sábado, 3 de setembro de 2011

CINEMA - CÓPIA FIEL (COPIE CONFORME)


Amigos, boa noite de sábado.
Em 100 minutos, o talentoso diretor iraniano Abbas Kiarostami (do badalado e complexo Close Up dos anos 90), constrói um drama de muita riqueza humana e sensibilidade, como tem sido a marca dos grandes cineastas iranianos.  A produção é trinacional (Fraça-Irã-Itália). Cópia Fiel, do original, Copie Conforme,  lançado recentemente no Brasil, conta a história de um escritor inglês, James Miller (interpretado pelo ator de óperas, William Shimell), especialista em história da arte, que visita pequena localidade no interior da Toscana, eleita para o lançamento de seu último livro, no qual  aborda questões relacionadas com a autenticidade e a reprodução de obras de arte. Lá encontra Elle (Juliette Binoche) uma francesa que vive na Itália em companhia de seu problemático filho pré-adolescente, personagem representado pelo ator Adrian Moore. Ellen é  proprietária de uma galeria de arte e  se sente honrada com a visita do renomado escritor, confessando ter sido atraída mais pelo nome do livro do que pelo seu conteúdo, e o  convida para visita a uma cidade vizinha, famosa pelo imaginário popular de que lá os casamentos que são realizados dão certo e sorte. O longa gira especialmente em torno dos dois personagens e da viagem empreendida, focalizando desde as belezas naturais encontradas no percurso,  até os pontos festivos e marcantes do vilarejo. O viés fotográfico do diretor fica evidente ao retratar, especialmente de dentro do veículo em movimento (uma de suas preferências), a bela paisagem que se descortina na estrada com românticos ciprestes, que para o personagem “Se estivessem dentro de uma galeria ou museu seriam vistos de outra maneira”. Fato é que, enquanto o casal vai se conhecendo, conversando sobre instituições e situações existenciais, em dado momento, confundidos por uma dona de uma trattoria como marido e mulher,   acabam entrando nesse jogo e passam a se imaginar parceiros em crise numa eventual relação de 15 anos.  Esses personagens  lhes serve de fonte de criatividade  e, ao mesmo tempo, de verdadeira catarse, para as supostas (tudo em Kiarostami é enigmático e imaginado) experiências mal sucedidas de relacionamentos anteriores, por eles (ainda supostamente) vivenciados no passado.  A riqueza dos diálogos é o ponto alto do filme. Preciosidades que levam o espectador a questionamentos inevitáveis: “Não é simples ser simples. Não somos vermes, somos complexos”. E sobre a obra de arte: “Não importa a obra de arte mas o olhar que se tem diante dela”. No desempenho desse jogo, vale tudo: A diferença de sentimentos; O homem e a mulher; A questão do que é essencial no relacionamento;  O desgaste natural desse mesmo relacionamento; O ser mutante; A maturidade e a necessidade de tolerância; Uma segunda chanche de ser feliz ou se sentir seguro, quem sabe. O desencontro pela figura emblemática de dois sinos que batem ao mesmo tempo, mas não se encontram, simetricamente, por pequena distância é talvez o desafio maior entre os parceiros (A cópia seria o casal? A cópia seria a imitação da obra original? Os personagens? A vida que se repete?). A interpretação de Juliette, uma francesa deselegante e desleixada na maneira de se trajar, mas que se  revela uma doce,  bonita e profunda mulher rendeu-lhe o merecido prêmio de  melhor atriz do Festival de Cannes, versão 2.010. A maneira fragmentária com que o diretor apresenta o drama e que leva o espectador a ir tirando conclusões e depois, voltando atrás, é uma técnica muito peculiar a Kiarostami e que agrada, pelo menos em parte, o público que aprendeu a admirá-lo. E mereceu também o comentário de Juc-Luc Godard, o que não é pouco obviamente, segundo o qual “Os filmes começam com D.W.Griffith e terminam com Abbas Kiarostami”. É isso. Se você não se preocupa apenas com o cinema de entretenimento. Se gosta de cinema que aborda questões filosóficas e psicológicas. Se não dorme em filmes de longos diálogos e, às vezes, minutos de silêncio que podem e devem ser interpretados no diálogo proposto pelo roteirista, não deixe de ver. É profundo, sensível e tocante.



Até amanhã.


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