Boa noite amigos,
Depois de nove longos
anos, a maior roqueira brasileira, volta a lançar um CD de músicas inéditas,
todas de sua autoria, algumas em parceria com seu músico, marido e cúmplice,
Roberto de Carvalho. A realização da Biscoito Fino, que já virou sinônimo de
qualidade, tem na direção geral, Kati Almeida Braga e na Direção Artística a
ótima Olivia Hime. Rita põe voz, vocais, apitos e toca percussão em algumas faixas. Em
BAMBOOGIEWOOGIE (faixa n. 13) toca flautas também. Roberto participa de tudo
tocando guitarra, solo, violões, teclados, baixo, loops e programações
eletrônicas. Há ainda a colaboração de músicos como Beto Lee (guitarra,solo e
vocais) em GOROROBA (faixa n. 12) , Sérginho Carvalho (baixo) e João Parahyba
(bateria e bongo), em faixas como RAPAZ (faixa n. 9) e da vocal Debora Reis. Efeitos
de Guitarra e voz em BIXO GRILO ficaram a cargo do Apollo 9.O CD faz parte do
show que Rita levou recentemente para todo o Brasil “REZA”, quando anunciou sua decisão de
encerrar a carreira, pelo menos a de realizar apresentações públicas. A “música
de trabalho” como é chamada nos meios a composição eleita para carregar
comercialmente o disco, tem o mesmo nome do CD e do Show: “REZA” e já é sucesso
em todo o país, especialmente por ter sido incluída na trilha sonora da novela “Avenida
Brasil", que a TV Globo exibe atualmente no horário
nobre das 21,00 horas. É música-tema de CADINHO, um Don Juan moderno, tentando
viver simultaneamente com três mulheres bonitas (as atrizes, Carolina Ferraz,
Débora Block e Camila Morgado), papel desempenhado pelo bom ator Alexandre
Borges. De maneira geral, Rita, uma sessentona “prafrentex” não parece entusiasmada
com a terceira idade e fala um pouco desse final de estrada e ausência de expectativa
(Divagando, devagar, quase parando de pensar...../ Quanto tempo ainda tenho no
mundo?/ Eons?/ Milênios?/ Milésimos de Segundo? – DIVAGANDO); de sua suposta
mudança: (Parei de fumar/Parei de Jogar/Parei de Ser Aquele ser Cafajeste/
Aquela peste?.... Nem banho tomo mais/Dinheiro tanto Faz/A cabeça está um
jazz/Eu vivo pelos cantos feito bicho/Eu tô um lixo.. em TÔ UM LIXO. O baixo astral continua na faixa VIDINHA
(Vidinha besta/Vidinha furreca/Vidinha Chinfrim/Ô vidinha de merda). Agora reclama dos homens, em AS LOUCAS (Eles amam as loucas/Mas se Casam com Outras). Mas
entre “Bandas e Bundas do meu Mundo Real” confessa que continua “Bicho Grilo
sim”(BIXO GRILO). Porém, o astral levanta, e muito, em BAGDÁ, composição em que
Rita, com boa dose de humor e alegria, ao som de música árabe, mistura coisas
daqui e de lá (Sadam Hussein pra Lá/ Aiatolá pra Cá/Taboule/Esfiha/Kibe/Humus/Vatapá)
e ao som de palmas solta o animado refrão (Eu Vou Fazer Amor/Num Tapete Voador). Outra faixa alto astral está em TUTTI FUDITTI, uma engraçada paródia de personagens, costumes e expressões italianas tradicionais (Siamo Tutti Fuditti/Maledetto Mondo Cane/
Voglio Mangiare Dinamite/Con Mortadela, Vino e Pane.... Humberto Eco Eco Eco/Alegro,
Alegro, Ma non Treppo/. A Música de Rita não é apenas para se ouvir, mas convida a refletir, às vezes, e a cantar e dançar, sempre. Nessa sua fase
nada de extraordinário. Nem grandes e marcantes músicas como Desculpe o Auê,
Lança Perfume, Ovelha Negra, Banho de
Espuma, Baila Comigo, Doce Vampiro, Mania de Você, Chega Mais, Fruto Proibido,
Pagu, Agora Só Falta Você, Flagra, Alô, Alô Marciano (naquela inesquecível, debochada e marcante interpretação
de Elis) e mais recentemente Amor e Sexo. Rita Lee é monstro sagrado que merece respeito pelo conjunto de sua importante obra. A sua trajetória revela desde cedo uma menina sardenta que largou a família tradicional e os conceitos de uma rígida educação ministrada em colégio de freiras, para integrar o conjunto musical Os Mutantes, na década de 60 e aparecer no movimento tropicalista. Uma paulistana tradicional metida com os baianos malucos, acompanhando e batendo pratos num dos famosos Festivais da Record, no arranjo original do maestro Rogério Duprat, para o ousado Domingo no Parque, composição de Gil que ficou em segundo lugar. Depois, carreira solo brilhante que assumiu caminhos diversos dos baianos e se fixou no pop e no rock nacional, gênero do qual é, sem dúvida, a mais brilhante representante no país. Fez da sua música uma crítica da sociedade de costumes e consumo. É sem dúvida, se permitem a comparação, um Oscar Wilde da música brasileira. Foi surpreendendo, nos anos contados de sua progressiva carreira, como no vatícinio de Caetano que, em Sampa, a grande homenagem que faz a São Paulo, revela:.... "Ainda para mim não havia Rita Lee. Na sua mais completa tradução." Por isso, com profundo respeito a essa grande trajetória e a importância de sua obra, ouso dizer que se o CD não deslustra a
vasta e importante discografia da roqueira, também se pode considerar que não apresenta relevância em termos de novidade ou qualidade. A conferir, contudo. Até amanhã, amigos.
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