Bom dia amigos,
Neste domingo ensolarado de inverno, vai lá um "causo" que está no meu livro "Causas & Causos" n. II.
"Mercedes Velha.
“Oh Lord, won’t you me a Mercedes Benz? My
friends all drive Porsches, I must make amends.”
(Janis Joplin, “Mercedes Benz”)
Essa história
se passa na década de 60, num Tabelionato de Campinas.
A personagem central era uma senhora já com idade
avançada e um mau humor inquebrantável.
Ninguém ousava contar piada ou sorrir demasiadamente
perto da distinta.
Dona Mercedes era famosa naqueles tempos, exatamente por alguns
predicados não muito desejáveis e que a afastavam do convívio mais próximo com
seus colegas de Cartório: rigor excessivo na apuração do numerário do Cartório,
impaciência, impiedade com os erros dos
moleques, inclusive dos pobres guardinhas ou patrulheiros (conforme a origem
naqueles tempos), e esse já propalado
mau-humor de fazer inveja ao saudoso Presidente Figueiredo ou ao Murici Ramalho
no trato com a imprensa.
Certo dia, grande parte dos funcionários que já
tinham, de uma forma ou de outra, sido vítimas de Dona Mercedes, resolveram, na
surdina, se vingar da dita cuja.
Dias difíceis, grana
curta, tiveram que fazer uma “vaquinha” para poder bancar a tal sacanagem
combinada.
O Joel preparou o texto que deveria ser curto porque
iria ser publicado, e cada palavra, cada sílaba, custava o “olho da cara” no jornal da cidade.
E a publicação haveria de ser feita na edição de
domingo, a mais concorrida, cara e lida
do “Correio Popular”.
Aprontado o texto, restava alguém levar até o jornal, orçar,
pagar e autorizar a publicação.
O João se dispôs a correr o “risco”, isso mesmo, pois
podia ser identificado e aí é que o “pau ia comê de verdade”.
Todos tinham feito pacto de absoluto silêncio sobre o
assunto, pois ele viria necessariamente à tona.
O Tabelião podia querer saber de quem partira a idéia, quem participara
etc. etc. e o segredo não podia ser
revelado, de jeito nenhum.
Mas o jornal podia exigir a identificação do
solicitante ou então, a pedido posterior, identificar “o” ou “os”
proponentes do anúncio.
Enfim, a coisa
era braba ou podia ficar.
O João voltou
meio contente, garantindo que não tinha sido
visto por nenhum conhecido do Cartório, nem tinham pedido a identidade
dele, apenas o dinheiro e o texto a ser publicado.
A seção era de Classificados, a sub-seção, de automóveis usados.
O texto: “VENDE-SE UMA MERCEDES VELHA. TRATAR NO
TELEFONE 0265 DIRETAMENTE COM A DONA”
O telefone era o do Cartório, atendido diretamente
pela distinta.
Publicado o anúncio, na 2ª. feira seguinte choveram os
telefonemas:
Um deles dizia:
- É aí que tem uma Mercedes véia pra vender?
Outro:
- Quanto custa a Mercedes véia anunciada?
Aceita trocá a Mercedes véia com um terreno em Hortolândia?
Dizem as más línguas que a velha Mercedes subiu a
serra.
Dizem até que mandou muita gente de volta para a distinta mãe que a pôs no mundo, ou
tomar naquele lugar utilizado, como regra, para as necessidades fisiológicas.
Descoberta a sacanagem
a velha exigiu do Tabelião providências.
Mas o pessoal se manteve firme e fiel: um acusou o
outro, o outro o terceiro, o terceiro disse que deveria ter sido o quarto, e
assim, por diante.
Durante muito tempo, ao tratar com qualquer funcionário ouvia-se a
velha em altos brados, tentando
descobrir a autoria do anúncio:
- Foi você, eu sei que foi você seu safado, isso não
vai ficar assim.
E o povo tinha que rir de canto de boca, escondidinho,
senão..."
Até amanhã amigos.
P.S. (1) A caricatura da coluna de hoje foi emprestada do site www.jeffcaricaturas.com.;
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