sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

UM CONTO: PRESENÇA DE ANITA.

 

Boa tarde amigos.


O funcionário que limpava o banheiro parou para olhar a cor amarelada dos meus olhos e das minhas lágrimas,  que ficaram marcadas no papel-toalha disponível, com o qual os enxuguei. Absorto, deve ter pensado com seus botões: “que raio é isso?” De soslaio, percebi a estranheza do rapaz e quis sacanear. Há menos de quinze minutos deixara o consultório do meu amigo Cleso, oftalmologista, que durante a consulta de rotina utilizara um colírio de cor amarela,  indicado para verificação da pressão ocular e para diagnóstico de lesões do segmento anterior do olho. É estéril e logo o colorido, lavado simplesmente com água, desaparece. Lembrei-me que na semana anterior havia visitado meu gastro, com quem estava em falta por causa do afastamento imposto pela pandemia. Queixei-me de algumas supostas irregularidades no material decorrente de minhas evacuações e ele, além de mandar a secretária preencher a guia do plano de saúde para a minha adiada colenoscopia, que agora eu faria “na marra”, como deixou claro, com o seu silêncio revelador, me mandou tomar, por três dias, um vermífugo chamado Anitta. Os comprimidos têm a cor amarelada pela utilização, na fórmula do medicamento,  de elementos com essa coloração e, por isso,  durante o uso pelo paciente,  a urina apresenta-se fortemente amarelada ou num amarelo-esverdeado.  A cor volta ao normal após a cessação do uso. Voltando àquele cenário do banheiro fiz de conta que ignorava  a curiosidade do jovem faxineiro. Entrei num dos mictórios e urinei. A urina, ah, saiu bem amarela, como acontecera naqueles dias. Não dei descarga, de propósito. Logo que deixei o mictório, o moço entrou para limpar e deu de cara com aquela urina que, como as lágrimas que saíram dos meus olhos e mancharam o papel-toalha, era intensamente amarela. Voltei imediatamente e me desculpei pelo fato de não ter dado descarga. O rapaz só observava e não dizia palavra. Mas, à medida em que eu me aproximava ele recuava. Sua feição misturava surpresa, curiosidade e temor de que eu pudesse estar contaminado por alguma doença estranha e letal.  Voltei a ele e disse sorrindo: - Presença de Anitta. Lavei as mãos e saí. Certamente ele não entendeu nada. Pode ter pensado na cantora Anita, mas e daí, que relação havia entre a sensual artista e as lágrimas e urina daquele misterioso senhor? Não, não tinha idade para ter assistido a minissérie que consagrara a atriz Mel Lisboa. E nem poderia imaginar que um remédio para vermes podia se chamar Anitta. Com dois “tes”, ainda.  Mais ou menos na base do  “que teria a ver o cu com as calças?”

Forte abraço amigos e um feliz e iluminado Natal. 

    

 P.S. A imagem da coluna de hoje é da atriz Mel Lisboa, protagonista da minissérie global "Presença de Anita" exibida no ano de 2.001.

 

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

UM MUNDO COM OU SEM QR CODE

 Boa tarde amigos.

Estava cá pensando com os meus botões: os seres humanos, desde o aparecimento do homus sapiens foram divididos em diversas categorias, segundo o critério ou objetivo. Já fomos homens e mulheres; orientais e ocidentais; brancos, negros e amarelos; suseranos e vassalos; livres ou escravos; nobres e plebeus; nacionais e estrangeiros etc. etc. e tal. Atualmente, sinto que o mundo está dividido entre os que têm e os que não têm um tal de QR Code[1].   As publicidades na TV ou de outra mídia convocam a gente para abrir o celular e apontar para esse quadradinho sujinho (o QR code), com a advertência de que depois ele fará   o contato e a leitura bem rapidinho. E aí eu posso gozar de certa suposta vantagem. Digo suposta porque vivemos no mundo das (ou dos, não sei) Fake News e “gente de idade”, como eu e como se dizia no meu tempo, mergulhado na ignorância do revolucionário mundo cibernético e, por isso mesmo, desconfiado de tudo e de todos, como convém aos ignorantes que se julgam espertos, não acredito nem no que vejo, ou no que me dizem. Tive a oportunidade de assistir pela TV, em tempo real, a descida do homem à lua em 20 de junho de 1.969,  com 17 anos de idade. E a minha admiração de jovem se juntava  ao temor do Gilberto Gil que compôs para Elis cantar, o seu Lunik 9. A letra começava com a contagem regressiva para subida do foguete que conquistou a lua e terminava dizendo “... /A mim me resta uma tristeza só/ Talvez não tenha mais luar, para clarear minha canção/ O que será do verso sem luar/ O que será do mar, da flor, do violão?.    E a avó da minha mulher, até a sua morte mais de 30 anos depois, me garantia que aquilo era mentira, era montado, jamais alguém chegaria até a lua. Pois é, atualmente o que me enche as pimbóias é o tal do CR code. Com a pandemia e a mania de não poder tocar em objetos, não temos em grande parte, os menus físicos nos bares e restaurantes.  Só se pode saber o que a “casa” oferece se você estiver munido do celular e conseguir ler no QR code. Eu, se estou sozinho ou com amigos que também não conseguem  viver no mundo desse quadradinho, dessa casinha,  vou no velho truque. Olho para os garçons e vejo qual deles me transmite sinceridade e confiança. Chamo-o delicadamente e vou deitando conversa: - Ô meu amigo eu nunca vim aqui. Não tenho jeito para escolher  o que comer. O que o senhor me recomenda? Coisa do tipo  “prato carro-chefe da casa”. E não dá outra. Sem ler naquela coisa para encontrar o cardápio e tentar adivinhar o que pedir, correndo o risco de me dar mal, garanto ao amigo que sempre me saí bem. E assim vou vivendo e me virando enquanto não substituírem os garçons, de uma vez,  por robôs ou algum expediente que possa dar informação esteriotipada sobre a qualidade da comida da casa. E me obrigar a pedir pelo tal QR Code ou alguma outra coisa que o substitua. Ah, entendi! Por isso que de vez em quando o pessoal lá de casa fala que eu ando meio “fora da casinha”. Será que é por fora do QR Code?

 

P.S. (1) Procurando uma das abotoaduras para usar no casamento do Gabriel Brocchi, me deparei com uma antiga que eu comprei em Orlando, nos Estados Unidos há anos. Até assustei porque elas tinham exatamente o formato e o desenho do QR Code. Vejam as imagens que fotografei para a coluna de hoje.  Visionários os criadores, não?

 



[1][1] Segundo o Google, “O QR Code ou Código QR é uma espécie de gráfico em 2D (dimensões), geralmente apresentado em formato quadrado e com as cores preta e branca. A tradução das letras significa Quick Response, ou seja, resposta rápida. Essas “caixinhas” podem ser escaneadas por meio de tecnologias móveis.”

domingo, 24 de outubro de 2021

SERÁ?

 

   Boa noite amigos,


Os parcos fios de cabelos ainda negros, por teimosia do destino ou raça ruim, como diria a minha avó, totalmente revoltos e amassados pelos atritos constantes com o travesseiro, em várias direções, durante as tertúlias e embates que povoam os meus pesadelos das madrugadas, surgem todas as manhãs no meu espelho, no qual confiro sistematicamente os estragos do dia anterior e do tempo sobre a minha pele. Há tempos que apesar do desalinho absoluto desses ralos fios, que se embaraçam sem lógica, nem direção, no alto da cabeça, surge o desenho claro de um ponto de interrogação (a conferir nas imagens desta postagem).  Uma interrogação que já ganhou uma incrível autonomia em relação ao resto de mim e um significado que ainda estou procurando. Estaria ele a me indagar acerca de quem sou realmente? Estaria a me  lembrar que a minha vida, a partir daquela manhã, como em todas as manhãs que se avizinham,  anunciam mais um dia incerto?  Estaria a ilustrar que a minha e a sua vida estão condenadas à busca de respostas para todas as contingências inevitáveis que nos aguardam para o futuro, para as quais não adianta se preparar?  É  “O que será, que será, que todos os avisos não vão evitar....” na alegoria de Milton Nascimento e Chico Buarque? Será  amor? Indagam jovens e velhos em todos os tempos e lugares ao buscar explicação no gesto ou ternura do outro e na busca pela duvidosa existência desse sentimento tão abstrato, quanto polêmico, como fugaz? Fugaz? Será fugaz mesmo? Existe amor eterno? 


 Ah, será que é mentira ou é verdade? Taí, verdade ou mentira que se tornaram relativas e aborrecidas, mais um dilema criado pelas redes sociais, diminuindo a nossa possibilidade de separar o real dos fake news espalhados pelas mídias.  Minha filha logo me comparou com o Nino, personagem principal do seriado infantil “Castelo Rá Tin Bum”, que também trazia um ponto de interrogação formado com fios de seu cabelo. Vasto, diferente do meu. Fui pesquisar a respeito do personagem do ator Cássio Luiz de Souza Scarpin, que eu não conhecia. E imaginei uma certa explicação que viria de um terapeuta: - Se o Nino era um bruxo, que viveu 300 anos e por causa dessa idade não era aceito em escola nenhuma o ponto de interrogação pode significar um certo estranhamento seu com a consciência da velhice e o medo de ser rejeitado. Sei não? Nem arrisco.  E o nosso Bruxo do Cosme Velho, danado, que morreu sem revelar se Capitu traiu Bentinho ou a traição foi apenas uma dúvida, uma mentira, uma suposição falsa que a mente, culpada  por algum motivo, Bentinho enfiou na cabeça?  E assim caminha a minha imaginação sobre o enigma do tal ponto de interrogação do alto da minha cabeça todas as manhãs. Um “Será” cipoal de hipóteses que perpassa todos os dias e as noites, por quaisquer razões ou dúvidas, relevantes ou não, assim como todas as outras que trazemos desde o berço: Será que existe o inferno? Será que o inferno é o outro? Será que existe a reencarnação? Onde será que está agora o meu amigo que sumiu da minha vida? Será que ele volta? Será que é amigo?  Será que mentira? Será que é comédia? Será que é divina, a vida da atriz? Será que é cenário a casa da atriz?  Será Beatriz? Será Edu Lobo?  E será que adianta procurar uma cigana para saber o futuro?  Premonição ou charlatanismo?  Passo a escova bem firme pelo bendito ponto de interrogação. Mas ele insiste em não se desfazer. Apelo para a torneira. Passo sobre ele a mão molhada. Ele resiste. Eu aperto, aperto, aperto até fazê-lo desaparecer molhado e amassado sobre a calvície do meu “cocuruto”. Ritual de vingança e destruição a que o submeto, sádico, todos os dias.  Saio então para a rua. Vou ao café. Será que vou encontrar um amigo, ou uma alma iluminada para contar a história do meu incômodo ponto de interrogação? E será que aquele amigo, sabichão como o julgo, versado em todas as áreas do conhecimento, terá como me explicar o sentido do desenho? Ou a sua falta de sentido, sei lá?  Ah, minha avó, aquela do começo desta reflexão, essa eu posso adivinhar o que ela diria, sem dúvida alguma, se eu me atrevesse a lhe falar a respeito.  Olhando fixamente nos meus olhos,  de forma grave e objetiva, responderia com outra pergunta: - Escuta, você não tem o que fazer? Vai trabalhar, porra!

 Boa noite amigos.

P.S.(1) A primeira imagem compara a minha interrogação com a do personagem Nino do seriado infantil Castelo Ra Tin Bun;

P.S. (2) A segunda imagem simula entre as imagens ponto de interrogação como se usa na língua espanhola.

sábado, 16 de outubro de 2021

MAIS UM DIA DEDICADO AOS PROFESSORES - HOMENAGEM À DONA SUZETE

Boa tarde amigos.


Eu a encontrei anteontem por acaso. O mesmo acaso que me fez reencontrá-la, em duas outras oportunidades distintas, nos últimos cinco anos. Uma na sala de espera de um banco, no Cambuí; outra no restaurante Estação Mogiana; agora, na véspera do dia dos professores,  na padaria do shopping da Riviera de São Lourenço, em Bertioga, zona norte do litoral paulista. A sua expressão jovial,  os seus olhos de um azul brilhante e o  sorriso largo continuam belos e inconfundíveis,  a despeito do longo tempo decorrido desde o ano de 1963 quando, com apenas 24 anos de idade, ela passou a lecionar Geografia no Colégio Estadual Barão de Ataliba Nogueira, no bairro do Taquaral, em Campinas. Extremamente rigorosa, exigia disciplina e aplicação de seus alunos, dentre os quais, euzinho, um menino de 11 anos, miudinho,  tímido e preocupado em atender  as exigências do curso ginasial, sem prejuízo do auxílio que eu e meu irmão deveríamos prestar aos nossos pais, no comércio que nos mantinha.  Numa das aulas, como sempre,  entrou e fez chamada. Em seguida, passou a cobrar dos alunos, carteira por carteira, a entrega de um trabalho de pesquisa que tinha encomendado na aula passada. Eu, doente, acabei me  ausentado da aula anterior  e não fiquei sabendo da tarefa. Em consequência, não a realizei. Conforme ela se aproximava assustado, pensava como iria pretextar pela ausência no cumprimento do dever de casa. Não tive muito tempo, nem imaginação. E havia ainda a questão que eu não gostava de mentir, porque a professora de catecismo garantia que era pecado grave. Quando em pé, na minha frente, ela esticou a mão direita, cobrando o exercício, depositando sobre minha pequena pessoa aqueles arregalados olhos azuis, disse, em tom baixo o suficiente para que meus colegas não ouvissem, que não realizara o realizara porque tinha faltado na aula anterior e “ninguém”, isso mesmo, “ninguém”, tinha me avisado. Ela recolheu as mãos, me olhou fixamente com olhar de reprovação e disparou: - Ah, ninguém avisou o senhor?  E quem é que o senhor pensa que é, o rei da Inglaterra? Todos os colegas obviamente ouviram a bronca; alguns, cruéis, riram para aumentar a minha vergonha.  Limitei-me a pedir desculpas, em meio à promessa de que a ausência do trabalho refletiria na minha nota final. Sonhei durante muito tempo com Dona Suzete me mandando para uma grande fogueira. Ela, vestida de bruxa, em meio a gargalhadas tenebrosas, gritava, enquanto o fogo me consumia: - Você pensa que é o rei da Inglaterra? Vire-se agora. Entendi cedo o recado. Foi a descompostura mais pedagógica que recebi. Ela me ensinou que nada somos nesta vida, que temos que ter humildade, que precisamos correr atrás dos nossos interesses; que ninguém tem o dever de nos comunicar a respeito do que aconteceu ou deixou de acontecer, quando deveríamos estar presentes e não estávamos, por qualquer razão que seja; que não temos o direito de invocar dificuldades de ordem  subjetiva, por mais inevitáveis que sejam, para justificar a ausência no cumprimento de nossas obrigações. O tempo passou. Fiquei surpreso quando soube circunstancialmente que um advogado que eu conhecera era casado com a Dna. Suzete. Isso por volta de 1987, quando eu já era juiz substituto em Campinas. Soube depois que ela ficara viúva, ainda relativamente jovem. O marido contraíra uma doença grave, não sei bem se era um câncer, e rapidamente falecera.  Nunca mais reencontrei Dona Suzete até cerca de cinco anos  num banco da Rua Coronel Quirino. Logo a reconheci; ela, obviamente não. Mas se mostrou muito alegre em reencontrar um ex-aluno. Contei a ela  do episódio que me marcara para toda a vida. Ela ouviu, meteu as mãos sobre os olhos fechados,  num gesto próprio de quem está envergonhado. E justificou, pedindo desculpas pela grosseria,  garantindo que a sua intolerância  naqueles tempos tinha ficado para trás e devia ser debitada à conta de sua juventude. Com a maturidade, porém, havia se tornado uma pessoa mais flexível e mais doce. Realmente, era possível sentir essa doçura quando  falou dos filhos e dos netos; do marido que cedo se foi, deixando-a com os filhos, ainda não criados; dos colegas de docência e da vida em geral. Voltei a reencontrá-la no Estação Mogiana, uma churrascaria muito concorrida da cidade de Campinas. Estava com a irmã e pouco pudemos conversar. Anteontem ela estava sozinha e eu lhe apresentei minha mulher, minha filha, meu genro e meu netinho Rafael, de 9 anos. Ele ficou curioso ouvindo a nossa conversa e  lhe contei que ela tinha sido minha professora quando eu tinha 11 anos e me deu uma bronca, porque não fiz um exercício. Ele sorriu para ela e olhou para mim com olhos de censura. Rimos muito. Aos 82 anos de idade, Dona Suzete é uma lenda para mim. Saiu dali sorrindo, agradecendo a vida, a vacinação, a possibilidade de retorno aos encontros, mesmo com máscara e da viagem para a praia, onde se encontra acolhida em casa de uma irmã, aproveitando, como enfatizou, “para cozinhar para todo mundo”, uma paixão que adquirira há não muitos anos. De minha parte já não tenho mais os terríveis pesadelos da juventude com a bela professora de Geografia me punindo com o inferno por não ter realizado um exercício. Nem lamento por não pertencer à família real inglesa. E que ninguém é ninguém e não pode ser culpado de nada, nunca, por nós. Porque o único sujeito ativo determinado nessa sucessão de pronomes como “ninguém”, “nada”, “nunca”, somos “nós”, certo? E que devemos assumir as consequências de nossas ações, omissões e escolhas que fazemos na vida, pelas quais somos os únicos responsáveis. E ir corrigindo, sorrindo, pois é  vida que segue.....

Afetuoso abraço amigos. 

 

 

 

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

AVES DO BRASIL - UMA EXPOSIÇÃO DE GUILHERME COTEGIPE.

 

Amigos boa tarde,


Guilherme Cotegipe Amâncio é um querido amigo desde a nossa adolescência, já perdida na noite dos tempos. A história dessa amizade e de Amâncio, como nós sempre o chamávamos, assim como sua incursão pelas artes plásticas, pode ser lida na postagem de 30 de setembro de 2.013, deste blog, denominada “A arte de Guilherme Cotegipe”. Vale a pena dar uma espiada lá. Guilherme participou, recentemente, on line, de uma Exposição na Noruega, cujo tema foi “The World has stopped and the nature thanks you”  (O Mundo Parou e a Natureza Agradece), em alusão ao afastamento social imposto pela pandemia da Covid-19, expondo suas telas (vide certificado na imagem ao lado). Após essa relevante experiência, montou um projeto educativo artístico e cultural que foi batizado de “Aves do Brasil”, uma exposição que pode ser solicitada por instituições de ensino público e privado, que nas suas palavras tem o “o objetivo de levar aos jovens o conhecimento e a conscientização da importância da preservação ambiental, além de levá-los a conhecer a rica fauna brasileira, especificamente a ornitologia dos diferentes biomas do Brasil.” Os interessados podem fazer contato com o artista pelo celular-Whatsapp (19) 993349941. Na imagem que segue, parte da exposição, o autor mostra quais são as aves-símbolos de cada estado brasileiro. Convoco outro amigo especialista em natureza e, sobretudo, um ornitólogo apaixonado, que se apresenta como passarinhista praticante e juramentado, Rubens Galdino Ferreira da Silva, o Rubinho (Indaiatuba- São Paulo),   a dialogar com o autor,  trocando experiências certamente enriquecedoras para ambos.  Contato pelo telefone (019) 38944543 ou (019) 997444192, Grande Amâncio, grande Rubinho! Abraço apertado a ambos. 



 Até mais amigos.

domingo, 29 de agosto de 2021

TEMPOS MODERNOS: O OUVIR EQUIVOCADO, O USO INADEQUADO E AS REPRODUÇÕES INEXISTENTES NO LÉXICO DA LÍNGUA PORTUGUESA.

 

Boa noite amigos,


Não precisa ser velho, com elevado déficit auditivo para que o nosso cérebro, muitas vezes,  faça a leitura incorreta da audição.   Aquela velha surda, personagem do antigo humorístico televisivo  A Praça da Alegria, do saudoso Manoel da Nóbrega e, depois, de  A Praça é Nossa, de seu herdeiro e filho, Carlos Alberto da Nóbrega, se popularizou e, assim, se tornou um ícone,  em função dessa possibilidade que, como eu disse, não é exclusiva dos deficientes auditivos. E que, em função disso, a nossa memória acabe gravando frases inteiras ou expressões isoladas erroneamente.  Lendo constantemente, por força das minhas carreiras de juiz, advogado e professor de Direito, escritos de advogados, Promotores, clientes e alunos, conservo ainda na retina, um rol de expressões incorretas e engraçadas. Algumas reproduzidas inúmeras vezes, o que comprova a tese de que tanto o certo, quanto o errado, em tempos de redes sociais, se espalham como pólvora. Dezenas de vezes ouvi o registro da expressão “é ponto passivo” no lugar de “é ponto pacífico”[1]:  O estagiário ou advogado que não muito familiarizado com os inventários da vida, pede ao cartorário o “formol de partilha”, em vez de “formal de partilha”. Ouvi dizer (não vi, nem li) que um Juiz do Trabalho Classista, erigido à condição de Desembargador de um Tribunal Trabalhista, lá pela década de 80 do século passado, durante uma sessão pública de julgamento, teria dito que o reclamante não se desincumbira do “ânus da prova” pretendendo, na verdade, referir-se a “ônus da prova”.  Ah, mas li muitas vezes, em tempos de máquinas de escrever, mas também de computadores, a palavra “peido” no lugar de “pedido”, bastando para tal que se tenha engolido o “d” que vem antes do “i”. E olha que “pedido” é um termo constantemente usado na linguagem forense escrita e falada. Se ninguém, na linguagem oral, diz peido quando quer dizer pedido,   pode perfeita e inadvertidamente anotar, em petições não revisadas depois de elaboradas, a expressão, pensando ter anotado “pedido”. Ouvi algumas vezes advogados nervosos, forçados pelo Magistrado (no caso euzinho),  a elaborar suas razões finais orais e  em plena audiência, limitarem-se a pronunciar, a esse título, a seguinte e lacônica frase: “Excelência, o autor reintera a inicial”. Hum, Reintera? (O verbo é reiterar). Infinitas vezes li e ouvi que “o réu reconviu” por “reconveio”, a lei vigiu, ao invés de “viger”, assim como vigindo em lugar de “vigendo”. Orações como “A  polícia deteu o réu”, no lugar de “deteve” e outros equívocos que, se devem ser censurados de todos os que possuem curso superior, dentre os quais engenheiros e médicos, são absolutamente imperdoáveis no Bacharel em Direito, no advogado, no Juiz, no Promotor, no Delegado, os quais têm como instrumento principal do exercício da função, a palavra escrita, a correção da linguagem, a comunicação direta, objetiva,  culta e adequada. Pois é. Há ainda “invenções” que se espalham prodigamente e se lê em petições, arrazoados e Acórdãos  aos montes, como “Inobstante” no lugar de “não obstante”[2] ou “nada obstante”, além da permanente dúvida sobre quando usar “onde”  ou “aonde”[3]. E o que dizer das intermináveis dúvidas sobre o uso da crase. Quanto a esta felizes os ingleses que não precisam se preocupar com acentuação para distinguir palavras homônimas, ditongos ou hiatos e essa tal crase com a qual muitos tem uma verdadeira relação de amor e ódio.[4]

Abraço amigos e bom domingo.



[1]  Por exemplo: “Saiba Vossa Excelência que o réu sempre foi bom pai e bom marido. Isso é ponto passivo...”

[2] O Dr. José Maria Costa, meu colega primeiro colocado no 153º. Concurso de Ingresso na Magistratura do Estado de São Paulo, professor de Língua Portuguesa, oferece completa explicação sobre essa praxe forense no uso do termo “inobstante”, respondendo a uma das indagações no tradicional jornal eletrônico forense “Migalhas”. Conferir se tiver interesse no site https://www.migalhas.com.br/coluna/gramatigalhas/29791/inobstante

[3] Sobre a diferença entre as expressões e quando deve ser utilizada uma e outra cf. excelente artigo em  https://ead.uri.br/blog/aprenda-usar-onde-aonde

[4] Há os que resolvem crasear todos os “as” sejam meros artigos femininos, sejam isoladas preposições ou a junção de ambas. Outros que preferem ignorar completamente a sua existência na língua portuguesa.

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

LITERATURA - CRÔNICA DE BERNARTZ & BERTRAN

 

Boa tarde amigos, 

O mais recente romance de Luiz Carlos Ribeiro Borges, “CRÔNICA de BERNARTZ & BERTRAN”,[1] é uma obra cuidadosamente elaborada, como adverte o autor no prefácio, tecida a partir de duas dentre as suas confessadas paixões: a Provence do sul da França e a obra dos trovadores medievais, que criaram e cantaram as líricas trovas de amor, trazendo poesia, vida e luz à escuridão da Idade Média, marcada pelo teocentrismo e pelas delações, perseguições, condenações sumárias e execuções da Igreja Católica Apostólica Romana[2]Protagonistas reais do romance, com o único traço comum da notoriedade e reconhecimento como grandes trovadores que foram, Bernart de Ventadorn e Bertran de Born, dão título ao livro e têm os seus currículos explorados com apoio nas inúmeras pesquisas e obras consultadas pelo autor. Mas o caráter biográfico da obra fica por aí. A partir da notícia de que ambos os trovadores teriam se recolhido, numa mesma abadia, em Dalon,  por volta do ano de 1.195,  onde o primeiro se tornou monge, o autor supõe razoavelmente que eles teriam se encontrado e, a contar dessa probabilidade e de como teria sido esse relacionamento breve[3], cria o romance, construindo todos os outros personagens fictícios, com os quais os notáveis trovadores  teriam dividido uma convivência, ora harmônica, ora tensa e difícil, às vezes próxima, outras de distanciamento, num  mundo de desconfianças, medo e perseguições, que marcaram o obscurantismo da Idade Média e o desenvolvimento das várias correntes filosóficas então contemporâneas ou anteriores, voltadas para o homem, sua origem e finalidade[4]

 

Os diálogos são primorosos e cada um dos personagens fictícios foi construído e se conduz, no desenvolver do romance, em consonância com as bases da doutrina que professa ou censura, fidelidade que agrega ao romance, além da beleza estética, um apreciável valor pedagógico e histórico no que respeita aos precursores das doutrinas que deram vida às correntes filosóficas suscitadas.

 

Ao leitor é lícito supor que as reflexões a que se permitem os personagens, oriundos que são de mundos e experiência diversos, a par de enriquecedoras, por certo também revelam muito do próprio autor, na busca da compreensão pelo que seja a natureza humana, a finalidade e o destino do homem e, especialmente, as facetas do amor, nas suas diversas manifestações, não o amor platônico apenas, não só o amor divino, não só o amor de pai, de mãe,  mas também, dentro dessa natureza humana animal,  a legitimidade do amor-paixão, breve, arrebatador, real ou onírico e  o sexo perseguido como expressão única de prazer mundano, inevitável, buscado sem culpa ou pecado, como mera expressão hedonista[5].                               

Se o  livro é a viagem de quem perdeu o trem, ou que não tenha recursos para viajar, Borges, na sua desenvoltura para criar e conduzir o leitor pelo romance, vai apresentando os personagens,  inserindo-o  no  cotidiano deles, contando a sua história passada e revelando em que medida agora são  eles reflexos da experiência amealhada, do seu caráter, dos seus temores e conflitos, e bem assim, as suas dúvidas entre dedicar-se ao recolhimento monástico ou retornar à vida secular.


 Não é difícil, assim, compartilhar da loucura de Serapião, dos temores de Quirino, das informações do bibliotecário Isidoro, do monge Honorato, do abade Prudêncio e suas predileções pelos escritos apologéticos dos primeiros anos de Cristianismo e de tantos outros personagens com quem os trovadores se  cruzam no convívio da Abadia.

 

Por fim, viajando no tempo, o romance, até então contado, em primeira pessoa, pelo trovador Bernartz, com suas visões e impressões, vai  encontrar   nosso escritor, inserido no mundo moderno do século 20, transmitindo as suas conquistas e frustrações, num ensaio acerca do tempo, seus efeitos inexoráveis sobre a saúde física e mental, reproduzindo, assim,  os mesmos questionamentos que acompanham o ser humano, desde o aparecimento da sua espécie (o homo sapiens), vida e morte, a religião e seu papel e influência nas sociedades de todos os tempos,  amor e sexo, o sexo sem amor,  as virtudes e os pecados, os valores,  a transcendência e a finalidade do homem.

 

Aqui também, como em obras anteriores, Borges volta a uma de suas   temáticas prediletas: a natureza e o  poder do sexo sobre os homens e seus destinos, o  fascínio pelo enigma da mulher e seu poder de sedução e perdição, aproximando-se,  nesse particular, de  um dos elementos presentes na poesia de Vinicius de Moraes[7].

 

Há também, acredito, um certo fascínio por figuras reputadas marginais, ontem e hoje, que desafiam os costumes e valores sociais e morais, revelando a coragem e a possibilidade de alternativas de vida condicionadas apenas às suas próprias convicções e vontade.

 

A despeito de temas pesados e profundos, Borges consegue dar leveza e seguimento ao romance, sem gerar no leitor um fastidio ou cansaço,  mantendo-o envolvido com os personagens e os acontecimentos e a curiosidade pelo desfecho dos conflitos que essa interação provoca, outro aspecto marcante na obra.

 

Em síntese, uma obra que, adjetivada como ficção, um romance, é muito mais que isso e pode aparecer como indica o catálogo como relativa à poesia Medieval, os Trovadores, ao Trovadorismo, à Filosofia, além da biográfica com relação aos protagonistas, os notáveis trovadores, Bernardt de Venadorn e Bertran de Born.

 

Como todos os outros livros do autor não é obra com apelo popular ou comercial. Mas como disse um dia o escritor Manuel Carlos sobre Elis Regina: “Elis (substituo por Borges) não faz obra para o público; faz público para sua obra”. E se me permite o autor sem qualquer envolvimento da estima que nos une há muitas décadas, peço que me admita, modestamente, como fiel integrante dessa  última categoria.

 

Até mais amigos,



[1] Borges, Luiz Carlos Ribeiro. Crônica de Bernartz e Bertran/Luiz Carlos Ribeiro. – 1ª. Ed. Campinas (SP). Pontes Editores, 2020. 252 p.

[2] “Para suprir essas conversações, tive que empreender uma leitura, tão vasta quanto permitiam as minhas limitações: sobre as ideias teológicas, filosóficas e estéticas que vigoravam naquele final do século 12; a paixão medieval pelos livros e as iluminuras que os ornamentavam; os autores que eram então venerados ou execrados; as escolas de filosofia às margens do conhecimento; as heresias; os fatos históricos, tanto os contemporâneos à ação do romance quanto os pretéritos, assim como aqueles, vindouros, que esses fatos faziam prenunciar (por exemplo, o crescimento da heresia dos cátaros, em constante conflito com a doutrina oficial da Igreja, poderia acarretar um desfecho trágico, como em verdade aconteceu, já no século seguinte, com o extermínio dos adeptos da heresia)” (p. 9).

[3] Leituras e pesquisas, realizadas durante a confecção do romance, viriam a revelar que Bertran realmente se recolheu à abadia de Dalon: o encontro fictício e imaginário entre os dois poetas passou a se revestir de probabilidade histórica. (orelha da contra-capa do livro).

[4]Aparentemente, apenas o abade e o bibliotecário conhecem meu passado de trovador e cortesão. Os demais habitantes da abadia nada sabem de mim, nem se interessam, imersos nos motivo pessoais de sua própria reclusão, a maioria ali tendo vindo para cumprir uma sincera vocação monástica, outros para expiar algum terrível pecado da juventude, para se isolar do mundo exterior e de suas intermináveis guerras e tentações ou simplesmente para esperar a morte.”

[5] “Para minha perplexidade, a visão portentosa de suas carnes brancas, aliada ao gesto cerimonial de verter água sobre si mesma, fez refluir rios que eu reputava secos e estéreis...... Possuído, como que estimulado por algum elixir de bruxas, pensei em atacá-la, arrastá-la para a margem, derrubá-la e me espojar sobre ela. Mas tudo se fazia muito urgente, e não havia tempo para qualquer outro gesto.” (pág. 75).

[7] “Resta essa fidelidade à mulher re ao seu tormento. Esse abandono sem remissão à sua voragem insaciável.”  O HAVER.

terça-feira, 13 de julho de 2021

O QUE ELES DISSERAM - ERRATA DE JAIR BOLSONARO


Amigos, bom dia.

Relembrando o que eles disseram:

“Sigam-me os que forem brasileiros” - Duque de Caxias em 06 de dezembro de 1.868, em solo paraguaio, durante a sangrenta  Batalha de Itororó.

Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico”  - D. Pedro I, em 09 de janeiro de 1.822, em resposta aos brasileiros que pediam a sua permanência no país.

Quem não luta pelos seus direitos, não é digno deles.  Ruy Barbosa.

“Saio da vida para entrar na História” – Getúlio Vargas – 24 de agosto de 1.954 em sua carta-testamento.

“Deus deve amar os homens medíocres. Faz vários deles” – Benjamin Franklin.

“Caguei para a CPI”  - Jair Messias Bolsonaro em entrevista coletiva semana passada.

Perdão. Retificando..... O senhor foi é cagado pelo povo brasileiro no segundo turno das eleições presidenciais de 2.018.  Duro está sendo tentar limpar a bunda.

Até mais amigos.

 

sexta-feira, 9 de julho de 2021

CAUSO - FALA CU BEM ARTO.

                                                      Boa tarde.

O povo do interior de São Paulo, sobretudo os que ainda vivem e convivem na rica zona rural, conserva costumes e valores que a gente das grandes metrópoles há muito abandonou. O respeito aos mais velhos, a separação entre a linguagem que  os homens podem usar entre si e o que é proibido dizer perto das mulheres, novas ou velhas, especialmente o que se convencionava ser “palavrão” ou expressão imoral são princípios absolutos. Pois bem. Esta vem lá das bandas da “Varge”, que é como o pessoal da simpática cidade de Vargem Grande do Sul, próxima da divisa com o sul das Minas Gerais, costuma se referir à terra natal. E com o testemunho do meu querido amigo Dr. Cortez. Certa vez,  pelas bandas de um sítio, a molecada toda brincando e correndo pelo campo aberto, parou para conversar com o tio Zé, parente da maioria deles  e muito querido pela atenção e dedicação que dispensava a meninos e meninas da grande família que lá vivia e trabalhava. Enquanto conversavam, aponta ao longe, e caminha em direção a eles, uma velhinha, tia-avó  dos garotos e que  sempre manifestava exagerado afeto por eles. Estes odiavam  a forma com que ela os apertava nos calorosos abraços e abominavam os seus beijos molhados, cheios da baba vazada das bocas incontroláveis da respeitável dama da terceira idade. Ao avistarem a velhinha a criançada toda correu e tratou de se esconder onde podia. O tio permaneceu lá e não pretendia “dedar” os meninos para a anciã, sempre ávida de amor e baba para distribuir. Ocultos, atrás de um curral, os meninos permaneciam em silêncio absoluto, quando o tio gritou: - Agora podem sair, ela já foi. Como ele gostava de “pregar peças” e zoar a molecada, o Zé duvidou de  sua sinceridade. Mas ele insistiu: - Saiam meninos, ela já foi embora, estou falando. Diante da insistência, mas ainda receoso de estar sendo enganado pelo tio o Zé gritou: - Oi tio, ela saiu mesmo? E o tio: - Foi embora, já falei. E o moleque para se garantir: -- Se ela não tá aí mesmo, então fala “CU” bem arto.

sábado, 12 de junho de 2021

H. L. MENCKEN - LIVRO DOS INSULTOS

 

 

Boa noite amigos,

 

Henry Louis Mencken (1880-1956), um americano de origem judaica,  foi  considerado o precursor do modernismo americano por Edmund Wilson e, sem ele, nos anos 20, o país não estaria, garante o saudoso Paulo Francis, "aplainado para F. Scott Fiztgerald e Ernest Hemingaway". Versátil, quando morreu em 1956, a grande dificuldade da imprensa, segundo Ruy Castro, que traduziu e escreveu o prefácio de sua obra O Livro dos Insultos (Companhia das Letras),  uma seleção de muitos artigos que escreveu para jornais, teria sido escolher uma classificação que melhor o definisse: repórter, crítico, colunista, editor, polemista, escritor, filólogo, humorista. Em verdade ele foi tudo isso com muita autenticidade e talento. Li e reli muitas vezes essa coletânea, composta de artigos diversificados, nos quais sustenta  o  seu pensamento sobre o mundo, a religião, o amor, a vida e a morte, o sentimentalismo e tantos outros temas.  Sobre o Médico e a Medicina Preventiva cutucou:  A medicina preventiva é a corrupção da medicina pela moralidade. É impossível encontrar um médico que nāo avacalhe a sua teoria da saúde com a teoria da virtude. Toda a medicina, de fato, culmina numa exortação ética. Isto resulta num conflito diametral com a ideia da medicina em si. O verdadeiro objetivo da medicina não é tornar o homem virtuoso; é o de protegê-lo e salvá-lo das consequências de seus vícios. O médico não prega o arrependimento; ele oferece a absolvição." Conhecer o seu pensamento, a sua personalidade voltada para a polêmica e a crítica, as suas frases famosas, enfim inebriar-se um pouco  com os ataques de  sua língua afiada e maldita é uma empreitada interessante. E que viva a diversidade em qualquer de suas facetas.

Até mais amigos.

terça-feira, 4 de maio de 2021

UFA! FINAL DO BBB 21


Boa noite amigos.



Nesses tempos bicudos de perdas e carências, em função da pandemia que ainda promete fazer muito estrago por aqui antes de ser derrotado, o assunto mais importante do dia é, acreditem, a final do BBB-21. Esse “reality show”, apesar das 20 anteriores versões e sem novidades no seu formato, parece ter sido eleito “a bola da vez”, o entretenimento que mobiliza adolescentes e adultos, em torno de uma disputa pelo prêmio de um milhão e meio de reais e de como eles convivem e se comportam reclusos do mundo, bem alimentados pelos patrocinadores e absolutamente ociosos, em dias e meses seguidos, entre risos e choros, festas e bebidas, crises e estratégias para fugir do paredão, ganhar a simpatia do público, obter lideranças etc.etc. e outras bobagens que nada acrescentam de positivo à educação dos nossos jovens, ainda em processo de formação do caráter e personalidade. De vez em quando, surge, aqui e acolá, uma discussão envolvendo preconceitos sociais e necessidade de respeito à dignidade de toda pessoa humana, mas ainda assim de forma absolutamente incidental e sem abordagem adequada e mais profunda de temas que a sociedade deve discutir com profissionais e especialistas, em instituições educacionais e programas sérios e comprometidos com a preservação ou criação de verdadeiros valores de igualdade e justiça social, de que a humanidade em geral tanto carece. Nada contra entretenimentos leves que, em si mesmos, não têm qualquer pretensão de suscitar reflexão, senão mera diversão e alívio, o que é muito na atual situação de sofrimento e isolamento social pelo que passamos todos. O que preocupa é a dimensão que esse jogo de cartas marcadas, direcionados, ora pelos próprios candidatos, ora pela direção do programa, assume na vida cotidiana das pessoas do mundo real. Chego a afirmar que se no passado o sujeito era beneficiado ou preterido pela cor da sua pele, ou pela opção sexual, agora corre o risco de ser julgado (e executado, se for o caso) em função do candidato pelo qual torce no BBB-21. O fato é que, embora me recusando a assistir esse reality, se você ligar a televisão em qualquer horário e programa da TV Globo e suas afiliadas, não há como fugir da maldição de ver infinitas discussões, previsões, críticas positivas e negativas sobre o comportamento desse ou daquele candidato, celebridades falando a respeito e denunciando o seu candidato de preferência, entrevistas de participantes excluídos pelo paredão e familiares, contando a sua vida passada e seus planos futuros, dentro e fora da reclusão. E o que dizer da avalanche de pseudo “especialistas” que surgem a cada dia com PHD em Big Brothers, anunciando uma nova profissão no mundo digital, a do “Influencer big brothers”, ensinando pretensos futuros candidatos, quais as estratégias para ser escolhido a participar, vender sua imagem e como se conduzir em grupos ou isoladamente. durante o decorrer da competição para aumentar as chances de vitória. Hoje o país especula em torno de qual dos três candidatos finalistas levará o voto em peso do público para ganhar os cobiçados um milhão e meio e, quiçá, um papel de destaque ou secundário na próxima novela das 7. Até eu que não vejo jamais esse programa, mas sofro os efeitos reflexos da intromissão dele (até durante a transmissão do meu futebol o tal do Cleber Machado e o Casão são obrigados a nos convidar para saber quem vai pro paredão no dia seguinte, quem é o “anjo” da vez, qual o tema da festa da noite, etc. e tal), sei que essa chata da Juliete já levou o caneco. A competição acaba hoje? Mas não se iludam meus amigos. Os seus efeitos deletérios reflexos serão produzidos ainda durante muito tempo, graças ao IBOPE que obteve, para compensar a dificuldade e lentidão na produção de novos conteúdos, necessários ao abastecimento das várias plataformas digitais concorrentes, com observância do protocolo sanitário. Deus nos ajude e se (perdão pela heresia senhor), não estiver “fechado”com a Juliete. 


P.S. (1) A imagem da coluna de hoje é de Fiuk e Juliete, dois dos finalistas do Reality que termina hoje.

quarta-feira, 21 de abril de 2021

ADONIRAM BARBOSA- CENTO E DOZE ANOS - A PARCERIA COM VINÍCIUS DE MORAES

 

Amigos,

Uma improvável parceria decorrente do acaso fez nascer um dos clássicos da música popular brasileira. Em maio de 1.957 o selo Continental lançava a gravação de um samba-canção chamado BOM DIA TRISTEZA. Letra de Vinícius de Moraes, música de Adoniran Barbosa, um compositor paulista da terra que um dia, por descuido e posterior arrependimento, o poetinha chamaria de “Túmulo do Samba”. Há duas versões para o nascimento do samba. A primeira é que Vinícius, embaixador do Brasil na França, escrevera esses versos numa folha de papel, que posteriormente enviou para sua amiga Aracy de Almeida,  dizendo que ela fizesse daqueles versos o que quisesse. Aracy então, companheira, a esse tempo, de Adoniran na TV Record de São Paulo, entregou os versos a este, propondo que ele musicasse. Adoniran, na década de 60, entrevistado por Elis Regina durante participação no Fino da Bossa, famoso programa comandado pela Pimentinha na época, confidenciou que achou os versos belíssimos, mas tristes e delicados, entendendo que merecia uma música adequada, um samba-canção, pensou, do tipo “dor de cotovelo”. E assim, sem que os compositores nem sequer se conhecessem surgiu o “BOM DIA TRISTEZA”: “Bom dia tristeza/que tarde tristeza/você veio hoje me ver/estava ficando até meio triste/de ficar tanto tempo longe de você/ Se chegue tristeza/Se sente comigo/Aqui na mesa de bar/Beba do meu copo/E me dê o seu ombro/Que é para eu chorar/Chorar de tristeza/Tristeza de Amar.” A canção foi cantada e gravada por muitos famosos, além do próprio Adoniran.  Maysa, Chico Buarque de Holanda, Elis Regina, Altemar Dutra, Roberto Ribeiro, Jair Rodrigues, a “divina” Elisete Cardoso, foram algumas das celebridades que registraram, para sempre, o som e os versos da triste e suave canção. E, sem dúvida, também Aracy de Almeida, a amiga destinatária dos queixumes do poetinha, escritos, como se supõe, num dos múltiplos rompimentos com parceiras que suscitaram inúmeras paixões. A segunda versão da história é igualzinha a primeira, apenas divergindo sobre o palco em que Vinícius teria escrito os versos (eles não teriam origem em qualquer canto de Paris, mas sim num bar que o poeta frequentava no Rio de Janeiro e isso depois de goles generosos de seu “cachorro engarrafado” e tendo um guardanapo como veículo de assentamento). Ouvi muitas das gravações da música, inclusive a de Aracy de Almeida. E essa gravação me chamou a atenção pois a cantora troca a ordem dos versos na segunda estrofe e com isso provoca um esquisito desajuste. Em vez de dizer “Beba do meu copo e me dê o seu ombro, que é para eu chorar”, diz, “Me dê o seu ombro, beba do meu copo, que é para eu chorar”. Pô? Chorar no ombro é legal, mas no copo...? Vale a pena conferir.

 

CONFIRA https://www.google.com/search?q=bOM+DIA+tRISTEZA+aRACY+DE+aLMEIDA&rlz=1C1SFXN_enBR502BR502&oq=bOM+DIA+tRISTEZA+aRACY+DE+ALMEIDA&aqs=chrome.0.69i59j69i61.5732j0j15&sourceid=chrome&ie=UTF-8

 

P.S. A propósito de Elis e Vinícius, quem primeiro chamou o compositor de “poetinha” foi Elis em momento de fúria reclamando dele quanto à proposta de participação dela no filme “Garota de Ipanema” onde deveria aparecer e cantar, em dupla com Chico Buarque, Noite dos Mascarados (o episódio foi substituído por uma gravação).  Vinícius, comentando a declaração da cantora, é que a chamou de “Pimentinha”. Curioso é que ambos posteriormente voltaram a se entender, mas os dois apelidos se juntaram a eles para sempre.

sábado, 3 de abril de 2021

NOSSO MÁRIO PARTIU! O CÉU ESTÁ MAIS ALEGRE.

 

Amigos,


Suponho que tenha sido lá pelo final dos anos 50 ou  início da década de 1.960. Abrindo um sorriso largo, a vovó, com aquela sabedoria de vivência de muitos e muitos anos e, fazendo pouco de minha advertência convicta de que não falasse de sua morte, pois ela não iria acontecer, respondia: “- Saiba meu neto que ninguém fica pra semente. Nem eu, nem você, nem ninguém. Todos  vamos morrer algum dia.”  Carreguei por toda a vida aquela imagem feliz,  serena e resignada de minha avó falando a respeito da própria morte, mas nem por isso sofri menos pelas perdas de muitos parentes e  amigos que fiz por esse vida afora, e por gente especial com as quais cruzei nesse plano da existência. Hoje, dia 03 de abril de 2.021, logo que acordei li a notícia inesperada do falecimento de nosso amigo, Mario de Arruda Leite, em termos delicados transmitidos pela sua irmã  Carminha: “O Mario se foi para junto de Deus.” Embora a  morte nunca seja inesperada, especialmente para os mais velhos  da ala mais antiga do nosso grupo da Creche Lar Ternura, a do Mário, no entanto, a despeito da imprevisibilidade na evolução dessa doença nova, que assola toda a humanidade e já matou mais gente do que guerras somadas, era considerada pouco provável, diante de seu estado de saúde sempre muito bom, de sua energia aparentemente inesgotável e o fato de que ele reagia muito bem e melhorava a cada dia, segundo nossa percepção.  Frequentemente, enviava um áudio no whatsapp com mensagens positivas, do tipo “bota a cerveja pra gelar, que eu tô voltando”, como naquela música da Simone, transmitindo grande otimismo na sua liberação, que para nós parecia breve e certa. Mas o Mário se foi! E se foi como todos iremos um dia. E  o que nos resta é aceitar os desígnios do Criador e continuar o “bom combate” que ele sempre travou. Um combate diário e inesgotável contra a desigualdade e a carência que afeta grande parte da população brasileira, cada vez mais empobrecida, diante dos devastadores efeitos da pandemia do Coronavírus. E especialmente à Creche Lar Ternura, que já completou 40 anos de benfazeja existência, décadas dentro das quais prestou assistência alimentar, social e educacional a milhares de crianças, muitas hoje adultas e até quarentonas, mercê de incessante  trabalho de funcionários, professores, diretores e colaboradores voluntários de todas as formas, aos quais se deve a manutenção e a longevidade da amada instituição.  E mais viva do que nunca, a Creche  caminha e  certamente caminhará altaneira e segura no cumprimento de seu nobre objetivo social, com a nova geração, que aí já está, suprindo – e com vantagens – as lacunas e os defeitos  daqueles que vão ou se aposentam.  O Mário, como lembram as mensagens dos diretores e amigos no grupo da Creche, foi um exemplo de pessoa humana, de pai, de marido, de avô, de filho, de irmão.  E um amigo muito, muito especial mesmo, pela humildade e respeito com que tratava todos, sem exceção. E pelo comprometido trabalho que executava, fosse na manutenção e conservação das instalações do prédio, nas compras mensais, nas vendas de convites dos diversos eventos e na divisão dos trabalhos que o grupo de diretores e voluntários realizava, ficando, amiúde, com os mais penosos e pesados, sem reclamar. Agora o Mário foi encontrar o Gil, o Armandinho, o Zé Luiz, a  Dna. Geny,  o Sebastião e as suas piadas rápidas, engraçadas e certeiras,  a Dna. Argentina e o marido, e tantos outros que, permanente ou episodicamente, abraçaram à bonita causa, gente generosa e despreendida, que deixou esse mundo e foi morar lá no Céu, ao lado do Criador. A Mara me lembrou que a nossa querida Geny se foi no dia seguinte a um domingo de Páscoa. E o Mário se vai agora,  um dia antes da data que comemora, para a cultura judaico-cristã,  a ressurreição de Jesus Cristo, e assim ambos experimentam o privilégio de renascimentos próximos, muito próximos, ao  do filho do Criador. Há muito tempo que, por ocasião de despedidas de pessoas queridas,  reproduzo  mensagem de um velho filme americano de guerra, segundo a qual não se deve chorar ou lamentar a morte de um grande homem, mas louvar a sua vida rica e proveitosa. E a vida do nosso Mário foi tão dedicada a tanta gente que ele ensinou o que significa comprometimento, amor, família, religião, humildade e simplicidade que a gente sempre se referiu a ele muitas vezes em função das pessoas ou causas que ele abraçou. E não era o Mário dele. Era sempre o Mário de alguém ou de alguma coisa a quem ou a qual servia.   Era o Mário da Zilda, o Mário do Junior, o Mário da Simone, o Mário da Denise, o Mário da Rosana, o Mário da Calha e, sobretudo, o eterno Mário da Creche, o seu epíteto mais relevante pelo número dos beneficiados com a sua intervenção pronta e oportuna.   Vá em paz meu amigo e que a certeza dessa  paz,   sua história de vida sirva de conforto à sua Zilda, especial e querida companheira de toda a trajetória, aos filhos e netos.  E que essa mesma bela história seja veículo de  inspiração  para todos os que, homens e mulheres  de boa vontade, buscam servir aos seus e ao próximo, dando, assim,  sentido e razão a essa vida tão breve e passageira, diante da eternidade dos nossos propósitos e esperanças. Sem tristeza, por favor, ele diria se pudesse, tenho certeza.

Profundo abraço Zilda, Simone, Junior, Denise, Rosana, genros, nora e netos. Esse Mário foi  muito relevante. E muito amado pela importância que teve na vida das pessoas.  Assim a gente pode aceitar sem mágoas, sem tristezas e sem revolta a sua partida como vontade do Criador.

 

Essa a mensagem que deixo aqui registrada e envio à família e aos amigos com um abraço afetuoso a todos, meu, da Mara, da Samira, do Renato e do meu neto, Rafael. 

Boa Páscoa amigos. 

P.S. A imagem de hoje é do nosso Mário com parte de sua estimada família.