quinta-feira, 4 de agosto de 2011

ÉTICA NO FUTEBOL


Oi amigos,
Ainda ecoa, nos meios midiáticos, o lance em que o jogador palmeirense, Kleber, em partida contra o Flamengo, deixa de conceder o chamado "fair play" (jogo limpo, na tradução literal),  e, no momento da  “bola ao  chão” decretada pelo árbitro, apossasse-se rapidamente da redonda e com ela parte para o ataque, entrando na área do adversário e concluindo para fora, rente ao arco. O assunto rendeu. Houve explicações de lado a lado, do técnico Filipão, do próprio Kleber, para quem a posse da bola, quando o jogo foi paralisado, não era do Flamengo, mas do Palmeiras. Divergências à parte, trato do assunto hoje em razão das considerações feitas por um grande ex-jogador, profissional de primeira e comentarista esportivo, ou seja, o nosso inesquecível Tostão. Em coluna que assina no Correio Popular de Campinas, o mestre indaga se o esporte, tal como é encarado, é foro adequado para exigir comportamento ético. Realmente, quando se fala em competição, valoriza-se efetivamente apenas a vitória e o vencedor. Esse é o valor social reproduzido há décadas. No Brasil, em especial, um vice-campeonato significa nada. Toda a campanha desenvolvida ao longo de um campeonato para que se chegue a uma difícil finalíssima, de nada vale, se a equipe não vencer e conquistar a taça. Nessa competição insana  em que se fala em guerra e  garra,  em táticas, em marcações, em corpo a corpo, não dá para ser bonzinho, sobretudo porque o adversário não será. Essa é a inexorável premissa.  Por que devo conceder um fair play, se a paralisação do jogo decorre da simulação de contusão do adversário?  Se o atacante cai na área simulando um pênalti? Se o adversário, ao ser tocado, rola artisticamente pelo campo como se tivesse sofrido uma falta grave e pede cartão para mim? Some-se a isso a valorização do engodo, da enganação. Maradona até hoje se gaba do gol marcado com a mão na final da Copa do Mundo de 86. E ainda debita a mão boba ao Criador. Isso é uma desfaçatez, mas a gente ri, como se tal coisa fosse normal e adequada. Não é. Penso que no esporte em geral, e no futebol em particular, reproduz-se um valor social equivocado: a aceitação da  transgressão como sinônimo de inteligência e esperteza, desde que o agente vença, não seja pego. Porque os fins justificam os meios, em resumo.  A isso acrescente-se a expectativa dos torcedores e o calor do envolvimento na competição.  É, fica difícil falar-se em fair play, nesse cenário e nessas circunstâncias todas, com o peso que se joga sobre os ombros de meninos ou meninas que muitas vezes são oriundos de famílias desestruturadas, e são atirados em verdeira arena, onde o que vale é vencer ou vencer. Vencer ou morrer. Parece acertada a análise de Tostão de que a solução passa necessarimente por um processo de educação. Ou talvez reeducação. Do atleta e dos torcedores que não podem transferir para o esporte, suas frustrações e insucessos. É preciso reafirmar, de uma vez por todas, o sentido lúdico das competições e o  bem que a sua prática saudável e racional traz para o homem em formação. Considerando, sobretudo,   os valores morais e o respeito à pessoa humana, princípios que  não admitem relativização. Sem guerra, sem morte dentro ou fora do campo, sem trapaças. O futebol é alegria, é diversão, é arte, sim, por que não? Assim, como se faz com o profissional, em qualquer área do conhecimento humano, os atletas devem ser preparados não para uma guerra, mas para a competição limpa, fraterna, com respeito aos companheiros, adversários e torcedores. Aliás, o fair play significa também espírito olímpico, próprio do esporte. Tomo como exemplo a recente conquista da Copa América, pela boa equipe da seleção uruguaia. Os co-irmãos já viam cumprindo, com fidelidade, um projeto elaborado pelo técnico e pela Federação Uruguaia de Futebol, de formação e atenção integral aos atletas. Quando não jogam,  recebem aulas sobre  a história de seu país, dos grandes homens e dos grandes feitos, e também do futebol consagrado desde a conquista da Copa do Mundo de 1.930. E de ética.  Sem que percam a liberdade, são fiscalizados no exercício dessa liberdade, dentro e fora do campo. E é essa formação e a atenção integral ao homem que traz frutos ao atleta e à seleção. Grande Exemplo. Precisamos valorizar a educação e cuidar dos nossos futuros atletas. Enquanto isso não acontecer o fair play que se cobra de jogadores, aqui ou acolá, numa ou noutra situação, não passa de  hipocrisia. A esquecida educação para o esporte, de quem participa, organiza, vê e torce é que pode criar uma ética que seja verdadeiramente perseguida, cobrada e praticada, de preferência, espontaneamente. Mais uma vez quero lembrar Vinicius que num de seus muitos momentos de rara felicidade e inspiração, nos sugere que é possível VENCER.  E que é possível principalmente  VENCER,  SEM DEIXAR VENCIDOS.

 Até amanhã

 



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