domingo, 7 de julho de 2013

CAUSO - MERCEDES VELHA


Bom dia amigos,

Neste domingo ensolarado de inverno, vai lá um "causo" que está no meu livro "Causas & Causos" n. II.

"Mercedes Velha.

                                       “Oh Lord, won’t you me a Mercedes Benz? My friends all drive Porsches, I must make amends.”
                                      (Janis Joplin, “Mercedes Benz”)


Essa  história se passa na  década de 60,  num   Tabelionato de Campinas.
A personagem central era uma senhora já com idade avançada e um  mau humor inquebrantável.
Ninguém ousava contar piada ou sorrir demasiadamente perto da distinta.
Dona Mercedes  era famosa naqueles tempos, exatamente por alguns predicados não muito desejáveis e que a afastavam do convívio mais próximo com seus colegas de Cartório: rigor excessivo na apuração do numerário do Cartório, impaciência,  impiedade com os erros dos moleques, inclusive dos pobres guardinhas ou patrulheiros (conforme a origem naqueles tempos),   e esse já propalado mau-humor de fazer inveja ao saudoso Presidente Figueiredo ou ao Murici Ramalho no trato com a imprensa.
Certo dia, grande parte dos funcionários que já tinham, de uma forma ou de outra, sido vítimas de Dona Mercedes, resolveram, na surdina, se vingar da dita cuja.
Dias difíceis,  grana curta, tiveram que fazer uma “vaquinha” para poder bancar a tal sacanagem combinada.
O Joel preparou o texto que deveria ser curto porque iria ser publicado, e cada palavra, cada sílaba,  custava o “olho da cara” no jornal da cidade.
E a publicação haveria de ser feita na edição de domingo, a  mais concorrida, cara e lida do “Correio Popular”.
Aprontado o texto,  restava alguém levar até o jornal, orçar, pagar  e autorizar a publicação.
O João se dispôs a correr o “risco”, isso mesmo, pois podia ser identificado e aí é que o “pau ia comê de verdade”.
Todos tinham feito pacto de absoluto silêncio sobre o assunto, pois ele viria necessariamente à tona.  O Tabelião podia querer saber de quem partira a idéia, quem participara etc. etc. e  o segredo não podia ser revelado, de jeito nenhum.
Mas o jornal podia exigir a identificação do solicitante ou então, a pedido posterior, identificar “o” ou “os” proponentes  do anúncio.
Enfim, a coisa  era braba ou podia ficar.
O João  voltou meio contente, garantindo que não tinha sido  visto por nenhum conhecido do Cartório, nem tinham pedido a identidade dele, apenas o dinheiro e o texto a ser publicado.
A seção era de Classificados,  a sub-seção, de automóveis usados.
O texto: “VENDE-SE UMA MERCEDES VELHA. TRATAR NO TELEFONE 0265  DIRETAMENTE COM A DONA”
O telefone era o do Cartório, atendido diretamente pela distinta.
Publicado o anúncio, na 2ª. feira seguinte choveram os telefonemas:
Um deles dizia:
- É aí que tem uma Mercedes véia pra vender?
Outro:
- Quanto custa a Mercedes véia anunciada?
Aceita trocá a Mercedes véia com um terreno em Hortolândia?
Dizem as más línguas que a velha Mercedes subiu a serra.
Dizem até que mandou muita gente de volta para a  distinta mãe que a pôs no mundo,  ou  tomar naquele lugar utilizado, como regra,  para as necessidades fisiológicas.
Descoberta a sacanagem  a velha exigiu do Tabelião providências.
Mas o pessoal se manteve firme e fiel: um acusou o outro, o outro o terceiro, o terceiro disse que deveria ter sido o quarto, e assim, por diante.
Durante muito tempo,  ao tratar com qualquer funcionário ouvia-se a velha em altos brados,  tentando descobrir a autoria do anúncio:
- Foi você, eu sei que foi você seu safado, isso não vai ficar assim.
E o povo tinha que rir de canto de boca, escondidinho, senão..."


Até amanhã amigos.


P.S. (1) A caricatura da coluna de hoje foi emprestada do site  www.jeffcaricaturas.com.;








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