Felício era um modesto eletricitário eleito para a Presidência do
Sindicato dos Trabalhadores da categoria. Era magrelo, simpático e, embora
possuísse qualificação na área em que atuava, sua formação era de segundo grau.
Ao tempo em que foi eleito como mandatário máximo da representação sindical da
categoria, eu já era advogado do quadro de funcionários do Sindicato e, como um
dos mais novatos, incumbido de tarefas que se realizavam no interiorzão de São
Paulo. Quando havia congressos ou coisas importantes por aí, em Brasília, Buenos
Aires, Rio de Janeiro eram os advogados mais velhos destacados para a
representação. A mim sobrava os pepinos: audiências nos "confundó do Judas",
viagens desinteressantes, exaustivas e para um fim de mundo qualquer. Um dia sobrou-me acompanhar o Presidente e a
Diretoria em geral para uma Assembleia de Trabalhadores na Ilha Solteira.
Seguimos para lá numa perua Veraneio (lembram-se dela?), e a viagem foi longa (quase 900 quilômetros).
Chegamos, nos instalamos num hotel, tomamos banho e fomos para a tal assembleia
realizada num vasto barracão abarrotado de funcionários das empresas de energia
elétrica. Fiquei ali observando, para dar o apoio logístico pretendido pela
Diretoria. A certa altura, o Felício resolveu ler a resposta que a CPFL tinha
dado a um ofício em que se requisitava certo benefício ao trabalhador. E qual
não foi o nosso espanto quando ao ler certo trecho da missiva, onde constava “É
mister observar que....”, o Felício leu o mister (ér), como Mister (Míster).
Mas, como a plateia, na sua grande maioria, pouco estava se lixando para o teor
do ofício ou os “foras” gramaticais do Felício, a coisa passou assim meio despercebida.
À noite, porém, quando nos reunimos para jantar e tomar algumas cervejinhas, a
pedido dos demais colegas de diretoria, aos quais eu já tinha comunicado o
lapso, indaguei do Felício: - Oi Felício, quem era o tal “Míster” da carta da
Paulista? Um eletricitário inglês? A gozação pegou geral pro lado dele. O Felício não se fez de rogado. Ainda rindo,
resolveu contar uma história para disfarçar. Disse que o seu sonho de juventude
era “papar” uma baiana. Assim meio para saber o que é que a baiana tem. Em
certa época, viajou para a Bahia e finalmente arrumou um programa com uma
cidadã da terra. Foram para um hotel de
curta permanência. Lá chegando se prepararam para o “toma lá, dá cá” e eis que,
quando a mulher tirou a calcinha, tomou
um susto: Ela extraíra todos os pelos
pubianos, mas sobre a vagina deixara um “bigodinho”. Coisa mais estranha! Será,
pensou, que é isso que a baiana tem? Um bigodinho? Seja como for, o tal
bigodinho incomodou tanto o Felício que o distinto brochou.Sem jeito, jurando
que aquilo jamais tinha acontecido antes, pediu desculpas, pagou o programa e foi
embora, envergonhado e frustrado. A nós, confidenciou, finalmente, naquela
noite. - Negada, a coisa ficou brava. Além de brochar fiquei durante muito
tempo sonhando que um português estava querendo fazer sexo oral comigo. Tudo
por causa do bigodinho da baiana.
P.S. (1) A imagem que abre a
coluna hoje é da perua Veraneio na sua versão original e foi emprestada do site
revistaautoesporte.globo.com;
P.S. (2) Nos anos 50, a GM criou
a perua Amazonas, com três portas laterais (isso mesmo, 3, uma do lado esquerdo, duas do lado direito e oito lugares). Em 1.964, surgiu a sua sucessora, a
perua Veraneio (C-1416), com quatro faróis redondos, quatro portas laterais,
amplo espaço interno, oito lugares, suspensão independente na dianteira e
câmbio sincronizado;
P.S. (3) A Veraneio continuou a
ser produzida, vendida e utilizada até o final da década de 80, com ligeiras
alterações (adoção de apenas 2 faróis redondos, ao invés de 4, e na parte mecânica o
uso de motores 6 cilindros do Opala e diesel da D-10). Nos primeiros anos da
década de 90, virou uma picape D-20, transformada em Brasinca. Desapareceu em
1.994, mas deixou saudades;
P.S. (4) A Veraneio foi batizada
com esse nome porque se pretendia vincular o veículo a férias, passeios, lazer
em geral. No entanto, sua trajetória foi diferente: converteu-se em viatura
policial justamente na época mais aguda da ditadura, e também em perua escolar
e ambulância nos anos 70 e 80. Espaçosa, mas concebida para o conforto, em
detrimento da estabilidade e segurança, os policiais, dizem, precisavam de
muita habilidade para equilibrar os
carros nas corridas atrás da bandidagem. O designer Eduardo Oliveira, por tudo
isso, resolveu criar uma versão moderna para a saudosa perua. É o que você vê
na imagem do meio da coluna;
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