domingo, 22 de janeiro de 2012

TRINTA ANOS SEM ELIS


Bom dia amigos,







São 30 anos sem Elis. E uma legião de órfãos. Elis foi única. A união de uma voz potente e versátil, com cuidadoso repertório, interpretação visceral e emocionante, carisma, sensibilidade, coragem, personalidade, caráter. Não buscou caminhos óbvios ou fáceis. Escreveu Manuel Carlos, na capa de um de seus memoráveis LPs.: “Elis é uma cantora que não faz arte para o público, faz público para a sua arte”. Realmente. Foram 36 anos intensos. Pouco mais de 16 de atividade profissional não menos intensa. Um dos maiores fãs-clubes de todo o país. Sua trajetória, com discos, shows e apresentações será objeto de relançamento. Melhor para nós, seus órfãos, e para a atual geração que aprendeu com a nossa, a admirar essa mulher que chegou do Sul e provocou ondas, maremotos e furacão. “Furacão Elis”, título do livro biográfico escrito pela jornalista Regina Echeverria. Elis é, sem favor, nem bairrismo, uma das dez maiores cantoras do mundo, de todos os tempos, ao lado de Sarah Vaughan, Aretha Franklin, Tina Turner, Ella Fitzgerald, Billie Holiday, Dione Warwick, Celine Dilon, Whitney Houston e Maria Carey. Não teve o prestígio de nenhuma delas, porque não cantou ordinariamente em inglês (gravou Lennon/Mc Carter, e alguns outros), nem saiu do Brasil, apesar de suas andanças e de seu reconhecimento no exterior (Esteve no Olympia de Paris, no Festival de Mountrex, na Alemanha, na Inglaterra, em Portugal, na Espanha, Itália, nos Estados Unidos). Mas o reconhecimento por todos os cantos onde sua obra chegou é indiscutível. E um respeito, absolutamente profundo, de todos os atores, músicos, imprensa em geral, compositores e do público. Um público seleto, limitado? No começo sim. Depois, não. Elis provou que canta qualquer coisa de qualidade. Todos os gêneros (bossa nova, samba, rock, jazz). Na MPB, sua acuidade e sensibilidade fez com que lançasse ou tornasse conhecida gente de peso. Foi assim com Tim Maia, Ivan Lins, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Edu Lobo, Baden Powel, Dori Caymi, Nelson Motta e uma infinidade de bons músicos e poetas. Lançou artistas como Marcos e Paulo Sérgio Valle, João Bosco, Egberto Gismonte, Renato Teixeira, Zé Rodrix, Aldir Blanc, Ronaldo Bastos, Sueli Costa, Fernando Brant, Lô Borges, Fagner, Maurício e Paulinho Tapajós, Paulo Cesar Pinheiro, Tunai, Ana Terra e incontáveis outros, talentos que o público e a imprensa consagrariam depois, para sempre. A sua voz respeitável, mesmo com um temperamento difícil, porque difícil era o seu meio e as condições que a ditadura militar  impunha à intelectualidade brasileira e à criação de qualquer espécie de arte, defendeu a classe dos músicos, como ninguém. E regravou antigos sucessos, com interpretação própria, trazendo para a sua geração, a poesia e a musicalidade  de Ataulfo Alves, Nelson Cavaquinho, Adoniran Barbosa, Dolores Duran, Pedro Caetano, Cartola, Lupiscinio Rodrigues. Com um inglês escorreito, cantou Lennon e Mac Carter. Gravou também um disco antológico com o respeitável maestro Antonio Carlos Jobim (Elis & Tom). Imortalizou canções como Upa Neguinho, Menino das Laranjas, Lapinha, Madalena, Águas de Março, Pra dizer Adeus, Atrás de Porta, Casa de Campo, Como Nossos Pais, O Bêbado e o Equilibrista, É com Esse que Eu Vou, Black is Beautiful, Travessia, Canção da América, Corrida de Jangada, Wave, Gracias a La Vida, Retrato em Branco e Preto, Andança, Maria Maria e incontáveis, incontáveis outras. E com os musicais“Falso Brilhante”e “Transversal do Tempo” marcou uma nova fase do teatro-musical no Brasil, carente desse tipo de espetáculo. A sua morte prematura provocou um choque e criou uma lacuna até hoje não preenchida.  Se a primeira metade de minha vida, que hoje completa 60 anos, tivesse trilha sonora, ela seria toda feita com músicas interpretadas por Elis, que, de uma forma ou de outra, marcaram os acontecimentos bons e ruins da minha juventura e pré-maturidade. Saudade, Elis, imensa e eterna.

A propósito de sua morte uma agência de notícia divulgou a seguinte locução: “Choram Marias e Clarices.... Chora a nossa pátria mãe gentil. Em busca de um sol maior, Elis Regina embarcou num brilhante trem azul, deixando conosco a eternidade de seu canto pelas coisas e pela gente de nossa terra. E uma imensa saudade”.

Abaixo dois vídeos mostrando um pouco do talento e versatilidade desse mito da música brasileira. Até amanhã.

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