Amigos:
Dizia o poeta Vinícus de Moraes que a vida é a arte do encontro, embora exista tanto desencontro pela vida. Se os encontros são sempre importantes, o que dizer dos que reúnem gente boa para produzir arte da melhor cepa. Há encontros que são verdadeiros achados. Pérolas que devem ser cultivadas, registradas e guardadas para sempre. Vinícius, na sua multifacetada arte, foi assim. Plural, como o nome, diria Tom. Fez parcerias importantes. Com o próprio Tom, com Chico, Carlinhos Lyra, Toquinho, etc. Fisicamente nunca encontrou Adoniran neste mundo. Nem precisava. Em uma parceria distante, um escreveu e o outro musicou Bom Dia Tristeza (Bom dia Tristeza/ Que tarde tristeza/ Você veio hoje me ver). Há outras: Elis e Tom, Milton Nascimento e Mercedes Sosa, Javier Barden, Penelope Cruz e Almodóvar. Pois bem, de um lado o consagrado compositor, 68 anos, mito sagrado. Reverenciado pela erudição, pelo trabalho artístico lapidado, pelo engajamento político, 40 anos de carreira. De outro, uma quase menina, 23 para 24 anos. Rosto miúdo escondido sobre a rebelde franja que ela leva de lá para cá, de cá para lá, para disfarçar as mãos e a enorme timidez. Uma história pequena, mas extraordinária. Fenômeno? Já tinha feito um disco primoroso, onde canta canções, a maioria de sua própria composição. Outras, de outros: A história de Lilly Braun, de Chico e Edu, Ne me quitte pas, imortalizada na voz e interpretação de Jacques Brel, e por aqui gravada por muita gente, inclusive Maysa. A idéia da reunião foi do MULTISHOW. O dia da gravação: 19 de dezembro de 2.010. O lugar: Citibank Hall, Rio de Janeiro. No cenário de Fernando Young e Gualter Pupo, apenas uma luz projetada sobre os corpos e o desenho de uma enorme lua. E os artistas, os banquinhos e os violões companheiros. Um de cada um. Quando começam a cantar o palco vazio se torna pleno. Beleza Pura! Velho sucesso do baiano. Um desfile de clássicos: O Quereres, Podres Poderes, Vaca Profana, Leãozinho, Odara. A voz de Gadú sobre “Menino do Rio” de um Caetano navegando com competência e sensibilidade pelo universo feminino, faz lembrar com saudade dos bons tempos de Baby Consuelo, depois, Baby do Brasil. Vem o velho Sampa. Homenagem lírica a um São Paulo maltratado. Caetano e Gadu, o avesso, do avesso, do avesso, do avesso, que dá no direito, no reto, no harmônico. E se alternam em 1ª. e 2ª. voz, afinados, harmoniosos, fortes e suaves. Graves e ternos. Uma combinação de sons e efeitos quase antagônicos e quase convergentes. Ele deixa o palco. Ela prossegue reproduzindo o bom repertório de seu disco (Bela Flor, Encontro, Tudo Diferente, Dona Cila, Escudos, A História de Lilly Braun). Depois ele vem e ela vai. E desfia um rosário de velhas e novas partituras: Milagre do Povo, Genipapo Absoluto, Odeio, De Noite Na Cama, Desde que O Samba é Samba. Depois ela volta e ouve Caetano cantar Shimbalaiê, seu primeiro sucesso, reproduzido diariamente em folhetim da rede Globo, durante todo o tempo de duração da novela. Não suporta. A emoção de ver o ídolo cantando a sua música é demais. Lágrimas espontâneas correm pelo rostinho suave. Sonho? Não. E se abraçam. E se beijam. E voltam a cantar juntos canções de outros: Trem das Onze de Adoniran, Sozinho, grande sucesso de Cae, de autoria de Peninha (As vezes no silêncio da noite/Eu fico imaginando nós dois). E do próprio: Vai Levando, Nosso Estranho Amor, Vaca Profana, Rapte-me Camaleoa. E experimentam o Caetano dos 23 anos de Gadú: Relembram a aventura de ALEGRIA, ALEGRIA, do jovem nordestino, enfrentando a ditadura e a platéia ortodoxa, com guitarras e gritos de liberdade (Eu vou, porque não? porque não?). Momento feliz da MTVi, que imaginou o encontro. Decisão feliz dos artistas de se encontrarem. Dispostos à divisão e à generosidade. Dispostos, à continuidade da vida e à transformação. Camaleão, Camaleoa. De minha parte, diria a Gadu: Rapte-me Camaleoa! Me leve para sala, me faça sentar, coloque o CD ou o DVD, como preferir. Depois, abra um champagne. Pra celebrar esse encontro!
Até amanhã.
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