com alguém.
E por aí vai. Bruno e Loroza seguram tranquilamente o filme, prendendo a
atenção do espectador. O roteiro é de
Bruno e Rosane Ferrão. A direção do longa de José Alvarenga Junior. Não é uma
excelente comédia. A imprensa, de uma maneira geral, não gostou. O público sim.
Foram mais de 3 milhões de espectadores no ano de 2.011, para um orçamento
estimado de R$5.500.000,00 (cinco milhões e quinhentos mil reais). Um sucesso,
sem dúvida. Como primeira incursão de Bruno pelas veredas do cinema, é
aceitável. A linguagem do sitcom Cilada
é mais original, inteligente e sutil.
Mas apesar das obviedades, como salientei, me diverti bastante. Vale
conferir!
Bom domingo amigos.
P.S. (1) Há uma velha
comédia italiana de Benigni chamada “O Monstro” que se você puder assista, pois
é hilariante e divertida e que tem como fio condutor, as interpretações das
atitudes de Benigni, confundido com um perigoso bandido, e o que as aparências dessas condutas supõem que ele
esteja realmente fazendo;
P.S. (2) Há uma
tendência das comédias americanas em explorar aquela cena batida, em que por razões várias, o protagonista é
agente ou vítima do resultado de um orgasmo. A cilada.com usou também esse expediente de mau gosto, quando
focaliza Bruno numa reunião de homens em clínica de reabilitação de ejaculação
precoce. Aquela meleca toda na cara dos outros podia bem ser dispensada.
P.S. (3) A autora dos
sete livros que compõe a série Harry Potter na literatura, a inglesa J.K.
Rowling, tornou-se a escritora mais rica do mundo, graças ao sucesso de venda
desses livros. A série vendeu, em todo o mundo, nada menos do que 1 (um) bilhão
de exemplares;
P.S. (4) Rowling esteve
acompanhando diretamente as adaptações da série para o cinema. Os quatro
primeiros filmes tiveram como roteirista, Steve Kloves, com sua assistência.
Foi ele chamado também de volta para o sexto filme. No quinto, o roteiro ficou
por conta de Michael Goldenberg. Em todos os casos, o exigente acompanhamento da escritora não
afastou a liberdade conferida aos roteiristas, em função da necessidade de
adaptação da aventura para a tela, do tempo limitado do cinema e das imagens e efeitos
que deveriam ser produzidos no telão.
P.S. (5) A imagem da
coluna de hoje foi emprestada do site culture-se.com.
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