Caros amigos,
Cinebiografias estão na moda e os cineastas mais badalados não estão perdendo tempo. Investem – às vezes com orçamentos apetitosos
– no gênero, que devassa a intimidade de famosos, alguns
ainda vivos, apostando no sucesso de um público curioso para conhecer a vida
pública e privada das celebridades. Mas ao contrário do que acontecia no
passado, atualmente esse gênero cinematográfico está mais propenso a traçar
apenas um recorte na biografia da personalidade, realçando, em certos casos, a sua
vinculação com determinado fato histórico, como acontece com o recente e
bom Lincoln de Spielberg, ora delimitando o enfoque a um certo período da vida da
personalidade, como em A Dama de Ferro (mais uma incrível interpretação da versátil Maryl Streep),
em que o intuito parece ter sido o de estabelecer um proposital contraste
entre a importância política da
ex-primeira ministra da Inglaterra, Margareth
Tatcher, com a singeleza e o ostracismo de sua vida atual, marcada por um triste
cotidiano no qual alterna o corriqueiro, com a avançada doença que atinge
impiedosamente a sua memória. Bem, assim também acontece em Hitichcock (2.012), em que a ênfase toda é dada
para o episódio em que o chamado Mestre
do Suspense e do Terror decide apostar todas as fichas, na adaptação, para o
cinema, de uma obra literária, daí surgindo o que considero o seu melhor filme: Psicose, de 1.960, pelo qual foi ele
indicado para o Oscar de Melhor Diretor, em 1.961. O filme revela as
dificuldades que enfrentou para encontrar um produtor disposto a investir e
apostar no sucesso da obra e a decisão de hipotecar a própria casa, com todo o
risco que o investimento implicava, para poder rodar o longa metragem, decisão
essa que contou com a compreensão e o
aval da mulher, a editora e roteirista Alma Reville. A preocupação do diretor Sacha Gervase foi exatamente o de fixar
a biografia naquele momento da vida de Alfred,
e todos os bastidores do que aconteceu, desde a
rejeição geral que encontrou, o início das filmagens, a escolha do
elenco e especialmente a sua intervenção direta na cena mais chocante do filme,
e que se tornou famosa: a do assassinato de Marion Crane pelo maníaco Norman
Bates (vídeo do You Tube no final da coluna) . Se o centro da obra foi sem
dúvida os bastidores do filme Psicose, na periferia da história está
o curioso relacionamento do diretor Hitichcock com a mulher Alma
Reville, uma escritora e roterista de
grande talento e que contribuiu muito para a completude das obras
do marido, embora permanecesse na obscuridade. Vá ao cinema se você conhece e
admira a obra do diretor; se de certa forma, como eu, participou do sucesso de
seus filmes, ou se Psicose fez parte
de seu imaginário em qualquer época da sua vida. Se você não conhece o diretor,
se não se interessa pela sua obra, se não gosta do gênero, enfim se nada disso
lhe importa, aí o filme, para você,
será irrelevante.
Até amanhã amigos.
P.S (1) A filmografia completa do
diretor considerado Mestre do Suspense é composta de 31 filmes, o primeiro de
1.925 e o último de 1.976, quatro anos antes de sua morte. São eles:
1) TRAMA MACABRA (1976); 2)FRENESI (1.972); 3) TOPÁZIO (1.969); 4) CORTINA
RASGADA (1.966); 5) MARNIE, CONFISSÕES DE UMA LADRA (1.964); 6) OS PÁSSAROS (1.963);7) PSICOSE (1.960); 8)
INTRIGA INTERNACIONAL (1.959); 9) UM CORPO QUE CAI (1.958); 10) O HOMEM ERRADO
(1.957); 9) O HOMEM QUE SABIA DEMAIS (1.956); 10) LADRÃO DE CASACA (1.955); 11)
DISQUE M. PARA MATAR (1.954); 12) PACTO SINISTRO(1.951); 13) PAVOR NOS
BASTIDORES (1.950); 14) SOB O SIGNO DE CAPRICÓRNIO (1.949); 15) FESTIM
DIABÓLICO (1.948); 16) INTERLÚDIO (1.946); 17) QUANDO FALA O CORAÇÃO (1.945);
18) A SOMBRA DE UMA DÚVIDA (1.943); 19) SABOTADOR (1.942); 20) SR. E SRA. SMITH
– UM CASAL DO BARULHO (1.941); 21) SUSPEITA (1.941); 22) CORRESPONDENTE
ESTRANGEIRO (1.940); 23) REBECCA, A MULHER INESQUECÍVEL (1.940); 24) A DAMA
OCULTA (1.938); 25) SABOTAGEM (1.936); 26) OS 39 DEGRAUS (1.935); 27) O HOMEM
QUE SABIA DEMAIS (1.934); 28) RICOS E ESTRANHOS (1.932); 29) CHANTAGEM E
CONFISSÃO (1.929); 30) O RINGUE (1.927); 31) THE PLEASURE GARDEN (1.925).
P.S. (2) Hitichcock marcou um estilo próprio, fundado nas inovações que
introduziu nos movimentos das câmeras, em edições mais elaboradas e, especialmente,
nas trilhas sonoras destinadas sempre a realçar os efeitos do suspense. A
sua cena de suspense mais famosa (a do assassinato da personagem Marion (Janeth Leigh) pelo maníaco Norman
(Anthony Perkins), em Psicose é
exemplo típico da valorização do suspense com a utilização de sons que acompanham a evolução da tragédia e marcam o episódio na memória do espectador.
P.S. (3) O diretor, editor e
roteirista foi indicado para o Oscar na categoria de diretor cinco vezes. Em 1941, por Rebecca; em 1.945, por Lifeboat;
em 1.946, por Spelbourne; em 1.955 por Rear Window; e em 1.961, por Psicose.
Não ganhou nenhuma vez. Mas em 1.968, foi contemplado pela academia com o Prêmio
Irving Thaliberg pelo conjunto da obra (carreira completa). Com esse
reconhecimento a Academia se redimiu do erro de nunca tê-lo premiado
individualmente, a despeito da originalidade e qualidade de seus filmes.
P.S. (4) Recentemente, o filme Um Corpo Que Cai foi considerado o melhor filme de todos os
tempos. Por certo um exagero. Lembro-me
naquela ocasião que me encantei com a atriz que fazia o personagem principal, a
bela loira, Kim Novak;
P.S. (5) A imagem que abre a coluna
de hoje é do ator Anthony Hopkins, na pele do Mestre Hitichcock e foi emprestada
do site www.businessinsider.com;
P.S. (6) Cinema faz parte da cultura geral
exigida de candidatos a concursos públicos. Em recente concurso para fiscal
estadual, uma das questões indagava do candidato qual foi o filme brasileiro de
maior bilheteria em todos os tempos;
P.S. (7) Janeth Leigh e Toni Curtis nos anos 60 formavam um casal exemplar. Todos os holofotes de Hollywood e do mundo do cinema
estavam voltados para eles. O casal
perfeito. O casal 20. A paixão parecia eterna. Nunca mais me esqueci de um comentário feito
por uma dessas revistas de cinema (Cinelândia, se não me engano), que
reproduzia uma suposta manifestação da atriz em que ela dizia: Toni, por favor, nunca me deixe. Em seguida, vinha a nota do editor especulativa: Como se pudesse! Suspiros
para os leitores, fãs e admiradores. Anos depois o casal se separou. Como
tantos outros, em Hollywood, nesse mundo mágico do cinema em que quase tudo é
provisório ou de mentirinha, mas serve para povoar o imaginário;
P.S. (8) O ator Anthony Hopkins que está perfeito no papel de Hitichcock adorou
fazer o personagem e pretende voltar a representá-lo, talvez numa peça de
teatro ou em outro filme. Com a palavra os dramaturgos, diretores e cineastas;
P.S. (9) O filme Psicose teve o modesto
orçamento de 800 mil dólares e rendeu 40 bilhões nas bilheterias. Um sucesso
impressionante.;
P.S. (10) Hitichcock adquiriu os direitos sobre o livro de Robert Bloch por 11 mil dólares.
Comprou toda a edição, retirando o livro de circulação, para que os leitores
não descobrissem o final da trama;
P.S. (11) A atriz Janeth Leigh ganhou o prêmio de melhor atriz coadjuvante
por sua participação no filme, pelo Globo
de Ouro, versão 1.961. O filme foi rodado em branco e preto por
determinação do diretor. Ele argumentou que, se fosse colorido, as cenas seriam
chocantes demais para o público. Não chegou a conhecer, porém, o cinema do futuro, com as cenas de violência coloridas e em 3D.
P.S. (12) O filme foi considerado o 18º melhor de todos os
tempos pelo Instituto Americano de
Cinema;
P.S. (13) O diretor tinha por hábito aparecer, ele
próprio, em seus filmes, geralmente no começo, exibindo a sua enorme barriga e
o seu ar simpático e sinistro para apresentar os seus filmes misteriosos.
Era uma marca registrada de Hitichcock que os fãs adoravam.
P.S. (14) Imagine você num grande descampado olhando para a
natureza e aí vão chegando alguns pássaros. Poético, não? Não para Hitichcock. Esta cena ainda caminha, pois
de repente milhares e milhares de pássaros de todas as espécies surgem do céu e
passam a atacar você. Impressionante. Essa é uma das cenas (imagem do meio da coluna emprestada do site revista.gq.globo.com) marcantes de um de seus filmes: Os Pássaros, que mexem com os nervos dos espectadores.