domingo, 28 de julho de 2013

TV - AMOR À VIDA - CARRASCO E A SÍNDROME DE SALVE JORGE

Boa noite amigos,

O consagrado autor de telenovelas, Walcyr Carrasco, de sucessos como Chocolate com Pimenta, O Cravo e a Rosa, Xica da Silva, Alma Gêmea e Morde & Assopra,  tinha e tem tudo para emplacar com a atual novela do horário nobre da TV Globo, Amor à Vida. Com uma proposta supostamente nova e mais envolvente, com roteiro, situações e personagens pendendo mais para a realidade, tudo indicava que a novela redimiria a emissora das críticas sofridas com a antecessora, da não menos competente autora Glória Perez.  Nos últimos capítulos, porém, parece que a síndrome de Salve Jorge ataca de novo, arrastando a trama mais para o lado do fantástico ficcional, do que para o da realidade com concessão poética. Cenas anteriores como a da dedicada esposa e mãe, mulher de bom caráter,  Pilar (Suzana Vieira), oferecendo dinheiro para Bruno (Malvino Salvador),  com o objetivo de solucionar a questão da guarda de Paulinha (Klara Castanho), visando proteger a estabilidade emocional da filha postiça, Paloma (Paola Oliveira) e a situação econômica do hospital do marido, Cesar (Antonio Fagundes) pareciam sinalizar  mesmo para a propalada redenção e mudança de rumo na linha da dramaturgia da emissora. O vilão  da história, o invejoso e sem caráter, Felix Khouri (Mateus Solano),  aparece também  na pele de um homossexual, num indicativo de  que o autor não se  preocupou em criar sobre o politicamente correto, nem  com eventuais acusações idiotas e exageradas de homofobia ou preconceito. Até então os autores em geral preferiam  mostrar os homossexuais como pessoas sempre boas,  corretas, perseguidas injustamente pela opção sexual etc.   Por outro lado, ao tratar de temas afetos a várias áreas específicas do conhecimento humano, tenho sustentado (e a própria Globo já fez isso muitas vezes), que é indispensável ao autor, consultoria adequada, para não cometer certas heresias. Não se trata apenas de apego exagerado à realidade, mas sim da constatação de que com a penetração das novelas, sobretudo nas classes mais humildes, ao tratar de temas delicados como inseminação artificial, barriga de aluguel, linfomas, guarda de filhos etc.,  a obra de dramaturgia chega ao expectador como uma verdade também de seu mundo, pois ele não é capaz de separar, em temas técnicos e complexos, o que é real e o que é ficcional. A Juíza que apareceu julgando a quem deveria ser concedida a guarda de Paulinha exibe um envelope com o resultado do exame de DNA e depois de afirmar que ele está juntado aos autos (e ele não está), termina com a seguinte e surpreendente frase: “Ante o exposto eu decreto que Paula ...... não é filha de autora, Paloma Khouri”. Escorregadas terríveis perceptíveis mesmo para o leigo: Afinal,   alguém já ouviu Juiz decretar realidade biológica? Tem mais: com dois exames de DNA, um afirmando que Paloma é a mãe, e o outro negando a sua maternidade, fosse este último oficial ou não, como é que se aceita essa contradição e não se faz um terceiro laudo? Por acaso aqueles brilhantes advogados contratados pelo Dr. César e maltratados pelo tal Félix (o que tem gerado a ira de advogados e pessoal do meio jurídico) deixariam que a questão fosse solvida dessa forma, sem  qualquer pretensão de novo exame que pudesse revelar qual dos laudos estaria correto? Ademais, havia um evidência escandalosa de erro  ou falsidade do segundo laudo, porquanto  Paloma doou parte de seu fígado à menina, depois de se constatar inteira compatibilidade que, como se sabe,  sempre é encontrada em parentes, e quase nunca em estranhos. Despeça esses advogados cara Paloma.  Agora a Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), em comunicado que  divulgou na última sexta-feira, afirmou que  o câncer de Nicole (Marina Ruy Barbosa),  revelado como se tratando de um  linfoma de Hodgkins tipo 4, ao contrário do apregoado, é “altamente tratável e curável”.  E que, mesmo nos casos em que é detectado tardiamente, como na trama, o percentual de cura é superior a 80%. Em resumo, mata menos que as patologias comuns, consideradas não letais. Ora,  é inadmissível que o autor, referindo-se a uma doença real e bem definida pela ciência, cometa o desserviço de informar à comunidade dados falsos acerca desse mal. Nesse ponto  a tal licença poética é absurda. Escolhesse então um nome fictício para a doença, sob o pretexto de ser  ela  raríssima e desconhecida, com pouca ou nenhuma literatura. O compromisso maior com a educação real da população deve ser a primeira preocupação da mídia em geral e da TV Globo, em particular, dado os altos índices de Ibope  de sua programação, e das telenovelas, em particular. Não quero ser chato como esse povo que vive pegando  no pé dos autores, não dando o devido desconto de que suas obras são fruto de ficção. Gosto,e muito, de arte  ficcional, em particular quando elas revelam a grande capacidade do autor na utilização do improvável, do absurdo,  do exagerado, como elemento de construção de refinada crítica social e política. Mas aí é outra história. Um dos folhetins mais interessantes que a mesma emissora transmitiu há muitos anos, e que agora, é exibido  num “remake” é Saramandaia, do saudoso Dias Gomes. Na sua fauna humana, há homens que viram lobisomen, que soltam formigas, pelo nariz,  ou o coração pela boca, mulheres gordas que explodem de tanto comer, ou que pegam fogo, pela fogosidade sexual.  É outro papo, porém. No entanto,  quando o autor se propõe a construir trama mais voltada para a realidade, ao que ordinariamente acontece, aquele envolvimento que se acaba tendo com os personagens e as tramas, pelo excelente roteiro e trabalho dos atores,  começa a desaparecer quando, de repente, nessa interatividade, sem mais, nem menos,  surge o elemento improvável. Aí  a gente cai na real de que  é tudo mentira mesmo,  o tesão desaparece, a gente se sente meio palhaço, levanta do sofá e vai ver o que é que tem na geladeira para comer. É ruim hein!

Até amanhã amigos.


P.S. (1)  Senhores autores: Ninguém agüenta mais. Em toda novela, seja das 7, das 8, da Globo, da Record, tem sempre um bendito exame de DNA falsificado. Agora mesmo a mania contagia as novelas das 7 e das 8. Dá pra  virar o disco, como se dizia no passado;

P.S. (2)  Excelente a atuação do grande ator, Mateus Solano, na pele do vilão Felix. Um presente para o ator e também para o telespectador, inclusive pelos textos bem humorados do personagem;

P.S. (3) Dizem que a personagem Nicole (Marina Ruy Barbosa), depois de morrer do tal mal polêmico, vai voltar como fantasma para assombrar a vida do marido Thales (Ricardo Tozzi) e de sua amante, Leila (Fernanda Machado). Se isso é certo, há que se considerar que Carrasco não resiste mesmo e sempre acaba incluindo um tema espírita nas suas novelas;

P.S. (4) A 1a.  imagem da belíssima  Marina Ruy Barbosa foi emprestada de entretenimento.r7.com.,  e a 2a.,  de Walcyr Carrasco de rd1.ig.com.br;




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