Boa noite amigos,
A excelente cantora paulista, Monica Salmazo se une ao marido, o músico Teco Cardoso e ambos ao pianista Nelson Ayres e, num encontro descontraído e de improviso, produzem um espetáculo musical livre e descompromissado com rótulos, esquemas ou gêneros e que depois vira um CD considerado pela crítica como um dos mais belos do ano. Tive a atenção despertada para o disco por uma menção feita pelo gaúcho Luis Fernando Veríssimo em uma de suas crônicas domingueiras. Depois de alguns dias, Monica deu uma entrevista sobre o projeto no programa do Jô. Pronto. Fui buscar com grande curiosidade o disco. E degustá-lo. Isso mesmo. Degustá-lo, tamanho o prazer de ouvir todas as suas faixas variadas, mas cheias de encantos e surpresas. Tudo é original, com a marca do trio, mas extremamente simples, sem a sofisticação dos grandes arranjos e de múltiplos instrumentos: A voz precisa colocada sobre cada verso de cada canção; O piano mágico de Nelson Ayres; E o lirismo dos sopros de Teco Cardoso. Mônica diz que é prazeroso mostrar esse repertório, de coisas “que não estão na moda”, feitas com extrema liberdade autoral. E conta que ele (o repertório) foi surgindo como numa brincadeira, uma mágica musical, um lembrando e entoando determinada canção e os outros, instantaneamente, aceitando a proposta e o desafio da criação, dando, assim, vida e identidade à composição, com releitura própria. Mas o que teria em comum o samba Trem das Onze de Adoniram (faixa n. 14), com a música de José Miguel Wisnik colocada sobre os versos graves de Gregório de Matos em Mortal Loucura (faixa n. 7)? E o Carnavalzinho (Meu Carnaval) do bom músico Mário Adnet, com Casamiento de Negros da saudosa Violeta Parra? Ou, ainda, a História de Lily Braun, do Chico e Edu, com Promessa de Violeiro, um sertanejo dos anos 40? Bem, a tônica está descrita no título dado ao show e ao disco: ALMA LÍRICA BRASILEIRA. Lirismo que você encontra em LÁBIOS QUE BEIJEI, de J. Cascata e Leonel Azevedo (faixa n. 2), grande sucesso de Orlando Silva, o "Cantor das Multidões" nos anos 30 e 40, veja o vídeo abaixo:
e que teve muitas gravações posteriores, destacando-se a de Nelson Gonçalves, a de Caetano Veloso e aquela só musicada, em solo de violão, magistralmente, por Toquinho, no Álbum Passatempo – Retrato de Uma Época, 2.005. Aqui a voz de Mônica, profundamente suave, contrasta com o piano de Nelson e a flauta baixo (a gorda) e a flauta em dó de Teco. Belíssima a reprodução do Sambo Erudito (faixa n. 3), do consagrado Paulo Vanzolini, e que foi gravado por Chico Buarque de Holanda, num compacto simples perdido no ano de 1.965: “Andei pelas águas como São Pedro/Como Santos Dumont fui aos ares sem medo/ Fui ao fundo do mar como o velho Piccard/ Só pra me exibir/Só pra te impressionar/Fiz uma poesia como Olavo Bilac/ Soltei filipetas para lhe dar um cadillac/ Mas você nem ligou para tanta proeza/Põe um preço tão alto na sua beleza/ E então como Churchill, tentei outra vez/Mas você foi demais pra paciência do inglês/ Aí me curvei ante a força dos fatos/Lavei minhas mãos como Poncio Pilatos.” De Herivelto Martins, o samba Meu rádio e meu Mulato (faixa n. 5), também dos anos 40 e sucesso na voz de Carmen Miranda, tem Monica usando frigideira e com voz levemente alterada pelo Kazoo, (instrumento de sopro africano, usado para modificar a voz de pessoas ou para imitar animais). Do folclore chileno, tão bem explorado e representado por Violeta Parra, a música Casamiento de Negros (faixa n. 8), fala da cultura campesina do povo do Chile e que Monica interpreta com muita graça (a gravação é muito diferente da de Violeta e também da de Milton Nascimento), sob acompanhamento de flauta de bambu do Teco e do piano de Nelson. Comprovando certa predileção das cantoras por essa música (vide gravações de Maria Gadu e Maria Rita, dentre outras), Monica também grava A História de Lily Braun (faixa n. 11), uma das raras composições conjuntas de Chico e Edu Lobo, feita em 1.982 para a peça teatral “O Grande Circo Místico”. A melodia lembra um swing jazz, daí a justificativa para o sax barítono “o Moa” introduzido por Teco. Destaque também para a linda canção sertaneja (mais uma prova de liberdade do trio na escolha do repertório), Promessa de Violeiro (faixa n. 12), de Raul Torres (mesmo compositor de clássicos sertanejos como “Cabocla Tereza” e “Pingo D’Água) e Celino, cantada com muita inspiração e uma ponta de tristeza por Monica. Para esse desempenho contribui a introdução do tambor de reisado, ao lado da flauta em sol, e o piano..(Vou deixar moda sentida/ de amor de beijos e abraços/falando da minha vida vou contar esse pedaço/ já quiseram me matar/ por inveja com um balaço/eu sou que nem boi arisco/não saio do mato/pra não cair no laço...). Por fim dois clássicos líricos: Derradeira Primavera, de Tom e Vinícius (faixa n. 6), na voz limpa de Monica, acompanhada por flauta em dó e flauta baixo “a gorda” e piano, e, do imortal Heitor Villa Lobos e Dora Vasconcellos, Melodia Sentimental (faixa n. 13), páginas que sintetizam o espírito e a unidade do disco, em torno da proposta de uma lírica brasileira, tão bem garimpada por esse incrível trio de voz e instrumentos. Ao comentar o disco e a cantora, o jornal O Globo, escreveu “A Cantora é a maior de sua geração e não precisa provar mais nada a ninguém”. A Uol Música considera que “Alma Lírica Brasileira, cumpre, com certa sobriedade, e muito talento, o seu propósito". Um disco realmente marcante neste ano de 2.011 e que vale a pena ter, ouvir e presentear os amigos.
e que teve muitas gravações posteriores, destacando-se a de Nelson Gonçalves, a de Caetano Veloso e aquela só musicada, em solo de violão, magistralmente, por Toquinho, no Álbum Passatempo – Retrato de Uma Época, 2.005. Aqui a voz de Mônica, profundamente suave, contrasta com o piano de Nelson e a flauta baixo (a gorda) e a flauta em dó de Teco. Belíssima a reprodução do Sambo Erudito (faixa n. 3), do consagrado Paulo Vanzolini, e que foi gravado por Chico Buarque de Holanda, num compacto simples perdido no ano de 1.965: “Andei pelas águas como São Pedro/Como Santos Dumont fui aos ares sem medo/ Fui ao fundo do mar como o velho Piccard/ Só pra me exibir/Só pra te impressionar/Fiz uma poesia como Olavo Bilac/ Soltei filipetas para lhe dar um cadillac/ Mas você nem ligou para tanta proeza/Põe um preço tão alto na sua beleza/ E então como Churchill, tentei outra vez/Mas você foi demais pra paciência do inglês/ Aí me curvei ante a força dos fatos/Lavei minhas mãos como Poncio Pilatos.” De Herivelto Martins, o samba Meu rádio e meu Mulato (faixa n. 5), também dos anos 40 e sucesso na voz de Carmen Miranda, tem Monica usando frigideira e com voz levemente alterada pelo Kazoo, (instrumento de sopro africano, usado para modificar a voz de pessoas ou para imitar animais). Do folclore chileno, tão bem explorado e representado por Violeta Parra, a música Casamiento de Negros (faixa n. 8), fala da cultura campesina do povo do Chile e que Monica interpreta com muita graça (a gravação é muito diferente da de Violeta e também da de Milton Nascimento), sob acompanhamento de flauta de bambu do Teco e do piano de Nelson. Comprovando certa predileção das cantoras por essa música (vide gravações de Maria Gadu e Maria Rita, dentre outras), Monica também grava A História de Lily Braun (faixa n. 11), uma das raras composições conjuntas de Chico e Edu Lobo, feita em 1.982 para a peça teatral “O Grande Circo Místico”. A melodia lembra um swing jazz, daí a justificativa para o sax barítono “o Moa” introduzido por Teco. Destaque também para a linda canção sertaneja (mais uma prova de liberdade do trio na escolha do repertório), Promessa de Violeiro (faixa n. 12), de Raul Torres (mesmo compositor de clássicos sertanejos como “Cabocla Tereza” e “Pingo D’Água) e Celino, cantada com muita inspiração e uma ponta de tristeza por Monica. Para esse desempenho contribui a introdução do tambor de reisado, ao lado da flauta em sol, e o piano..(Vou deixar moda sentida/ de amor de beijos e abraços/falando da minha vida vou contar esse pedaço/ já quiseram me matar/ por inveja com um balaço/eu sou que nem boi arisco/não saio do mato/pra não cair no laço...). Por fim dois clássicos líricos: Derradeira Primavera, de Tom e Vinícius (faixa n. 6), na voz limpa de Monica, acompanhada por flauta em dó e flauta baixo “a gorda” e piano, e, do imortal Heitor Villa Lobos e Dora Vasconcellos, Melodia Sentimental (faixa n. 13), páginas que sintetizam o espírito e a unidade do disco, em torno da proposta de uma lírica brasileira, tão bem garimpada por esse incrível trio de voz e instrumentos. Ao comentar o disco e a cantora, o jornal O Globo, escreveu “A Cantora é a maior de sua geração e não precisa provar mais nada a ninguém”. A Uol Música considera que “Alma Lírica Brasileira, cumpre, com certa sobriedade, e muito talento, o seu propósito". Um disco realmente marcante neste ano de 2.011 e que vale a pena ter, ouvir e presentear os amigos.
Até amanhã.
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