sábado, 22 de junho de 2013

DALCIO


Bom dia amigos,



Ri muito na manhã deste sábado, quando acordei  e, como de costume, peguei o meu “Correio Popular” para dar uma espiada nas notícias e na charge do dia. 


A CHARGE DE HOJE DO DALCIO.

Não há na ilustração  qualquer desenho  ou símbolo que lembre o movimento,  mas a gente imagina, claro, que ele está no meio da multidão, munido de arco e flecha,  nas manifestações que tomam o país no momento, cada qual exibindo seu traje ou fantasia particular, expondo sua mensagem em cartazes coloridos. O arco é um arco-íris.  A flecha, uma injeção preparada para o alvo. O portador é o  deputado Feliciano, identificado pelo talento do caricaturista,  mandando o seu recado, como bom político. O alvo: os homossexuais que agora podem e devem ser tratados, visando a almejada conversão para heteros.  É a propalada  “cura gay”, mais uma das curiosas produções da Comissão dos Direitos Humanos da Câmara dos Deputados,   presidida pelo polêmico e folclórico  pastor, eleito  e sustentado pela bancada evangélica. Dá-lhe, Dalcio! Brilhante. Você é demais.

O TALENTO DE DALCIO.

Ele não é propriamente um humorista, mas, em regra, faz humor; não é um literato, mas sua arte instantânea é capaz de produzir no leitor ou espectador um roteiro inteiro,  contar ou lembrar de gente, fatos ou história e suscitar questionamentos, perfis ou perspectivas dessas mesmas pessoas ou fatos; não é desenhista, mas suas ilustrações, suas vinhetas, seus traços, hão  de necessariamente lembrar pessoas, coisas ou fatos do cotidiano. Bem, quem é esse profissional? É o chargista ou caricaturista. Vou falar de um em especial hoje: Dalcio Machado, ou simplesmente, Dalcio. Não o conheço pessoalmente. Vejo os seus desenhos. Aprecio a sua arte e a sua competência na produção das charges que, à exceção de um dia de folga por semana (já que ninguém é de ferro e a legislação trabalhista tem que ser cumprida), as publica na página 2, primeiro caderno do Correio Popular.  Confesso que raramente acho a caricatura um pouco forçada. Não é culpa do profissional, claro, pois assim como Neymar não deixa de ser craque porque não joga bem um ou dois jogos, todo profissional  que deve  produzir, diariamente, uma obra, tem contra si essa indefectível obrigação, que se contrapõe à inspiração (às vezes, rara, eventual, ocasional). Essa é a maldição que acompanha os produtores de arte em qualquer área, quando a produzem para cumprir contratos, para abastecer, com insumos ou para consumo,  um mercado ávido permanentemente por novidades.  E vá explicar que arte não é mercadoria e não pode ser consumida como um bem tradicional que se usa e se descarta, a uma velocidade estonteante,  nesse mundo utilitarista da pós-modernidade. Dalcio é um dos profissionais mais completos do país nessa sua arte peculiar e difícil de dizer muitas coisas sem qualquer palavra e despertar sentimentos em traços de nanquim. 

Até amanhã amigos.

P.S. (1) Dalcio Machado é o seu nome completo, muito embora seja mais conhecido apenas como Dalcio. Nasceu aqui em Campinas em 10 de fevereiro de 1.972 e é ilustrador e chargista. Foi contratado para fazer ilustrações com apenas 16 anos pelo Correio Popular. Ilustrou  livros infantis e já fez trabalhos para diversos órgãos da imprensa, como a Revista Veja,  o Estado de São Paulo e a TV Globo.  É o maior vencedor do Salão de Humor de Piracicaba e foi contemplado, em duas oportunidades, como o melhor caricaturista brasileiro, com o Troféu HQ Mix (em 2.000 e 2.009);

P.S. (2) Fui buscar mais informações sobre Dalcio. Descobri que hoje, apesar da relutância de outrora, por força de uma confessada timidez, Dalcio já está na rede. Visite, como visitei a sua página no fotoblog http://dalciomachado.blogspot.com.  Ele está também publicando no Facebook;

P.S. (3) Djota Carvalho, profissional e amigo de Dalcio, revela muito sobre a biografia, a arte e a personalidade  do artista, para quem quer conhecê-lo melhor. Visite www.mundohq.com.br e fique sabendo.  No acesso que fiz,  soube, por exemplo, que  Dalcio, como se suspeitava, é um artista multifacetado. Chargista, cartunista, caricaturista, ilustrador e agora também pintor (embora não exponha as suas telas) e, ainda,  compositor de samba e sertanejo;

P.S. (4) Quem é Dalcio, segundo Dalcio: “É um cara pacato pra caramba, pacatão.  Eu até queria ser um cara mais extrovertido. Mas eu consigo quebrar isso através do meu desenho. Ele é uma forma de exorcizar esta timidez. Através do desenho eu posso assumir a forma que eu quiser. Nele eu falo de coisas muito engraçadas, irônicas, mas como pessoa sou um cara “na minha”, no meu canto. É o desenho que vai para todos os cantos, que passa as minhas idéias. É o meu “boy”.  Agora Meu P.S: “Caro Dalcio essa é uma característica comum dos grandes artistas empreenderem as suas viagens.  O corpo fica ali, tímido e medroso de voar pelo mundo, mas a sua arte, a sua produção, o seu espírito,  que nada temem,  viajam por ele,  levando o seu recado de alegria ou tristeza, lamento, advertência, sabe-se mais o que,  para os quatro cantos do mundo. É como adverte a canção do saudoso Ataulfo Alves, cujas primeiras estrofes diz assim:  /Leva meu samba/ meu mensageiro/ esse recado/ para o meu amor primeiro/ Vá dizer que ela é a razão dos meus ais/ não, não posso mais/;

P.S. (5) Nem sempre o chargista faz humor. As vezes revela sua sensibilidade para o fato triste. Fui professor e amigo de Bileo Soares. Quando Bileo, ainda jovem e no exercício de um dos mandatos de vereador da Câmara Municipal de Campinas,faleceu, vítima de um câncer, Dalcio fez uma ilustração muito comovente. No dia seguinte ao óbito, o Correio Popular publicou a charge, na qual aparecia um caixão fechado conduzido por um tucano (o  vereador era do PSDB) e  num dos olhos da ave escorria teimosa, uma  lágrima. Emocionante!

P.S. (5) Parodiando o jornalista Moacyr de Castro. Pregado no Poste:  “Quem tem cú, tem medo.... da Cura Gay”. Outra, extraída de um cartaz de manifestante: “É pelos 0,20,  sim. Eu sou judeu”;

P.S. (6) A imagem da coluna de hoje é do cartunista Dalcio no seu atelier de trabalho e foi emprestada do site www.mundohq.com.br.














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